Pack Up escrita por Maria Lua


Capítulo 6
Confessional


Notas iniciais do capítulo

Esse é o retorno mais inesperado de sua vida, imagino ksdjsdksjsd depois de quase DOIS ANOS sem atualizar a fic, cá estou! E estou tão empolgada com esse capítulo que tenho certeza de que vou começar a atualizar com mais frequência. A verdade é que eu amo escrever tanto quanto amo essa fanfic em particular, junto com os personagens, e me sentiria mal abandonando ela ♥ aproveitem!



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Scorpius observou o rastro ruivo voar de sua vassoura até a plataforma, juntando-se ao aglomerado de pessoas que aguardava o teste para entrar no time. Não conseguia desprender os olhos dela, que ao tocar o chão atraiu toda a atenção para si, e todos a elogiavam, surpresos, encantados. Como? Ele pensava. Como ele era o único a estranhar uma garota jogando quadribol, tentando ser profissional?

Rose Weasley tinha dado a ele mais do que uma dor de cabeça. Agora Scorpius tinha indagações que nunca pensou em ter. Será que é ele mesmo o conservador preconceituoso? Será que esse é o certo? Essa é uma luta que vale a pena? Isso, fora a principal: no berrante que recebera de seu pai, estará uma aprovação ou desaprovação disto? O que ele diria?

Scorpius bufou chicoteando sua cabeça para focar no que verdadeiramente importa – as audições. Zabine, que anteriormente estava na aglomeração enaltecedora da Weasley, subia em sua vassoura até a sua altura.

— Cara... Talvez o pessoal esteja certo. – Ele disse, fazendo com que Scorpius o olhasse de sobrancelhas arqueadas. Até o Luke?! – Ela é fenomenal. Deu tempo de assistir vocês dois jogando por um tempo, e ela estava no mesmo nível que você, e se divertindo. Imagina se estivesse jogando sério?

O loiro franziu a testa, reposicionando seus olhos na garota, que sorria com sua típica pele vermelha e constrangida. Ele havia, pela primeira vez desde que era um menino, jogado quadribol, e não apenas disputado quadribol. Talvez esse esporte tenha perdido o ar de jogo para ele, e se tornado apenas... Profissão. Um trabalho, uma função, uma cobrança. A sensação de jogar com Rose tinha sido tão petiz que tornava inacreditável que ele tenha jogado quadribol todos esses anos, tantas vezes, sem sentir essa emoção. A verdade é que voar era tão natural pra ele que ele havia esquecido que, de fato, está tirando os pés do chão. Pode parecer estranho pondo dessa forma, mas o voar para ele tinha perdido o significado, o frio da barriga, a empolgação. E tudo isso ele sentira nas últimas horas, jogando e rindo junto com Rose Weasley.

O resultado para o time seria hoje, e Scorpius tinha decisões a tomar. E para isso ele tinha que levar em consideração a Rose, o público, o time, seu pai e, também, o Hugo. Seria mentira dizer que a súplica do garoto não lhe tocou. O problema é que, mesmo que a Rose não entre para o time, Hugo não entraria. Ele tinha coisas a amadurecer antes de fazer parte do maior time de quadribol da temporada escolar.

Mas o tempo não esperaria pelos devaneios de Scorpius. Ele deu início aos testes, faltando-lhe ocupar mais três posições do time: zaga, lateral direito e... Goleiro.

Neste segundo dia houveram mais pessoas do que no primeiro, considerando que o primeiro havia acabado mais cedo que o esperado. Zabine estava animado, elétrico, e olhava a todos com muito entusiasmo. O Malfoy, por outro lado, estava cauteloso enquanto fazia suas anotações. Expressava menos suas opiniões e as estava guardando pro final – e isso era muito visível. Rose, na plateia, observava o loiro cautelosamente. Hoje ela havia estado com um Scorpius diferente, divertido, sem preconceitos, mesmo que por apenas algumas horas. Ela havia se divertido com ele, e mesmo assim tinha sido mandada embora da quadra como se fosse um nada. Como se estivesse atrapalhando a todos.

A verdade é que seu corpo estava a ponto de entrar em um colapso. Suas mãos suavam frias. Hoje ela havia cumprimentado e agradecido aos elogios de pessoas estranhas, pessoas conhecidas, pessoas que ela nunca achou que a notariam, de todos. Em sua mente, tudo o que ela queria era contar para o seu pai tudo o que sentiu. Para ela, aquele reconhecimento bastava, mesmo que não entrasse para o time. Mesmo que tudo ali tenha sido um sonho.

Mas ainda assim, ela estava aflita. Migrava os olhos dos candidatos para o Malfoy continuamente, tentando ver algum esboço de aprovação. Mas era impossível. Ele parecia em outro mundo. Era quase desrespeitoso com quem estava ali, tentando. Ela sabe como é se pôr na frente dos outros para tentar algo, e um comentário a respeito é o mínimo esperado. Ainda mais do Scorpius, que todos admiram tanto.

Quando o último candidato enfim agradeceu a atenção e se retirou, Scorpius e Zabine aproximaram-se um do outro para discutir. Rose tinha certeza de que ninguém ali estava piscando. O silêncio reinava ansioso, e todos ali, amantes e fãs de quadribol, não tinha a menor ideia de qual seria o resultado desse ano. Normalmente as pessoas adivinham, mas nesse momento era impossível, considerando a variedade de pessoas que apareceram. Formandos, primeiranistas, excluídos, populares, ex-jogadores, repetentes, baixos, altos e... Mulheres. Não era um ano de fácil decisão, ainda mais considerando que o time da Grifinória conta com sobrenomes famosos, um padrão físico, um grupo fixo de amigos.

Prendendo a atenção de todos, Scorpius começou a escrever com sua pena em um papel grande. Em seguida ele caminhou até o público e anunciou:

— Eu gostaria de agradecer a presença, participação e incentivo de todos. Esse ano foi muito complexo para se decidir, mas eu e o vice tomamos uma decisão que esperamos agradar a todos. Eu peço apenas que abram caminho, porque vou colar o resultado na parede. Os aceitos, tanto os de hoje quanto os de ontem, por favor, me encontrem em trinta minutos na Sala Comunal da Grifinória.

O loiro anunciou, pregando na parede o tão ansiado papel. Ele deu três contados passos em direção ao castelo e todos se aglomeraram e iniciaram o burburinho.

Rose mal conseguia respirar. Por ser pequena, enfiou-se em meio de tantas pessoas – umas saíam de lá cabisbaixas, outras comemoravam, e outros curiosos jogavam ao ar diversos nomes de aprovados. Quando a ruiva enfim alcançou o papel, seus olhos buscavam um por um os nomes conhecidos. Seu coração palpitava quando via diversas pessoas fenomenais sendo aceitas, e então alcançou o tão esperado título de goleiro.

Rose Granger-Weasley.

Rose Granger-Weasley.

Rose Granger-Weasley.

 

Rose Granger-Weasley.

A ruiva teve que reler sequencial e repetidamente o seu próprio nome para os olhos e sua mente se ajustarem e ficarem em sintonia. Goleira. Rose Granger-Weasley. Em sua volta as pessoas tocavam seu ombro, gritavam, comemoravam, todos incrédulos, todos empolgados. Rose limitou-se a um sorriso arfante. Sua mente estava a mil e ela não conseguia acreditar que de fato tinha entrado para o time de quadribol da escola. Está certo que ela ainda seria reserva inicialmente, mas era um sonho realizado. A felicidade não cabia nela, até que seus olhos alcançaram Hugo Weasley, seu caçula, correndo do campo de quadribol, apressado.

Tentou, então, afastar-se da multidão para colocar sua mente no lugar. Estava arfando e as lágrimas saíam ralas, arrastando-se pelo rosto seco. Eu consegui. Meu pai e eu conseguimos. A gente fez isso. Entramos para o time. Eu entrei para o time de quadribol. E em meio a esses pensamentos o rosto de Hugo surgia, decepcionado. Infelizmente ela nada podia fazer a respeito no momento – tinha menos de trinta minutos para encontrar com todos na sua Sala Comunal.

Rose foi ao banheiro lavar seu rosto e seu resquício de choro, e por mais insignificante que essa informação pareça, o momento em que se olhou no espelho foi fundamental para toda a sua conquista. Ela olhou no espelho e viu um sorriso enorme em meio a olhos vermelhos, e orgulhosa de si mesma dirigiu-se para a sua Sala Comunal. Sala Comunal esta onde Scorpius e Zabine já haviam chegado, ambos pensativos.

Zabine ainda estava elétrico enquanto Malfoy estava muito tenso – ambos pela mesma razão. Luke tinha essa personalidade que gosta de novidade, de leis infringidas, de tabus quebrados, de caos. Contra isso, temos um Scorpius que, querendo ou não, demonstrando ou não, estava sempre com medo de mudanças bruscas.

— Eu acho que não podíamos ter tomado uma decisão melhor, cara. – Zabine comentou, apertando o ombro do amigo quando se sentou numa poltrona em frente à lareira. – Esse vai ser o assunto da temporada. Espere só quando ela entrar em campo... Ah, e ainda temos que pensar a respeito de quem vai ser o goleiro reserva. Ela tem que ser a estrela!

Scorpius arqueou a sobrancelha.

— Você é otimista demais...

— Ah, cara. Seu pai vai estranhar, vai dar o show dele, mas no primeiro jogo ele vai ver que você tomou a decisão certa. Aliás, jogue a culpa em mim. Eu te obriguei. Diga que peguei você pela gola da roupa e já tinha pronunciado Avada... E pow! Você não teve culpa! – Brincou Zabine, fazendo Scorpius rir. Mas a verdade é que o moreno jamais saberia como Draco Malfoy realmente pensava a respeito do quadribol. A Rose ser mulher já é um problema, mas ser uma mulher, ser tão boa quanto ou melhor que o Scorpius e, ainda por cima, ser o centro das atenções? Ah, isso seria demais para ele. Draco empenha e investe tudo o que tem para que Scorpius seja sempre o centro. Até mesmo a triste notícia do primeiro Malfoy Grifinório virou uma notícia convertida em atenção.

A verdade é que Scorpius herdara de Draco esse desejo de ter tudo em seu controle. Quando algo foge de suas expectativas, ambos sentem medo e sentem-se impulsionados a fazer algo a respeito. E Scorpius despreza isso. Tudo o que ele queria era deixar tudo pelo acaso, como o que está acontecendo no momento. E foi por conta disso que ele, dessa vez, e somente dessa vez, fez o que achava que era certo, e não o que era seguro para si mesmo. E essa atitude exigiu muita coragem da parte dele.

A primeira pessoa a chegar na Sala Comunal, quase quinze minutos adiantada, foi a própria Rose Weasley. Ela entrou na sala e freou assim que notou ser a primeira. Scorpius notou que ela daria meia volta caso Zabine não começasse a falar com ela.

— Weasley! – Ele levantou-se, indo até ela e a incentivando a dar um high-five. – Cara, meus mais sinceros parabéns para você. Eu falo sério. Você mereceu, não é mesmo, Scorp?

Os olhos de Rose ergueram-se pedintes para Scorpius. A verdade é que ela estava confusa e curiosa sobre como a decisão foi tomada, e por mais que ela desprezasse as atitudes e tudo o que o Malfoy havia dito anteriormente, ela esperava por sua aprovação. A verdade é que em sua vida ela vai encontrar vários Scorpius Malfoys, e cada um deles que reconhece que ela consegue fazer o que quer, mais uma vitória.

— Luke, você me deixa sozinho com ela uns minutos, por favor? Fica na porta, aí quem for chegando você pede para esperar, e quando der o horário vocês entram. – Pediu, fitando Rose. O moreno concordou, saindo da sala com passos lentos.

Rose não esperou pelo próximo passo de Scorpius, tampouco por sua atitude, e sentou-se em frente a ele. Por um segundo o loiro observou que as madeixas ruivas da garota se misturavam com as chamas na lareira atrás dela.

— Aquilo foi sério mesmo? – Perguntou, deixando Scorpius confuso. – Digo, se for alguma pegadinha, se você estiver tentando me encher de expectativas e depois rir da minha cara, é melhor falar logo. Não seria nada ético.

— Ético? – Scorpius começou a rir alto, fazendo a Weasley pensar “aí está o Malfoy que eu conheço...”. – Weasley, deixa disso. Você está dentro.

— O quê?

— O que o quê? – Questionou.

— O que você disse?

— Você. Está. Dentro.

— Scorpius, você está falando sério?

— Eu estou te dizendo. Você está dentro. – Scorpius frisou, divertindo-se com a situação. – Mas...

— Estava esperando por isso. Mas o quê?! – Ela estava evidentemente nervosa, ansiosa, e isso tornava tudo ainda mais engraçado para o loiro. Era costumeiro dele fazer piadas, em especial nesses momentos onde tudo foge de seu controle.

— Mas... Eu chamei você pra conversar pra eu te explicar o que vai acontecer. – Rose aproximou-se dele, atenta. Ele aproveitou e aproximou-se também, rostos muito próximos como se ele fosse sussurrar toda a conversa para ela. – Você vai ter que... Bom, me chamar de Poderoso Chefão.

— Ah, não brinca, Malfoy! – falou alto, segurando sua vontade de rir do garoto que, por sua vez, não se segurou nem um pouco. A verdade é que ela estava mais tensa ainda justamente por não saber o que aconteceria a seguir.

— Mas sério, sério. Deixa-me te explicar umas coisas antes dos rapazes chegarem. É o seguinte, isso aqui é novo. Você sabe. Tem muitos anos que eu não vejo nenhuma garota em time algum, então vai rolar muita atenção. Como capitão eu vou te dar o máximo de dicas que eu puder, e vou tentar conter os rapazes caso eles impliquem com você, mas não garanto. Então é só... Não procurar encrenca. Vai dar tudo certo.

Ambos ficaram em silêncio por um tempo, o que fez Scorpius pensar que ele havia feito o planejado: definir a relação de ajuda e ajudado, quase como fazendo-a dever algo a ele. A ruiva, por fim, afastou-se com uma expressão debochada no rosto.

— Eu acho que eu consigo, loirinho. Eu não sou indefesa como você pensa. E sobre dicas... Eu entrei pro time sem elas, e sem querer ofender... Eu tenho o meu pai. Obrigada. – Ela piscou um dos olhos para ele, que engoliu em seco. – Ah, e só um detalhe... Muito bacana você querer me defender, e tal, mas... E se for você aquele que estiver implicando comigo? O que você vai fazer?

Ela sorriu para ele. Em um dia qualquer Scorpius teria jogado todo o seu charme para ela, ameaçado beijá-la, ou o que for. O problema é que além de ser a tímida Rose agindo desinibidamente, a lembrança do tapa da última vez que tentou estava muito fresca em sua cabeça.

E, além disso tudo, ele conhecia Rose e a família desde que era uma criança, e ela sempre lhe pareceu um pouco intimidadora. Agora, que enfim estavam tendo contínuas conversas, era ainda mais. Conseguia fazê-lo ficar calado imediatamente.

Logo após sua fala final, os outros candidatos entraram junto com o Zabine. Scorpius desviou seus olhos do sorriso de Rose, dando início à sua tradicional falácia explicando todos os detalhes do time. Normalmente essas informações vêm aos poucos durante os treinos, mas o loiro prefere sempre fazer uma reunião para conhecer bem os novos garotos – que, distraídos, só observavam Rose.

Ao dada por encerrada, anunciando o primeiro treino oficial da temporada no dia seguinte, Scorpius tentou chamar Rose para conversarem direito, afinal ele sentia que devia explicar o que havia dito. Não gostava de ser considerado machista por ela após cada conversa. Porém, ela foi mais rápida, e assim que encerrada ela correu em direção ao seu quarto.

A ruiva estava empolgada com tudo o que estava acontecendo, e jogou-se em sua cama em busca de uma pena e um papel. Rose segurou-se desde a véspera para enfim, poder escrever.

Papai, sou eu, a sua flor favorita.

Talvez você já saiba, mas espero ser a primeira a te contar a novidade. Ontem foi o teste para goleiro do time da Grifinória. Eu sei, eu sei, eu devia ter te contado antes, mas fiquei com medo de dar falsas expectativas. A verdade é que eu estava bem nervosa desde o momento que entrei na quadra até... Bom, até agora. Eu continuo nervosa e ansiosa. Mas devo te dizer: foi tão bom quanto achei que seria.

Hoje recebemos a notícia, e eu finalmente consegui! Eu estou no time! Você nem imagina o quão feliz eu estou! Pode ficar orgulhoso de mim, porque você me treinou direitinho.

Bom, claro que nem tudo são flores. Eu tinha razão para estar nervosa. O nojento do Malfoy implicou comigo a princípio, mas você tinha que ver a cara dele quando me deu a notícia pessoalmente de que eu estou dentro. Tinha que ver!

Ah, e além disso, tem algo me preocupando. Eu não sabia de nada, mas o Hugo se inscreveu para goleiro também, e não passou. Manda uma carta para ele, mas não diz que eu te contei. Pergunta como vão as coisas. Tenho certeza de que ele vai gostar muito disso.

Bom, na próxima coruja eu conto mais. Espero que todos estejam bem! Conta a novidade para a mamãe e diga que estou com saudades!

 

Com amor,

Sua Rose.

 

E lá foi-se Dália, sua coruja, levar sua carta confessional para seu pai.


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