Love Jokes escrita por Bojack


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, obrigado por estar aqui. Alguns já conhecem esta história há anos e esperam que eu continue, finalize-a, e sei que tenho falhado com estes leitores, mas, aqui estou eu: relendo, reescrevendo, melhorando.
Estou em processo de recriar desta história, e aos poucos, dia após dia, estou corrigindo e melhorando tudo o que escrevi. Sempre que um capítulo já escrito for atualizado com suas devidas melhorias e correções, haverá um aviso sobre sua atualização na nota do capítulo. Espero que gostem.
Boa leitura!



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 Os motores estavam à pleno vapor e as luzes da noite se tornavam turvas, apenas borrões. Naquele momento, tudo ao seu redor eram borrões. A velocidade à qual aquele sombrio veículo cruzava as ruas de Gotham era surpreendente e ao mesmo tempo apavorante. Os desamparados e desabrigados que viam aquela enorme sombra passar à toda velocidade mal podiam definir tal coisa ou criatura pavorosa, mais parecia uma poderosa besta negra em um frenesi desesperador.

 O rugido do motor sendo forçado a trabalhar com tudo o que tinha era como o grito desferido por um demônio ao encontrar sua presa e correr para atacá-la, assustador. Mal sabiam aqueles que viam e ouviam aquela sombra negra e metálica passar, que o verdadeiro demônio estava dentro do que quer que fosse aquilo. O próprio medo em pessoa.

 Ele mesmo já não sabia se naquele dia poderia ser definido daquela forma. Por todos aqueles anos, poucas vezes havia sentido medo; não importando quais fossem as circunstâncias, adversários ou monstruosidade a qual houvesse de esmagar, não era comum sentir medo. Porém, quando se tratava dele... O pior dos piores, era impossível não sentir nada.

 Desta vez, acima de qualquer outra vez, sentia medo. Era não só desesperador, como engraçado pensar que o guardião, o cavaleiro das trevas, portador de todo o medo de Gotham, agora estivesse tão atormentado, tão desesperado, tão amedrontado que podia sentir o suor passar por seus dedos trêmulos. Talvez fosse essa a piada.

 O cavaleiro das trevas havia descoberto uma pista a qual devia seguir; conhecia seu adversário há anos suficiente para entender o que deveria ser feito, para onde deveria seguir seu percurso e evitar a próxima tragédia. Sim, era capaz de compreender para onde o jogo seria guiado, mas, não como funcionava o adversário, não este adversário. Era um jogo de xadrez às sombras. Três passos a frente de nada, sempre perdido no caos daquele já comum tabuleiro. Torcia para não ser igual desta vez.

  A noite estava clara, a lua completamente cheia, estrelas brilhavam ao longe, embora pouco pudesse ser visto realmente, graças à toda iluminação da maldita Cidade de Gotham; prédios em sua maioria, com luzes residenciais apagadas e banners iluminados por suas luzes de LED que piscavam repetidamente em todas as cores e com todo tipo de propaganda.

  As ruas cobertas de lixo, pobres homens e mulheres, viciados e ladrões, jogados aos trapos nos cantos e becos da cidade. Era um cenário triste o qual Gotham já apresentava havia décadas, desde o falecimento do homem que esteve tão perto de salvar aquela triste cidade: Thomas Wayne. Não entenda mal, Gotham sempre fora uma cidade caótica, mas, Thomas Wayne chegou perto de mudar tudo isto. Perto o bastante para sabermos como a história terminou para ele.

Dentro daquele veículo sombrio, com a mente coberta por esmagadores e amedrontados pensamentos, calculando possibilidades infinitas das circunstâncias que se desenrolavam ao longo daquela fatídica noite, o cavaleiro das trevas suava. Tremia.

  O assombroso guardião da Cidade de Gotham mal podia se concentrar no caminho a qual tomava, sua mente agora trazia um misto de lembranças cruéis sobre pessoas que perdera ao longo dos anos, família, amigos, e logo uma imensa onda de ansiedade para que chegasse logo onde deveria chegar, sabendo o que encontraria lá, tomará a sua psiquê. Apenas tentava se convencer de que estaria errado. Convencer-se de que o garoto havia simplesmente dado um tempo. Apenas isto.

  O veículo estava em piloto automático, guiado pela marcação no GPS curvava as ruas e seguia por atalhos únicos e escondidos de Gotham. Já não estava tão longe. Com todas as lembranças batendo forte em sua mente, uma dor em seu cérebro o deixava ainda mais abalado. Não estava em condições de dirigir.

  Lembrava do dia em que vira seus pais morrerem na sua frente. Um “assalto mal terminado” fora como o Departamento Policial da Cidade de Gotham havia categorizado, classificado aquele trágico acontecimento. O pequeno garoto crescera rancoroso, tendo muitas vezes tentado investigar quem era aquele homem que havia assassinado seus pais.

  Anos depois, na adolescência, descobrira um enorme esquema corrupto que se desenrolava havia anos. Este esquema culminou na morte de seu pai que como um homem digno, era completamente contra. A própria empresa Wayne estava envolvida com tudo aquilo. Infelizmente, era jovem e não havia muito que pudesse fazer. Sentia-se impotente naquela época. Sentia-se novamente agora.

  Enquanto o cavaleiro das trevas corria com tudo o que podia para a resposta da pista deixada pelo palhaço do crime, sabendo que era uma armadilha a qual lamentavelmente não poderia evitar; no local marcado, preso por correntes pesadas em seus punhos e pernas imobilizando-o, estava o garoto. O maior medo do cavaleiro das trevas era real: O garoto prodígio havia sido pego.

 _______________________Coringa__________________________

 Pouco ferido, o garoto fazia força para tentar livrar-se das correntes. Eram grossas demais, pesadas demais e aquele gordo fantasiado de palhaço com colete militar havia feito um perfeito trabalho ao prendê-lo daquela forma. Seria impossível escapar, sabia disso.

 Não acreditava em Deus, mas, naquele momento, pedia para que seu mentor o rastreasse, sabia que era capaz. Rezava para que fosse encontrado, antes que aquele maldito palhaço aparecesse.  Sabia que não sobreviveria se o seu mentor não chegasse a tempo. “Ele quer irritá-lo, testá-lo, e sabe que a melhor forma é bater onde o chefe é vulnerável. Eu.” Já esperava o pior.

 Sentia o suor frio e salgado do medo escorrer por sua testa e pingar de seu queixo. Sua pequena máscara ainda estava presa em seu rosto, seu uniforme não havia sido arrancado, porém, estava bastante rasgado. Havia danificado seu uniforme quando a história toda começou. Explosões abalavam todas as áreas de Gotham, o garoto prodígio e seu mentor, tinham de agir rápido e impedir mais explosões. Abater e capturar todos os “terroristas” mascarados. Sabiam quem era. Somente ele age desta forma tão aleatória, tão caótica. “Qual a piada desta vez?” O garoto havia escutado seu mentor resmungar, parecia nervoso.

 O garoto havia encontrado poucas vezes o palhaço, todas às vezes houve vítimas as quais não foram capazes de salvar, não importava o quanto treinavam para se tornarem mais fortes, sabendo que uma hora, mais cedo ou mais tarde, ele iria escapar e trazer todo o caos novamente com ele. Não imaginava que, desta vez, a vítima seria ele. Era claro que uma hora ou outra o palhaço viria atrás dele, era o ponto fraco do cavaleiro sombrio de Gotham, seu orgulho. Pensou estar pronto; estava errado, nunca se está pronto.

 Um silêncio perturbador vagava aquele galpão solitário e abandonado. O silêncio apenas contribuía para pensar no quão perto estava de morrer. “Se eu sair vivo, irei pedi-la em casamento. Nada mais importa. Nem Batman, nem Gotham. Desculpe chefe, não vale à pena. Você estava certo, talvez fosse melhor me manter distante.” Ele refletia sobre sua possibilidade de sobrevivência.

 A verdade é que o garoto estava em um relacionamento apaixonado havia alguns anos; sempre mentira sobre o que fazia e o porquê não tinha tanto tempo, ou ainda o porquê de não se casarem, claro. Ela jamais poderia saber que ele era o aluno, parceiro e filho adotivo do cavaleiro das trevas, do Batman! Jamais poderia saber que ele era o Robin. O nome da garota de sorte é Jaine; tudo o que queria agora era beijá-la.

 Voltou a debater-se em uma fútil tentativa de fuga. Gritou bem alto por ajuda, naquele momento já não importava sua identidade, mas, ninguém ouviu, exceto talvez alguns capangas que já estavam tanto tempo em silêncio que o garoto pensou que haviam ido embora. Eles agora riam.

 As risadas foram interrompidas abruptamente por um silêncio ilusório. Quando o garoto se concentrou, tentando entender o que havia acontecido para a mudança brusca de humor dos capangas, em busca de um som qualquer que pudesse explicar, sentiu sua espinha contrair e um frio súbito tomar seu corpo. Provavelmente estava pálido naquele momento.

 Havia escutado o som do que parecia ser um carro se aproximando, parando, e desligando o motor. Seu mestre jamais apareceria com o veículo sombrio assim de cara e tão calmamente, e se o fizesse, a primeira coisa que escutaria seria o som de algo explodindo e os corpos dos capangas palhaços arremessados longe pelo impacto do tiro ou de destroços esmagando seus corpos. Má notícia.

 Pôde ouvir uma risada familiar ao longe, aquilo fez seus músculos contraírem e seu suor escorrer ainda mais frio. Algumas pessoas falando, cumprimentando talvez. Passos cada vez mais próximos. Ele estava chegando. Tinha de fugir. Era o seu fim?

  Finalmente, a grande porta de metal teve suas engrenagens giradas e a enorme chapa empurrada para o lado. Dois corpulentos homens que pareciam soldados com maquiagens de palhaços (algo adotado não havia muito tempo), adentraram na sala com metralhadoras em seu porte; cada um tomou um lado do portão metálico. A luz de farol do carro no qual o palhaço aparentemente havia chegado brilhava intensamente dentro daquele galpão. A forte iluminação impossibilitava ver com precisão o que havia do outro lado do portão e criava uma poderosa vinheta que contornava quem entrasse, dando um efeito único. Teatral como sempre.

 Finalmente ele entrou. Um sobretudo negro, sobre uma camisa social branca, cinto e jeans igualmente negra, vestia também luvas negras e sapatos sociais negros. Ele era inconfundível. Sua pele pálida, completamente branca, marcada por um batom vermelho mal pintado em seus lábios e puxado até bem acima, cobrindo pequenas cicatrizes que tinha nos cantos da boca e que se estendiam um pouco mais, até quase o meio de sua bochecha magra. Seus olhos cobertos por sombras negras expunham ainda mais as enormes olheiras que ele guardava, fora seu bizarro cabelo verde bagunçado.

 Não era só sua aparência, mas, a forma como se portava o fazia inconfundível e tão assustador. Um sorriso maligno nos lábios, um olhar frio e ao mesmo tempo alucinado, o corpo levemente encurvado e seu andar típico de um predador. O palhaço do crime era o verdadeiro mal.

 Ele se aproximou devagar, com calma, trazia consigo uma bengala lilás de madeira. Agachou-se então perto do garoto prodígio, que o encarava furiosamente, e embora tremesse, tentava ao máximo não demonstrar. “Jamais demonstre medo perante a seu inimigo” Dizia seu mentor. Toda sua armadura de durão quase caíra quando o palhaço o pegara pelo queixo.

— Você até que não é tão feio, não é? Pena estar tão preso nas coisas. – Ele ria assombrosamente. – Relacionamentos são mesmo como correntes! Só queríamos nos soltar e enforcar cada um deles. Estou certo? – Novamente aquela risada.

 O palhaço do crime era do tipo que brincava com a comida antes de devorá-la. “Afinal, qual a graça de acabar com tudo tão rápido?” Ele disse ao “parceiro de dança” uma certa vez.

— Você está acabado, Coringa. Você sabe. Ele estará aqui em questão de poucos minutos. – O garoto prodígio tentava parecer durão.

— A questão é... – O Coringa fez uma careta lambendo o lábio. -... Você estará aqui? Digo, vivo? Quando ele chegar, e ele vai chegar, eu sei. O que acha que ele vai encontrar?

 O garoto em um impulso de puro nojo e ódio cuspiu na face do palhaço. Temeu que ele ficasse furioso e acabasse com tudo aquilo naquele instante, mas, o desgraçado apenas rira de sua cara apavorada que tentava se esconder através de uma expressão raivosa.

— O garoto prodígio, com toda sua força e artimanha, apenas pode cuspir em seus momentos finais. – Ele ria descontroladamente.  – Sente o cheiro da impotência sendo exalado de suas últimas esperanças, garoto? Pena que você é só uma parte de uma piada maior. Você sabe... Completamente pessoal. – Novamente a risada.

 Levantando-se com a ajuda da bengala - Não que precisasse, apenas por apoio – Entregou-a a um dos seus capangas que em troca deu-lhe um pé de cabra. Coringa olhou para o pé de cabra, sorriu como se um prazer súbito tomasse seu corpo, virou um pouco a cabeça e fechou os olhos em puro êxtase. Repentinamente apontou o pé de cabra na direção do garoto prodígio caído e ferido a sua frente e então, balançando o pé de cabra um pouco acima do garoto, um pequeno grunhido fora solto da boca daquele palhaço psicopata. Era como um leão, feliz com sua presa em suas garras.

— TIC, TAC, TIC, TAC. – Ele repetia enquanto balançava o pé de cabra. – É garoto... O tempo acabou.

 Fechando os olhos preparando-se para a dor que viria a seguir, sentiu seu corpo contrair, pronto para receber o impacto. Assim foi feito. Uma, duas, três vezes e um som reconhecível de ossos quebrando era escutado, e acima de tudo, sentido pelo garoto.

 Os golpes não cessavam conforme seus ossos quebravam. A dor era cruelmente embriagante, em determinado momento já não sabia mais o que sentia. Um calor tomava seu corpo, e talvez a dor houvesse parado. Só ouvia estalos acompanhados de uma risada desenfreada.

 O mundo ao seu redor tornava-se escuro, lentamente desaparecia; ou era ele quem desaparecia? A morte parecia confusa para o garoto. Uma mão acertava-lhe a face e tudo clareava novamente, a dor voltava. Notava então o beliscar de uma agulha que parecia sair de sua pele naquele momento. “Adrenalina” Ele entendeu. A dor em seu corpo voltara tamanha que o fizera implorar para morrer. Suas últimas palavras seriam uma triste e desesperada súplica de morte.

— Você quer morrer, pequeno Batman? Você irá. Titio Coringa é tão gentil! Veja, lhe trouxe um presente! – Eram dinamites. – E mais!

 Naquele instante alguns capangas adentravam o galpão com vários barris de gasolina. Posicionaram a maioria em cada canto do galpão e os últimos como um círculo ao redor do garoto prodígio.

— Esperamos uma visita, meu pequeno... Não morra antes dos fogos, está certo? Por isto que ele irá lhe manter vivo até lá. – O Coringa apontava para um homem sendo carregado à força para dentro do galpão onde estavam por dois capangas mascarados de palhaço e com coletes militares do DPGC.

 O Coringa apontou para o velho com seu pé de cabra, enquanto sorria para o que restara do garoto prodígio.

— Dr. Abraham, este é o Robin! Garoto Prodígio, este é o Dr. Abraham! Faça seu trabalho. – O Coringa passava a mão nos cabelos lisos e grisalhos do velho Doutor.

— Senhor, eu preciso de uma mesa operatória, para salvá-lo. Fora outros equipamentos...

— Não quero que o salve, Doutor. Quero que o faça viver só mais um pouco. Só. Um. Pouquinho. – O palhaço ria. O que assustara o Doutor.

 Apressando-se o médico fez o que podia pelo tempo desejado pelo palhaço. Os capangas armavam tudo o que tinha de ser armado antes de saírem. Não demorou muito e estava tudo pronto. Aproximaram-se com cuidado do palhaço para avisá-lo, sabiam que quando o chefe estava excitado com o que fazia, tornava-se tão intenso que não separava presa de companheiros.

— Chefe, tudo certo. – Disse um dos palhaços armados.

— TIC, TAC, TIC, TAC. – O Coringa repetia enquanto se afastava devagar.

— Não... Não... – A voz do garoto prodígio era puro gemido, pura agonia. Uma tentativa falha de formar palavras e implorar para ganhar tempo.

 O Doutor que havia sido forçado a manter o pequeno Robin vivo, olhava extremamente assustado para o Coringa enquanto ele se afastava. “Ele vai me deixar aqui?” ele se perguntava; sabia que não havia para onde fugir, era o seu fim.

 A caminho do seu carro, uma Lamborghini de cor púrpura que chamava toda a atenção, se destacando em qualquer território, mostrava que o Coringa não só gostava, como queria ser o centro das atenções, notado e temido por todos.

— Sr. C... – Chamou um de seus capangas com maquiagem de palhaço e colete militar. Sempre com medo, ele, como a maioria dos outros capangas, sempre tremia e suava frio ao falar com seu chefe.

 O Coringa que estava prestes a entrar em sua Lamborghini, parara ali mesmo e como se estivesse impaciente, olhara para cima e depois para o homem que lhe chamara. Com um grunhido que parecia assustador em sua voz, ele mostrava estar prestando atenção em seu capanga. Sua voz era sensual, suava como uma brisa penetrante, possuía a tonalidade perfeita, capaz de estremecer de medo e ao mesmo tempo invadir a alma daquele com quem falava.

— ... O senhor quer que algum de nós fique aqui e espere o Batman? – O capanga dizia aquilo, mas, implorava mentalmente para que não fosse à escolha do chefe. Havia apenas duas coisas que temia na vida: uma delas estava em sua frente, a outra estava prestes a chegar, completamente furioso, pronto para descontar a morte de seu querido aluno em quem estivesse à sua frente.

— Boa pergunta. – Com um sorriso tenebroso, um disparo inesperado fora feito. O som assustou momentaneamente ao menos metade dos homens no local. Um baque fora ouvido quando o corpo do homem que falava com o Coringa caíra no chão. Um furo havia sido feito na parte de baixo do maxilar e estourado o crânio em uma região entre o Bregma e o Pariental dentro do capacete.

 Sangue e miolos vazavam do capacete colorindo a face e o chão abaixo do homem morto. O Coringa o olhava agora com certo desinteresse, talvez estivesse com certa pressa, afinal, o jogo ainda não havia terminado. Olhou então para outro capanga, que sem perceber dera um pequeno salto para trás assustado. Com uma expressão que mesclava orgasmo, felicidade e raiva simultaneamente, ele dera uma ordem antes de irem.

— Tinta.

 O capanga retirara de seu colete no mesmo instante uma lata de Spray verde fluorescente e andara com pressa até o Coringa, entregando-lhe a lata em seguida.

— Oh sim... – Ele soltava um misto de grunhido e gemido.

 Escrevera algo no colete do homem morto e então jogara a lata para trás. Virou-se novamente para seu carro e sem se demorar adentrou-o. O motor ligou rápido e sua aceleração fora ainda mais veloz. Antes de desaparecer na curva para longe, pôde ver bem distante o monstruoso veículo negro que se aproximava do local onde deixara sua pequena surpresa.

 ______________________Batman__________________________

 Com quase todo o caminho completo até seu objetivo, à toda velocidade e sentindo o veículo esquentar por estar sendo pressionado à potência máxima de forma constante nos últimos minutos, o homem que dominava a fera já podia ver o local onde devia estar. Um galpão velho, completamente abandonado, exceto por algumas frases e um nome enorme que havia sido pintado recentemente. Era o lugar certo, sabia. “Bem-vindo ao inferno”, “Bem vindo a sua perdição”, “A última piada”, “Bats”, “Coringa”, “Isto é insano”, “Você ficará insano” eram algumas das enormes pichações por todo o galpão.

— Ele está aqui. – Disse o cavaleiro das trevas para si mesmo. – Robin, você está aí? – Ele tentava se comunicar por rádio com seu aluno. – Robin!

 Quão mais próximo estava, mais seu coração disparava. Não estava gostando daquela piada. A última mensagem de voz que recebera do Robin, fora um pedido de ajuda dizendo que estava cercado e ferido, que os capangas queriam ser atacados, era tudo uma armadilha. Robin havia dito algo sobre uma garota, e então, antes do áudio desligar, pediu desculpas ao seu mentor por algo que estava pensando em fazer caso sobrevivesse àquela noite. Logo em seguida o cavaleiro das trevas pôde ouvir uma risada no fundo do áudio, e Robin sussurrando algo que parecia ser um xingamento, por último o som de um tiro e então mais nada.

 O guardião de Gotham treinou seu aluno para suportar e combater o Coringa, mesmo encurralado. O ensinara que se o Coringa aparecesse, não deveria enfrentá-lo sozinho, devia fugir, notificar e aguardar. Embora descrente, o mentor queria acreditar em seu aluno. Acreditar que ele houvesse fugido, houvesse sido capaz de escapar e estava tentando entrar em contato com seu mentor, ou mesmo desaparecesse para seguir com sua vida e se afastar de tudo aquilo, viver um grande amor juvenil, talvez. Sabia que não era verdade. Mais agora do que nunca.

 Sem diminuir a aceleração, acionou o freio a toda potência fazendo o veículo negro e metálico deslizar derrapando pela pista liberando um rastro de fumaça acinzentada até estar à ponto de parar completamente. Sem ser capaz de esperar que o mesmo parasse, o homem no capuz negro abrira a capota e saíra do veículo em um salto veloz e uma aterrissagem perfeita.

 Olhou furioso e amedrontado para o galpão já não tão distante e correra o mais veloz que pôde até ele. O local por onde fora não tinha passagem para veículos, sendo fechado por uma grade enferrujada e decadente só podendo ser atravessado a pé, e por mais que quisesse derrubar tudo e ir o mais rápido que pudesse, não queria chamar a atenção dos capangas do coringa ou do próprio palhaço do crime.

 Prestes a chegar, prestes a ter todas as suas respostas e medos respondidos, algo inesperado e desastroso ocorreu. Uma enorme explosão tomou o local, labaredas enormes, um estrondo ensurdecedor, e uma pressão que arremessara o homem para trás e para o chão veio sem que se fosse esperado.

— Não! – Ele gritava desesperado, imaginando o que encontraria dentro do galpão.

  Levantando-se em um impulso desesperado, correra a toda velocidade forçando seus músculos doloridos ao máximo até dentro do galpão em ruínas, prestes a desmoronar. As chamas traziam um calor abundante, quase impossível de enfrentar. Ele não se importava, mal podia sentir sua roupa queimar com toda aquela adrenalina que tomava o seu corpo e sua mente.

  Com desespero finalmente chegara ao centro do galpão, e lá encontrou primeiro um corpo, que após um breve susto percebera que não era quem procurava. Um ilusório alívio estava prestes a tomar conta de sua alma, seu corpo estava começando a relaxar e sentir o fogo queimar, quando vira aquilo que tanto desejava não ver. Outro corpo, completamente ferido e bastante queimado, mas, não o suficiente para que se tornasse irreconhecível, ao menos pelo seu mentor. Era ele.

 Sentiu o calor ser substituído por uma agonia gélida que parecia apodrecer o seu corpo completamente por dentro. Era um pesadelo, só podia ser. Que maldita piada seria aquela? “Coringa, você passou de todos os limites!” Ele pensava em uma fúria tremenda enquanto seu corpo paralisado olhava aquele que antes era seu aluno, amigo, filho, e agora estava morto.

  Somente quando um pedaço do teto desabou à poucos metros dentre os dois, ele retornou a si. Correu para agarrar o corpo quente de seu aluno morto, e pensou se o calor encontrado na morte também não era uma piada.

 Mesmo sabendo que o seu garoto prodígio estava morto, insistiu em analisar seu corpo ferido e queimado. Não demorou muito para uma análise mental, mas, sua certeza vinha de fatos e não suposições. Com um scanner acoplado a visão de sua máscara, ele pôde ver. Não estava apenas ferido e queimado, mas, diversos ossos haviam sido quebrados. “Ele foi humilhado, repetidas vezes!” Seu ódio aumentava a cada segundo.

 Pegando o garoto morto em seus braços novamente, ele o levantou e carregou com certa dificuldade, sentindo seus músculos doloridos e pele levemente queimada. Caminhou com força e persistência, sentia lagrimas escorrerem por baixo da máscara e por cima dela. Seu coração partido acelerava cada vez mais, o sangue em suas veias voltava a esquentar conforme se aproximava do veículo.

— Alfred. – O poderoso morcego chamou seu mordomo por um rádio acoplado em sua máscara. – Está vendo? Está ouvindo?

— Sim senhor... Lamento. Aquele monstro irá... – O guardião de Gotham já não queria ouvir. Interrompendo a fala de Alfred, indagou.

— Onde ele está? Pode localizá-lo? – Havia uma fúria homicida em sua voz, Alfred podia sentir.

— Patrão Bruce... – Alfred tentava acalmá-lo.

— Onde ele está? – Sua voz amedrontadora não mudava.

— ... Patrão, não acho que... – Novamente fora cortado.

— Onde ele está, Alfred? – Agora mais pareceu uma ordem furiosa, sem oportunidade de escolha. O próprio Alfred estava não só imensamente triste, mas, com medo do que seu patrão poderia fazer.

— Não perca seu próprio significado, patrão Bruce! – Alfred tentava chamar a consciência de Bruce.

— Alfred! – Um grito furioso.

— Dois quilômetros de distância, num veículo rosa ou púrpura. – Respondeu Alfred em um tom de completo pesar, lamentando o fim qual não poderia mais evitar.

— Pegue o garoto. – Batman deixara o corpo do garoto dentro do veículo negro. Adentrara no banco da frente do carro e levantara uma sequência de botões. Engrenagens foram ouvidas e ao apertar do acelerador, o veículo desmontou-se da parte da frente, e acelerando tornou-se algo como uma moto que saíra à toda velocidade explodindo a pequena abertura pela qual passara a pé anteriormente, tornando possível sua passagem.

 Discrição já não era mais importante, apenas tinha de fazer o que deveria ser feito. “Eu devia ter feito isto há muito tempo. A culpa é minha. Desculpe garoto.” Lágrimas ainda escorriam de seus olhos, mas, aos poucos a tristeza ia dando lugar ao puro ódio e descontrole, ao caos.

  Atravessando o galpão em chamas, vira o corpo de um dos capangas do Coringa caído no chão, parcialmente queimado. Desacelerou por um segundo para ler algo que havia sido pintado em seu peito. Talvez fosse parte do jogo. “Você é a piada, Batman” Estava escrito. Aquilo apenas o fez se sentir ainda mais furioso e culpado.

  Sem medir velocidade ou risco de acidentes, virou a curva e acelerou ao máximo, talvez pudesse alcançá-lo. Tinha de alcançar.  Sua mente antes desesperada, agora alucinada. “Bem-vindo ao inferno”, “Bem-vindo a sua perdição”, “Você ficará insano” Era algumas das coisas que o Coringa havia escrito no que antes era um galpão abandonado. Ele estava certo, aquilo era mesmo o inferno, sentia-se completamente perdido, completamente insano.

  Mais rápido do que esperava encontrou ao longe o suposto carro do Coringa e seus capangas ao redor em motos. Tinha de ser ele, somente ele para usar um carro tão extravagante.

  Aproximando-se velozmente, o cavaleiro das trevas arremessou um de seus Batarangs na roda da moto de um dos capangas, fazendo com que ele perdesse o controle e fosse arremessado em cima do outro capanga. Não importava se estavam mortos, não eram o alvo dele.

  Apenas uma coisa interessava naquele momento: sua vingança. Não era mais fraco como foi quando mais novo. Não erraria de novo. Não deixaria barato. Seu aluno merecia vingança. O palhaço já havia causado desgraça demais. “Você sabe que só tem uma forma de me parar” o Coringa havia dito a ele tempos atrás; nunca cruzara esta linha antes, não fazia parte do seu código moral, mas agora... Nada mais importava.

 ______________________Coringa__________________________

  O palhaço ria de forma completamente insana, e com uma mudança brusca de humor gritava com seus capangas.

— Atirem nele, imbecis!

  Os homens que estavam com ele dentro da Lamborghini atiraram por todas as aberturas que podiam. Munição após munição fora jogada contra o cavaleiro sombrio. Sons ensurdecedores de armas esvaziando seus pentes, acompanhados da risada macabra do Coringa criavam um cenário amedrontador que acordava família após família. Todos sabiam o que estava acontecendo. Todos conheciam aquela risada. Todos se escondiam como podiam.

  Nada parecia afetar o cavaleiro das trevas. Foi então que o Coringa mostrou uma granada pela janela do carro para o homem morcego.

— Vamos ver como lida com isto, grandão. – O Coringa então retira o pino da granada com a boca e arremessa pela janela.

  Uma explosão é ouvida e em seguida vista pelo retrovisor. Mas, a sensação de vitória era passageira e curta. Quando uma batida repentina fora ouvida em cima do teto da Lamborghini, o Coringa sabia: era ele.

— Nada pode ser tão fácil contigo, não é, meu amigo? – O Coringa então tentou manobrar balançando o carro, numa tentativa de derrubar o cavaleiro das trevas. 

   Dois capangas puseram o tronco para fora da janela com suas armas, prestes a atirar, quando o Batman os puxou para fora e arremessou-os. O Coringa ria vendo seus capangas serem jogados impiedosamente para longe e caindo ao chão violentamente. O terceiro capanga por fim, olhara para o Coringa assustado e como uma recompensa cruel, recebera um tiro no meio da testa.

— Bando de inúteis! – Ele gritava. – Somos só você e eu, Bat!

   Coringa acelerou com toda a potência em direção à frente de uma loja qualquer. Pretendia bater com toda a força que podia. Quando uma mão forte o agarrou, aquilo lhe surpreendeu por um instante, mas, ao mesmo tempo ele não parava de gargalhar.

— Você! – O homem mascarado à sua frente tinha um olhar completamente diferente do comum.

— Não vá perder a cabeça, querido! – Disse o Coringa desferindo um tiro certeiro na cabeça do homem morcego em seguida.

   O cavaleiro das trevas cai de cima da Lamborghini e rola por um instante no chão. O Coringa tenta recuperar o controle do carro, mas, acaba capotando com o veículo numa velocidade enorme até bater e adentrar a tal loja que era seu “ponto de parada” anteriormente.

   Enquanto o carro capotava com o Coringa dentro, ele gargalhava. Somente enfraquecera sua gargalhada quando o carro finalmente parara de cabeça para baixo dentro da loja. O homem morcego mancava na direção do carro destruído. Aproximava-se lentamente.

— Você ganhou de novo, não é Bat? Vamos dizer que foi um empate, que tal? – Dizia o Coringa bastante ferido dentro do veículo.

  O Batman puxa o arqui-inimigo de dentro do carro e tudo o que vê é o assassino de seu aluno, de seu filho. Seu ódio não diminuíra nada, mesmo após ver o estado destruído em que o Coringa se encontrava em toda sua fragilidade momentânea. Seus punhos se cerraram fortemente. Sentia seu corpo tremer.

— Oh, estou vendo que tomou uma decisão. – O Coringa sorria vendo o olhar determinado embaixo da máscara danificada do enorme homem sombrio e ameaçador que lhe segurava. – Você sangra... – Ele soltou uma pequena gargalha fingindo estar surpreso ao ver sangue escorrer da máscara.

 ______________________Batman__________________________

 Liberando todo o seu ódio, Batman surrou o rosto pálido do palhaço. Descarregava toda sua força e mais a extra concedida pela “armadura” que vestia. Coringa rira no início, mas, agora parecia alternar entre estado consciente e inconsciente. Parecia que iria morrer por todo o sangue que perdia, por todos os dentes que eram quebrados e por todos os ossos que o cavaleiro das trevas quebrava quando sentia a mão ou o braço do Coringa encostar nele.

— Patrão! – Alfred havia surgido repentinamente, o que fazia o encapuzado se perguntar a quanto tempo estava batendo no monstro em suas mãos que se recusava a morrer. – Pare! Não se torne como ele, patrão! Não suje o nome de seu pai! – Alfred tinha uma arma apontada para a cabeça do guardião de Gotham! Do seu Bruce!

— Alfred? – Como que recuperando a sanidade, olhara assustado e confuso para o mordomo, e depois para o homem que era quase puro sangue em suas mãos. – O que estou fazendo?

 Um som de sirenes fora ouvido a distância. Alfred havia chamado a polícia para o pior dos casos.

— Vamos embora, patrão. – Pediu Alfred olhando para a polícia ao longe.

— Tenho de levá-lo a Arkham. – Disse o cavaleiro das trevas enquanto olhava o homem pálido e encharcado do próprio sangue agora no chão.

— Ele está vivo? – Alfred estava preocupado, não com o Coringa, mas, com a consciência de Bruce.

— Está. Infelizmente, este desgraçado é resistente.

— A polícia o levará para lá. Vamos embora! – Alfred parecia mais grosso agora.

 Batman anuiu com a cabeça e Alfred mostrou o veículo negro e metálico estacionado à poucos metros.

— Temos de deixá-lo ir em paz, senhor. – Disse Alfred a respeito do Robin em um tom tristonho.

 Ambos adentraram no carro e acelerando sumiram pela noite antes que a polícia pudesse alcançar o local. A mesma não demorou muito até chegar ao “suposto acidente”.

— O que houve aqui? – Perguntou Gordon vendo todos os corpos e destroços espalhados.

 Andou até a loja onde havia uma Lamborghini destroçada, coberta por fumaça do motor destruído. Um de seus guardas chegou até ele e antes que pudesse falar qualquer coisa recebeu as ordens:

— Recolha os corpos, levem os vivos ao hospital, selem as ruas, tragam a perícia e... – Sentira seu coração parar e olhos arregalarem ao ver o corpo ensanguentado caído próximo a Lamborghini púrpura. Não podia acreditar no que via.

— O Coringa? – Por um momento sentiu, embora o estranhamento, uma felicidade tomar sua face. O Coringa havia atirado em sua filha, Bárbara Gordon, havia alguns anos, deixou-a paraplégica, arruinando parte de sua vida. Na época Gordon se amargurara e buscara vingança contra o Coringa. Claro, nunca conseguira e muitas vezes o próprio Batman o impedira de cruzar a linha. Mas desta vez, era ele quem parecia tê-la cruzado.

  Inesperadamente, o corpo pálido e coberto de sangue cuspira os dentes quebrados em uma tosse engasgada pelo sangue.

— Que pena... Ele está vivo. – Naquele momento, vários policiais se reuniam para ver o corpo ensanguentado do maior criminoso de Gotham. Ao menos ele era, parecia que seu reinado havia acabado.

— Me pergunto o que o impediu de matar você. – Ele perguntara ao destroçado palhaço do crime, sem esperar uma resposta. — Levem-no para Arkham. E que ele não saia; acho que nosso amigo em comum não está mais com paciência.

 Com força dois guardas seguraram o Coringa pelos braços com cuidado e depois outros dois o pegaram pelas pernas. Puseram dentro da ambulância que os acompanhara até ali e iniciaram medidas de salvamento. Próxima parada não era o hospital, e sim o asilo de Arkham. O abraço para os perdidos. O acolhimento para os insanos. As correntes para os piores dos piores. E ele certamente era o pior.

 Mal sabiam eles que aquela casa insana se tornaria seu lar de renascimento. O lugar onde se tornaria mais forte. Mais insano. Mais poderoso. E onde tudo mudaria; para ele e para a cidade de Gotham. Dizem que a loucura é contagiante; e esta é a mais pura e demente verdade. Gotham descobrirá que o amor é mesmo uma loucura. Não concorda?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do prólogo. Como disse, estou, mais uma vez, melhorando os capítulos desta história para que possamos dar continuidade a este universo de drama, violência e loucura. A mais recente, e acredito que a última atualização deste prólogo ocorrera em: 17/09/2022.