Until Your Last Breath escrita por Mrs Joker


Capítulo 3
Acorde


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Harleen está pendurada de cabeça para baixo em seu apartamento, ela achava que assim conseguiria pensar melhor. As imagens do Coringa preenchiam toda a sua mente, sua voz, sua risada, seus crimes. Ela estava tão curiosa, parecia tão presa a ele. Ela simplesmente não conseguia se concentrar na sua vida, cada vez que pisca vê aqueles olhos sanguinários, aquela boca medonha, mas convidativa. Convidativa para que?! Ela se vira pela corda e se segura pelas pernas. O raciocínio resolveu não colaborar.

Aquela história... Era real? Ele pode estar apenas manipulando-a, ele é um assassino, como pode ser tão cega? Ela desce das cordas e se coloca no chão. Caminha até a janela, nada mais que uma vista borrada de uma rua comum. Ele pode estar mentindo, querendo explorar um ponto fraco, como ela pode se entregar tão fácil nas garras dele? É óbvio que era mentira.

Mas mesmo assim... Por que não conseguia esquecer aquele rosto na camisa de força? É mais que uma mera curiosidade, ainda mais... Quando ela ficou curiosa por um paciente? Nada mais parecia fazer sentido, as peças pararam de se encaixar. Ele já matou e vai continuar matando, ele vai fugir, ele mesmo já disse. Não há mais nada que se possa fazer.

O sábio agora é ligar para o Arkham e pedir demissão, e se... Ele vier atrás dela? Pedir demissão e sair da cidade. Exato, vai ser isso.

Ela se pendura de novo nas cordas, e se mudar como? Para onde? Qualquer lugar, ela pode correr risco de vida. Mas... E se ela nunca mais o ver? É algo bom, né? Não é?

O telefone toca e seus pensamentos evaporam. Ela solta as pernas das cordas e se coloca no chão, acaba sendo estranho caminhar de novo.

— Alô?

— Doutora Quinzel?

— Sim?

— Queria agradecer pela informação que nos passou sobre o Coringa e os dois barcos antes de ontem. Infelizmente não podemos dizer que ele confessou pois não há nenhuma prova e nada gravado, acha que você conseguiria entrar com um gravador e faze-lo repetir?

Harleen para e pensa, imagina se ele descobrir que a conversa está sendo gravada? Não, sem chance.

— Senhor, um crime a mais ou a menos não vai mudar muita coisa em sua ficha, ele já está condenado.

— ...

Harleen percebe que foi um pouco grossa com ele, ainda mais sendo o diretor. Mas preferiu não tentar acalmar a situação.

— Pois bem, obrigado mesmo assim.

— De nada e me desculpe. — Ela o escuta desligar

Maldito Coringa! Ela corre e se joga as cordas de novo.

(...)

Harleen caminha de uma maneira nervosa, suas mãos começam a suar. É uma mistura de medo e ansiedade, os corredores parecem não impressiona-la mais e os criminosos também não.

Ela respira fundo e pensa que em menos de um minuto estará frente a frente do Coringa novamente, isso lhe dá um certo frio na barriga e ela se permite dar um pequeno sorriso.

— NÃO! NÃO DEIXA ELE TE ENGANAR! — De uma hora para outra a mulher coberta de plantas começa a gritar batendo no vidro, Harleen recua para trás assustada e os guardas passam os braços em sua frente

— Hera, se acalma. — Os guardas dizem e começam a colocar as mãos sobre as armas na cintura, mulher lá dentro não tem olhos para mais nada a não ser a doutora

— NÃO DEIXA ELE TE ENGANAR, VOCÊ NÃO PODE LIBERTAR ELE! — Ela grita incansavelmente

Os guardas olham Harleen um pouco preocupados, Harleen percebe e vê um dos guardas segurando um rádio mas não ouve o que ele diz. Logo em seguida uma fumaça cinza azulada desce pela cela da mulher com as plantas, ela percebe e começa a bater mais forte.

— NÃO IMPORTA O QUE ELE DIZ, NÃO CONFIE NELE!

Harleen está tremendo e cada vez mais assustada, a fumaça parece deixar a mulher cansada e sonolenta, ela começa a perder as forças e cair pelo vidro. Harleen naquele momento de tensão corre até o vidro e se abaixa, colocando a mão no mesmo.

— Doutora Quinzel, se afaste! — Os guardas começam a pedir e se aproximar

Harleen coloca a mão no vidro onde está o rosto da mulher.

— Na-a-ao con-fi-e — A mulher tenta dizer

— O que? — Harleen aproxima o ouvido do vidro

— Nã-o confie nele. 

Harleen se vira novamente e a mulher já estava desmaiada. Seu recado era muito claro.

— Doutora, por favor se levante. — Um guarda ao seu lado se abaixa e segura sua mão

Harleen se levanta com dificuldade e olha seus materiais pelo chão, os guardas começam a recolher enquanto ela olha o corpo da mulher desmaiado dentro da cela, por que ela disse isso?

O guarda começa a guia-la em sentido oposto a sala de terapia e ela se solta do braço do homem

— O que está fazendo? Temos que ir por ali. — Harleen se vira em direção a sala com o Coringa

— Não ­— O homem a interrompe — Vão querer falar com você, não precisa vê-lo hoje.

— Não! Eu preciso! — Harleen debate, não ver o Mr. J? O que eles estão pensando?

— Por favor senhorita, não precisa. — Outro guarda segurando suas pastas diz com a voz um pouco mais doce

— Vocês não entendem? Eu prometi que ia vê-lo, ele confia em mim e não posso estragar isso! Querem atrapalhar o tratamento dele? — Ela argumenta sem pensar muito

— Aí estão vocês! — O diretor surge 

Ao olhar para os lados, Harleen percebe que todos os criminosos ao redor observava tudo com muito divertimento.

— Eu vi pelas câmeras o que aconteceu, a Dra. está bem? —  O diretor se coloca na frente da Harley

— Estou, não foi nada.

— Não é o que suas mãos estão dizendo. — Os dois abaixam o olhar e Harleen tem as mãos trêmulas

— Eu preciso mesmo ir. — Harleen dá um passo para trás

— Hera disse 'Você não pode liberta-lo' o que ela quis dizer? — O diretor pergunta sério

Harleen tenta pensar em alguma coisa, mas mesmo para ela, isso não fazia sentido.

— Eu não sei, ela estava gritando um monte de coisas sem sentido! 

— Não fez sentido então por que correu até ela? — O diretor argumentava

— Eu não sei, foi instintivamente.

— Se a Dra. não vai libertá-lo, não se importa de não haver consulta hoje, né? — O diretor diz calmamente, todos os guardas estão calados

Harleen não poderia dizer que se importava, isso seria muito suspeito. Eles não planejavam uma rota de fuga, mas passar mais um dia sem vê-lo lhe parecia tão triste.

— Eu... Não me importo, senhor. — Harleen diz tentando manter o olhar firme

— Ótimo, você está mesmo parecendo assustada, pode ir para casa.

Essas palavras foram como fincadas em seu corpo, ela não queria ir para casa, ela queria entrar naquela sala! Ver aquele rosto assassino e aquele sorriso metálico e conversar com ele! Por que eles queriam separá-los?

— Obrigada, senhor. — Ela diz abaixando o olhar

Ele abre espaço esperando ela passar, ela começa a andar e os guardas em seguida. O Coringa não disse que ia fugir e que hoje seria o último dia? Harleen arregala o olho com essa lembrança, ela nunca mais vai vê-lo?

Pela primeira vez Harleen se viu pegando a arma do guarda ao seu lado e atirando em todos eles! Que ódio! Se nunca mais ela o ver a culpa é toda deles!

Ela continua andando calmamente até verem a claridade de uma janela, o que mostrava que já estavam fora da ala de segurança máxima, apenas desceram as escadas e voltaram aos primeiros andares.

Devolveram seu material e lhe ofereceram água, Quinzel apenas saiu do prédio e mandou um longo olhar para cima, onde o palhaço provavelmente está. 

Só restava voltar para casa.

(...)

Harleen abre a porta com um solavanco. Entra gritando e jogando tudo no chão, coloca toda sua raiva para fora. Como podem fazer isso com ela?

Ela se senta no meio do chão e coloca as mãos na cabeça, que estava bem dolorida. Por que ela se sente tão mal pelo fato de que não poderá mais ver aquele assassino? Ela deveria estar feliz! Recebeu um dia de folga e deveria comer e assistir televisão pelo resto do dia.

Se ele fugir, ela poderá nunca mais vê-lo e isso a incomodava profundamente.

Ela não estaria gostando dele, estaria? Ela ri com a possibilidade, sem chances. Ela vai até a janela e se debruça nela, colocando metade do corpo para fora. 

— Eu nunca gostaria de um assassino psicótico como ele. — Ela diz em voz alta sem se conter com a absurda ideia

Ela sente o vento e se acalma, deixa o vento carregar toda a sua raiva.

— Eu vou ficar bem, deixa ele fugir e eu vou me mudar para bem longe. — Ela começa a sussurrar de olhos fechados

Seu telefone começa a tocar, ela abre os olhos rapidamente.

Ela se coloca dentro do apartamento e caminha até o telefone.

— Alô?

— Doutora Quinzel? — Harleen respira de alívio, por um movimento ela realmente acreditou que o Joker havia fugido, era apenas o diretor do Arkham

— Senhor? Está tudo bem?

— Queria me desculpa pelo que houve mais cedo, Hera disse que estava apenas entediada e queria te assustar, acredita? Não nos comportamos bem, devíamos ter confiado em você. — Ele diz com uma voz embargada

— Não tem problema, eu apenas fiquei chateada de ter o tratamento parado, tenho medo de que ele não volte mais a confiar em mim depois de hoje e assim não me contar mais nada. — Mentiu tão bem que até mesmo ela própria se convenceu

— Não, não! Isso não pode acontecer! Seria absurdo eu pedir para voltar e fazer sua consulta?

As borboletas voltaram a voar no estômago de Harleen, o papo de "deixa ele fugir, vou me mudar para longe" já era. Por que esse homem tinha que ligar?!

— Sim senhor, já estou saindo, não vou demorar.

— Obrigado, eu iria entender se não viesse.

— Nos vemos em 20 minutos.

— Até.

Harleen desliga.

Então é isso, ela vai voltar e vê-lo, não é o certo a se fazer e nem o mais racional. Ela já está na porta.

(...)

— Se precisar de ajuda... Você não vai gritar, vai correr até o perigo. — O guarda sorri para ela com os acontecimentos de mais cedo, ela retribui

Por que isso parece tão verdade?

— Juro que da próxima vez eu grito. — Harleen diz já ansiosa para entrar

O guarda abre a porta e ela respira fundo. Passa pela porta e o ambiente está muito quente, a iluminação continua a mesma mas algo parece muito diferente.

— Achei que não fosse vir. — A voz de Coringa a faz parar e o olhar

A mente dela sorri e seu corpo também, é tão maravilhoso poder vê-lo.

— Não tenho muita escolha. — Ele diz e ela se desanima um pouco com suas palavras, até que se lembra de uma coisa

— Você tem sim, poderia ter fugido. — E sorri

— Ponto para você. — Ele sorri de volta com seus dentes metálicos que com certeza já provaram sangue, ela sabia disso mas por um momento não se importou

Ela coloca seus materiais pela mesa mesmo sabendo que não irá usa-los, o que ela poderia fazer? Ele nunca vai mudar e pode ir embora hoje, só resta ter uma conversa que possa realmente valer a pena.

— Você parece confusa hoje. — Ele diz sério

— Estou tendo um dia difícil.

— Isso eu percebi, mas estou tentando te perdoar pelo longo atraso.

— O que eu posso fazer para você me perdoar? — Harleen diz sem perceber, como se sua mente a mandasse ficar quieta mas seu corpo estivesse no automático

Coringa dá um longo sorriso como se tivesse conquistado algo. Harleen logo se arrepende de ter dito isso.

— Uma quero uma metralhadora. — Ele diz calmamente

— Uma metralhadora? Para que? — Harleen se estremece com o pedido

— Assim posso fugir e ainda aproveitar. — Ele diz tombando a cabeça e dando um sorriso mais medonho do que ela se lembrava

Harleen não vê em seu olhar uma pequena emoção, não há nada. Nenhuma emoção que seja, nem mesmo raiva. Era um olhar vazio, um longo abismo. Com outros pacientes que já conversou ela via raiva, ódio, culpa, um motivo para matar de novo, mas com ele parecia que ele fazia tudo por simples tédio.

— Você disse que hoje será o último dia. — Ela diz com certa amargura

Coringa fica reto na cadeira.

— Sim, e eu pensando que não ia te ver nessa cadeira hoje, que bom que veio — Harleen sorri com suas palavras — Facilitou muito meu trabalho e te agradeço por isso, você vai ser o melhor momento dessa noite, querida. Se fosse esperta teria tentado fugir e por um momento até pensei que fosse esperta.

Ele diz tão ameaçadoramente que o sorriso de Harleen desaparece, um calafrio sobe pela sua coluna e o que antes era vontade de vê-lo se torna uma grande vontade de correr para longe.

— Você vai me machucar?

Ele se abaixa na mesa.

— Muito.

— Eu grito. — Harleen diz

— Eu costuro sua boca. — Ele rebate

— Eu corro.

— Eu quebro suas pernas.

Harleen vê ódio em seu olhar e se arrepende amargamente de ter voltado até ele, a sensação de raiva por estar em casa era um milhão de vezes melhor do que o medo de agora.

— Se você abrir a boca, vai morrer. — Ele diz calmamente 

Como ela pôde pensar que conseguiria curá-lo? Como ela pôde pensar que estaria gostando dele? Como ela pôde ter voltado?

Ela levanta bruscamente da cadeira, fazendo um ranger alto. Pega os materiais e não olha para ele.

— Não dê as costas para mim! — Coringa diz entre dentes

— Mr. J, nos vemos amanhã. — Ela diz com o pouco de firmeza que lhe resta

— Não vai ter amanhã para um de nós. — Joker diz com raiva nos olhos 

— Vai sim. — Ela responde sem medo e acreditava mesmo nisso

Ela lhe dá as costas e caminha para a porta, dessa vez não há risada nem canção de ninar, apenas o som da porta. Isso era bastante preocupante.

Ainda na sala Coringa observa a porta com chamas de raiva saindo dos olhos, mal podia esperar para arrancar cada pedaço de pele do corpo dela.

 


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Notas finais do capítulo

Eu sei como ela voltar para casa pareceu bem desnecessário, mas ela precisava de um tempo para pensar "nela" e assim vemos que até isso ela não está controlando mais.
Até o próximo ♥



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