Com as luvas cobrindo suas mãos finas e gélidas ela enfiou as mesmas por debaixo da forma puxando para fora do forno. O cheiro do bolo foi inevitável e exalou por toda a cozinha, era um cheiro tão bom que ela respirou profundamente. Colocou a forma em cima da pia satisfeita e sorriu radiante.

Girou nos calcanhares e tirou as luvas das mãos, depositando na mesa, os olhos fitaram a cozinha vazia e o silêncio perturbador. Ela resistiu a vontade de olhar mais uma vez no celular para ver se alguma mensagem chegara, o que ela sabia que eram esperanças falsas para a mesma, ninguém ligaria, ou mesmo se recordaria dela, esse era apenas um dos detalhes que ela engolia todos os dias.

Três anos, Três anos no Brooklyn, e até agora ela ainda esperava a mudança para melhor. Quando dera as costas para o próprio lar, ela esperava que estivesse indo para outro lar.

A mais independente da família, segundo Roxy, atravessou o oceano e foi parar ali, sozinha, sem rumo, com apenas duas malas em mãos e um sonho de liberdade na cabeça; talvez até mesmo o seu sonho de liberdade tivesse ficado para trás quando observou aqueles cortiços com várias crianças, com os pés e as mãos sujos de terra, porém com sorrisos verdadeiros no rosto. E ainda havia a melhor parte do Brooklyn, prédios e casas aconchegantes. Com pessoas acolhedoras, ela pudera achar que ali era o seu lugar, mas a sensação durou só dois dias.

Ainda podia sentir a fumaça de Londres invadindo seus pulmões. O barulho estonteante das fábricas mais imensas, as pessoas tomando chá em plena tarde de terça, crianças no meio fio com três a quatro camisas de frio porque suas mães eram excêntricas, e o bom inglês pontual, nunca chegava depois do horário marcado.

Mas o que ela realmente sentia falta, era da Toca, o lar da família, uma casa meio estranha porém enorme, todos da família sempre passavam os domingos na Toca, cada um com seus conceitos e opiniões diferentes, mas ainda sim, reunidos.

Seria até engraçado dizer que ela voltaria para casa, ou que ela tomaria seu sonho de volta. Seria engraçado pensar que ela não esperava que esses três anos fossem apenas de preparação.

Foi arrancada do seus devaneios ao ouvir a campainha tocar, olhou ainda confusa para os lados, porém ao notar o som relutante ela piscou freneticamente. Suspirou e começou a andar vagarosamente até a porta, ela tinha, sim, vários motivos para ter medo naquela região, tocou a maçaneta respirando fundo, girou e se inclinou sobre a porta, olhando de esguelha para fora, não havia ninguém ali.

A ruiva estava pronta para fechar a porta e voltar aos afazeres quando seus olhos decaíram sobre uma carta no chão, uma carta estranhamente bonita, com polígonos de variadas cores vibrantes, um grande e detalhado "H" se destacava na frente, ela se agachou por entre a brecha e enfiou a mão por ali, conseguindo alcançar a carta e puxar para dentro. Levantou, fechou a porta com o pé e segurou a carta em mãos curiosa, a ruiva olhou para os lados como se tivesse a leve impressão de que alguém a observava. Respirou fundo e abriu delicadamente a carta, o papel brilhante cintilou para o teto e ela puxou a folha ali dentro, levantou os olhos para o contexto.

11 de agosto, 15:37
Brooklyn, Nova York

Rose,

Olá, você é o nosso jogador Nº001.
Bem vinda ao Hirena.
Você está na centésima edição e você tem 24 horas para completar sua missão.

O desafio está lançado,
Hirena.

Ela arregalou os olhos assustada, antes que pudesse raciocinar algo o celular tocou, ela franziu o cenho, tudo acontecia muito rápido diante de seus olhos. Puxou o celular do bolso e encarou a tela, estava claramente escrito como título de um SMS:

"Play"