There Is a Smile of Love escrita por The Deserters


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

Os personagens são de propriedade intelectual de G.R.R.Martin e pertencem ao universo do seriado Game of Thrones e correspondentes livros da saga ASOIAF.

Boa leitura a todos :)



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23 de dezembro de 2015

20:00. Winterfell Manor.

 

“Faz frio. Talvez eu tenha me desacostumado às brisas de inverno. Muito tempo ao sol dos jardins ao sul podem ter derretido a minha couraça, pensara a jovem de cabelos beijados pelo fogo, enquanto observava os padrões de cinza e azul do Grande Norte pela janela de seu esconderijo. “Ou talvez, não seja o frio em si, mas a sensação gélida de estar longe dela”, suspirou pesadamente, como se o ato de respirar consumisse mais energias do que o necessário.

“Sansa! O que diabos você faz dentro da minha caminhonete?” A voz a alertara, fazendo com que seus olhos lhe guiassem ao destinatário deste tom impetuoso, porém cálido.

“Jon.” Falara o nome de seu irmão com a voz trêmula, parecia lhe doer qualquer outro esforço em falar. Seus olhos se levantaram aos dele e imediatamente percebeu a ternura e tristeza ali presentes.

Jon estava em pé ao lado da porta do carro, esperando que ela saísse ou fizesse algum sinal de que o faria. Quando nada acontecera, ele simplesmente abriu a porta e lhe entregou um casaco. “Tome. Está congelado aqui fora e aí dentro não parece melhor. O que você andou pensando? ”

Sansa aceitara o casaco, mas não o vestira. “Eu sinto falta do frio”. Jon a fitava com curiosidade, afinal seria a última coisa que ela diria em circunstâncias ordinárias, concluiu.

“Hm...o Sul não lhe agradou tanto assim?” Aparentemente ele não iria a lugar nenhum, ficaria em pé no meio da geada, enquanto não obtivesse suas respostas. Dentre as maiores desvantagens se ter um irmão na força policial de Winterfell, a teimosia e a persistência se superavam.

“Não é isso” Ela lhe concedeu uma verdade, sabia que se mentisse ou fosse evasiva demais só pioraria a situação. Jon poderia envolver Robb e a dinâmica de bom e mau policial entre eles é péssima, somente a serviria de tortura.

“Sabe...Arya sentiu sua falta. Ela que insistiu para que eu te procurasse, ela parecia um tanto quanto preocupada...pros padrões dela” Ele coçou os cabelos desgrenhados da nuca e levantou os olhos para o céu, parecia inquieto. “Você mudou, Sansa. É uma verdade inquestionável e eu sei que é bom que tenha, mas também me preocupo. Porque quis estar sozinha agora?”

Ela suspirou, mal percebia que torcia o casaco que estava em suas mãos, se forçou a levantar do banco e saiu do carro. “Precisava pensar. Sabe como são os feriados em casa. Somos muitos, num casarão que parece muito mais uma caixa de fósforos quando se tem tantos familiares perguntando milhares de coisas que nem sei responder a mim mesma”.

Eles caminhavam a passo lento. Jon a acompanhara com um olhar cansado, ele entendia, até certo ponto entendia, ela tinha certeza disso. Mas o perfil dele indicava que não se contentaria somente com essa parcela da história.

É verdade que todos voltaram para casa para as festas de fim de ano: Robb deixou suas causas nobres por pelo menos duas semanas, ou até que o escritório da firma ligasse pedindo conselhos sobre algum documento ou medida urgente para algum caso mirabolante; Jon tirou metade dos dias de suas merecidas férias; Arya cruzou o oceano, deixando a Universidade de Braavos e o namorado por um tempo para vir ao Norte; Bran finalmente conseguiu um tempinho no meio da sua agenda, aparentemente a turnê do novo livro vai muito bem; e Rickon, bem, Rickon ainda morava em Winterfell, trabalhava como voluntário numa ONG de proteção aos lobos selvagens. Todas as crianças do Norte pareciam ter traçado seus planos e os estavam cumprindo, deixando o Sr. e a Sra. Stark extremamente satisfeitos e orgulhosos. Todos. Menos Sansa.

Seria mais fácil não ter voltado, permanecer no campus, corrigindo artigos de alunos que não se interessam por literatura, quem dirá dissertar sobre William Blake corretamente. Seria tedioso, porém exponencialmente mais fácil.

Eles chegaram à casa, Jon abriu a porta e a conduziu com uma mão em seu ombro, dando um leve apertão. “Você devia falar com a Arya. Eu sei que pode ser difícil falar sobre algo...se expor assim pra alguém, mas pode contar com qualquer um de nós”.

Ela fixou o olhar em seus orbes castanhos - quase tão negros quanto os cabelos dele, e viu a urgência do pedido. Ainda que sua voz se manteve tranquila e o rosto impassível, Jon parecia revelar uma preocupação que não era comumente destinada a ela.

“Tudo bem. Obrigada por me resgatar da morbidez daquele seu ferro-velho. Não sei como a Ygritte consegue não ficar depressiva toda vez que anda com você naquilo” Ela disse, forçando uma versão opaca do seu sorriso zombeteiro.

Os olhos de Jon brilharam com surpresa e ele jogou a cabeça para trás rindo da sua ironia com vigor. “Ah...mas a Ygritte converte a depressão em sarcasmo, você deveria ver os olhos dela quando o rádio toca música indie...já recebi ameaças de que ela se jogaria do meu ‘hipstermóvel’ se não trocasse a estação” Ele respondeu sorridente e depois de assistir a risada de Sansa com certa satisfação, seguiu pela casa, prometendo que a procuraria depois de falar com Robb sobre um jogo qualquer.

“Acho que é hora de encontrar a minha sina e visitar aquela peste”, pensou Sansa enquanto subia as escadas em direção ao quarto de sua irmã mais nova. Sentia-se melancólica, não conseguira expulsar o sentimento enregelado em sua espinha, era como se ainda estivesse lá fora dentro da caminhonete velha.

Enquanto seguia pela casa, se dava conta de que, apesar de enorme, a morada dos Starks não era de nenhum luxo. Claro, foi desenhada para comportar confortavelmente quartos individuais a todos os herdeiros do Norte, pelo menos quatro quartos de hóspedes e uma suíte para os pais. Além do mais, uma sala de estar rústica com tapeçarias acinzentadas e azuladas, sala de jantar, de jogos, uma cozinha que raramente era usada por mais alguém do que sua mãe. E, por fim, o sótão, onde Rickon passa a maior parte do tempo fazendo sabe se lá o quê. Era, de fato, uma propriedade enorme, mas não parecia ter um cômodo sequer que fosse inabitado, com todos os ruídos e vozes, os barulhos de passos, música em algum dos quartos. Era como se fosse um ser vivo, convidativa, repleta de peles e brasões da família, mas sem maiores requintes. Como sentira falta de estar aqui.

Já no topo das escadas, Sansa virou à direita no largo corredor, passava a mão pelas paredes enquanto andava, sentia a textura do papel de veludo que as cobria. Duas portas à frente e encontraria o que estava procurando. A placa de “Arya Proibida” colada à porta a fez revirar os olhos, mas também foi o suficiente para levantar o canto de seus lábios em algo similar a um sorriso. Sansa tinha certeza de que a mais nova seria mais agressiva do que Jon em seu interrogatório e por isso caminhava devagar, se preparando para as intermináveis perguntas carregadas da ironia selvagem que somente sua irmã conseguia proferir.

 

20:23. “Arya Proibida”

 

Três batidas na porta e nada. Sansa levantou o punho direito mais uma vez para atacar a madeira em outro “toc” nervoso, mas a porta já vinha se abrindo lentamente, revelando uma luz fraca em meio ao breu e o rosto de uma garota de cabelos bagunçados, olhos sonolentos, mas ferozes. “Porque demorou tanto? Mandei Jon te buscar há horas”, disse Arya em um tom impaciente.

“Jon tentou sondar a questão primeiro, sabe? Fazer o reconhecimento do problema. Me surpreende que ele não tenha te enviado milhares de mensagens até agora” Sansa fita sua irmã com cautela, sabe que a sua tentativa de se manter equilibrada não a engana, mas, ainda assim, espera que amenize as suspeitas dela.

“Hm. Entra logo. Ah...e já te disseram que você está com uma cara horrível? E eu que achava que a Lady de Winterfell sempre mantinha um certo padrão de graça” Arya comentava sem olhar para Sansa, parecia procurar algo pelo quarto...no meio do escuro, como se a luz trêmula vinda do abajur fosse suficiente para desvendar os mistérios desta caverna entulhada de destroços do “furacão Arya”.

Sansa já esperava o comportamento da sua irmã, a troca de farpas era totalmente usual, o quê, no entanto, não impediu com que a observasse incredulamente. Ela estava cansada, sabia que não tinha vontade nem paciência para retrucar o comentário malicioso da mais nova, apenas se limitou a morder a língua e perguntar: “O que você quer, Arya? Jon disse que você estava preocupada, o que duvido muito que seja verdade pelo jeito com que você está me tratando neste exato momento”

“Aquele idiota” Arya parecia inconformada com a informação, xingara Jon de alguns poucos nomes que teriam feito a antiga Sansa ruborizar até atingir a cor de seus cabelos, e então parara de procurar o que quer que fosse e puxou Sansa para sentar na sua cama. “Você não tem respondido os meus e-mails semanais. Esta semana seria a quarta vez se não estivéssemos em casa. Quero saber o porquê”. Sua irmã lhe olhava com determinação e uma pitada do que Sansa ousou chamar de rejeição. A mais velha se sentiu, então, culpada, ela e a irmã haviam se comprometido de se comunicar diariamente, pelo menos por umas poucas mensagens e, se não pudessem ou estivessem muito ocupadas, ainda se corresponderiam por e-mails toda semana.

Acontece que Sansa vem evitando todo tipo de comunicação com qualquer um nas últimas três semanas. Se sentia como se ao conversar com alguém próximo poderia explodir ou desmoronar em pedaços. Era verdade que evitara Arya e mais ainda que sentia falta das conversas com a irmã, mas não conseguia falar com ela, não sabia se poderia confiar algo que não é só seu para revelar.

Além disso, sabia que Arya se irritaria e transformaria tudo num pandemônio desnecessário. Por um momento Sansa se imaginou juntamente com Jon, numa tentativa frustrada de conter a irmã mais nova de fincar seu taco de baseball na direção daquela aura dourada com doce aroma de rosas. “Margaery...por que tudo tem que ser tão difícil entre nós?” Sansa respirou fundo, desprendendo-se de seus pensamentos e se virou para a mais nova. “Por onde eu começo? ”


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