Com a consciência sendo tomada de maneira calma, Harley Quinn abria os olhos devagar. De início, ela nota apenas o teto claro do seu quarto, depois consegue sentir a maciez da sua cama. Evidente, ela estava em casa.

Em um movimento lento, ela se senta. Consegue notar também uma forte dor na sua cabeça, localizada especialmente na região de trás. Levando os dedos até aquele local, ela nota um pequeno corte que já estava em fase de cicatrização. Retomando suas últimas memórias aos poucos, ela rapidamente abaixa a blusa onde o localizador do Batman costumava estar. Havia uma linha reta com cinco pontos no total, ele provavelmente já havia sido retirado. Memória que a leva até a Hera Venenosa.

Harley Quinn tampa a boca com a mão ao se lembrar da amiga ferida e de toda a confusão em que estivera presente. Em um piscar de olhos, ela já estava de pé correndo para fora do quarto.

— Coringa? — Ela grita desesperada descendo as escadas

Coringa ia devagar ao encontro dela, que a esse ponto já estava respirando pela boca e fazendo gestos aleatórios com as mãos de tanto nervosismo. Enquanto ela tentava explicar o que se lembrava, ele a encarava de maneira confusa.

— E aí eu apaguei, eu não sei o que aconteceu! Precisamos encontra-la!

— Harley finaliza finalmente tomando fôlego, após dizer tudo muito rápido

— Tá... Eu não sei onde ela está — Coringa diz colocando as mãos sob os ombros da Harley, tomando o cuidado de não encostar onde ele havia retirado o rastreador, mas sim como forma de acalma-la visto o quanto ela estava nervosa — O que você precisa fazer agora é se acalmar.

— Como, pudinzinho? E se ela estiver... Morta? — Os olhos de Harley se enchem totalmente, ela olha para ele totalmente perdida

— Não, o máximo que ela foi é presa. Deve estar em algum presídio por aqui ou fora da cidade, não acho que ela tenha morrido. — Infelizmente - ele pensa consigo mesmo

— Eu preciso acha-la. — Harley Quinn diz dando as costas e se livrando das mãos do Joker, em seguida subindo as escadas

— Eu não disse que você poderia sair. — Coringa diz olhando para cima, Harley para em um dos degraus

Triste, ela olha para baixo.

— Eu sei, pudim. Mas... Foi culpa minha. Eu não posso perde-la... Assim como não posso perder você. — Com o olhar baixo, ela volta a subir os degraus

Coringa bufa lá embaixo. Harley segura as lágrimas até chegar ao quarto.

(...)

Após duas horas chorando sozinha, Harley se levanta da cama determinada a descobrir onde Hera está. Deitar e chorar não vai resolver nada agora, o melhor a fazer é não perder mais tempo.

Ela repassa tudo o que aconteceu mais uma vez, ela está ciente que o tiro foi disparado pelo Joker mas foi em legítima defesa. Ainda se perguntava como apagou e como saiu de lá, foram essas questões que a fizeram sair novamente do quarto.

Ao descer as escadas e caminhar alguns metros, ela bate nas portas do escritório do Coringa.

— Sim? — Coringa reclama lá de dentro, ele desejava que fosse qualquer um de seus homens dizendo que uma de suas cargas havia sido roubada ou qualquer assunto ruim relacionado aos seus negócios, mas odiaria ter que olhar nos olhos marejados cheios de culpa de Harley Quinn de novo

— Pudinzinho? Sou eu.

Coringa aperta os olhos e deixa seu copo de whisky na mesa.

— Entra.

Harley abre as portas e caminha calmamente até a frente da mesa dele, cruzando suas mãos como sempre fazia.

— Eu queria te perguntar algumas coisas se você não estiver muito ocupado.

— Na verdade, estou. Mas vou te deixar dizer. — Ele finge interesse, mesmo já tendo uma noção do que a mulher perguntaria

— Como conseguiu sair e me tirar de lá? — Ela pergunta baixo, estava com medo de que dissesse algo errado

— Olha, Harley. Serei sincero com você... — Coringa diz se levantando e caminhando até ela, assim que para a sua frente, ele se encosta na mesa — O Batman estava de pé a poucos metros da gente e você estava tentando levantar uma mulher que mal conseguia se mover. Lembra o que eu te disse? Que eu estava fazendo aquilo para te salvar? Eu precisei te dar uma coronhada na cabeça, mas era apenas para te salvar, quero que entenda isso! — Ele segura o rosto de Harley com as mãos, que olha de maneira confusa para ele — Se eu não tivesse te carregado para o carro e te tirado de lá, você estaria na cadeia. E eu poderia ter deixado isso acontecer, mas não o fiz... A Hera ficou para trás, mas não porque eu deixei, eu não tive escolhas. Era você ou ela. E sabemos que você é o que importa.

Ele sorri de maneira tênue e Harley se sente feliz por dentro. Ela sempre ficava surpresa em como ele a fazia se sentir bem, até em seus momentos mais difíceis. Convencida pela sua história, Harley o abraça de maneira forte, tentando afastar seus medos.

— Eu preciso encontra-la. — Harley Quinn diz sob o ombro dele, suas lágrimas mantendo seus olhos quentes

Ao lado do cabelo dela, Coringa revira os olhos.

— Não sabemos onde ela está, mas eu prometo que vamos encontra-la.

— Ele se separa dela

— Você me promete? — Harley sorri, nascendo dentro dela uma pequena esperança

— Sim, claro. Vamos acha-la. — Joker sorri de volta.

(...)

— Ela nunca poderá acha-la. — Joker dizia sério a um de seus homens

Ele estava naquele prédio onde antes era o cassino, o lugar estava sendo reformado pela segunda vez devido ao tiroteio. Mas também era um ótimo lugar para gerenciar seus negócios e encontrar novos fornecedores e compradores, por isso estava fazendo daquele lugar a melhor boate de Gotham.

— Não importa o que façam, a Harley Quinn não pode saber onde ela está. Nem que vocês tenham que matar a Hera para isso, eu não ligo. — Ele andava pelo lugar

— Senhor, ela provavelmente está voltando para o Arkham, é o único lugar da cidade que pode obriga-la. — Um deles dizia, o seguindo

— Ela pode ir para fora da cidade, acho que podemos fazer isso acontecer. — Coringa diz cruzando os braços de maneira pensativa

Todos os homens se perguntavam o motivo dele querer a mulher tão longe, mas eram medrosos demais para dizer alguma coisa.

— Ou podemos mata-la... Facilitaria tudo. Descubram onde ela está. — Ele dispensa os homens

Após colocar tudo em ordem, ele se anima ao saber que tudo aquilo estará pronto para uso em uma semana. Está mais do que na hora da cidade receber seu Rei de volta, e agora sem mais nenhuma intromissão. Tudo será planejado e calculado, surpresas nunca agradou o Palhaço.

Ele volta para casa genuinamente feliz, tudo estava de volta aos eixos.

— O céu permanece limpo com períodos nublados. — A mulher do noticiário repassa as informações sobre o tempo, enquanto Harley Quinn revirava os olhos

— Não me diga. — Harley imita a voz da mulher e bufa, jogando o controle remoto no sofá

Está tudo nos eixos menos o humor da Harley, mas ela esquecerá a Hera Venenosa com o tempo. A casa não é a mesma sem os sorrisos dela.

Todas as manhãs e noites dos últimos três dias, Harley Quinn tem assistido os noticiários esperando alguma informação sobre a Hera Venenosa. Momentos que tem sido em vão.

O Coringa já sabia onde Hera estava, e sim, ela estava no Arkham. Mas dessa vez, nem mesmo o próprio sanatório divulgou a informação, há boatos de que estão fazendo experimentos com ela. Informação que a mídia jamais poderia ter acesso. O estranho era o fato do Batman não ter se pronunciado sobre o assunto, talvez ele estivesse no meio disso?

O que importa é que Harley não descobriria isso, e com o tempo, sim, ele a faria esquecer. Ela chorava todas as noites, Coringa sabia, mas queria que ela superasse isso. E sempre que questionado, ele dizia:

— Ainda não descobrimos nada, mesmo com todos os meus esforços.

— Mas pudim, isso é impossível! Você vigia cada pedaço dessa cidade. — Harley dizia sempre com lágrimas nos olhos ao perguntar da amiga

— Amor, eu sei. Talvez ela não esteja presa, e se ela estiver fugido do Batman? Isso explicaria muita coisa.

— Tem razão! — Harley se anima, mas logo murcha de novo — Ela teria dado um jeito de me contatar. Ela sabe meu número, onde moro.

— Talvez ela pense que você está com o Batman, afinal foi por sua causa que ele apareceu. — Coringa diz mas logo se arrepende ao ver o rosto assustado de Harley e suas lágrimas saindo depressa

Ela tampa o rosto com as mãos.

— Tem razão, é tudo culpa minha. Sou a pior pessoa que existe! Eu não mereço você e nem nada que eu tenho.

Coringa revira os olhos e puxa Harley Quinn para um abraço. Ele odiava fingir conforta-la.

— Com o tempo ela aparece de alguma forma, nada fica escondido para sempre. — Coringa diz quase rindo da tamanha mentira

— Eu só queria vê-la de novo, dizer que sinto muito...

E então chega o momento que o Coringa sente uma pequena culpa, ao ouvir a voz embargada e sincera de Harley. Aquele rosto sempre sorridente, que sempre se levanta, totalmente perdido. Por poucos segundos, ele se imagina contando a verdade. Felizmente, são segundos muito curtos.

— Eu já prometi que vamos encontra-la, agora para de chorar. E não estou pedindo.

— Me desculpa. — Harley seca suas lágrimas com os dedos

Coringa afasta uma das mechas de cabelo do rosto dela, totalmente vermelho. Ela olha para ele de maneira amorosa, apesar de toda a dor, o amor que ela transmite pelo olhar nunca diminui.

— Eu não sei o que faria sem você, pudinzinho. — Ela dá um pequeno sorriso

E a pequena culpa volta. E logo some.

— Eu sei.

 Mas a matéria do jornal local preferido de Harley Quinn hoje, será sobre a Hera Venenosa.