A chaleira quebrou o silêncio que inundara o apartamento de Sakura, a jovem correu até o fogão para retirá-la do fogo, esperou que o vapor saísse e, cuidadosamente, colocou o recipiente quente em cima de uma tábua de madeira ornamentada na mesa, enquanto pegava duas xícaras e chá no armário ela deu uma olhada de canto na sala, onde Sasuke jazia de pé, recostado á parede, com a costumeira feição séria, ele tirou o poncho e o deixou sob um dos sofás da sala, exibindo a camisa preta de gola alta que cobria todo seu torso e um colete típico de Kumogakure, o braço direito estava todo envolto em uma faixa azul, semelhante a que ele usava em sua cabeça, seus cabelos ficavam cada vez mais longos.

Sasuke percebeu que Sakura estava o encarando e virou o rosto, repreendendo-a.

Envergonhada, Sakura voltou a prestar atenção no que estava fazendo, serviu um pouco de chá em cada xícara, deixou uma em cima da mesa e levou a outra, oferecendo-a a Sasuke, que agradeceu com um movimento da cabeça e tomou a bebida em silêncio, Sakura voltou até a mesa e, recostando-se à mesma, pegou sua xícara e o tomou o chá também em silêncio.

Havia tantas perguntas que ela queria fazer a ele naquele momento, mas ela já sabia que muito dificilmente obteria as respostas, Sasuke não era do tipo de responder o que lhe perguntavam, ele falaria quando quisesse e sobre o que quisesse, e não haveria muito o que ela fazer sobre isso, ela cansativo o jeito que ele a tratava, tanto que ela já não sentia mais vontade de tentar se comunicar com ele, Sasuke era independente e aparecia quando queria, e nem sempre a visitava, apesar de suas aparições serem raras, as mesmas já não satisfaziam Sakura completamente, somente a presença dele não era suficiente.

Sasuke estava, pouco a pouco, perdendo Sakura, e ele sabia disso.

— Então, como está indo sua viagem? –  Sakura perguntou sem mostrar muito interesse.

Sasuke não respondeu, continuou tomando seu chá enquanto observava o pôr-do-sol pela sacada do apartamento de Sakura, a jovem ficou vermelha de ódio por ter sido ignorada, ela não podia acreditar em tamanha falta de respeito de Sasuke, não entendia como ele poderia desprezá-la tanto e, mesmo assim, continuar presa à ele, a jovem pensou em mil coisas para dizer à ele, pensou em expulsá-lo da sua casa, em sair sem falar nada ou qualquer outra coisa do tipo, porém, enquanto o observava parado em sua sala de estar, ela não conseguia fazer com que seu corpo obedecesse seus pensamentos uma vez sequer.

Por fim, Sakura tomou o restante de seu chá e foi em direção ao seu quarto, deixando Sasuke sozinho na sala, ela tinha certeza de que ele já conhecia sua casa e saberia muito bem onde era a saída, podendo esta ser a sacada ou a porta, ela abriu a porta do quarto com força, fazendo um barulho um tanto alto, o quarto estava vazio e bem arrumado, ela logo tirou o suéter cor de creme e o jogou sob sua cama, foi até o guarda-roupa a fim de colocar uma roupa mais confortável, procurou algum shorts preto em sua gaveta e pegou também uma regata branca simples, deixou as roupas sob a cama e se virou para fechar a porta do quarto, deparando-se com Sasuke recostado á ela.

— O que está fazendo aqui? –  Ela perguntou séria.

— Eu vim te ver, não é óbvio? –  Sasuke respondeu sereno, encarando-a.

— É mesmo? – Sakura riu forçadamente. – Geralmente quando você visita uma pessoa você conversa com ela, pergunta como ela está, o que tem feito, você se preocupa com essa pessoa, não invade a casa dela e fica parado e nem responde as perguntas dela. – Sakura disse rapidamente, Sasuke somente continuou a encarando com uma leve expressão de surpresa no rosto. – Porque você vem me ver Sasuke?

— Porque eu preciso saber se você está bem. – Ele disse, sem rodeios.

— Bom… Eu estou bem. – Ela respondeu friamente.

Os dois ficaram imóveis, Sasuke parado na porta do quarto de Sakura, e ela do outro lado do cômodo, o encarando com um olhar que poderia atravessá-lo, ambos esperando alguém ceder, era sempre assim, o encontro dos dois se baseava em um dos lados ceder, e, é claro, sempre Sakura cedia á ele, pedia desculpas e falava sobre qualquer outra coisa até que ele permitisse que ela o beijasse, Sakura imaginava se seria sempre assim, se ele somente a procuraria para isso.

Sakura soltou o ar dos pulmões, preparada para ceder à ele mais uma vez, ela podia ser uma das Jounins mais fortes da aldeia naquele momento, mas ela não conseguia resistir aos desejos de seu coração, e o seu coração ansiava por Sasuke, ansiava por tê-lo em seus braços, ansiava pelo carinho que ela sabia que dificilmente conseguiria.

— Sasuke… – Sakura começou, sua voz soava irritada.

— Eu não posso lhe dar o que você quer, Sakura. – Ele disse calmamente.

— Então eu deveria desistir? Fazer o que Ino sempre me sugeriu e procurar por outra pessoa? Ser mais uma das pessoas que você vai deixar passar por sua vida como se não fosse nada? – Ela explodiu em ódio.

— Você diminui muito o seu próprio peso em minha vida. – Ele disse.

Com os olhos já inundados por lágrimas, Sakura o encarou, como sempre, o semblante sério e calmo continuava lá, nada alterava sua feição, ela não entendia como ele podia ser tão inexpressivo todo o tempo, porém, algo nos olhos negros dele lhe diziam que aquele era um de seus momentos de mais emoção.

— Sasuke…

— Não sou eu que devia lhe dizer essas coisas. – Ele exibiu um leve sorriso de canto enquanto se aproximava de Sakura. – Você já devia saber disso, você sabe ser bem irritante quando quer. – Proferidas as palavras, Sasuke cutucou gentilmente a testa de Sakura.

“Um hábito de carinho herdado de seu irmão, Itachi…”  Sakura se lembrou.

— Sasuke-kun… – Sakura segurava o choro.

Em poucos segundos, Sakura já estava sobre os braços de Sasuke, ela o envolveu em um beijo apaixonado e sereno, as mãos dele a apertaram contra seu corpo e ela sentia como se pudesse derreter naqueles braços, como se sua cintura ansiasse por aquelas mãos por todo aquele tempo, como se ela tivesse, finalmente, um lugar no mundo.

Sasuke apertou Sakura em seu abraço com a terrível lembrança de que teria que soltá-la mais uma vez.