There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 10
Pride is the root of all sin


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal.
Desculpem a demora, espero que os novos eventos desse capítulo se redimam por mim. Eu sei que o foco se distancia um pouco do nosso casal favorito, mas era necessário para desenvolver a história.
Boa leitura.



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[Loras’ POV]

01 de janeiro de 2016

17:00. Grande Septo de Baelor, King’s Landing.

 

As escadarias do Grande Septo fervilhavam com a multidão de curiosos. As gotas de chuva aparentemente não eram o suficiente para dispersá-los. A sede por informação e oportunidades alimentava a corja de abutres e as vestes negras somente servia para realçar a sua natureza animalesca.

O jovem Tyrell subia as escadarias com pressa, ordenando que os seguranças abrissem o espaço para que os demais pudessem adentrar o Septo. Ao logo do caminho descartara a proteção do guarda-chuva que lhe fora oferecido e seus cabelos castanhos se embebedavam com o brilho das lágrimas amargas do céu.

Pensara ironicamente no porquê de os deuses se entristecerem daquela forma pelo menos impressionante dos Baratheons. Talvez os céus chorassem pela agonia de recebê-lo, provavelmente os entes celestes se preocupavam com o estado de suas adegas. Afinal, Robert já deveria estar se fartando de néctar e exigindo os melhores vinhos.

As enormes portas douradas estavam guarnecidas por soldados e agentes do serviço secreto. Loras cumprimentara alguns deles com um breve aceno de cabeça e ao reconhecê-lo, abriram a entrada para o aposento fúnebre.

A grandiosidade e a sobriedade do salão o lembrava do significado de paradoxo. A arquitetura suntuosa e sombria demonstrava a natureza antagônica e inconstante dos Sete, estes presentes no aposento em suas estátuas gigantescas. Pilastras essenciais da fé simbolizavam a inferioridade que era o homem – uma miniatura pálida.

Sentira subitamente o calor da mão em seu ombro percorrer seu corpo. O choque que acompanhava a presença lhe era familiar, o susto se desfazia em segundos, se transformando em naturalidade.

“Não precisa correr na minha frente como se fosse meu escudo. Sabe que para isso que servem os brutamontes que nos acompanham”. O frescor do hálito dele lhe arrepiava a pele. Loras queria protestar, mas ao encontrar os olhos exaustos e entristecidos de Renly, engoliu o bolo de palavras pesadamente e redirecionou o olhar para a irmã que acompanhava o jovem conselheiro.

Margaery segurava o braço de seu noivo firmemente, quase que esperando sustentar o peso deste, como se o homem fosse sucumbir a qualquer momento. Loras sabia que isso não era verdade, mas a expressão de Renly lhe incomodava. O Baratheon nunca guardara tamanha proximidade dos demais de sua linhagem e, mesmo assim, sempre fora o mais empático destes.

O mar de cabelos avermelhados lhe distraíra por alguns segundos. Sansa Stark se apresentara logo depois dos dois e Loras se concentrara mais uma vez no choque de opostos, o fogo vivo que era a nortenha e seus olhos cálidos fixados no centro do Septo, nas outras figuras negras que rodeavam o controverso Primeiro Ministro – olhos fixos na morte.

Novamente, o firme aperto em seu ombro o puxara para o homem que tanto precisava dele. Loras queria abraça-lo. Queria tanto retirar os fantasmas e ameaças para fora do caminho dele. Queria ser seu cavaleiro, lutaria por ele quer seja em armaduras brilhantes ou ternos bem cortados. Ao invés disso, olhara nos olhos do seu melhor amigo e amado, acenara-lhe com entendimento e se pusera ao lado de Sansa, oferecendo seu braço e ajudando-a nas escadarias até a pequena comoção.

Como já era esperado os malditos Lannisters observavam o desenrolar dos fatos com pouco interesse, pareciam entediados com o acontecimento – como se o infortúnio não estivesse vinculado a uma terrível orquestra criminosa, mas a uma mera casualidade.

A viúva conservava seu ar de petulância e o rosto marcado por falsas lágrimas fazia o estômago do Tyrell ferver. Os herdeiros, por outro lado, permaneciam imóveis em seus trajes impecáveis: Myrcella lutava para conter as emoções, mas falhava miseravelmente, roubando olhares furtivos para o rosto do pai encoberto por uma mortalha dourada; Tommen matinha a cabeça erguida de encontro as estátuas dos Sete, perdido em suas orações, os olhos marejados e o rosto corado; e, por fim, o mais apático de todos, Joffrey mirava seu genitor com um interesse mórbido, o peito se enchia de satisfação ao perceber que estava sendo observado e o sorriso que deixara escapar era como água fria na espinha de Loras.

A troca de condolências fora fria e automática. Os demais conselheiros presentes se dirigiam a Renly, apertando-lhe a mão e conduzindo palavras ocas. O eco da voz de Baelish ainda o incomodava e o olhar predador deste à nortenha a seu lado não passara despercebido. A indignação de Loras se mostrava evidente em sua expressão desafiadora, os olhos penetravam o Conselheiro com desdém, a mensagem clara: “Não deixarei que chegue perto dela, sua víbora nojenta”.

Notara, então, que o homem esguio pouco se importara com a sua ameaça silenciosa, mas se encolhera ao avistar a reação de Margaery. A morena lhe fitara com ódio velado e o sorriso mais malicioso de todos, o aviso decido pintando seus lábios ao som de “Sr. Baelish, os demais da fila também desejam cumprimentar o Conselheiro Baratheon. Seria extremamente rude interrompê-los na apresentação de suas condolências”. O homem cerrara os punhos e respondera rispidamente: “Perdões, Srta. Tyrell”.

Loras sentiu os cantos da boca se levantarem contra a sua vontade. Sansa permanecia irrequieta, fitando confusa a reação de Margaery. “Pobre lobinha”, pensara o Tyrell, “quão bela é a sua ingenuidade. Agora entendo como cativa e frustra minha querida irmã”.

“O que foi isso?”, ela perguntou aos sussurros.

“Petyr sendo inconveniente”, respondera, sem retirar os olhos de Renly e sua irmã. Ao que parecia, todos haviam prestado seus devidos respeitos, mas o Baratheon seguia procurando pelo salão. Só, então, percebera. Stannis não estava presente, bem como não havia sinal de sua esposa, nem da pequena Shireen.

“Também notei, achei que como diretor do serviço secreto ele estaria o mais próximo das personalidades aqui presentes”, a ruiva sussurrara e Loras, mais uma vez, se surpreendera com o contraste que era Sansa Stark.

“Stannis deve ter sido chamado para o departamento de defesa. As investigações estão correndo intensamente enquanto falamos. O que me preocupa é o fato de ele não confiar no próprio pessoal para garantir a segurança da família nesta cerimônia – precisamente, por isso, não vieram – e, ainda assim, não notificar a equipe de Renly”, sua mente se acelerava impiedosamente, os olhos acompanhavam os movimentos dos agentes que percorriam o grande salão.

Algo estava errado.

Antes que percebesse, os múrmuros silenciosos se agitavam, a entrada de Eddard e Robb Stark trouxera o vento frio, a chuva se intensificava lá fora. A severidade na face de Eddard era palpável. Enquanto Robb se matinha afastado, seu pai andava a passos largos – o tom pesaroso de suas palavras de respeito ruía o vazio da falta de sentimentos.

Loras entendia agora de onde ressonava a sinceridade nos atos de sua amiga. Os Starks eram conhecidos pelo significado germânico de sua linhagem, a palavra stark é equivalente a “forte”. A bravura e força sempre andaram lado a lado, mas não havia algo que transpirava mais força do que permanecer sincero e incorruptível em um mundo de corruptos e farsantes.

Ainda assim, a chegada dos nortenhos não interrompera por completo a aflição de Loras e aquela terrível sensação o acompanhava. Decidido, avisou que se ausentaria por alguns minutos e, após o aceno enfraquecido de Renly, pôs-se a caminhar pelo salão.

Cada detalhe lhe parecia tremendamente importante, reparara que Stannis não fora o único ausente, a lista se estendia a dignitários de Dorne e o Vice Primeiro Ministro. No caso deste último, Loras achara curioso não terem sido sequer divulgadas informações de sua ascensão como governante interino, tal como manda as normas da Lei de todas as leis.

Os dedos se inquietavam, a boca secava e o maço de cigarros no bolso interno de seu terno lhe chamava cruelmente. Renly odiava que fumasse, odiava o resquício na ponta de seus dedos e o cheiro que lhe impregnava as roupas e o cabelo, porém tinha se tornado um hábito difícil de quebrar – tão difícil quanto aceitar o atual status de seu relacionamento.

Balançando a cabeça, furioso consigo mesmo, saíra do salão e novamente se deparava com as lágrimas irônicas dos deuses. Puxara o maço do bolso e prendera um dos cigarros entre os dentes, a ansiedade de suas mãos era evidente e se atrapalhara nas primeiras tentativas de acendê-lo. Um dos agentes de prontidão lhe oferecera o isqueiro e uma vez acesso o maldito cigarro, tragara pesadamente e soltara a fumaça. Sentia o corpo relaxando aos poucos e só então sorrira para o rapaz a seu lado.

O homem não respondera, somente dera de ombros e apontara com a cabeça para as duas figuras que debatiam junto a uma coluna na extremidade direita. Loras reconhecera a careca característica de Varys e a estatura reduzida de Tyrion, ambos conversavam e lançavam olhares em sua direção.

Deixou-se tragar mais uma vez e jogou o cigarro no chão, pisando-o firmemente. Os passos eram tranquilos, mas a curiosidade lhe mantinha alerta.

“Senhores, um prazer encontrá-los. Pena que seja sob circunstâncias terríveis”, soltara soturnamente.

“De fato, terríveis, Sr. Tyrell. Uma perda considerável em um cenário de paz tão peculiar. Não acha, Varys?”, respondera Tyrion. A ironia do duende se chocava com a seriedade de seu semblante. 

“Bem...creio que a única explicação reside no fato de o jogo estar mudando. Novas peças foram alinhadas no tabuleiro. Em resposta, peças antigas podem ter se sentindo acuadas a tomar atitudes pouco reconfortantes...”, Varys respondia enigmaticamente, o olhar concentrado no paletó de Loras. “Não sabia que fumava, caro Loras. Sua irmã com certeza não deve simpatizar com o hábito, já que ela é uma das principais benfeitoras em caridades na luta contra o câncer”.

“Não surpreendo por querer preservar seu ar de mistério, Varys. Mas acho um bocado estranho que o diretor do Departamento de Inteligência esteja aqui fora conversando com um professor universitário de literatura, enquanto o diretor do Serviço Secreto e o Vice Primeiro Ministro sequer compareceram ao velório. É, no mínimo, curioso. Bem mais curioso do que a contradição de Margaery ter um irmão fumante”, sorrira levemente. Tyrells eram vaidosos e, até certo ponto, arrogantes. Loras não se apegava a esse traço em particular, mas em determinadas ocasiões, o calor da arrogância percorria seu interior – Margaery não era a única rosa perspicaz nesta brincadeira.

A gargalhada do anão o surpreendera e as sobrancelhas arqueadas de Varys mostravam que o Mestre dos Sussurros o examinava com cautela.

“Tem que admitir que o rapaz tem colhões, meu caro amigo desprovido deles”, Tyrion falava risonho, limpando os olhos e ajustando a gravata.

“Não sei porque ainda espero que um dia você desista das piadas sobre castração e seja o mínimo esperado de um cidadão politicamente correto”, o outro respondera, descruzando os braços e massageando as têmporas. Tyrion ria mais fortemente agora, falava algo sobre a perplexidade de se esperar o politicamente correto de um Lannister.

“Então, vocês simplesmente evitarão a pergunta óbvia?”, Loras perguntara entediado com as excentricidades dos dois

“Qual seria a pergunta óbvia, Sr. Tyrell?”, o anão desafiava.

“O que está havendo? Nem mesmo suas metáforas fazem sentido. Por que o tabuleiro seria drasticamente mudado agora e porque todos parecem esquecer que foi cometido um crime pra isso?”, sua voz saíra com uma ingenuidade suspeita, mas os dois à sua frente não pareceram reparar. O rapaz se indagava como Margaery sabia dosar tão bem falsa inocência sem parecer idiota perante os demais.

“Simples. Todos pretendem jogar. A morte de Robert não foi por acaso, alguém viu um momento oportuno e o retirou de campo. Lógico que os métodos não foram lícitos e as autoridades estão loucas para realizar a apreensão do ‘maníaco que teve a brilhante ideia de matar o Primeiro Ministro’. Por outro lado, essa pessoa ou grupo de pessoas - não é sensato descartar esta possibilidade - parece ter realizado o crime com uma maestria que está confundido até os melhores especialistas. Não foi um ataque. Foi uma jogada estratégica”, Tyrion dizia sombriamente.

“O certo é que o departamento de inteligência e o serviço secreto estão sendo pressionados por não terem previsto este movimento e agora alguém terá que ser responsabilizado. Perceba que uma das ausências que você apontou ainda pouco está respondida. A outra...Bem, é mais complicada”, Varys respondia a contragosto. Loras tinha certeza de que a Aranha somente lhe respondera em virtude do vínculo deste aos planos de sua irmã.

“E o Primeiro Ministro interino? Ele, por acaso, evaporou? Não há informação alguma de o Vice ter assumido o posto, assim como ele não se deu o trabalho de aparecer”, o Tyrell pressionara. Sabia que a possibilidade de responderem esta dúvida em particular era remota, mas não se conformara com a falta da informação. A gélida sensação de algo estava errado retornara e Loras tentava acalmar o tremor de seus dedos irrequietos, metendo-lhes nos bolsos da calça.

“Mais uma vez a simplicidade das coisas pode surpreender, Loras. Não se sabe aonde o Vice Primeiro Ministro está. Ele foi dado como desaparecido quatro horas depois do incidente”. As palavras do menor dos Lannisters se prendeu em seu peito, a sensação se espalhava por seu corpo rapidamente.

“Isso significa que...”

“Isso significa que o Conselho tem vinte e quatro horas para votar o governante temporário...e o melhor de tudo, segundo a Lei de todas as leis, os candidatos a serem votados devem ser Conselheiros da Capital”. A voz de Varys formava um eco, o sangue se concentrava nos ouvidos de Loras, o coração apertava e a respiração se entrecortava.

“O que faz de todos os Conselheiros da Capital suspeitos, inclusive Renly Baratheon”, concluíra, por fim, Loras. Era como se ao dizer estas palavras, uma adaga fincada em seu coração tivesse sido retirada, o sangramento de pensamentos era absurdo, mas o Tyrell se prometeu apenas uma coisa: “Não conseguirão atingi-lo. Não enquanto eu estiver aqui”.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler e acompanhar a história.
Seus comentários são sempre apreciados e prometo responder a todos.



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