Rose não se lembrava de uma noite que tivesse durado tanto, ela não conseguia dormir, vira o sol nascer pela janela e mesmo assim seu cérebro estava a mil, dentro de si ela queria gritar, aquela cena rodava incansavelmente em sua memória, ela nutria uma raiva incumbida pelo pai de Rowan, da qual ela não podia afastar.

Achara que Lucy também estivera acordada, porém não ousou trocar uma palavra se quer com a prima, em silêncio ela permaneceu entretida em seus pensamentos.

Somente quando ouviu passos no corredor ela se levantou para tomar um banho, o vilarejo tinha acordado, depois de uma longa noite conturbada, tudo que eles mereciam era descanso.

Ela tomou seu banho e saiu do banheiro penteando as madeixas ruivas, se deparou com Lucy acordada sentada na cama, ela olhava para as próprias mãos, parecia envergonhada.

— Lucy? – Rose perguntou finalmente quebrando o silêncio do quarto, a ruiva deixou a escova em cima da cama e caminhou ate a cama da prima, sentando ao seu lado

— Ele me pediu em casamento – Lucy sussurrou

Rose demorou alguns segundos para ingerir aquelas palavras.

— O que? – A menina arregalou os olhos surpresa

— Rowan me pediu em casamento, Rose – Ela repetiu agora com a voz mais firme

— Meu Deus, você aceitou? – Rose rapidamente pegou nas mãos da prima

— Tudo aconteceu muito rápido e eu não pude responder – Lucy disse baixando o olhar

— Mas você vai aceitar? – Rose insistiu, sua expressão era um misto de felicidade e surpresa

— Rose... – Ela suspirou – Ele é um Príncipe, ou melhor, o Príncipe desse lugar...

— Mas você gosta dele?

Lucy ergueu o rosto de supetão para encarar a prima, chocada com a pergunta, suas bochechas tomaram um tom vermelho

— Eu acho que isso é um sim – Rose riu levemente – Se você realmente gosta dele, bem, e ele de você, mais do que imaginávamos... – As duas riram – Eu não vejo porquê não aceitar.

— Mas eu sou do outro mundo...

— Tecnicamente você é daqui – A ruiva a cortou sorrindo – Se a gente explicar direitinho todo mundo vai entender.

O rosto de Lucy se iluminou com um sorriso

— Você acha mesmo que isso daria certo? – Ela murmurou sorridente

— Por quê não?

Lucy apertou as mãos da menina de volta, as duas balançaram as mãos, claramente animadas

— Meu Deus, Lucy! Você vai se casar! E com um príncipe, um príncipe de verdade! – Rose exclamou e a menina riu

— Como assim casar? – A voz de Alvo interrompeu o momento entre as meninas

A cabeça morena dele despontou na porta, com a boca aberta em um perfeito O.

— Você estava ouvindo atrás da porta? Que coisa feia, Al – Rose comentou colocando as mãos na cintura e fechando a cara

Alvo entrou no quarto sem mais nem menos e fechou a porta atrás de si, sentou na cama da ruiva e abriu um sorriso debochado

— Não acredito que ele estava de olho em você esse tempo todo – Alvo comentou rindo consigo mesmo

— Também não acredito – Lucy murmurou levando os três a gargalharem

As risadas rolaram por mais um tempo até que Alvo assumiu uma feição séria e encarou Rose, da água pro vinho ele suspirou pesadamente

— Como você está? – Ele perguntou seriamente

Rose encarou o primo.

— Eu vou ficar bem – A menina disse suspirando profundamente

— Eu espero que ele esteja bem – Lucy murmurou sorrindo de canto – Quer dizer, é o James, vaso ruim não quebra.

Ela sorriu satisfeita ao ver Rose rir daquilo

— Ele não vai poder voltar...

— O que está dizendo? Nós que vamos voltar – Alvo cortou franzindo o cenho

— Não, Al – Lucy disse comprimindo os lábios – Eu não vou voltar – Ela entregou um olhar confiante para a prima, Rose entendendo o recado assentiu

— Eu também não – Rose disse em concordância

Alvo as fitou confuso.

— Por quê?

— Eu finalmente achei um lugar onde realmente pertencesse, onde me sinto em casa – A ruiva continuou sorrindo, repleta de coragem – Eu passei muito tempo procurando por isso, eu descobri que não é o lugar em si, mas é onde o seu coração está... Se levarmos em consideração meu coração foi partido em dois...

— O que você quer dizer? – Alvo estava ainda mais confuso

— Metade dele está em outro mundo... – Lucy disse

— E acho que foi tarde demais quando eu descobri isso – Rose sussurrou com um sorriso triste

— Nunca é tarde demais, Rose – Lucy apertou as mãos da prima e sorriu – Você voltou pra nós, não voltou? Deixe o universo retribuir.

Lucy abraçou a jovem e ela sorriu agradecida.

— Quanto tempo eu dormi que não percebi isso tudo? – Alvo disse fingindo estar ofendido

— Você estava ocupado demais plantando, literalmente – Lucy comentou rindo

— Como meu irmão fez isso com seu coração de pedra? – Alvo perguntou chocado

Rose puxou uma almofada e jogou na cara do primo

— Engraçadinho – Ela sibilou entre dentes fazendo o menino rir alto

— Eu estou grato por isso, Rose, de verdade – Ele abraçou a almofada falando sinceramente – Obrigado por voltar, você nunca deveria ter ido, mas eu entendo que precisou do seu tempo.

— Isso vai parecer irônico, mas agradeça ao Hirena, se não eu não estaria mesmo aqui...

— Eu espero de verdade que você encontre uma forma de... Sabe... Você e James...

— Eu entendi, Al – Ela interrompeu risonha – O que é nosso sempre encontra um caminho de volta.

— Tem razão...

— E sabe de uma coisa, Al? – Lucy exclamou com um sorriso maroto no rosto – Se eu fosse você eu aproveitava enquanto tenho alguém por perto que...

— Ora, Lucy, eu deveria dizer o mesmo sobre o Rowan – Alvo ergueu as sobrancelhas

— Vocês dois – Rose interrompeu colocando as mãos na cintura, de forma autoritária – Vão logo resolver isso, façam isso por vocês e por mim também, eu não perderia nem um segundo se quer...

Antes que Rose pudesse terminar, Lucy já tinha se levantado e corrido para o banheiro, para se arrumar, Alvo levantou da cama e puxou a menina para um abraço apertado, deu um beijo singelo no topo de sua cabeça e saiu determinado pela porta, Rose podia não ter como resolver seus próprios dilemas agora, mas realizar os outros era muito importante.

Ela se jogou na cama encarando o teto, sonhos percorriam sua cabeça e ela fechou os olhos desejando que todos se tornassem realidade.

[...]

A luz do quarto incomodou seus olhos, ele piscou tentando acostumar com a claridade, parecia ter ficado uma eternidade ali, seu corpo estava todo pesado e dolorido, ele demorou a reconhecer o lugar, o barulho de máquinas logo invadiu seus ouvidos, sua visão se atentou para as paredes brancas, o cobertor branco, um tubo que encontrava uma entrada no seu braço... Soro... Ele estava em cima de uma maca, era um quarto de hospital.

Do seu lado esquerdo ele se deparou com uma Lily adormecida, ela dormia angelicalmente, parecia ter acabado de cair no sono, ele olhou pela janela, o sol já estava ali, era de dia... Mas que dia?

Ele ao menos não sentia mais dor, parecia estar tudo bem com o antigo ferimento na barriga.

Seus olhos logo se encontraram com os de Dominique quando ela passou pelo arco da porta, ela trazia uma bandeja de comida, assim que o viu acordado a loira se apressou em deixar a bandeja na mesa ali do lado e correu ate a maca, tomando cuidado de não fazer barulho para não acordar Lily.

— Meu Deus, você está acordado – Ela segurou na mão do moreno com um aperto confortável.

Ele engoliu em seco e percebeu que não conseguia nem salivar, abriu a boca para falar algo, porém recuou olhando para Dominique, a menina entendeu o recado e se apressou em voltar a bandeja e pegar o copo de água, ajudando o mesmo a tomar, de primeira ele quase engasgou, mas foi como um alívio para o mesmo.

— Por quanto tempo eu dormi? – Ele perguntou assim que a mesma afastou o copo vazio de sua boca, a sua voz era extremamente baixa e entre cortada

— Três dias – Ela respondeu voltando a segurar na mão do primo

— Três dias? Como assim três dias? – Ele arregalou os olhos sentando na cama

— Você estava muito fraco quando te encontramos, mesmo que o médico tenha dito que não há nada de errado com você – Ela deu de ombros

— Não há nada errado comigo aqui...

— O que aconteceu, James? – Dominique cortou apreensiva

Ele suspirou pesadamente.

— Hirena é um mundo, Dominique...

— Como assim um mundo? – A voz de Lily se fez ouvida, os dois se viraram para encarar a mesma

A menor levantou meio cambaleante e quase correu ate a maca do irmão, sem muitos rodeios ela subiu em cima da maca e deitou do lado do irmão, o abraçando fortemente, James apenas aceitou o abraço da irmã e retribuiu, ela encostou a cabeça no ombro do irmão e permaneceu ali o abraçando.

— Como assim um mundo, Jimmy? – Ela repetiu abafadamente, ainda estava sonolenta

— Um mundo, tipo um universo paralelo, onde tudo é diferente...

— O que? Universo paralelo? Você esta bem mesmo?

— Eu também não acreditei, Domi, se não tivesse sido arrastado para lá eu também não acreditaria – Ele sibilou e a menina torceu o nariz

— Continue – Lily pedindo encarando o irmão curiosa

— Lucy está viva...

— Oh meu Deus, Lucy está viva! – Dominique exclamou começando a chorar instantaneamente

— Alvo também, Rose também...

— Tudo faz sentido agora – Lily sussurrou assentindo

— Mas espera, se você está aqui, por que eles também não estão?

— Essa é a parte complicada...

As duas assentiram se entreolhando e ele entendeu o recado, começou a contar tudo que havia acontecido desde a ponte até o teletransporte de volta para casa.

Depois de longos minutos contando toda a historia, as duas estavam digerindo tudo que tinha acontecido quando ouviram o grito fino de uma menina da porta, Samantha entrou desabalada pelo quarto, ela avançou sobre o menino o abraçando, Lily se afastou um pouco emburrada.

A menina virou o rosto prestes a dar um beijo no moreno quando ele a interrompeu, a afastando gentilmente. Ela lhe olhou confusa.

— O que houve? – Sam perguntou acanhada se recompondo

— Você não pode mais fazer isso – Ele murmurou suspirando

Dessa vez as três o encararam surpresas.

— Como é? Repete que eu não entendi – Domi disse abrindo um sorriso risonho

— É isso, Domi – Ele revirou olhos – O que eu quero dizer, é que não rola mais, Sam – Ele encarou a menina

— O que eu perdi? – A jovem disse envergonhada

— Tudo, literalmente tudo – Ele respondeu apreensivo – Espero que não fique mal com isso, eu sinto muito.

Ela balançou a cabeça negativamente

— Não tem problema, James, alguém já tinha aberto meus olhos antes – Ela disse lançando um olhar compreensível para Lily que sorriu de canto

— Eu encontrei o que procurava, espero que você encontre também – Ele sorriu gentilmente

Lily e Dominique se entreolharam chocadas

— Depois disso eu acredito em qualquer coisa que vier – Lily exclamou e as duas riram

— Acreditar em que? – Sam perguntou curiosamente, Lily revirou os olhos e antes que pudesse responder Dominique foi mais rápida

— Em James estar apaixonado – Ela respondeu

James riu levemente, por dentro ele tinha uma bagunça que precisava reparar, mas no momento queria voltar para casa, para casa de verdade.

[...]

Os seus olhos rapidamente se encontraram no meio da multidão, ele parecia estar entretido conversando com alguns soldados quando ela se aproximou, a menina fez uma breve reverência e ele pediu licença ao homens.

Já passava do meio dia quando ela o encontrou no jardim, o coração estava a mil dentro do peito, ela mal podia esperar, mas antes que pudesse abrir a boca para falar, um grito foi escutado do vilarejo, os soldados se entreolharam.

— Vão – Rowan ordenou e os outros assentiram saindo em disparada dali, o jovem Príncipe se virou para a menina – Aconteceu alguma coisa? – Ele perguntou agitado

Lucy estava prestes a abrir a boca de novo quando outro grito fora escutado.

— Eles nos descobriram – Uma voz feminina berrou do vilarejo.

Lucy o fitou, agora ele parecia desesperado, ela deu um passo a frente e depositou um beijo gentil nos lábios do menino.

— Vá – Ela murmurou, o jovem rapidamente assentiu já correndo para fora dos jardins.

Lucy podia esperar, de novo.