Estou olhando para Hannah. O olhar destemido dela, como se não tivesse medo de nada. Ela correndo com uma garrafa de bebida na mão, enquanto eu e Laurel a seguíamos, com o nosso máximo de espírito aventureiro, como se estivéssemos fugindo de piratas em um conto de fadas. Olhava para o sorriso nos lábios dela, pensando se, quando acabássemos de beber aquela garrafa, poderíamos nos beijar como se o mundo fosse acabar no segundo em que parássemos de fazer isso.

Será que eu tinha permissão de olhar para ela daquele jeito? Isso poderia, de alguma maneira, ser errado, se ela é tão boa de se olhar?

Eu me lembro de beijá-la sob a luz do luar. Ela cheirava a erva-cidreira e a sono, além do cheiro de fumaça de cigarro. Ela tem gosto de uísque com suco de maçã e pêssego. Era possível encontrá-la em uma foto Polaroid, e ela significa tudo para mim.

Hannah significa tudo para mim. Sorrio ao perceber isso. Eu a amo, e ela significa tudo para mim. Mas esse sorriso se desfaz rapidamente do meu rosto. Eu não poderia piorar se continuasse admirando-a de longe, e o que me deixa pior é saber que, mesmo quando ela está perto de mim, mesmo quando eu estou beijando-a sob a luz do luar, estamos distantes.

Quando ela me beija como se o mundo fosse acabar depois disso, sei que é o álcool tomando conta do corpo dela, mesmo que, quando isso acontece, eu apenas aproveito, e me iludo, tentando acreditar que aquilo é real por pelo menos alguns momentos.

Porque ela tem gosto de bolo de aniversário, contos de fada e outono. Mas eu sei que, para ela, eu não tenho gosto de nada.

E o cheiro dela é de erva-cidreira, sono e fumaça de cigarro, e o gosto dela é de bolo de aniversário, contos de fada e outono, com uma mistura de uísque com suco de maçã e pêssego.

Mas, para ela, eu tenho gosto apenas de diversão, de uma aventura de apenas uma noite, uma aventura criada por algumas doses de álcool.

Ainda assim, para mim... Ela significa tudo para mim.