Coringa observa Harley dormir, era a primeira pessoa que esteve naquele lado da cama. Com a pouca  iluminação só podia ver os traços sonolentos de Harley, talvez fosse o único momento em que ela ficaria calada— Ele pensa com um sorriso. Ele se pergunta se ela estaria tendo um bom sonho ou apenas estava tendo um sono vazio, quando ele lhe privou da morte a cada segundo que a moça estava lá também era um sinal de algo perturbante. Talvez ele apenas estivesse momentaneamente impressionado em como a mulher dormindo ao seu lado o enfrentou de todas as maneiras e o quanto ela parecia cada vez mais devota e submissa a ele. 

Não chegava a ser algo como ele daria a vida por ela, mas era algo como ele daria a vida de qualquer um por ela. Quando ele começou a perceber isso tentou de todas as formas afasta-la, mas ela apenas chegava mais perto, sem medo, sem preocupações, ela apenas se aproximava sem medo do que viria a seguir. Ela lhe entregou seu corpo e sua alma a alguém que a machuca e literalmente, retirou sua vida. Ele a bateu, a machucou e tentou diversas vezes mata-la ou deixa-la morrer, mas ele sempre se parou pensando "E quando ela não estiver aqui?".

Parecia estúpido pensar em como ele estava começando a depender de uma inútil doutora de criminosos alucinados, e o pior, ela era a sua doutora. Era para ser apenas mais uma psiquiatra nervosa que o examinaria em vão, mas algo naquele coque com fios soltos, óculos arrumados a toda hora e aquele olhar de "Pode falar a vontade, não tenho medo de você" o fez pensar que talvez tenha encontrado alguém tão louca quanto ele e que ela deveria estar daquele lado da mesa.

Ele estava convicto que a machucaria de novo e seria cada vez pior, e ele estava muito confortável com isso. Beija-la ou corta-la lhe dava o mesmo prazer. Mas ele sabia que não importa quantas vezes ele a machuque, ela sempre irá voltar pois não existe nada mais para ela. E ele havia lhe tirado tudo. 

Mas chega de pensamentos conturbados, já está amanhecendo.

(...)

Harley acorda e sente novamente a cama vazia, ela revira os olhos. Será que um dia esse imbecil vai estar aqui? 

Ela se senta e suas costas doem, dessa vez estava bem pior. Os hematomas da outra noite finalmente apareceram e a pele pálida de Harley contava com manchas roxas e mais que viriam até o final do dia. Mas esses hematomas eram bem melhores do que os de uma surra, isso ela jamais poderia negar.

Ela se levanta e começa a procurar suas roupas, tinha algumas no quarto, outras no escritório. Sua blusa estava rasgada e ela se pergunta como vai sair de lá sem bater com algum de seus homens, ela sente que o Joker não iria gostar nada daquilo, e ela não deixaria ele estragar outra manhã. Sem alternativas, ela procura uma de suas blusas sociais em seu closet, fechando tudo e saindo para o seu quarto sem bater com ninguém, felizmente.

Ela fecha a porta do quarto e entra no seu banheiro, o trancando e se preparando para um banho. Ela sorri ao ver as marcas em seu corpo, apesar de que estava tudo dolorido, ela estava feliz e novamente não se lembrava de nenhum tipo de dor na noite passada. Apenas boas lembranças. Ela sorri mais uma vez e se afunda na água.

(...)

Harley cantarolava na cozinha enquanto preparava um pudim de leite, sempre fora a sua sobremesa favorita e ela estava com saudades de preparar sua própria comida. Era bom finalmente estar em uma cozinha de verdade, poder ler e respirar um pouco. 

O cheiro do doce começava a se espalhar pelo ambiente, Harley fecha os olhos e respira o cheiro doce que saía da panela. Era como estar em casa, mas melhor.

— O que você está fazendo? — Coringa pergunta escorado na porta, com as mãos no bolso da calça 

Harley se assusta e se vira, ela sorri com a presença da pessoa em que ela pensara desde que acordou.

— Por que entrou assim?

— Por que a cozinha é minha. — Ele diz começando a andar em direção dela

— Eu estou fazendo pudim. — Ela diz sorrindo e levantando a colher

— E isso significa...? 

— Que pudim é a melhor coisa da vida, não concorda? — Ela pergunta despreocupada

Ele se aproxima e pega a colher da mão de Harley.

— Não concordo — Ele responde mexendo o conteudo com a colher, ela fica parada ao seu lado, em um movimento rápido ele pega a mão de Hayley e pinga o conteúdo no dorso da mão dela, ela quase grita pelo quentura mas ele leva a mão dela até a boca e lambe o conteúdo que derramou, ela olha para ele surpresa — Mas esse não está tão ruim.

Ele solta a mão dela e a colher, dando as costas. Harley fica olhando ele ir embora, esse cara é louco? Nossa, que pergunta Harley.

Ela termina de preparar sua sobremesa e coloca na geladeira, logo saindo saltitante quando ouve seus homens reunidos na sala. E principalmente, a voz de Coringa. Ela se sente incomodada de nunca ser chamada, afinal, ela fazia parte daquilo agora, não é?!

— Não precisa de tanta gente. — Coringa diz revirando os olhos 

Harley para na entrada da sala e cruza os braços, os homens de Coringa se viram e pelos olhares deles, Coringa também.

— Sim...? — Coringa diz sério

— Por que eu não fui chamada? — Harley tenta perguntar no mesmo tom

— É só um assalto simples, nem eu vou. — Coringa diz despreocupado se virando de volta a eles

— Mesmo assim — Harley se aproxima, Coringa se vira para ela novamente — Acho que eu devia progredir aqui.

— Claro, você está certa — Coringa diz sorrindo, Harley também sorri — Sua contribuição é ficando calada. — Coringa diz sério, Harley fecha a cara

— Isso não está certo! Eu posso fazer um assalto no... Nesse lugar aí que vocês vão. 

Coringa dá um longo suspiro.

— Você não vai. — Ele diz claramente tentando manter o controle

Harley por um momento pensa em questionar mas ela já havia prometido a si mesma não estragar essa manhã.

— Tudo bem... Eu só... Queria mostrar que eu poderia ser útil. — Ela diz com a voz baixa

— O único momento em que você foi útil foi ontem a noite. — Coringa diz seco

Harley arregala os olhos com suas palavras.

— O que você quer...

— Dizer? — Coringa completa indo na direção dela — Que você não serve para nada fora dessa casa, agora dá para sair da minha frente e me deixar fazer o meu trabalho? 

Os homens observavam em silêncio, Harley sente seu maxilar travar e ela aperta a bochecha com os dentes para que lágrima nenhuma se manifeste. Ela ergue o olhar e dá as costas, subindo as escadas em silêncio.

Coringa observa seus passos e revira os olhos.

— Inacreditável. — Ele diz baixo

Ao fechar a porta as lágrimas de Harley já desciam rapidamente, ela reprime um soluço com a mão e se senta no chão novamente, ela pensava que ele a via como alguém que mataria por ele. Mas não, ele a via como uma vadia, que talvez ela realmente fosse.

(...)

Após duas horas, Harley se retira do quarto e desce as escadas, os homens já não estavam mais lá e é muito provável que o Coringa esteja em seu escritório, se cobrindo de álcool e planos doentios. 

Ela caminha até a cozinha e retira seu tão esperado pudim da geladeira, ela se senta na mesa e começa a comer. Ela fecha os olhos com o sabor doce e macio que vinha daquela fatia.

Ao abrir os olhos ela vê um jornal do lado esquerdo da mesa e o pega, abrindo-o ao lado do prato.

" Diamante Arlequim chega finalmente a Gotham
O Diamante Arlequim conhecido por seu alto valor comercial, aproximadamente $3.000.000, chegou na tarde de ontem ao famoso Museus de Antiguidades, onde estará em exposição até a manhã do próximo domingo, onde as pessoas poderão ver a grande pedra transparente lapidada e brilhante e toda a sua história. Toda a segurança estará reforçada dia e noite."

— $3.000.000? Isso é muito dinheiro. — Harley diz surpresa

Então uma ideia louca passa pela sua cabeça, se ela roubasse esse diamante e o levasse até o Coringa, poderia mostrar a ele o seu valor e ele veria que ela não é esse peso morto que ele está pensando! Isso é brilhante! Mas... Como se rouba um diamante?

— Eu já volto, pudinzinho. — Ela diz se referindo ao seu prato

Ela corre novamente e vai até o quarto, pegando a arma que ela tinha escondido em baixo da cama, sim era uma arma roubada. Ela esperava nunca precisar usar, antes em um roubo do que atirando no Coringa.

Ela corre até o guarda-roupas e joga suas roupas no chão, escolhendo algo que a deixaria confortável. Seu ombro dói com os seus rápidos movimentos, seus ossos ainda pareciam ser feitos de gelatina, mas ela não poderia esperar. Ela vê um short que comprou, ele era meio vermelho e meio azul, ela comprou pois o achou "bonitinho" e combinava com seus cabelos, mas devido ao pouco pano do short ela nunca usou em seu dia a dia. Ela também separa uma blusa vermelha e branca e a deixa em cima do short, não encontrava nenhum sapato que ela se imaginava correndo, maldita hora que foi comprar apenas botas. Ela separa uma branca que rapidamente se tornou a sua favorita.

Seu corpo latejava pelos rápidos e repentinos movimentos, se ela fosse lá essa noite seria presa e sinceramente pensava que o Coringa não moveria um dedo para salva-la, achava até que seria um alívio para ele. Ela fica chateada com tal pensando e isso apenas reforça a ideia de que ela invadiria aquele museu e roubaria o diamante a qualquer custo. Ela tem seus valores e provaria isso.

Ela segura a camiseta na mão e fica incomodada em como ela era branca, sem detalhes nem escritas. Ela se levanta e pega sua caneta permanente, que usara para desenhar na parede e começa a escrever na blusa, ela faz em sua delicada letra "Daddy's Lil Monster" ela sorri com o resultado. Ela guarda todas as outras roupas e veste as que escolheu, ela vai até o espelho e se surpreende com o resultado, ela estava incrivelmente linda com aquele conjunto. 

Harley desce as escadas em silêncio, ainda com sua roupa, e se senta na mesa novamente.

— Eu nem demorei, não é pudinzinho? E não se preocupe Coringa, amanhã trarei esse diamante para você. — Ela diz baixo e sorrindo

Ela pensa por um momento e volta a comer. Em seguida volta para o quarto sem nenhum incomodo, ela separa sua roupa e corre para a cama, ela fica nervosa ao pensar mais uma vez no que irá fazer. 

Mas era preciso, era por ele! O que ela não faria por ele?