There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 11
It's a Beautiful Mess


Notas iniciais do capítulo

Olá, caros leitores.
Uma boa leitura e aproveitem a trama :)



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[Sansa’s POV]

 

02 de janeiro de 2016

02:00. Apartamento de Renly e Margaery, King’s Landing

 

A exaustão percorria pelo apartamento. A energia do ambiente se condensava numa aura quase silenciosa demais, dominada por frustração e tensão. Todos estavam tão cansados que o mínimo esforço para sua ruptura parecia impossível, mas ansiavam pelo conforto de qualquer palavra que fosse.

Sansa se perguntava o porquê de estar ali, o tom urgente de Robb tocava no fundo de sua mente como um disco arranhado. “Aonde passara a noite passada? Não faz ideia de como ficamos preocupados e ainda mais com a notícia que se seguiu pela manhã. Tive que buscar nosso pai no aeroporto e trazê-lo correndo para o Septo”. “Sansa? Por que vai com eles? Nosso pai precisa de nós”.  A irritação se transformava em pesar e se materializava em suspiros.

A ruiva se dirigira ao sofá e sentara-se nele, o cansaço fazia seus olhos pesarem e o ressentimento pelo irmão a fizera respirar fundo. Robb sempre teria aquele senso estático de proteção e dever sobre aquilo que julgava ser o certo, mesmo que as pessoas lidassem com os eventos de formas diferentes.

Sansa sabia que seu pai precisava de tempo e espaço para processar a perda de seu melhor amigo e, ainda mais, sabia que em nada poderia ajudar quando o Conselho da Capital o convocara para substituir Stannis Baratheon – a votação começara imediatamente e seu pai somente seria liberado após a eleição do Primeiro Ministro interino. Da mesma forma, Renly mal pôde se despedir de seu irmão e os deveres do Conselho o chamavam de forma imperativa e cruel.

O barulho de passos ao redor da sala lhe infligia os princípios de uma dor de cabeça e seus olhos se abriram para encontrar um nervoso Loras, perambulando pelo cômodo ansiosamente. Seus pensamentos pareciam longe – não admiraria Sansa se eles estivessem na sala do Conselho junto ao Baratheon mais novo.

Margaery, por sua vez, se sentava na poltrona ao seu lado, havia ligado a enorme tv, que cobria grande parte da parede, e observava atentamente o noticiário. O barulho da televisão era mínimo, mas estava claro pelas manchetes o teor das informações. A tela do celular da morena brilhava constantemente com o sinal de novas mensagens, estas que restavam ignoradas pela mulher.

Era difícil admitir para si mesma e mais ainda para seu irmão de que a razão de estar neste apartamento era a estúpida preocupação que ainda nutria pela Tyrell. Era previsível e patético. Sansa tentara com todas as suas forças não se permitir sentir aquilo, mas depois da noite que passaram juntas e das confissões compartilhadas pela morena, seu corpo a aprisionara ao insistente vínculo e ansiava pela proximidade dela.

Lutara tanto e sabia que havia a assombrosa possibilidade de se machucar mais e mais. Contudo, não conseguia se manter longe de Margaery e o pensamento de se separar dela depois dos acontecimentos do dia anterior queimava em seu estômago, o gosto de bile subia à boca e o seu coração lhe amaldiçoava por pensar em correr e nunca mais voltar para aqueles braços.

Tinha percebido que, apesar de fitar fixamente o televisor, a morena roubava olhares furtivos em sua direção. Sansa retribuíra o contato visual e notara que o titubear de seus dedos no braço do sofá atraíam a atenção da Tyrell. Sentia que Margaery se forçava a manter o silêncio, ainda que toda a sua linguagem corporal demonstrasse que tinha algo a dizer.

Sansa tentou se concentrar nas atualizações do canal de notícias, apanhara o controle remoto e aumentara o som. Tentava focar nas últimas informações relatadas e, então, acontecera. A voz monótona do âncora ecoava pelo apartamento, cessando até mesmo o barulho ressoante dos passos do rapaz ansioso.

“...de forma inesperada a votação do Conselho será reconduzida na tarde do dia de hoje, 02 de janeiro, em virtude de um extraordinário empate dentre os Conselheiros indicados para assumir o governo temporário, até as eleições a serem convocadas no próximo ano. Petyr Baelish seria o nome mais cotado para o cargo, em especial pelo seu brilhante trabalho na reorganização dos setores econômicos e na reavaliação das receitas do país nos últimos sete anos. No entanto, para a surpresa de todos, Renly Baratheon recebera o endosso de Eddard Stark— Líder do Conselho do Norte, em substituição do Conselheiro Stannis Baratheon, dada sua prisão face às suspeitas de comprometer a segurança do falecido Primeiro Ministro. É certo que o Baratheon mais novo tem um currículo político impressionante, atuara como Advogado Público de King’s Landing e Embaixador em Dorne, sendo o mais jovem da carreira a liderar uma missão diplomática. No entanto, a sua recente nomeação ao Conselho revelara uma discussão inflamatória sobre as tendências nepotistas do governante precedente, seu próprio irmão...”

“Seu pai endossou o Renly?”, a voz incrédula de Loras rompia os detalhes da próxima sessão extraordinária do Conselho.

“Ao que tudo indica...sim”, a perplexidade em seus dizeres era latente. Virara-se para os dois irmãos e deixara livre suas preocupações. “Não faz sentido algum. O Conselho está desestabilizado e tudo gira basicamente num único nome: Baratheon. Stannis foi o Chefe do Serviço Secreto e Conselheiro mais rígido nos últimos anos e, agora, está detido como um belo bode expiatório. E como se não bastasse, Renly concorrendo para o cargo de Primeiro Ministro interino às custas da morte do irmão. É quase um pedido de suicídio político diante da população”.

“Mas Renly nunca se proporia ao cargo, não sozinho. Por que seu pai faria algo assim com ele?”, Loras esbravejava horrorizado com as constatações e a ruiva engolia em seco. Sabia que não teria as respostas para ajudá-lo a se acalmar.

“Não posso responder isso com certeza...mas posso garantir que meu pai não faria nada para prejudica-lo”, oferecera cautelosamente.

Loras lhe direcionara um olhar apreensivo e contrariado, parecia prestes a explodir esbravejada, mas sua réplica fora interrompida.

“Pense, irmão”. A voz de Margaery invadia o ambiente calidamente, seus olhos fixados no rapaz pareciam refletir certa engenhosidade e, então, os cantos da boca se remexiam num sorriso apertado. “Ned Stark é tudo menos ingênuo, além de sozinho ser mais correto do que todos aqueles senhores que juraram defender os interesses de nosso país. Não, ele espera que seu endosso seja um contratempo. Infelizmente, um contratempo quase irrelevante, na minha opinião”.

“O que quer dizer?”, perguntara à irmã seriamente. Os punhos dele se cerravam e a tensão nos ombros era gritante. Loras estava alcançando rapidamente seu ponto de ebulição e o rosto de Sansa franzia em preocupação com o amigo.

“Ela quer dizer que meu pai está tentando desesperadamente impedir que Baelish assuma o cargo. E isso por si só indica que ele sabe algo sobre a morte de Robert”, o coração da ruiva pesava em temor por seu pai e o remorso voltava mais uma vez, pensava em Robb e suas acusações. Quão certo estava seu irmão e, ainda assim, pelos motivos errados.

“Ned sabe que não importam as circunstâncias, Renly será considerado suspeito, porém dentre os presentes no Conselho, ele continua sendo o candidato mais apto para rivalizar com Petyr. Renly tem a cabeça certa para demonstrar estar abalado com a morte do irmão e inspirar empatia dos demais Conselheiros, além de ter experiência com as relações exteriores – o que é extremamente valioso para eles”. Margaery explicitara, enquanto, pela primeira vez na noite, se envolvia com os chamados de seu telefone.

O toque frenético de seus dedos mostrava que a morena se posicionara mais uma vez no jogo. Levantara o olhar e, então, dissera desapontada: “Varys não é mais um contato viável”.

A ruiva e o outro Tyrell se espantaram com o anúncio súbito e se olhavam sem entender o que se passava.

“Ele mandara sua última mensagem: ‘et abscondere in obumbratio’. ‘Eles se escondem nas sombras’. Isso significa que ele está sendo observado e nosso contato não é seguro para nenhuma das partes”.

“Você acha que tudo isso é um grande plano orquestrado pelo Baelish?”, Loras suspirava ao se jogar no sofá junto à ruiva.

“É um tanto óbvio, não é? Ele se aliou a vocês da mesma forma que era aliado de Robert e dos Lannisters...”, dissera Sansa.

“É fácil demais pros padrões dele. Se somente esse for o plano, romper as alianças formadas e se consolidar como governante, ainda existem falhas”, Margaery ponderava. “Ele ainda é um suspeito tanto quanto os demais Conselheiros. Acontece que Sandor Clegane é o novo Diretor do Serviço Secreto e todos sabem que ele não passa de um cachorro de estimação de Cersei, facilmente manipulável e inescrupuloso”. A morena pensativa mordera, então, o lábio e apontara suas dúvidas. “Porém não vejo qual interesse ela teria se envolvendo para livrar Baelish das investigações. Tywin havia firmado um acordo que beneficiaria enormemente os Lannisters. Isso que não se encaixa muito bem”.

“De qualquer forma, é curioso que tudo isso aconteça em momento tão inoportuno para nós”, o rapaz dissera, fitando a irmã, que respondera com um som irritado.

A morena se levantara e seguiu em direção à porta da sacada. Sansa via pelo reflexo a expressão de frustração da mulher, os braços desta envolvendo a si mesma num abraço desconcertado. Sua mente vagava pela escuridão afora, guiada pelos pequenos pontos de luz que ainda persistiam espalhados pela cidade.

“Inoportuno? Do que estão falando?”, a curiosidade da ruiva prevalecia e imediatamente vira a morena retornar sua percepção ao cômodo.

“Estivemos por meses a fio, coletando informações que levariam à maior investigação de corrupção de Westeros. Varys e nossos contatos conseguiram provas suficientes para conectar a aprovação de diversos projetos de leis nos Conselhos de toda a região Sul, inclusive o Conselho da Capital, à Lannister Ltda.  Projetos que favorecem a grande maioria das famílias mais renomadas do país e, que, por coincidência, são donas das empresas que dominam em muitos setores de nossa economia”, indicara a contragosto a morena, era óbvio a insatisfação desta com os resultados adversos de sua estratégia.

“Nós iríamos expor a todos, mas, primeiramente, decidimos por imunizar a carreira de Renly”, admitira pesarosa. “Era o passo mais lógico, consolidá-lo como membro de confiança do Parlamento e destruir qualquer falsa acusação e suspeita de participação no conluio. Era necessário que as afirmações de nepotismo fossem erradicadas ao mínimo e, nessa cautela, erramos”.

Sansa restara boquiaberta, pensara no quão trabalhoso teria sido para conectar todos os fatos e ter o lastro probatório para corroborar todas as suposições. Sentira a frustração de Margaery alcança-la, todos os sacrifícios feitos pela morena para chegar até aquele exato momento e ver sua jogada tão bem construída se espatifar perante a violência dos acontecimentos que se desenrolavam.

“Essas pessoas envolvidas não hesitariam em matar para evitar que tais informações fossem divulgadas. Estamos falando em uma quantidade absurda de dinheiro, o país entraria em colapso e as grandes oligarquias seriam, enfim, destruídas”. Loras dissera, concluindo o pensamento da irmã.

“Mas agora não seria o melhor momento para expor estas informações? É evidente que algum dos envolvidos, senão o próprio Baelish, teriam arquitetado o assassinato de Robert”. A fala da ruiva permeava o cômodo com sua confusão, esta que se acentuara com o entreolhar severo dos irmãos.

“Sansa...”, a morena lhe chamara calmamente. “O caos que criaríamos com a eclosão do escândalo seria controlado por nós, a situação seria nossa aliada. Se revelarmos tudo agora, perdemos nosso trunfo em meio a um caos político que não críamos”. Margaery lhe oferecera um pequeno sorriso e a ruiva soube pelo seu semblante que a mulher estava tão insatisfeita com o cenário atual quanto ela. O tabuleiro havia sido reformulado com novas regras e Margaery precisava formar novas jogadas em um curto espaço de tempo e com poucos recursos. Sansa sabia que não tinha forças nem as palavras certas para retrucar e preferiu desviar o olhar para longe da morena.

Fora do apartamento, a chuva cobria mais uma vez King’s Landing e o som constante da água aliviava os nervos da nortenha. Os trovões ecoavam ao longe e mais uma vez os três se reencontravam em silêncio, deixando o peso da discussão se esvair enquanto observavam os traços de luz no céu escuro. As portas de vidro que levavam à varanda refletiam com fervor os clarões, mas tal como, na primeira vez, a atmosfera silenciosa não se perpetuara por mais do que alguns minutos e o som de chaves na porta quebrara os poucos instantes de quietude do dia.

O clique de porta se abrindo e a presença de duas outras figuras adentrava o apartamento. Loras seguira com passos apressados para o corredor e se encontrara com seu amado, acompanhado de Robb Stark. Enquanto os dois homens pareciam perdidos em olhares desajeitados e questionadores, Robb entrara na sala de estar e fitara sua irmã.

“Precisamos ir. Vim busca-la a pedido de nosso pai”. O nortenho dissera severamente. Sansa podia notar traços de irritação na voz do irmão, mas a preocupação em nome de seu pai foi o suficiente para fazê-la levantar e ir em sua direção. Roubara um último olhar para Margaery e percebera que a morena acompanhara seus movimentos e se encontrara ao seu lado. As duas funcionavam de fato como imãs e o pensamento causou um pequeno sorriso na ruiva, este que fora retribuído pela outra mulher.

Sansa voltara-se para o seu irmão e assentira, porém, lhe pedira alguns minutos e então o encontraria no saguão. Robb saíra, a contragosto, do apartamento, esbarrando constrangido nos dois homens que havia deixado no corredor de entrada – os dois que agora se desvencilhavam envergonhados de uma troca de beijos calorosa.

A nortenha riu ao ver o rubor no rosto do irmão e o seu tropeço ao sair do apartamento. No entanto, o riso se dissipara nervosamente ao sentir o toque gentil da mão de Margaery em suas costas e fora substituído por arrepios. Sansa encontrara o sorriso no rosto da morena e perdera o fôlego por alguns segundos, a despedida presa em sua garganta.

“Antes que diga algo. Preciso que saiba que, se você permitir, eu estou disposta a fazer tudo em meu poder para te recompensar pelas minhas péssimas escolhas, Sansa”. A morena sussurrara e levantara a mão ao rosto da nortenha, acariciando-o. “Eu sei que ainda precisamos conversar e resolver tudo isso, mas sei que não conseguiria mais me afastar de você. Estes últimos meses vem se provando um verdadeiro inferno e eu só tenho a mim mesma para culpar. Porém, espero que você me perdoe algum dia e que eu possa reconquistar a sua confiança em mim”.

Sansa fitara o rosto da morena firmemente e reconhecera a sinceridade crua nos orbes azulados da Tyrell. Suspirara profundamente e se recompusera, sua mente a alertava para ser cautelosa e seu coração se atirava na direção da mulher que tanto almejava. Sansa precisava alcançar o controle de alguma forma.

“Eu nunca amei tanto alguém como eu te amei”, a ruiva falara seriamente. Sentira o arfar da morena com seus dizeres e vira um sorriso tímido se formar nos lábios desta, mas o desfizera com as palavras seguintes: “E a forma em que terminamos foi manchada por mentiras e manipulações. Nesse exato momento, Margaery...eu quero acreditar em você, mas não confio nas suas palavras. Eu sei que o que dizes é sincero até certo ponto, mas eu não tenho garantia alguma de que as coisas não irão se repetir”.

A tensão entre ambas era gritante e até mesmo os rapazes no corredor se mantinham quietamente atentos à conversa.  O rosto da morena se contorcia em dor. Sansa sabia que ela se preparava para oferecer mais de suas belas palavras e, por isso, a interrompera.

“Dito isso, eu também devo admitir que ficar longe de você é o pior tormento pelo qual já passei. Então, por favor seja a pessoa que eu amei e me mostre que eu posso confiar em você de novo sem me arrepender. Até lá, só posso te oferecer a minha amizade”.

Sansa levara seu rosto ao da morena e tocara levemente seus lábios ao canto da boca desta. “Até mais, por enquanto, Margaery”.

Deixando uma Tyrell atordoada para trás, a ruiva recuperara seu casaco, sorriu timidamente para os dois homens à porta e seguiu em direção ao próximo capítulo dessa loucura infernal que era King’s Landing.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
O feedback de vocês é sempre muito bem-vindo.



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