There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 14
Wolves


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal! Tudo bem com vocês?

Depois de dois meses, eu tomei vergonha na cara e trouxe um capítulo um pouco mais longo pra vocês.
Espero que gostem da leitura e me perdoem pela demora, eu tenho justificativas válidas.
Minha vida virou de ponta cabeça esse ano e agora consegui atingir objetivos que há muito tempo tinha a pretensão de alcançar: passei a focar bastante no meu relacionamento com os meus amigos e melhorei muito de saúde - cansei da correria de consultar e consultar, fazer exames e tomar milhares de remédio -, agora, pelo menos, consigo fazer exercícios normalmente e tenho me esforçado bastante para sair da minha zona de conforto.
Muitos de vocês não sabem, mas eu tenho Déficit de Atenção e transtorno de ansiedade generalizada. Tudo isso adicionado ao estresse me fez ter crises horríveis de gastrite e uma série de outros problemas médicos. Hoje, ainda bem, estou bem melhor.
Então, a escrita sempre foi um refúgio para liberar a bagunça de pensamentos que correm na minha mente. Por um tempo, ela deixou de ser isso. Felizmente, hoje posso escrever sem me sentir mal e sem me pressionar tanto quanto fazia antes. Isso se deve em muito aos comentários que tive nas fics (adoro o criticismo construtivo de vocês) e ao esforço de amigos meus que me incentivaram muito a voltar a escrever.
Inclusive, tenho uma história de Camren em andamento (tô num vício desgraç@do em Havana). Me digam se é do interesse de vocês e eu postarei em breve (oh na na).

Agora...ao capítulo:



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[Jon’s POV]

 

03 de janeiro de 2016

Winter Town

 

O barulho ensurdecedor o acordara e, se o torpor do sono ainda o fazia duvidar disso, o gemido de frustração da mulher em seus braços o despertara por completo. A fonte de calor sumira bruscamente e tinha certeza de ter ouvido algumas profanidades vindas dela, antes que os cabelos ruivos assanhados se chocassem violentamente ao outro travesseiro.

Jon grunhira em protesto à perda do corpo junto ao seu e se virara na cama contrariado, estendendo o braço para as calças jogadas no chão do quarto, recuperara o celular e atendera a contragosto, pigarreando para liberar a voz do rasgo de uma rouquidão ininteligível.

“Delegado Snow?”, a voz tímida de Sam saíra do aparelho.

“Sou eu, Sam. Pode falar”, dissera em tom baixo. Evitaria despertar ainda mais a selvageria de sua companhia, que agora dormia pesadamente, abraçando fortemente o travesseiro de encontro ao seu rosto.

Jon notava as raras e esparsas sardas, o que fez os cantos de sua boca se contorcerem em um quase sorriso. Não se permitia sorrir por inteiro. Talvez em outro momento quando estivesse mais lúcido e menos embrenhado nos resquícios de seu sono recém-interrompido. Talvez depois de uma caneca fumegante de café preto.

“Jon...você tem que vir à estação. O Jeor...digo, o Delegado-chefe está desaparecido...a casa Mormont e a patrulha da noite estão pedindo que você lidere uma equipe de busca”, Sam falara urgentemente e Jon podia imaginar os sulcos de preocupação no rosto do amigo, bem como os gestos nervosos das mãos.

O dono dos cabelos negros desgrenhados gostaria de dizer que a notícia lhe pegara de surpresa, mas a verdade era que já esperava por uma tempestade nas mesmas proporções. As coisas andavam esquisitas no Norte nos últimos meses. Os grupos reacionários além da muralha pareciam ter cessado seus esforços de subtraírem o sossego da força policial. Essa trégua tácita era muito boa para que fosse verdade. Como diria seu pai: “Os momentos de calmaria precedem as piores nevascas, precisamos estar vigilantes, pois o inverno está chegando”.

Jon passara a mão direita pelo rosto, espalmando a barba por fazer e finalmente soltara o suspiro pesado que prendia. O semblante soturno era componente irremediável de sua persona, porém as informações que Sam lhe trazia acentuavam as rugas de aflição. Apesar de mal ter completado seus trinta anos, Jon poderia muito bem ter a alma de homem idoso, constantemente melancólico.

“Por quanto tempo?”

“Hãn..?”

“Quanto tempo desaparecido?”

“Dois dias. A família relatou que ele fora para a cabana de caça para aproveitar o início da temporada e como...bem...é o aniversário...você sabe”, Sam falava tropeçando em suas palavras, evitando dizer o que todos sabiam – Jeor Mormont lamentava em amargura e solidão o exílio de seu primogênito, esperando um dia seu retorno, como na fábula que Jon escutara tempos atrás em sua infância.

“Pois bem. Em 10 minutos estarei aí”, Jon dissera seriamente e pôde ouvir o alívio na respiração do amigo. “E Sam...não deixe a Lyanna perto da patrulha, já vou ter que lidar com homens furiosos e preocupados, não preciso que ela os influencie a lutar contra o país inteiro em busca do tio”, desta vez escutara Sam se engasgar com a tentativa de conter o próprio riso e o conflito dele fizera Jon rir antes de desligar a ligação.

O nortenho levantou-se da cama e procurou o resto das roupas amarrotadas pelo quarto escuro, vestindo-as. Uma vez que se fez decente, recolhera o casaco da poltrona e observara as horas no celular: 02:25. O horário o fizera grunhir novamente e forçara seus movimentos até a cama, ou melhor, o colchão puído jogado ao chão.

O loft era uma bagunça que combinava com a dona, não haviam cômodos separados, apenas um grande espaço que juntava uma péssima desculpa de cama, cavaletes, telas, materiais de pintura e equipamento de arco e flecha por todos os cantos; uma escrivaninha torta, uma quase cozinha e uma pobre divisória que demarcava a área do banheiro – Jon lembrava de se perguntar como Ygritte se virava tão rápido para se arrumar com apenas a opção de banhos em banheira.

O homem chegara junto da ruiva e soprara o rosto dela, tremendo em cada fibra de seu ser com a possibilidade de que ela o matasse por incomodá-la mais uma vez.

“Snow, é bom que você tenha um ótimo motivo pra me irritar...eu deveria estar morta para o mundo...e você não me deixa morrer em paz nem por algumas horas”, a voz rouca desdenhava dele. Talvez Robb estivesse certo quando falara que Jon se sentia atraído pela potencialidade de ser desafiado constantemente por uma mulher. A verdade era que Ygritte tinha a ousadia e a coragem intrépida que nenhuma outra mulher que conhecera detinha e isso o deixava louco, em todos os sentidos possíveis.

“Sabes que eu serei obrigado a ir atrás de você até os confins das terras mais fúnebres, não sabes?”, ele rira, abraçando a ruiva e aconchegando seu rosto na curva do pescoço dela, inalando o cheiro de outono que ela lhe oferecia – Ygritte sempre teria o aroma gostoso de folhas e terra, o perfume de floresta e da rusticidade de uma vida simples...não inteiramente simples, pois a mulher era um prato cheio de confusão, mas menos complicada do que a vida gélida do Norte.

Ela abrira o olho esquerdo e o fuzilara, as palavras tortas saiam da boca sonolenta, almejando um desdém carinhoso: “Sabes que é um idiota, não sabes, Jon Snow?”

Ele riu novamente, puxando seu corpo de cima dela e lhe beijou a testa. “Preciso ir para a estação e preciso que você acorde e fale com o seu chefe”.

“E por que eu faria isso no meio da noite, Snow?”, ela retrucara desgostosa, aninhando-se no colchão, tentando se fundir a ele num único amontoado preguiçoso.

“Porque o meu chefe está desaparecido e tenho motivos para achar que o seu chefe tem algo a ver com isso”, acusara simplesmente e assim que os dizeres saltaram na sua voz rouca, sentiu ser puxado para baixo com força.

“Como é que é, Snow?”, ela dissera perigosamente. Jon sustentara o olhar penetrante dela, mas não fizera nada em relação ao aperto firme, porém contornável, da ruiva, em suas mãos.

“Tenho motivos para achar que seu chefe, Mance Rayder, esteja por trás do desaparecimento do Delegado-Chefe Mormont”, ele repetira mecanicamente, desafiando-a. “Se você acha que não, me ajude a encontrar provas de que ele não esteja envolvido, pois tenho certeza de que quando eu chegar naquela estação, me pedirão uma caça às bruxas...ou melhor, aos selvagens”.

Jon sentira o aperto dela se intensificar e a raiva escurecendo os orbes azulados. Por fim, passaram alguns momentos em silêncio, um resistindo ao desafio do outro, até que Ygritte rompera a tensão com uma gargalhada estrondosa. O moreno a observava confuso, enquanto a mulher beijada pelo fogo descia o rosto junto ao seu e dizia risonha em seu ouvido esquerdo: “Você pode não saber de nada, Jon Snow. Mas admito que tem muita coragem para tão poucos miolos”.

 

[Sansa’s POV]

 

03 de janeiro de 2016

02:15. Aeroporto de King’s Landing

 

O olhar de Sansa se projetava para além da janela do avião, observando a escuridão traçada pela noite, as manchas negras equivalentes às nuvens repletas de poluição asseguravam a ausência de estrelas na vasta extensão do céu de King’s Landing. Apesar das luzes e do movimento do aeroporto e dos demais aviões em seus respectivos acoplamentos, a ruiva preferia desviar sua atenção aos tons da noite. As mãos inquietas em seu colo combinavam com o seu estado de espírito.

O palpitar em seu coração se tornara uma constante desde que deixara o apartamento dos Tyrells. A lembrança dos lábios suaves e da respiração quente de Margaery povoavam sua mente e a deixavam cada vez mais inquieta. Sansa tivera que admitir para si mesma, nas horas que se passaram desde então, que não resistiria mais aos sentimentos pela mulher, tampouco a aceitaria imediatamente – a morena ainda tinha muito a provar. Ainda assim, a nortenha chegara a conclusão de que, apesar de sua teimosia e de toda a racionalidade que pudesse avocar, seu coração pulsava apenas por uma pessoa e tal órgão se demonstrara irremediável em perdoá-la.

Os procedimentos para a decolagem foram iniciados, já feitos os pedidos para que os aparelhos fossem desligados. Sansa mordera o lábio inferior e segurara o xingamento por esquecer de fazê-lo. Ao vasculhar os bolsos e alcançar o celular, percebera a notificação brilhando na tela. A nortenha o desbloqueara com movimentos ágeis e fora atingida com a força de palavras tão simples.

“Boa viagem, lobinha. Avisa quando chegar em Winterfell sã, salva e nervosa”, Sansa lera com a voz de Margaery em sua mente e abrira um sorriso tímido, desligara o aparelho e o prendera num aperto firme, levando-o junto ao peito. Adormecera aninhada ao braço direito de Robb, pensando no quão bom era ter a morena em sua vida, por mais bagunçado e complicado que fosse.

 

10:55. Winterfell Manor

 

Quando acordara, Sansa possuía poucas certezas. A confusão de como havia chegado em seu quarto acompanhavam seus movimentos imprecisos ao sair da cama.

Lembrava-se de ter chegado no aeroporto de Winter Town e, então, recuperaram o carro de Robb no estacionamento – uma Range Rover Sport SVR branca, compatível em todos os sentidos com o ruivo -, discutiram sobre as condições da estrada e sobre uma breve parada em um drive thru. Com convicção, lembrara que saíra vitoriosa na discussão e acabara com o estômago satisfeito por batatas fritas e o melhor molho barbecue que havia provado na vida.

Ainda, a nortenha lembrou de ter chegado em Winterfell e ser recepcionada por uma mãe sonolenta e um Rickon hiperativo sendo mandado para a cama – seu irmão mais novo fez uma das caras mais fofas de irritação e isso dificultou ainda mais a possibilidade de ser visto como um adolescente maduro tão próximo da maioridade.

A partir deste ponto, suas memórias se tornam turvas, embaçavam-se tal como o fio de leite que se alastrava pelo chá que aprontava no momento, pervertendo aos poucos as cores amadeiradas.

A cozinha estava vazia quando a ruiva a adentrara e assim permanecera até terminar de apreciar o calor da bebida. O sono e a preguiça ainda estavam presentes em seu corpo, mas o forte lembrete no fundo de sua mente a alertava da existência de questões emergentes a serem resolvidas.

Resoluta, a ruiva ligara para o número que lhe era tão familiar e sentira o coração apertar a cada toque, até que, finalmente, soara a voz que tanto precisava ouvir.

“Olá, lobinha”, a Tyrell cumprimentara divertida. “Obrigada por ter me deixado preocupada, esperando um sinal de vida por horas a fio”, acusara zombeteira.

“Desculpa”, falara Sansa envergonhada, a temperatura do chá tendo pouco a ver com o rubor que já ameaçava sua face. “Eu praticamente capotei quando cheguei em Winterfell. Como estão as coisas por aí? Alguma notícia importante sobre Renly?”

A segunda votação se iniciara às 15:00hrs do dia anterior e se estendeu até a madrugada, motivos que dificultaram à nortenha acompanhar os possíveis desfechos.

“Bem...houve um recesso, não sei nem como essa fragmentação é válida perante às normas de nossa Constituição, mas eles voltarão ainda hoje. O lado bom é que faltam apenas os votos de três conselheiros e os números estão a favor de Renly, o que é reconfortante...pelo menos, por enquanto”, a Tyrell relatava transitando da indignação controlada à ponderação satisfeita de que talvez houvessem boas notícias ao final do dia.

“Isso é ótimo”, retribuíra Sansa, permitindo que um leve sorriso adornasse seus lábios. A ruiva brincava com os cabelos, enquanto conciliava as borboletas revoltas em seu estômago. Havia aceito se permitir sentir as sensações que Margaery lhe causava e era tão empolgante quanto assustador. A ansiedade brincava com sua cabeça e a cada respiração da morena através do celular, podia ouvir seu corpo ressoando no mesmo ritmo.

“Seria imprudente dizer que já sinto sua falta e que não parei de pensar em você nem por um momento desde que nos separamos?”, soltara a Stark subitamente. O sangue gelava suas veias, porém não se arrependia, apenas se amaldiçoava pelo descontrole de sua impulsividade.

“Se fosse, eu seria uma louca desvairada, mas acho que posso me enquadrar muito bem nessa categoria quando as coisas se referem a você”, rira Margaery, aliviando a tensão entre as duas. “Eu sinto sua falta...sinto tanto, Sans. Você sabe disso”, emendara a morena calma, porém seriamente.

As duas permaneceram em silêncio por algum tempo, desfrutando a calmaria dentre elas. No âmago de cada uma, oravam para que os deuses relevassem a desordem do mundo e as prendesse nessa bolha de leveza e contentamento. Era impossível, sabiam disso, mas nada custaria pedir e acreditar no melhor.

Margaery soltara um leve pigarro, chamando a ruiva de volta à realidade, e a abordara hesitante: “Como vão as coisas por aí? Você e Robb já traçaram uma estratégia?”

Sansa soltou um som de descontentamento e bebericara mais um pouco do chá, agradecendo o toque cálido em seu interior. “Decidimos ontem que iríamos dedicar o dia a investigar e organizar toda e qualquer informação atinente às Casas tradicionais e irreverentes da região”, respondera, saboreando a ironia destacada nos últimos termos pronunciados.

“Sansa, tenha cuidado. Gostaria de poder ajudar bem mais do que apenas te fornecer documentos”

“Está tudo bem. Você já ajudou muito, inclusive. Deveria focar em Renly. Baelish com certeza terá alguma carta na manga”

“Eu sei”, falara Margaery apreensiva. “Nós montamos alguns planos emergenciais assim que ele retornou, ainda não pude dormir, mas valeu a pena. De qualquer forma, sabemos qual o próximo passo lógico a seguir se algo der errado”.

“Você deveria descansar, então”, sugerira Sansa preocupada.

“Eu irei, lobinha. Mas precisava ouvir que estava bem primeiro”. A nortenha sentiu as borboletas se chocarem violentamente em seu estômago e se limitara a morder o lábio inferior, contendo seu sorriso bobo. Não poderia descrever o quão bom era o sentimento de ser cuidada e de que alguém se importava o suficiente para esperar por notícias dela mesmo nestas circunstâncias.

“Já ouviu, teimosa. Agora trate de ir dormir ou eu ligarei para Loras e cobrarei os serviços dele de babá”, dissera rindo, provocando a morena.

“Ah não, deixa eu falar um pouco mais com você”.

“Tyrell, é uma ordem”. A severidade e o divertimento confluíam no comando e Margaery silenciara por alguns minutos para, então, fornecer uma resposta tão atrevida quanto.

“Só obedeço porque você é extremamente sexy quando domina”

Sansa podia sentir-se transformar num pimentão, vermelha até nas pontas das orelhas, os olhos fechados pela vergonha súbita que lhe acometia e o estômago louco em reviravoltas de excitação. Era uma bagunça em forma de pessoa e tinha consciência de Margaery sabia os efeitos do comentário.

“Você não tem jeito mesmo”, ela gargalhara e repreendera a morena.

“Só por você”.

“Margaery!”, começara à repreendê-la, desconcertada, mas foi interrompida pelo eco de vozes que repercutiu até a cozinha. Sansa observara a porta, esperando uma entrada que nunca ocorrera. O volume das vozes aumentara e a curiosidade vencera a ruiva. Seguira o som pelo corredor, ao mesmo tempo em lutava para permanecer atenta à morena.

 “Margaery, preciso desligar. Acho que ouvi algo vindo do escritório do meu pai”

“Okay! Okay! Eu vou aproveitar para dormir. Boa investigação, Nancy Drew”, a morena falara sem fôlego, ainda rindo das provocações à ruiva. “E cuidado”, acrescentara baixinho.

“Até mais, Marg”, oferecera carinhosamente.

“Até mais, lobinha”, dissera a morena prontamente.

Novamente, o silêncio imperara por mais alguns segundos. Margaery respirava como se tivesse algo mais a dizer e Sansa esperava ansiosamente, apesar de se direcionar cautelosamente ao escritório do pai. O momento se encerrara e a morena escolhera por desligar a ligação. Sansa não poderia afirmar com certeza de que estava decepcionada. No entanto, era certo que ansiava pelas palavras não ditas entre elas.

A confusão de vozes renascia e se intensificava à medida que percorria os corredores da casa. Sua mente estava acelerada, porém respirava tranquilamente, esperando organizar um pouco da ansiedade que já se manifestava na boca de seu estômago. Era uma inconsistência curiosa, mas quanto mais focava em sua respiração, mais seus pensamentos corriam soltos ao invés de se harmonizarem. Sansa riu de si mesma, pensando como a tarefa seria mais árdua para Rickon com toda a sua hiperatividade latente.

No fim do corredor principal do térreo, encarara o cômodo que abrigava o escritório. A porta de mogno vermelha instigava a ruiva e estava prestes a girar a maçaneta, quando esta começara a se mover, revelando um Jon apressado e esbaforido.

“Você é tão prepotente, Robb Stark. Será que não se cansa de se achar tão especial?”, ele dissera entredentes e, em seu encalço, seguia o dito ruivo, com o rosto corado em fúria e os dentes cerrados em um aperto feroz. Sansa observava seus dois irmãos se digladiarem silenciosamente como dois lobos se preparando para o embate.

O choque fora vencido e antes que os dois se lançassem um contra o outro, ela se posicionara entre os dois e cerrara a expressão em desaprovação. “Eu não sei o que deu em vocês tão cedo para quererem se matar assim, mas espero que os dois tenham ótimas explicações para dar”, dissera firmemente, notando que os rapazes ainda se desafiavam.

“Não é nada com o que você tenha que se preocupar, Sansa. O delegado Snow só veio buscar uns documentos, ele já estava de saída”, Robb falara lenta e asperamente, como se impusesse as condições de uma ameaça. O absurdo era que ameaçava seu próprio irmão como se não o reconhecesse, o que perturbou ainda mais a ruiva.

“Jon, é verdade?”, ela perguntara, suplicando ao rapaz taciturno que lhe permitisse compreender e a ajudar a encerrar este combate aparentemente sem sentido.

“É. Não se preocupe, Sansa. Como o Sr. Stark falou, eu estava de saída”, Jon oferecera com os punhos cerrados e o corpo tenso, a voz flexionada em um pedido para que não interferisse. “Afinal...”, continuara desdenhoso, “...eu tenho um sequestro e possível homicídio para investigar, a última coisa de que preciso seria que me deixassem participar de algo tão importante como a missão de vocês”.

O tom de Jon contava toda a mágoa que sentia e Sansa compreendeu. Haviam sidos mandados para Winterfell para agir em nome da Casa Stark, algo que oficialmente o rapaz não poderia fazê-lo, dadas as tradições conservadoras, atrasadas e hipócritas que regiam o seu lar.

A ruiva percebeu que, ao seu lado, Robb se portava envergonhado, dissipada a fúria de seu corpo, o ressentimento de Jan parecia trazê-lo de volta à realidade. Ele passou os dedos nervosos pelo cabelo acobreado tão semelhante ao de Sansa e dissera hesitante: “Nós te ajudamos, você nos ajuda e nós esquecemos dessa merda que acabou de acontecer aqui”.

Jon virara-se desconfiado para o irmão mais velho e, então, para Sansa. Ela lhe dera um sorriso fraco e a postura dele mudara, os ombros se soltaram e a tensão parecia fugir aos poucos. A vontade de Sansa se configurava em ações, antes que pudesse pensar, abraçara o moreno de cabelos desgrenhados.

“Vocês dois são idiotas, sabiam?”, ela dissera, estapeando Jon, o que fizera com que os dois rapazes rissem da irritação dela. “Nós somos uma família, qualquer enrascada em que um se meter, os outros cinco aparecem de reforço...sendo que a Arya é praticamente a arma secreta da destruição”.

Os risos limpavam a atmosfera aos poucos, porém não foram suficientemente fortes para extinguir a essência da tensão. Era como se as inseguranças levantadas pela briga fossem mais profundas do que as palavras poderiam expressar e pouco havia do que poderiam fazer sobre isso no momento.

Robb e Jon desviavam e se afastavam um do outro, mas a nortenha não desistiu do intuito de conciliá-los e deixou que sua curiosidade brincasse como distração.

“Você disse algo sobre sequestro?”, arguira Sansa apreensiva, o rosto contorcido em uma careta de preocupação.

“Sim”, soltara Jon cansado. “Foi reportado hoje o desaparecimento do Delegado-Chefe”.

“E como presumiu que seria um sequestro? Ele não pode estar apenas perdido, afinal ele foi para uma cabana de caça, talvez algo tenha acontecido, mas não de ordem criminosa como um sequestro”, racionalizava Robb.

“Porque recebi contato do sequestrador”, dissera Jon sombriamente. “Ele enviou um pacote endereçado a mim, contendo certos itens para identificar que de fato está com o Sr. Mormont e as respectivas demandas”. A careta do moreno ao proferir a palavra “itens” não passara despercebida a Sansa e ela manifestara a dúvida a Jon. Ele suspirara e olhara para o teto, quase como se pedisse forças, e, neste momento, oferecera verdades aterradoras.

“A caixa continha...uma mão decepada, presumivelmente do Delegado; a espada que ele tanto exibia como herança da família, Garralonga; e um aviso”, ele dissera penosamente e não se surpreendera com a aflição no rosto da irmã, cada vez mais inquieta com o relato.

“O que dizia o aviso?”, Robb perguntara aflito.

“Era um alerta...‘Os Ursos cairão, os lobos latirão como os cachorros que são perante ao inverno e as lâminas estarão afiadas’”, ele dissera com ódio fervendo em cada palavra. “Se isto não for um indicativo do quanto os Boltons são filhos da puta, eu não sei o que é”.

Sansa sentira o fogo ferver por todo o seu corpo, aliciando suas veias em combustão, retesando seus músculos e apagando o assombro pela descrição de Jon. Portava-se tal como um lobo à espreita de suas presas.

“Então, faremos deles comida de cachorros”, falara decidida, entrando a passos largos no escritório de seu pai, pronta para vasculhar qualquer informação que lhe trouxesse a derrota definitiva desta doença que pretendia assolar sua terra, sua casa, seu povo. Ouvira os passos de seus irmãos atrás de si e, logo, estariam ao seu lado revirando caixas e caixas de documentos. Eram fortes unidos e não seriam subestimados. As alcateias são núcleos de sobrevivência formados por predadores natos.


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Notas finais do capítulo

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