Until Your Last Breath escrita por Mrs Joker


Capítulo 56
Desamparo


Notas iniciais do capítulo

Que orgulho que eu sinto por estar de volta, de poder escrever novamente! Por muito tempo fui convencida de que não era capaz. E aqui estou! O que acham de maratonar a história novamente e continuarmos de onde paramos?
O capítulo está fresquinho e estamos perto de fechar o arco do Esquadrão (Graças a Deus!). Considerem meu presente de Natal atrasado para vocês. ♥
Apreciem com moderação. Ou não.



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Os saltos de Harley ecoavam no concreto molhado pela recente chuva, todos caminhavam de forma rápida, ríspida e na medida do possível, cuidadosos. Qualquer mero barulho era suficiente para todos sacarem armas — o instinto de sobrevivência estava mais afiado quanto jamais fora. Também, quem seria capaz de culpa-los? Estavam indo direto para a morte certa, e o mais assustador: sabiam disso. O quão machucados um grupo de pessoas precisa ser para resolver encarar algo dessa magnitude?

É como se o céu estivesse se partindo, como se o tempo-espaço estivesse sido aberto, amassado e manipulado de forma imperfeita. Não existia gravidade naquele ponto da cidade, apenas destroços voando, metais e concretos que deveriam pesar toneladas, voando como se fossem folhas ao vento. Como uma bruxa conseguiu fazer isso? Harley pensou em um misto de medo e escondida admiração —  uma pessoa assim poderia ser capaz de realizar qualquer coisa.

Quanto mais se aproximavam mais podiam sentir a energia que aquele poder emanava, as pontas dos cabelos começaram a se erguer junto com as fivelas das roupas: era puro magnetismo.

— O que é isso? — Pistoleiro perguntou ao Flag ao ver o mesmo retirando um pequeno equipamento de sua cintura, sua desconfiança não havia passado, sequer diminuído.

— Uma câmera por satélite, pode nos dar uma visão clara do alvo — Respondeu

— Alvo? Alvo somos nós parados aqui igual um bando de idiotas! — Harley se intrometeu, era muito boa nisso. —  Nunca conseguiremos chegar perto desse negócio sem sair voando e virar purê.

— A doida tem razão — Bumerangue concordou — Nós sem sabemos que porra é aquela.

— Acreditamos que é uma arma ­— Flag continuou — Comandada pela criatura, olhem só.

A câmera sobrevoava o redemoinho, com certas falhas, mas é possível ver que ele tem um começo. Ele tenta aproximar a câmera e dá para ver que aquele poder não parte do chão, mas de alguém: uma figura negra emite uma sombra que está ao redor da própria criatura, como se fizesse parte dela. Tudo em volta está distorcido, destrutivo.

— Mas que negócio é esse? — Harley diz o pensamento de todos, que já estavam pasmos e enojados com a situação que se encontravam.

Então a câmera é puxada pelo redemoinho e se parte em mil pedaços, terminando com a transmissão das imagens.

— Vamos ter que derrubar essa coisa. —Pistoleiro se arrisca a dizer o óbvio.

— Tem um explosivo enorme que deixei no subterrâneo há alguns metros de lá, o único jeito de ir é por um túnel inundado —Flag explica seu plano inicial — Meus soldados podem recuperar essa bomba e colocar embaixo da coisa, mandando tudo isso para o inferno.

(...)

A entrada do metrô estava fria, molhada e completamente assustadora. Harley se sentou na escada rolante estragada que dava acesso ao interior do lugar, que estava completamente inundado. Ela esfregou suas mãos no intuito de aquece-las, as pontas dos dedos já estavam arroxeadas, e naquele momento desejou estar com roupas tão compridas e apertadas quanto os outros soldados.

Seu olhar estava vazio, sem brilho algum. Ela se fixava em qualquer ponto úmido e sujo que encontrava e permanecia ali, perdida em pensamentos. Sempre que sentia seu maxilar se apertar e os olhos se encherem de lágrimas ela tentava fazer alguma piadinha para se distrair, mas ninguém estava dando atenção a ela, somente estavam preocupados com a própria sobrevivência.

Então ela apenas se sentou, observou o fundo negro que aquela água levava e até desejou que algo a puxasse. Não havia nada, nem ninguém para fazê-la pensar de forma diferente: estava perdida, sozinha, e só queria que aquela dor angustiante em seu peito cessasse. A cada segundo que passava só sentia seu corpo se cansando mais de fingir estar bem. Não estava.

Katana murmurava em sua língua nativa palavras que pareciam pesar em seu coração, e diferente de Harley, ela não se importava em fingir ou no que os outros poderiam pensar, ela apenas chorava e se abraçava a sua espada. Naquele segundo Harley a invejou. Mas, não queria parecer fraca, então apenas ficou mexendo em sua arma e esperando a hora de atacar —ou ser atacada. Nesse ponto, ela nem se importara com a diferença. Só sabia que qualquer ação poderia fazê-la se sentir viva, nem que fosse o doce gosto da morte.

— Vamos! — Flag anunciou, era a deixa que ela precisava.

O plano era simples: Crocodilo vai nadar pelo subsolo até o final, levando em conta que ele era o mais rápido nadador e o mais preparado. Enquanto o resto do Esquadrão entrará no metrô pela zona destruída pela bruxa, a única área que não estava coberta de água. E assim fizeram.

Todos caminhavam com as armas em punho, prontos para atacar qualquer coisa que aparecesse. O chão e as paredes estavam quebrados, cobertos de vidro, sangue e gosma negra. O cheiro era ainda pior. Enquanto mais caminhavam, mais podiam ouvir o som de coisas voando, batendo nas paredes e no chão — estavam se aproximando do olho do furacão.

Uma grande fenda na parede revelava pedras e pedaços de metais voando, haviam chegado.

— Por aqui. — Pistoleiro redirecionou com a mão todos para a direção esquerda, onde podiam se esconder entre as colunas de concreto do que sobrou do metrô, era relativamente mais seguro do que entrar  "pela porta da frente"

— Não acredito que vamos morrer e o último cheiro que iremos sentir é de esgoto, que vida patética! —Harley resmungava enquanto caminhava.

— Nós não vamos morrer. — Flag replicou.

Então, finalmente estavam próximos o suficiente para ver a estrutura distorcida que a criatura havia criado: era um campo de energia imenso, que partia dela e encontrava o céu. Todos se esconderam atrás dos pilares, mas curiosos o bastante para observarem o lugar com cautela, nunca haviam visto algo assim, tanta energia manipulada.

— Amigos, vocês também estão vendo toda essa magia voando, não estão? — Harley sussurrou.

— Infelizmente. Por que?

— Ufa! É porque não tomei remédio hoje.

Todos se entreolharam e olharam novamente para a bruxa.

— Então essa é a sua mulher? —Pistoleiro perguntou, Flag concordou com a cabeça — Deveria conversar com ela, mandar ela parar com essa palhaçada.

— Sabemos que não daria certo —Ele respondeu com verdadeiro pesar na voz —Está vendo aquele gigante perto dela? É ele que precisamos pegar primeiro, para ela ficar vulnerável. Ele está lá apenas para protegê-la.

De fato, havia um gigante há alguns metros dela, semelhante a uma estátua hindu. Ele a observava manipular seu poder. Quando finalmente uma voz ecoa pelo ambiente: grossa, distorcida e ameaçadora.

— Eu esperei vocês a noite inteira! — A bruxa grita.

 Todos congelam no lugar. Se não houvesse uma pilastra atrás deles, pode ser que cairiam no chão pelo susto. O elemento surpresa já era.

— Saiam das sombras, encarem o meu rosto! —Ela continuou —O soldado trouxe vocês, por que servem seus carcereiros? Eu sou sua verdadeira aliada, tenho o poder de libertar todos vocês! Eu sei exatamente o que vocês querem, cada um de vocês... —Sua voz se tornou baixa e macia, como se penetrasse dentro da mente que cada pessoa presente.

A visão de Harley começou a se desfocar e uma luz incomodou seus olhos, que ela demorou para ajustar. E logo, não estava mais naquele ambiente destruído e com cheiros podres, mas em uma casa grande e organizada, com uma janela enorme com vista para o jardim: iluminado, verde, repleto das mais diferentes flores. Seu olfato sentiu o doce cheiro de torradas sendo feitas, que ela respirou com prazer. Então, finalmente se deu conta: ela estava em sua casa, na casa que fora criada. Na mesa, um enorme café da manhã, com diversas guloseimas e sucos diferentes, e na ponta da mesa estava sentada sua filha: loira, pequena, delicada, e esticando as mãozinhas para tentar alcançar um pedaço de bolo. "Aqui está, filha" era ele! Coringa pegou o bolo da mesa e levou para as mãozinhas dela, que enfiou o pedaço na boca. Mas, ele não estava tatuado, com cicatrizes ou com aqueles olhos assassinos, era apenas um homem comum, vestido de forma social, poderia até ter acabado de chegar do trabalho. Ele se inclinou e deu um beijo nos lábios de Harley, e por fim depositou um beijo na testa da filha deles.

Então a visão voltou a se dispersar. Harley voltou a sentir o frio, o desamparo, a solidão e a tristeza que se encontrava antes. E se deu conta de que aquilo não era real, ela estava no meio da destruição, da sujeira e da morte. Então, finalmente, ela se permitiu chorar.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem! Amo vocês e agradeço o apoio. Até o próximo ♥



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