Ele estava pensativo em sua sala. Havia duas coisas rondando seus pensamentos. A gravidade da sua doença de audição, e o que Sara havia lhe dito naquele dia. De que quando ele se desse conta do que fazer em relação a eles dois, já podia ser tarde demais.

Será que seria tarde demais? Mas não tinha o que fazer. Era proibido um relacionamento entre membros da mesma equipe. Ele não podia arriscar toda a sua carreira por ela. Ou podia?

Não, não. Ela era muito nova pra ele. E ele também não nasceu pra se envolver romanticamente com ninguém. Estar casado com o trabalho já estava bom.

Quer dizer... Bom não estava, pois se perdesse a audição... tudo acabaria ali! Ficaria sem seu emprego e sem Sara também. Não teria nenhum dos dois.

Ele precisava fazer aquela cirurgia. Seu pensamento de que a doença passaria sozinha foi errado, e com certeza já estava muito avançada. Ele não queria parar de ouvir tudo ao seu redor. A música, a natureza, os amigos, e ela. Mesmo tentando não sentir nada por Sara, pra não se magoar, nem magoá-la por corresponder e não tentar, ele não imaginava seu mundo sem ouvir sua voz. E ele sentiu isso na pele.

Sara estava triste por ele tê-la recusado mais uma vez, mas conversava normalmente com ele sobre o caso que estavam investigando. Certo momento da conversa, quando ele perguntou se ela já havia identificado a fibra que acharam, ela respondeu, mas ele não conseguiu ouvi-la.

— O que foi? - ela perguntou. Ele não disse nada em resposta do que ela disse sobre a fibra e ficou olhando pra ela com uma cara de interrogação. _ Grissom? Por que está me olhando assim?

Ele também não conseguiu ouvi-la, nem ler seus lindos lábios.

— D-Desculpa. - ele também não conseguiu se ouvir.

— Está se sentindo bem?

Ele fechou os olhos com força e em seguida os abriu.

— Grissom?!

Só então ele ouviu.

— Pode repetir o que disse?

— A fibra é de algodão. Greg achou um pouco de sangue nela, mas não foi identificado.

Sara achou muito estranho aquela reação dele e ficou preocupada.

— Você está bem?

— Sim, sim... Estou bem.

Não poder ouvi-la foi horrível. Ele via os lábios dela se mexendo e nada saia deles. Foi uma das coisas mais horríveis que sentira.

...

O caso daquela noite era um assalto a banco. O detetive Lockwood que estava lá foi baleado e morreu.

Gil e Catherine foram os primeiros a chegar. Como a doença de Gil estava bem avançada, quase tudo o que sua amiga lhe dizia, ele não conseguia ouvir direito. Catherine estava achando muito esquisito.

Grissom estava olhando para uma das câmeras do banco quando o resto da equipe chegou. Sara, Nick e Warrick chegaram falantes, mas Grissom não ouviu nada. Catherine teve que ir cutucá-lo pra ele voltar a realidade.

— Desculpe. Eu estava pensando.

Catherine estava achando muito estranho o comportamento do amigo. Já tinha um tempo bem considerável que Gil não fazia o trabalho de campo “mais pesado”, não falava com testemunhas, sempre pegava a parte mais fácil que na maioria das vezes não envolvia falar com ninguém.

— E eu estava pensando que precisamos processar as evidências.

— Tudo bem. Eu pego os cofres particulares. - se afastou dela. _ Sara, vem comigo. - pediu e seguiu caminho até os cofres.

Sara ainda estava magoada e não queria trabalhar com ele, mas como ele era o chefe, tinha que obedecer. Analisou o cofre junto com ele apenas trocando as palavras necessárias, não estava a fim de conversa com ele.

Novamente, Catherine achou estranho. Ele estava praticamente deixando a supervisão de tudo com ela. Não distribuiu a função de ninguém, apenas arrastou Sara com ele para os cofres e deixou o resto com eles. Então cada um escolheu o que ia fazer. Nick foi checar a viatura da polícia que recebeu tiros, e Warrick as câmeras. Catherine foi com Brass que chegou informando sobre o veículo de fuga que encontraram.

O motorista morto, que foi identificado como Larry Whiting, era manobrista do Rampart, um dos hotéis cassinos de San Braun. Mas Gil e Cath ficaram confusos. Como um cara fichado consegue tirar uma licença especial pra manobrar carros?

— Vá checar. - Gil disse a ruiva, saindo da sala, mas ela o fez parar.

— Acho que não é uma boa ideia. Sabe que eu tenho um relacionamento pessoal com o cara.

Catherine era muito próxima a ele. Como a mãe da ruiva o conhecia, Catherine passou a ter contato com ele desde criança e com a família Braun. E ela sabia muito bem que conflito de interesses era proibido no laboratório durante os casos, e Gil sempre dava bronca quando qualquer um deles se envolviam em algum caso.

— Não faz mal.- ele respondeu e abandonou a sala.

Catherine achou aquilo muito, mas muito mais estranho. Ele queria que ela passasse por cima da regra para que ele mesmo não fosse checar? Sempre que alguém que ela conhecia estava envolvida ele a mandava se afastar, e agora fingiu que a regra não importava? Mas que diabos estava acontecendo com ele? Estava sempre perdido, pensativo, as pessoas falavam com ele e o mesmo não prestava atenção. Ela precisava saber o que Grissom tinha.

Mesmo sendo contra as regras, Catherine foi falar com San. Ela tinha, lá no fundo, uma certa desconfiança de que o dono de cassinos mais respeitado de Vegas fosse mais que um amigo de sua mãe, e mais que apenas um conhecido pra ela mesma. E durante esse caso, ela teve certeza.

Esperando o gerente do banco junto com Grissom depois de um tempo de investigação, ela presenciou um momento da perda de audição do amigo, ele estava pensativo de novo.

— Hey. - ela o chamou.

Gil conseguiu ouviu, mas bem baixo e olhou pra ela.

— Há quanto tempo a gente se conhece? - perguntou a ruiva na intenção de saber o que tinha de errado que ele não queria dividir com ela.

Grissom ouviu a pergunta dela, mas por muito pouco, a voz dela estava bem distante.

— Em dias, meses ou anos? - ele devolveu outra pergunta.

Catherine respondeu, mas ele não conseguiu entender.

— Você está me ouvindo?

Ele não respondeu e Cath não teve tempo de questioná-lo mais, pois o gerente chegou. Descobriram a quem pertencia o cofre que faltava e foram falar com San Braun sobre ele. Assim que saíram de lá, Catherine foi imediatamente até Greg e fez uma coisa que não deveria, mas que precisava fazer. E comparando seu DNA com o dele, que era evidência do caso, ela comprovou que San Braun era seu pai biológico. Fez Greg jurar manter segredo.

Enquanto isso, Gil foi falar com seu amigo legista.

— Albert! Tem um minuto?

— Claro. O que foi?

— Eu quero uma segunda opinião.

Ambos entraram no necrotério, Grissom sentou ao lado da mesa de Robbins e pediu para que o mesmo desse uma olhada em seu ouvido.

— Você devia ter vindo antes. A doença está bem avançada. Por que esperou?

Grissom suspirou.

— Eu pensei que passaria sozinho.

— A sua mãe não tem essa doença?!

— Tem. É hereditário. - Albert fez aquela cara de reprovação. _ Eu sei... Eu não fui racional.

— Olha Gil, eu não vou te dar um sermão, você me procurou. Mas de médico para médico, é possível que os depósitos ósseos tenham atingido o ouvido interno. Neste caso, a sua perda de audição pode se tornar permanente. Se eu fosse você, marcaria a cirurgia o mais rápido possível.

— Farei isso. - assentiu com a expressão de um pouco de tristeza. _ Obrigado Al.

— Pode contar comigo pro que precisar. Boa sorte, amigo.

Trocaram um abraço e Gil voltou ao laboratório. Juntou sua equipe maravilhosa na sala de descanso para discutirem o caso enquanto comiam. Era a hora da pausa. Todos comiam comida chinesa e Grissom segurava um biscoito da sorte, novamente pensativo.

— Sabe o cílio que o Warrick achou na tinta preta? - Greg indagou ao resto. _ Eu extrai o DNA e comparei. O banco de dados me retornou um shops way.

— E oque que isso quer dizer? - Sara perguntou, confusa.

— Quer dizer que não achou nada. - respondeu Warrick tentando usar os palitinhos, mas sem sucesso.

— Usa esse aqui, amigão. - Greg estendeu o dele. _ Pra iniciantes.

— Tá.

— Gente?! Alô! Vamos falar do assalto. - Nick tentou manter o foco deles.

— Grissom? - Catherine chamou a atenção do chefe. _ O que você acha?

— Estamos dando muito crédito a eles. - falou o supervisor. _ Eles são especialistas em roubar bancos e não especialistas em esconder provas.

— A menos que a resposta esteja nesse biscoito da sorte, qual é o plano?

— Já se perguntou como colocam o papel dentro do biscoito?

— Eu sei, eu sei! - Nick respondeu.

— Claro que sabe! - Sara zombou do amigo e sorriu.

— O biscoito sai da prensa como uma panqueca, aí alguém põe o papel no cento da massa e dobra a massa usando uma forma de metal, e depois dobra de novo. - piscou.

Grissom sorriu.

— Essa é a resposta. - disse e se levantou saindo da sala em seguida.

Todos franziram o cenho.

— Como assim? - Greg estava com uma interrogação na cara.

— Alguém entende o que ele diz?

Sara fez todos rirem com o jeito que fez aquela pergunta.

— Cath conhece ele há mais tempo. - falou Warrick sorrindo.

— Como consegue, Catherine? - indagou Nick segurando o riso.

— Nem eu sei. - a ruiva respondeu fazendo-os rir em seguida.

...

Continuaram investigando o caso, e em determinado momento, ao ir falar com Greg o supervisor notou que enquanto o técnico lhe passava as informações, suas mãos tremiam.

— Greg, sua mão está tremendo.

— Não está não. - ele tentou disfarçar.

Grissom pegou a folha da mão dele e pediu que ele esticasse as mãos. Greg não pode negar, pois ambos podiam ver que tremiam.

Greg suspirou.

— Estão tremendo desde...- apostou para a sala do lado, onde havia acontecido a explosão e ainda estava sendo arrumado. _ Eu não consigo fazer parar.

— Afeta o seu trabalho?

— Se eu fosse um especialista em bombas, talvez. - ele sorriu, mas Grissom permaneceu sério, então ele deixou de graça. _ Não, está tudo sob controle.

Grissom ficou sentido. Mesmo Greg sendo muito brincalhão do jeito que era e dando em cima de Sara do jeito que dava, Gil gostava dele e se preocupava.

— Vai parar. - tentou tranquilizá-lo. _ Se precisar, estou aqui.

— Tá.

Grissom saiu de lá e Gregori ficou pensativo. Sara disse a mesma coisa pra ele ao perceber que suas mãos tremiam. Era bom saber que seus amigos estariam ao seu lado quando precisasse.

...

Resolveram o caso, só faltava acusar San Braun de assassinato, mas como Catherine pegou o sangue da prova pra comprovar que San era seu pai, não deu pra usar, e não conseguiram provar que foi San arquitetou tudo. A ruiva tinha que ir até San para contar que descobriu e tentar arrancar uma confissão dele. Estava se preparando pra ir quando Grissom apareceu no locker.

— Ele não está retornando minhas ligações. Eu tenho que ir resolver essa situação com San Braun de uma vez por todas! - informou a ruiva vestindo o blazer. _ Eu dirijo.

— Eu não vou com você. - disse Gil.

— Como assim? - indagou fechando o armário.

— Eu tenho uma cirurgia do Desert Palm.

Catherine gelou e o olhou.

— Cirurgia?

Ele assentiu e ela chegou perto dele. Ele se manteve em silêncio apenas olhando pra ela.

— A sua audição? - foi então que ela se deu conta que tudo o que estava acontecendo com ele era por conta da perda de audição.

— É.- ele se limitou a responder.

— Eu lamento.

— Eu não. - tentou parecer tranquilo. _ Tem que ser feito.

— O que eu posso fazer?

— Nada, eu estou bem. - deixou sua expressão normal para não deixá-la preocupada. _ Cuide bem do caso.

Ia se retirar quando Catherine o deteve.

— Mas... Ãhn... Só isso?

— Só isso. Ãhn... Boa sorte. - dito isso ele saiu a deixando perplexa.

Mas por que ele não lhe contou antes? Está certo de que ele não era de demonstrar fraqueza ou de falar do que sentia e temia, mas ela era sua melhor amiga, ele podia confiar nela.

Assim que falou com San, Cath foi direto ao Desert Palm procurar Gil.

Ele estava prestes a entrar na cirurgia, estava sentado esperando a enfermeira pra ir pra sala de cirurgia quando viu a amiga parada na porta.

— O que está fazendo aqui? - perguntou surpreso.

— Eu só queria te ver.- ela sorriu. _ Eu não queria que entrasse sem ... desejar boa sorte.

Uma enfermeira apareceu atrás de Catherine com uma cadeira de rodas.

Grissom se levantou e foi até Catherine. Foi muito legal da parte dela ir até lá, e ele esperava que ela tivesse mantido segredo sobre sua cirurgia.

— Obrigado... por ter vindo. - ele disse sem jeito. Não era bom com palavras e era tímido ao demonstrar sentimentos. Mesmo sendo com Catherine que era sua melhor amiga.

A ruiva sorriu e lhe abraçou.

Grissom ficou surpreso, mas correspondeu.

Separaram-se, pois ele precisava ir.

— Eu não vou chorar. - ele disse mais para si mesmo olhando pra enfermeira, o que fez Catherine sorrir.

Seguiu no corredor até a sala de cirurgia sendo observado por Catherine que mantinha o sorriso. Sabia que era difícil pra ele e queria que ele soubesse que ela estava li sempre que ele precisasse.

...

A cirurgia ocorreu na mais linda calma, não houve nenhuma complicação e Grissom saiu de lá renovado. Tão renovado que quis até mudar o visual, o que, por coincidência, todos os seus subordinados quiseram também naquele quase fim de ano.

A mudanças não eram tão radicais. Grissom resolveu deixar a barba crescer, Catherine fez ondas no cabelo, Warrick optou por não cortar o seu, Sara quis tingir o seu novamente pra cor natural e alisá-lo mais deixando-o reto, e Nick resolveu que ia malhar mais um pouquinho.

Mas não eram só mudanças visuais que Gil e Sara quiseram.

Gil, depois desse perrengue todo com sua audição, resolveu se abrir mais, ou pelo menos tentar, pois viu que o apoio de Catherine e Albert o fez ter um pouco de coragem.

Já Sara quis fazer o oposto. Com tantas decepções quando estava aberta emocionalmente, ela quis se fechar um pouco e assim, manter-se um pouco distante de Gil, como ele fez com ela.

Só saberia se isso seria bom ou ruim... com o tempo.