Pack Up escrita por Maria Lua


Capítulo 5
Babacas


Notas iniciais do capítulo

Oláááa! Como prometido, dois capítulos em dois dias! Outra boa notícia é que vai vir outro na quarta feira, yeyyy! Gente, não deu tempo de quase ninguém ler o capítulo anterior, mas recebi um comentário que me fez muito feliz! Uma leitora de Faraway, a fic que estou reescrevendo aqui, surgiu e elogiou, dizendo que está gostando muito mais dessa versão. Preciso dizer o orgulho que senti? Obrigada mesmo!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/704540/chapter/5

Depois de conversar com Rose, Scorpius tinha de ficar pronto para, na hora do almoço, continuar os testes para o time. Porém ele não tinha condições disso – seu rosto, machucado, inchado, denunciaria uma fraqueza nele que jamais havia sido demonstrada. Decidiu, por fim, adiar para o dia seguinte – caso haja certa sorte com as feridas.

Os Malfoy sempre foram bastante estratégicos, é claro, e ele soube os horários corretos para passar despercebido para o salão comunal. E assim foi feito, desviando, baixo a uma inexistente capa da invisibilidade, sem ser percebido – ao menos até chegar. Lá, vazio por conta das aulas, tinha apenas uns cachos ruivos saindo de uma poltrona de costas para ele, iluminada por uma grande lareira acesa. Ele sabia exatamente quem era, e tentou passar despercebido para o pobre Weasley não vê-lo.

Fez certo barulho em seus passos, o que fez o garoto o encarar por uns segundos. Scorpius, porém, inclinou o seu rosto para o lado, escondendo os seus resquícios que a ruiva deixara em si. Passou direto e, então, fechou a porta do quarto. Bufando, jogou-se na primeira poltrona que viu.

Ainda não entendia as dores que sentia. O tapa doeu no momento, mas era injustificável continuar doendo. A garota era fraca, e a sua raiva não justificava o roxo que delineou os seus dedos. Se Scorpius pudesse escrever um texto sobre o que sentia no momento, o título seria Indignação. Claro, isso caso Quero um vira-tempo para impedir os pais da Rose de terem concebido essa irritante criatura fosse um título censurado.

Ele não sentia mais a dignidade e orgulho tomarem conta de si. Sentia-se, na verdade, envergonhado. E, para piorar a sua situação, ele avistara à distância um berrante caído em sua cama. Não ousou abrir – nas vezes que o fez, arrependeu-se, e jurara nunca mais escutar a voz de seu pai enquanto estivesse em Hogwarts. Mas é claro que ele já sabia do que acontecera. Nenhuma notícia se esconde de Draco, ainda mais quando envolve o filho. Com certeza ele estava ainda mais envergonhado do que o próprio Scorpius.

Hugo Weasley, de repente, bate na porta e entra devagar no quarto. O loiro não tem escapatória – apesar de ter tentado – e acabou mostrando o rosto. Por alguma sorte, o ruivo parece não se surpreender.

— Malfoy... Posso falar com você? – ele pediu. Era engraçado ver Hugo dessa maneira. Sua aparência, infantil, o fazia parecer muito sensível e fraco, mas a postura no momento era decisiva o bastante para arquear a sobrancelha do rapaz, que assentiu. – A Rose entrou para o time?

— Olha, Hugo... Eu não sei se quero falar sobre isso. – tentou esquivar-se. Scorpius não sabia se aquilo era proposital para chateá-lo ou não, mas decidiu evitar.

— Você quer tanto quanto eu que ela passe. – sabendo que despertou a curiosidade do rapaz, continuou. – Não é justo. Eu e ela jogamos todos os dias desde que eu nasci. Ela não jogava antes disso. Eu treino mais que ela, quero mais que ela, e mesmo assim o meu pai sempre a elogia, diz que ela vai longe, e eu nada! Eu finalmente sinto que posso entrar pro time, e quando faço, ela vem e rouba isso de mim também! Você não pode colocá-la no time, Malfoy. Deixa eu tentar de novo, por favor. Eu sei que eu consigo.

Foi então que o loiro passou a compreender mais a situação. Rose era o prodígio da família – não que ele não soubesse disso. James e Alvo são ótimos jogadores, e Hugo é muito bom, mas ela... Rose é fantástica! Mas isso não era tudo. Ela treinava com a família, e isso com certeza chateava Hugo. Por parte, Scorpius o compreendia. Ele sempre se sentiu largado de escanteio pelo pai, a diferença é que Draco o trocava por basicamente tudo, enquanto Ronald tinha preferência de filhos. Agora... O que ele faria, ao conseguir essa informação?

— Olha Hugo, fique tranquilo. Ela não vai entrar pro time. Sem chances. Ela é só uma garota, e sem mencionar que... Olha! Olha o que fez comigo! – apontou para o rosto. Hugo, parecendo um pouco mais surpreso, comentou.

— Ela é só uma garota e fez isso com você? – ele gostaria de rir, apesar de que o seu humor não deixava. A irmã, apesar de qualidades que ele admitia facilmente, era a pessoa que mais o magoava no mundo. Ele não podia simplesmente perdoar mais uma vez. – Desculpe. – pediu. – Sei que isso não deve ser legal pra você também. Sobre o rosto eu... Não vou contar pra ninguém, fique tranquilo.

Scorpius, com uma cara enfezada, o expulsou dali, mesmo agradecido. Logo estava sozinho de novo, e não conseguiu simplesmente esquecer a última coisa que a garota o disse. Ela o chamara de machista! Isso sequer existe, ele pensou. Homens e mulheres já tem os mesmos direitos, não existe mais machismo nenhum. Mas é de consciência popular saber que muitas garotas já se machucaram muito jogando quadribol. Não é coisa para gente frágil – homens ou mulheres. Franziu o cenho ao pensar o pré-julgamento da garota. Feminazi. E pensar que ele quase a beijara... Loucura. Ela é completamente insana.

Passou o resto do dia em devaneios, distraindo-se só até Luke voltar das aulas e, enfim, fazer um resumo dos acontecimentos do dia, eliminando as partes que certamente Scorpius não gostaria de ouvir.

No dia seguinte, o seu rosto já estava muito melhor, apenas um pouco avermelhado, mas sem marca dedo algum. Foi, então, junto ao Zabine, montado em sua pose clássica de rapaz heróico e destemido, ignorando qualquer coisa que lhe surgisse com um sorriso nos lábios. Seus amigos cumprimentados, é claro, evitaram ao máximo mencionar o dia anterior, apesar de alguns sem-noção fazerem piadas. Mas, é claro, ninguém iria tentar intimidar Scorpius Malfoy – todos querem ou ser ele ou deitar-se com ele.

Os dois amigos mal tinham entrado na sala de aula e largado suas coisas nas habituais mesas quando perceberam certo tumulto no corredor. Havia um grupo de garotos e garotas – que ele não reconhecia – rodeando alguém, como um círculo de bullying. Mal foi preciso ver a cor chamuscada dos olhos para reconhecer os lábios mais bonitos (e menos tocados) da escola – Rose Weasley. Scorpius não conseguiu evitar, e encarou. Luke, percebendo o interesse do amigo, imitou-o.

Rose, aparentemente, havia sido parada na porta, enquanto abraçava seus livros no peito. Uma das garotas, provavelmente a “cabeça” do rebuliço, falava alguma coisa para ela, o que fazia todos rirem. Scorpius apurou a audição para entender dentre risadas.

— E aí Weasley, esqueceu de fazer a barba hoje? – falou a morena, achando que teve alguma graça, e logo muitos riram com ela. – Vi você no banheiro feminino hoje. Devo te denunciar para a Minerva, dizendo que você estava espiando as garotas trocarem de roupa?

Mais um turbilhão de gargalhadas surgia em sua volta, o que fez Rose ficar extremamente vermelha. Ela procurava em volta algo que a trouxesse um pouco de segurança – ou menos desconforto – para se apoiar, quando trocou olhares com Scorpius. O loiro não estava rindo, pelo contrário. Mesmo a contragosto, ele estava torcendo para a morena desistir. Não se sentia bem por alguém “defendê-lo” – ou fazer o que seria função dele . Então, inconsciente do que havia feito, ele transferiu um incentivo motivado pela raiva para a ruiva, que parecia tão furiosa quanto ontem, no momento do tapa secreto.

— Parece entender muito bem sobre as coisas que os homens fazem. Talvez você devesse passar menos tempo com ele. Conte isso para Minerva também. Conte o que você estava fazendo na Sala Precisa semana passada, ou o que você aprendeu na aula de Transfiguração da quarta-feira. Ou melhor! Diga para ela o que você vai fazer depois da aula de vôo na quadra com o maldito grande pênis do Jeremy. — sorriu sinicamente, e logo mais risadas apareceram, inclusive uma alta gargalhada de Zabine, que ascenderam um sorriso em Scorpius. – Então, Morgana, é isso que eu faço no banheiro feminino. Fico escutando enquanto você fala, fala, fala e fala sobre todas as coisas que podem te humilhar. Então, por favor, saia da minha frente!

Ela deu um sorriso de canto direcionado ao Malfoy ao tentar passar por dentre as pessoas que a envolviam, distraída. E, provavelmente, essa distração foi a sua ruína. A mão da morena passou rapidamente para cima de Rose, puxando uma grande mecha de seu cabelo com muita força para baixo, obrigando a ruiva a cair de joelhos no chão. A surpresa no cômodo fora unânime, e alguns “oh” misturaram-se com mais risadas.

Como de costume, as coisas em Hogwarts aconteceram em uma surpreendente câmera lenta. Por impulso, Scorpius correu até lá, enquanto a morena ria e puxava o cabelo de Rose para baixo, fazendo-a gemer de dor, e puxou o braço da garota com uma força que a fez dar alguns passos para trás. Porém isso não foi o bastante para conter a fúria da ruiva, que fumegava ao seu lado. O rapaz a ajudou a levantar, e logo ela já estava com sua varinha na mão, tendo largado os livros aonde caíra. Apontando para a morena, ela gritou:

— Ripdousmimbra. — depois de feche de luz, Rose deu um sorriso de canto. Todos voltaram-se para ver a morena, que no momento não era mais tão morena assim. Suas sobrancelhas e cabelos haviam desaparecido, e, só então, vendo-os no chão, repararam que era um feitiço para arrancá-los da raiz. – Ah como eu adoro magia... – Rose falou, e então, depois de pegar os seus livros no chão, saiu da sala.

Ninguém tentou impedir a morena de chorar quando ela começou a berrar pela sala. Scorpius, novamente impulsivo, ignorou a aula, o amigo que deixou pra trás, e tentou seguir os rastros de Rose. Ele não fazia ideia de para onde ela havia ido, e apenas foi, depois de uns minutos de busca, aonde achava que a encontraria – na quadra de quadribol.

Ao chegar lá, tendo passado direto por todos que o cumprimentou no caminho, deu uma pausa antes de adentrar a quadra. Ela estava ali, de fato, já em sua vassoura, jogando algumas bolas no aro e as agarrando de imediato. Ela também daria uma boa artilheira, pensou. Porém, não estava exatamente sozinha. Alguns rapazes estavam parados ao longe, observando.

Tentou passar direto, mas um deles, que com certeza Scorpius não lembraria o nome, o chamou.

— Malfoy! Cara, você precisa colocar essa menina no time. Ela joga mais que o James Sirius, e ele era o melhor do time ano passado! – ele comentou, observando atentamente com os amigos aquela simplista pétala voando. A delicadeza da garota não condiz com o talento de maneira alguma.

— Vocês não aula ou outro saco pra babar? Vamos, saiam daqui! – ignorando o que lhe foi dito, Scorpius os expulsou, que saíram relutantes. Logo eram apenas os dois na quadra. O loiro sabia que ele teria que domar essa garota antes de tentar ter uma conversa civilizada com ela. Algo que não envolva ameaças, brigas, zoações, ou pênis na testa. Respirando fundo ele caminhou até o centro da quadra – arrependendo-se um pouco a cada passo. O que ele estava fazendo? Ia dizer o quê? Ela já não me acha babaca o suficiente? Preciso confirmar isso? Foi então que convenceu-se a dar meia volta, mas era tarde, ela o vira.

— O que veio fazer aqui, Scorpius? – perguntou com uma voz exausta. Percebendo que era tarde, ele foi até próximo dela, que desceu alguns metros.

— Não deveria estar na aula? – ele perguntou, sentindo-se o cara mais idiota do planeta. Sua expressão denunciou a intimidação que a garota causava nele – e ela gostava disso.

— Você não é a pessoa mais adequada para me dizer isso, já que também está aqui. – ela respondeu, sorrindo de canto.

— Ah, mas eu estou acostumado. – sentindo o ambiente menos hostil, ele fez um movimento com sua varinha que trouxe sua vassoura até ele. Montando, ele alcançou a altura da garota, que insistia em colar suas mechas leves atrás da orelha. – Para você é novidade estar aqui.

Eles ficaram alguns instantes em silêncio, flutuando. Não conseguiam manter contato visual, apesar das tentativas de Scorpius. Ele queria olhá-la para tentar entender, mas sentia vergonha.

— Obrigada. – ela quebrou o silêncio. Demorou uns instantes para Scorpius perceber que realmente a tinha ajudado há poucos minutos, com a morena. Corou de imediato. – A Morgana é uma babaca. – completou.

Scorpius permaneceu em silêncio, o que não era de seu feitio. Ele apenas perdia a fala quando estava com ela. Rose era uma garota de tanta atitude, tantas palavras e respostas, uma valentia tão grande e diferente de tudo o que conhece, que já não tem suas falas prontas. Ela o fazia pensar. O fazia se esforçar, e ele não gostava disso.

— Quer jogar um pouco? – ela perguntou, incomodada com o silêncio. O loiro assustou-se, e logo franziu a testa. E se o vissem? Não pode esquecer que ela é realmente boa jogadora, e ele já teve algumas humilhações causadas por ela. – Por favor, não diga que está com medo... – ela provocou. – Não se preocupe, eu sou só uma garota. Não vou te ferir. E, se quiser, você pode ser café-com-leite.

Scorpius, inacreditavelmente, arrepiou-se com um sorriso da garota. Era inacreditável. Ela mudava de insegura para orgulhosa em uma velocidade que ele não captava. Na verdade, tudo seu era em velocidade.

— Tudo bem, eu deixo você começar com mais pontos. – Scorpius falou, afastando-se e levando na esportiva os comentários da garota, que gargalhou ao jogar um dos goles para ela.

Começaram a jogar, o garoto suando rapidamente. Estavam tão entretidos que, mesmos em trocar palavra alguma, as horas passaram depressa. Ambos estavam acostumados com longos treinos, e fazer isso por diversão era anormal.

Rose realmente jogava muito bem, e Scorpius não tinha fôlego para acompanhar esse ritmo inteiramente novo para ele. Mal havia acertado um dos goles nos aros, e já estava com sentimento de perdedor.

Logo, voltando ao tempo real, Scorpius olhou para baixo, vendo que um pequeno aglomerado de gente havia vindo assistir ao segundo dia da seleção para o time. Todos eles estavam assistindo o capitão e a Weasley jogarem juntos, e ele não sabia que horas eles surgiram. Envergonhado, ele aproximou-se de Rose, abandonando o jogo.

— O que foi? Vergonha de perder de mim com um público? – ela sorriu de canto.

— Não, mas você pode sair da quadra, por favor? – ele mentiu, ficando repentinamente sombrio. A sua intenção não era ser grosso, mas a expressão no rosto da ruiva revelou que, novamente, a dita feminazi havia surgido.

— Você é um idiota. – ela falou, e para sorte do loiro, voou o mais rápido que conseguiu para longe dali. E assim ele deu início ao segundo dia de testes para o time.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!