Pack Up escrita por Maria Lua


Capítulo 7
Sanidade


Notas iniciais do capítulo

Promessa é dívida, e cá estou! Ai gente, está começando agora a melhor parte da fic ksdjsdkj sem querer me gabar, mas amo essa parte! Esse capítulo pode ter mais pensamento do que ação, mas é apenas para situar vocês da loucura que está na cabeça de nossos protagonistas e de quem vos fala kkkk
Os próximos serão tudo o que vocês mais esperam kkkk

Boa leitura!



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Rose estava completamente nas nuvens. Durante algumas horas, nada podia abalá-la. Ela não estava preocupada com família, colegas, estudo, saúde, paz mundial... Nada era relevante quando tudo o que ela sentia era orgulho de si mesma. Em alguns momentos pestanejava “como vou encarar a todos? Será que vai piorar? Eles vão me provocar mais ainda? Eu fiz mal? Muita gente vai saber?”, mas no minuto seguinte ela se lembrava dos aplausos, da surpresa, da emoção que causou à plateia. Era insano.

A verdade é que tudo aquilo tinha sido pensado durante dois anos. Sim, dois anos que Rose passou pensando sobre “me inscrevo ou não me inscrevo? O que faço?”, e basicamente havia calculado todas as reações possíveis. O que ela não contava era a variação na sua equação: Scorpius, o X da questão. Ele era uma incógnita, porque apesar de saber muito sobre a família e fama do menino, nada sabia sobre ele. E, claro, Rose Weasley não é do tipo de pessoa que assumirá algo sobre alguém apenas pelo que ouviu falar. Afinal, ela já ouviu falar coisas sobre si mesma que não eram bem verdade.

Mas o pouco que conheceu de Scorpius Malfoy nesses dois dias tinha sido o suficiente para defini-lo como a real incógnita de seu futuro. Ela nunca saberia quem Scorpius é. Em um momento, ele é o crápula dos crápulas. Ele a enfureceu a ponto de fazê-la usar da violência, dar-lhe um tapa, e é algo que para Rose soava inadmissível. Mas... No outro dia... Literalmente no outro dia, Scorpius havia sido bom com ela, havia seguido uma lógica positiva e agido com ela como age com seus amigos próximos. E isso não era nada confiável.

A questão era: em que dia ele foi sincero? No da brutalidade ou no da demonstração de humanidade? Ou será que ele foi sincero em ambos e algo o mudou? Ou não foi sincero em nenhum dia e está brincando com ela? Quem é Scorpius Malfoy?

Era inquestionável que a confusão na cabeça de Rose só não era maior do que a sua felicidade no momento. Ela estava tão feliz que acabou se esquecendo do que deveria ser sua maior preocupação do momento: o ruivo cuja voz ela acabara de ouvir soar no saguão do Salão Comunal da Grifinória. Em meio a um susto, Rose pulou de sua cama e correu para as escadas, parando de imediato ao encontrar seu primo Alvo Sirius ao lado de Hugo, segurando-o pelo braço e conversando. Ela deduziu o que estava acontecendo por já ter visto cenas semelhantes antes: Alvo, sempre muito lógico e metódico, tentando colocar juízo no caçula, Hugo, que tem sua fama de esquentadinho da família.

E, mantendo sua fama, Hugo deu um empurrão no peito de Alvo e seguiu subindo as escadas, sem ver que se bateria com sua irmã no topo. Ao se deparar com ela, ele franziu sua testa.

— Hugo, o que aconteceu com você? – perguntou, soando mais hipotética do que preocupada, e essa certamente não era sua intenção. O garoto olhou indignado para a irmã mais velha.

— Comigo? Nada, é claro, afinal tudo sempre acontece com você.  Presentes, oportunidades, tudo vai para você, até mesmo talento! – falou trovejando, tentando passar batido por ela. Sua irmã, porém, o segurou. Vendo-o assim, Rose tinha certeza de que ele parecia anos mais maduro que ela. Ela, no papel de 16 e ele no papel de 13, mas ela conseguia entender o irmão como ninguém.

— Hugo, eu sinto muito. – falou, fazendo-o fita-la por uns instantes. – Eu sinto muito de verdade. Você sabe que eu o amo, e eu abriria mão de qualquer coisa por você se você me pedisse. Mas eu te imploro... Por favor, não me peça para abrir mão disso por você...

— Como se você fosse mesmo... – bufou.

— Eu faria. – Ela o cortou. – Eu faria por você. Eu odeio te ver assim, e odeio ver você me culpando e me detestando quando eu não tenho culpa alguma disso. Mas eu abriria mão se você me pedisse. Mas, por favor, não me peça para desistir de uma coisa como essas... Eu provavelmente nunca mais conseguiria algo assim.

Hugo ficou em silêncio por um tempo, indignado.

— Me esquece. – Ele enfim falou, saindo e chocando seu ombro contra o ombro da irmã.

Rose deu uma última olhada para Alvo no pé da escada após ouvir a porta do ruivo batendo-se por trás dela. Respirando fundo, ela desceu para falar com o primo. Seus pensamentos eram muito rápidos, e a verdade é que Rose não havia mentido para Hugo quando o disse aquilo. Ela o amou mais do que qualquer outro desde que soube que sua mãe estava grávida até o dia de hoje. Rose considerou Hugo quase como um filho durante toda a infância, sendo ela aquela que o ensinou a andar de bicicleta, que o ajudou a voar pela primeira vez, e diversas outras coisas. Eram daquele tipo de irmão-melhor-amigo com problemas. Ela sempre soube da inveja que Hugo sentia de certas coisas, assim como ciúmes da garota com seu pai, e sempre o tentou compensar com todo o afeto e atenção, nunca lhe negando nada. Mas o que ele jamais soube é da inveja que ela nutria por ele simplesmente por ser... Homem.

Rose não sabia quantas vezes calculou em sua mente o que seria mais fácil em sua vida se ela apenas tivesse nascido um homem. Ela ter talento, ela se esforçar... Parece que só agora as coisas estavam fazendo sentido. Durante toda a sua vida o Hugo fez aulas e teve amigos para jogar quadribol no bairro, enquanto ela tinha apenas a sua família, em especial seu pai.

Seu pai, na verdade, é o motivo de seu sentimento de culpa. Talvez por ele ser o único que jamais a descriminou, que sempre a incentivou, que fazia com que ela sentisse que não era uma loucura total aquilo tudo. Ele deu sentido a tudo, e a relação deles se baseava nisso: um amava o outro, oferecendo orgulho mútuo. Até mesmo a sua mãe entende que a relação dos dois é um nível de companheirismo absurdo, e todos enxergavam que Hugo sentia muito ciúmes disso. Rose passou a vida sem perceber isso, mas quando percebeu, há alguns anos, ela passou a fazer de tudo para incluir Hugo em tudo que ela e seu pai faziam. Ela sentia-se mal e tinha medo do irmão pensar que ela o roubou só para si. Mas ela apenas precisava mais dele...

Ao sentar-se na frente da lareira com Alvo, ignorando todas as pessoas à sua volta que haviam visto a movimentação dela com o irmão, Rose desabou.

— Eu estou errada? – Perguntou, arfando. Rose tinha uma conexão boa com Alvo, assim como uma certa proximidade com James e Lily Luna, afinal vivia na casa de seus tios durante a infância. Era de se esperar, considerando que a mãe dos meninos, Gina, havia sido uma jogadora profissional quando jovem. Fora uma das últimas a se aposentar (ou, como diz a teoria: ser expulsa do jogo).

— Você certamente não está errada. – Disse Alvo, em seu habitual ar sofisticado e racional que fazia a todos se sentirem melhor. – Ele só está decepcionado. Não é a primeira decepção da vida do Hugo, e não será a última também. Ele tem que viver com isso.

Um silêncio se fez.

— Ah, e... Rose. Você foi demais. Sério. – Ele disse, fazendo Rose olhar instantaneamente para ele, com um sorriso nos lábios. – Minha mãe vai ficar muito feliz. O seu pai eu nem imagino! Uau! E quando o James souber que te compararam com ele... – Alvo disse dando risada alto.

Rose começou a rir junto com ele, nervosa.

— Alvo! Dá pra acreditar?! Eu no time! – Ambos seguiram gargalhando. Alvo não gostava muito de jogar, mas não era ruim, e já jogou diversas vezes juntos. Os pais de ambos costumam dizer que criaram o melhor time de filhos já visto antes, afinal são diversos primos que sempre se deram bem desde a infância. Rose era grata por ter relações como essas, e Alvo sempre a fazia se sentir bem. Ele era um amigo excelente, além de primo. Sem mencionar que ele se encaixava com ela nesse padrão um pouco mais excluído e menos chamativo da escola. Fora eles dois, todos os Granger, Potter e Weasley eram ícones em Hogwarts, seja pela história de seus sobrenomes ou por seus feitos. Eles se entendiam.

Em meio a diversas conversas paralelas e risadas, ambos foram interrompidos por uma coçada de garganta por trás das poltronas em que se encontravam. Depararam-se com um Scorpius de postura firme, olhando para a ruiva – novamente observando suas mechas alaranjadas misturando-se com a cor da lareira em sua frente.

— O treino amanhã é cedo. É melhor ir dormir. – Ele comentou, fazendo Rose revirar os olhos.

— Entrar para o time me dá um horário de recolher, Malfoy? – Ela devolveu com o deboche evidente na fala.

— Não sei se você sabe, ruiva, mas temos três dias em Hogwarts antes do recesso de Natal. Os cães vão cair matando em cima de você, e como um bom amigo eu estou te dando um conselho. Não seja mal-agradecida, vai dormir e não se machuque amanhã.

A cada palavra de Scorpius uma alfinetada de provocação era sentida em Rose, e ela detestava isso. Detestava o quão difícil era conversar com ele sobre qualquer coisa, e como sempre havia jogos em suas frases.

— Para ser um bom amigo, antes você precisaria ter amigos, Malfoy. – Rose falou, levantando-se na poltrona e parando na frente dele. – Com você eu só vejo cachorrinhos bajuladores. – Ela respondeu em tom baixo, olhos fisgados dele. Antes de virar-se para seu dormitório ela desejou uma boa noite para Alvo e sequer olhou para trás.

Mas quem visse o olhar de Rose enquanto ela se afastava, dando as costas para Scorpius, veria que ela estava mordendo o lábio, nervosa e arrependida pelo que disse. Por um minuto ela estava fatigada, não aguentando mais toda a irritação que o loiro a causa, e talvez tenha ido longe demais. Alvo, por sua vez, segurou o riso e saiu devagar e despercebido, deixando Scorpius totalmente devastado.

Scorpius não conseguia acreditar no que tinha ouvido. Quem era ela para dizer quem é amigo de verdade ou não? Não tinha uma pessoa – exceto a própria Rose Weasley – nessa escola que não seja ou queira ser amigo de Scorpius Malfoy. A ruiva sim é preocupante, afinal ela apenas convive com o bizarro clã dos Potter. Isso, realmente, é um fato conhecido por todos na escola. Todos conhecem a escola de como os pais de todos eles salvou a todos no mundo mágico, e ninguém tira o mérito deles, mas desde que James, o mais velho da família, entrou em Hogwarts todos perceberam que seus herdeiros eram um pouco estranhos. Eles andavam juntos o tempo todo, como um verdadeiro clã, e mal davam espaço para amizades externas. Em especial a maldita Rose Weasley, que não tinha um amigo sequer que não compartilhasse ao menos 25% do sangue com ela, e mesmo assim julga quem são os amigos do loiro.

Ah, isso era inacreditável. Ali no Salão Comunal da Grifinória, olhando em volta, todos já haviam saído para beber, dançar ou qualquer coisa com o Scorpius. Ele tinha namorado dezenas de garotas, e todos demonstram gostar dele. Era inconcebível para a forma que Rose a trata, porque ele sente-se como uma pessoa ruim. Ele sentia como se de fato fosse como um Malfoy nato – e esse era seu maior medo.

Scorpius cresceu admirado com as histórias sobre os heróis de Hogwarts, e sentia-se orgulhoso de saber que ao menos seu pai fez diferente no final. Ele e todos os demais conheciam a história. Sua família era conhecida por serem preconceituosos e, literalmente, ruins. Desagradáveis. Mas seu pai tinha mudado certas coisas em si durante a guerra, e isso fez com que Scorpius crescesse pensando nas histórias que leu sobre pessoas serem o que são, independente da família. E foi assim que ele se tornou Grifinório. A maior surpresa da história, o primeiro Malfoy fora da Sonserina, e também uma vitória para si mesmo. Ele percebeu ali que ele era bom, mas mesmo assim chega uma garota Granger-Weasley para dizer a todos sobre tudo o que há de ruim dentro de Scorpius.

Ela agia com preconceito, por conta de seu sobrenome? Ou ela realmente via o que ele tentava reprimir? Ah, essas perguntas estavam matando o rapaz por dentro. E o pior é que, por culpa dele mesmo, seus próximos meses estão fadados a conviver com Rose Weasley e sua audácia e opiniões únicas – não apenas nos treinamentos, mas agora que eles se conhecem, o fato de morarem na mesma rua não será mais apenas um asterisco em sua vida.

Até mesmo durante o Natal, Rose vai continuar infernizando sua sanidade mental.


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