Lorcan Scamander

Eu escrevo um diário. Albus foi a única pessoa para quem contei isso em toda a minha vida. É algo que tenho vergonha de mostrar, não pelo fato em si, mas pelas consequências que esse fato pode gerar. 

As pessoas começariam a me xingar de veado, de bicha, que eu sou gay. Não acho que essas coisas são xingamentos. Longe disso! Sou homossexual, e gostaria de ter orgulho disso. E tenho, sim. Tenho orgulho de ser homossexual. O que eu não tenho orgulho é de como as pessoas ao meu redor reagem ao descobrir isso. 

Eu não tenho medo de ser gay, nunca tive. Mas tenho, sim, medo de um dia algum homofóbico começar a me agredir por causa disso. Porque isso não tem nada a ver com o fato de eu gostar de beijar garotos ou não, mas sim com o fato de que alguém não sabe lidar com seus próprios problemas e quer julgar os problemas dos outros, porque é mais fácil. Tem a ver com o fato de alguém não ter coragem de assumir algo, e sentir inveja de quem teve coragem de fazê-lo. Tem a ver com o fato das pessoas não conseguirem encarar e aceitar o que é diferente. 

Até que um dia eu tomei a infeliz decisão de escrever no meu diário no Salão Comunal da Grifinória. 

Eu estava lá porque Lysander me arrastara. Ele queria conversar com Rose, mas não sozinho. Então eu iria esperar por ele ali. Eu estava sentado numa poltrona quando Cedric McLaggen apareceu. 

— O que você está escrevendo aí, cara?! 

Um som de susto saiu da minha garganta, quase como um soluço. 

— N-n-nada! - gaguejei. 

— Ah, Scamander! Me mostra aí! - Ele começou a tentar pegar o diário de minha mão. Cedric é bem mais rápido que eu, isso é fato. Então ele conseguiu pegar o diário. E começou a ler. Pela quantidade de sentimentos sobre ser homossexual que eu coloquei pra fora, ele provavelmente percebeu. 

E, por algum motivo, tudo o que a minha mente conseguia fazer era uma espécie de filtro para ver se eu tinha escrito algo sobre Albus no diário. 

Mas não. Eu tinha um caderno só de Albus. Ele merecia um lugar só pra ele. Mordi os lábios e apenas esperei. Esperei Cedric McLaggen começar as "brincadeiras". Esperei ele começar a empurrar meu ombro "de brincadeira". Depois, também "de brincadeira", ele me jogou no chão, e eu bati minha cabeça na cadeira. E, acidentalmente, queimei minha mão no fogo crepitante da lareira. 

E, o covarde, que de alguma forma entrou na casa vermelha e dourada que deveria representar a coragem, saiu correndo do Salão Comunal, provavelmente para não ser pego. 

Eu estava com muita dor. Senti sangue escorrer da minha cabeça, e a minha mão queimada esfregando no tapete. A única coisa que consegui fazer foi tirá-la do fogo. 

Cerca de dez minutos depois, Lysander chegou. Eu já estava desacordado, por isso só sei disso porque ele me contou. Ele gritou para que Rose fosse ajudá-lo a me levar para a enfermaria. 

E, segundo Lysander também... 

Eu só conseguia chamar o nome de Albus repetidamente, em tons diferentes. Às vezes, sussurrando, outras vezes, desesperadamente. Outras vezes com carinho. 

E, por isso, ele foi a primeira pessoa a me ver. 

Isso aconteceu no quarto ano.