Coleção de One-Shots escrita por Cherry Pitch


Capítulo 19
(CARTAS DE AMOR AOS MORTOS) Joplin


Notas iniciais do capítulo

Me desculpem a demora! Espero que gostem! :)



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Querida Janis Joplin,

Faz muito tempo que eu não escrevo aqui, mas eu realmente precisava escrever para você. Realmente não sei porquê, já que tudo está melhorando na minha vida. Mesmo que minha mãe ainda esteja longe, e que May não esteja mesmo aqui, tudo está ficando melhor, mesmo que não esteja perfeito. Meu relacionamento com Sky está indo bem, e minha amizade com Natalie e Hannah só aumenta.

Tristan ainda está triste pela partida de Kristen, mesmo que ela ainda nos visite de vez em quando. Ele ainda não arrumou uma namorada na faculdade, e acho que ele ainda precisa de um tempo para que realmente supere Kristen. O namoro dos dois estava indo muito bem, e ele realmente a amava. Eu sei como é amar muito alguém e ter que deixar essa pessoa partir. É assim com May e foi assim com Sky, por um tempo.

Mas, em uma das visitas de Kristen, nós duas estávamos andando de carro. Só nós duas mesmo. Ela disse que poderia ir comigo no cinema (estava passando um filme da Disney, e eu queria relembrar dos velhos tempos, as sessões de cinema com May às sextas), e eu aceitei. Quando Kristen ligou o rádio, começou a tocar uma música sua, "Little Girl Blue".

— Conhece essa? - Kristen me pergunta, olhando para mim com um olho, enquanto o outro estava focado na estrada.

— Não. - eu respondo, balançando a cabeça negativamente. - É a Janis, não é? - pergunto, mesmo que já tivesse certeza de que aquela voz escandalosamente fantástica era sua.

— É. - algumas lágrimas já começam a escapar dos olhos de Kristen, e eu também já estou com o meu corpo todo arrepiado. - Acho que essa é a minha preferida. - fico espantada ao ver a voz de Kristen falhar ao dizer isso. Ela parece sempre tão durona, tão forte... Como se fosse inquebrável. Mas você faz com que qualquer um se emocione. Mesmo aqueles que dizem que não gostam, sentem alguma coisa, mesmo que no fundo da alma. É impossível não sentir nada ao ouvir você cantar. É como se cada célula sua estivesse cantando, suas emoções gritando para serem ouvidas.

Kristen para o carro no meio-fio quando não consegue mais dirigir por causa da quantidade de lágrimas que escorrem. A música continua tocando no modo de repetição e eu a abraço. Eu sentia que ela precisava daquilo.

— Você quer... falar alguma coisa? - pergunto, observando-a chorar. - Acha que pode melhorar?

Kristen sorri. Mesmo que seja um sorriso triste e melancólico, sinto que aquilo já é um começo.

— Eu... Sim. - Kristen começa a olhar para as suas mãos, apoiadas na coxa. - Eu sinto saudades daqui. Das ruas, das pessoas, de você, da Natalie, da Hannah, do canto perto do colégio... - as lágrimas escorrem mais rápido quando a sombra de um sorriso passa pelo rosto dela. - De Tristan.

Minhas sobrancelhas se juntam. Era o sonho dela ir para Nova York, tal como o sonho da minha mãe era Los Angeles. Kristen tinha aceitado deixar Tristan para realizar seu sonho. Será que... Aquele choro era arrependimento? Será que a minha mãe se sentia arrependida do mesmo jeito que Kristen naquele momento? Será que ela sentia arrependimento por ter deixado a mim e ao meu pai?

— Mas era seu sonho ir para Nova York, não era?

Kristen assente enquanto encolhe os lábios antes de recomeçar a falar.

— Era, sim.

— A faculdade não está indo bem? - pergunto. Tudo em Kristen parecia dizer que ela precisava falar, mas não o fazia por algum motivo. Eu estava tentando fazê-la falar, por perceber que ela ficaria melhor se fizesse isso.

— Está! - Kristen exclama, como se eu não estivesse entendendo o que ela queria dizer. Eu entendia, mas queria que ela falasse mesmo assim. Queria que ela me explicasse. - Está indo muito bem, mas sem Tristan... Sem ele, eu não consigo. Eu preciso dele!

Kristen chora ainda mais, e eu começo a acariciar a mão dela.

— Está tudo bem, Kristen. - digo, em um sussurro. - Está tudo bem. Por que você não diz isso a Tristan? Talvez ajude. - eu digo e eu sei que a careta que ela faz significa que não acha que falar com Tristan seja uma boa ideia. Eu assinto. - Feche os olhos. - eu digo. Kristen olha para mim, curiosa, como se, com o olhar, me perguntasse o que eu pretendia com aquilo. - Feche os olhos. - repito, com ainda mais determinação do que da primeira vez. Dessa vez, Kristen obedece. - Agora, imagine a sua felicidade. Imagine você mesma feliz.

Kristen assente.

— Já imaginei. O que eu faço?

— Continue com os olhos fechados. - digo, percebendo que ela estava prestes a abri-lo. - Agora me diga o que você está vendo.

Um sorriso tímido se forma no rosto de Kristen, e vejo que ela está fazendo o que eu disse. A expressão dela me dizia que ela estava vendo sua felicidade. As lágrimas dela já estavam secando em seu rosto.

— Eu estou me vendo. com Tristan. - eu assinto, como se ela pudesse ver. - Eu estou deitada no sofá com ele.

— Continue. Fale como é o lugar onde esse sofá está, como ele é... Me conte se você e Tristan estão conversando, se sim, o que estão falando...

Kristen respira fundo e assente.

— Quase tudo é branco. O sofá e a estante e a televisão que estão em frente. Eu e Tristan estamos conversando, mas... Não consigo entender o que estamos falando. - eu apenas assinto e não falo nada, porque vejo que Kristen está tentando identificar o que eles estão falando. - Tristan está me dizendo para seguir meus sonhos, não importa o que aconteça. e que ele sempre vai estar ali para mim. E que ele vai me esperar. Que ele esperou toda a sua vida para me encontrar, e que... Que mais alguns meses ou anos não fariam diferença.

Kristen abre os olhos, para que as lágrimas saiam. Eu a abraço de novo.

— Você já sabe o que fazer? - eu pergunto, e sinto a cabeça de Kristen mexer em meu ombro.

— Sim... Eu acho que sim.

Quando nós duas nos soltamos, eu sorrio.

— Bom, agora que você já está melhor, vamos para uma sessão de Disney. - Kristen sorri também. - Disney sempre ajuda!

Sorrindo e enxugando as lágrimas de vez em quando, Kristen dirige até o cinema e eu fico pensando nas sexta-feiras em que eu e May íamos ao cinema ver filmes da Disney, e em como eu sempre me sentia melhor depois disso. Acho que aquilo realmente tinha me dado a lição de que Disney sempre ajuda. E fico feliz em reproduzir uma lição que eu aprendi com May para outra pessoa. E, de um momento para o outro, de uma sessão de filme da Disney para a volta para casa, eu me senti mais importante do que eu nunca tinha me sentido.

Beijos,

Laurel.

 


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? ♥



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