— Por favor, Scorp! Tenta só mais dessa vez, eu prometo que nunca mais vou te pedir. - Albus pousava uma mão no ombro do melhor amigo.

 Eles estavam no quarto do dormitório da Slytherin que dividiam com mais três alunos da casa. O ano letivo havia oficialmente acabado, naquela manhã eles faziam as malas para voltar para suas casas. Albus estava insistindo para Scorpius pedir para seus pais o deixarem passar alguns dias na casa dos Potters naquele verão, o menino louro apresentava relutância em acatar aquele pedido. Não que ele não quisesse visitar Al durante o verão, mas sim porque da última vez que pediu aquilo dois anos atrás... Não terminou muito bem.

As pessoas podem pensar que o grande motivo que impede Scorpius de visitar seu melhor amigo durante as férias são seus pais, mas eles não são o problema. Astoria não se importava se os amigos de seu único filho eram mestiços ou nascidos- trouxas ou Potters ou Weasleys. Draco havia sentido um certo incomodo quando soube da amizade entre seu filho e o filho de Harry, mas não fez nada para impedir a amizade deles, ele tentava ao máximo deixar Scorp fazer suas próprias escolhas e não força-lo a nada como seus pais haviam feito com ele. Então , Lucius e Narcissa, eles eram o problema.

Na primeira vez que Scorpius fez o pedido para visitar o amigo foi durante um jantar em família. Grande Burrice! Mas ele nunca imaginou que aconteceria o que houve; Seu avô lhe deu um forte tapa, Lucius não era um velho muito paciente, principalmente com o neto, a reação violenta dele não foi exatamente uma surpresa. De qualquer forma Draco não gostou nenhum pouco daquilo e então o harmonioso almoço de família se transformou em uma discussão desagradável entre os avós e o pai de Scorpius. Astoria tirou o filho da mesa e o levou para o quarto.

Como qualquer criança Scorpius sentiu vontade de chorar, porém não o fez. Ele se sentia culpado mesmo não entendendo qual era o problema de visitar seu amigo no verão. O garoto sabia vagamente que anos atrás os Malfoys apoiaram o terrível Lord das Trevas e foi Harry Potter quem impediu que esse tal Lord fizesse todas as atrocidades que pretendia, por isso o pai de Albus era um herói para o Mundo Bruxo. Todavia a guerra já tinha acabado. Passou! Ficou para trás! Não era culpa dele e nem de Albus qualquer resentimento entre suas famílias.

Quando os avós foram embora, com Lucius ainda aos berros. Draco subiu para o quarto do filho. Conversando com ele pediu-lhe para não visitar Albus naquelas férias pois não sabiam se o Potter aprovava aquilo. "Albus disse que os pais dele deixaram..." Não! Draco insistiu para o filho. "Vocês podem ser amigos na escola, você ainda não o conhece direito." No fim Scorpius acabou aceitando.

O menino havia sido criado por onze anos praticamente afastado do mundo. Seu único amigo naquele tempo era uma pedra que ele carregava para todos os lados, nem um animal de estimação seus pais lhe permitiram ter. A primeira vez que ele pode ir a algum lugar de verdade foi aos nove anos, acompanhando seus pais ao Diagon Alley. Tanta proteção havia um motivo; Draco e Astoria tentavam manter o filho, um garotinho tão puro e alegre, longe dos olhares de ódio que todos os Malfoys recebiam após 1998. E também tinham medo que alguma pessoa tentassem vingança contra a família através do menino, muitos não aceitaram que os Malfoys foram inocentados. Mas um dia o garoto foi para Hogwarts e passando a viver longe da bolha de proteção criada por seus pais não pode mais fugir do ódio das pessoas.

Por esses motivos Scorpius entendeu o pedido do pai, mesmo acreditado que Albus e sua família não fariam mal a ele. Ele entendia que os pais queriam apenas lhe proteger, então enviou uma carta para Albus explicando a situação. No ano seguinte Scorpius nem Albus tocaram no assunto de se verem nas férias. Mas naquele ano Albus voltou a insistir no assunto.

— Eu não sei, Al. - Scorpius estava em pé de costas para o amigo e guardava seus livros e roupas em sua mala preta com um grande SM prateado.

— Por favor. - Al deu a volta na cama ficando de frente para Scorp, com a cama entre eles o menino de olhos verde encarava o amigo implorando. Scorp ignorou o outro menino e continuou arrumando sua mala. - E se Rose também for? Você tem coragem de pedir?

Scorpius levantou o olhar para Al não acreditando no que tinha acabado de ouvir e encarou os olhos claros imploradores. No momento que um sorriso travesso começou a surgir nos lábios de Al, o garoto louro jogou o livro de feitiço que estavam em suas mãos no amigo. O outro desviou e em seguida caiu na gargalhada.

— Isso não tem graça, Potter! - O garoto atravessou o quarto atrás do livro arremessado, pegou o livro de capa cinza e o guardou na mala preta e cinza.

— Tem sim. - Albus riu mais algumas vezes. - É sério tenta pedir, Scorp. A gente vai ver filme até de madrugada, jogar videogame e eu vou te mostrar como a internet é maravilhosa. - Era tentador. Scorpius não fazia ideia do que eram aquelas coisas antes conhecer Albus e Rose, eles quem tinham lhe explicado tudo sobre as tecnologias dos trouxas. Porém ele nunca teve contado com nada além de um Smartphone, muitos alunos em Hogwarts possuíam um, e tinha muita curiosidade de conhecer aquelas outras coisas.

— Eu vou tentar, prometo.- Scorp se rendeu em um suspiro. Olhou para o sorriso cinza de alegria do amigo antes de acrescentar timidamente. - A Rose vai mesmo estar lá também?

— Bom, é só chama-la, tenho certeza que ela aceita. - Albus conteve o riso para não deixar o amigo mais sem graça. Scorpius murmurou um "ok".

~~

O Expresso de Hogwarts era veloz, rasgava o lindo cenário formado pelas florestas temperadas escocesas em direção à grande capital da Inglaterra. Os alunos se dividiam em grupos de amigos pelos vagões do grande maquinário. Em uma das cabines Hugo, Louis, Lily e uma garota da Ravenclaw voltavam felizes para suas casas após o primeiro ano em Hogwarts. James e Freddie contavam piada em outra cabine acompanhados de alguns colegas. Lucy estava sozinha escutando música com fones de ouvido em uma das poucas cabines que ficavam vazias no final do trem. Molly e Dominique estavam juntas em algum local com seus amigos populares. Scorpius, Albus e Rose encontravam-se sentados em umas das cabines no meio do expresso, olhando o cenário através da janela e discutindo o que poderiam fazer juntos nas férias.

Quando chegaram na plataforma 9 3/4 os alunos começaram a sair em multidões pelas portas do trem. Adultos enchiam a plataforma. Albus avistou seus pais e seus tios Ron, Hermione e Bill próximos a uma pilastra conversavam enquanto aguardavam seus respectivos filhos. De repente um vulto laranja passou por Albus e pulou nos braços de Ron, quase o fazendo cair. Hugo falava sem parar e o pai repetia varias vezes: "Calma! De vagar!"

Al abraçou seus pais e cumprimentou seus tios. Rose fez o mesmo. Scorpius ficou alguns passos atrás dos amigos olhando em volta, estava nervoso, tinha prometido que faria o pedido ainda na plataforma. Ele não conseguia avistar os pais na multidão de pessoas, era difícil para ele uma vez que quase todas as pessoas ali usavam capas, tinham as mesmas cores e de longe pareciam as mesmas. Scorp focava em encontrar um homem mais branco do que a maioria, se Draco não estivesse na plataforma teria que aguardar até a mãe o encontrar, pois seria muito mais complicado encontra-la.

— Oi, Scorpius! - Ele virou o rosto repentinamente na direção da voz, não esperava que algum daqueles adultos falassem com ele. Ginny sorria para ele, ela quem havia lhe cumprimentado. Olhando para aquelas pessoas ele notou que um homem alto olhava feio para ele, aquele devia ser o pai de Rose. - Está procurando seus pais? - A mãe de Albus também olhou em volta procurando.

— Sim. - Ele respondeu no instante que Lily e Louis aproximavam indignados com Hugo porque ele não os esperou. Louis foi direto para Bill contando animadamente sobre o ano letivo, em seguida eles se despediram dos outros e saíram a procura de Dominique na plataforma.

— A Rose pode passar uns dias lá em casa semana que vem? - Albus perguntou aos tios

— Claro, Al. Sempre que ela quiser. - Respondeu Hermione, Ron balançou a cabeça dizendo"Pode".

— Mãe! Pai! Scorpius também pode ir lá em casa semana que vem? - Albus sorria para os pais, imediatamente Ginny disse que sim. Harry não respondeu de imediato, pensou um pouco olhando por alguns segundos o menino pálido parado alguns passos atrás de Albus.

— Se os pais dele deixarem, sim. - Respondeu por fim um pouco desconfortável.

Ron não estava gostando nenhum um pouco do que Albus havia armado para eles, não queria sua filha passando alguns dias com o Malfoy na casa de sua irmã. Ele ia expor o que pensava, mas Hermione lhe deu uma cotovelada ao perceber que o marido iria dizer algo inapropriado.

— Eu vou pedir a eles. - Scorpius respondeu feliz por Harry ter deixado, o garoto admirava muito o pai de Al. - Assim que acha-los. - Ele acrescentou ficando na ponta dos pés olhando ao redor.

— Seu pai não é aquele moço de capa verde? - A pequena Lily se referiu a um homem parado quase cem metros longe deles. - Ele está olhando para cá. - Scorpius olhou ao redor perguntando "Onde?". Rose se adiantou ficando ao lado de Scorp.

 - Ali a esquerda, do lado oposto da próxima pilastra, do lado daquele grupo de pessoa carregando duas gaiolas de corujas. - Seria bem mais fácil apontar a direção, mas como o homem olhava diretamente para eles, Rose ficou com vergonha de fazê-lo.

Scorp seguiu as instruções da menina e reconheceu o pai. O grupo de pessoas ao lado também tinham os cabelos claros, não tão claros quanto os do seu pai, mas o suficiente para atrapalhar a tarefa de encontrar Draco naquela multidão de gente. Astoria estava ao lado do marido e sorriu no momento que o filho olhou na direção deles. Ela já teria ido até lá buscar o menino, mas Draco a impediu. O menino correu na direção deles deixando as malas para trás, ele iria fazer a pergunta e voltar em seguida com a resposta.

Albus e Rose observaram de longe, eles viram que o pai e o menino conversavam. Estava demorando muito para dizer um simples "Pode", então Albus pensou em ir até lá para tentar convencer o homem. No instante que o menino de cabelos negros tomou a decisão de ir Scorpius correu de volta para o grupo, agarrou sua mala e olhou para o amigo.

— Ele deixou. - Scorp sorriu e Al também antes de se abraçarem. - Tchau! - Se virou para a menina que também sorria feliz ao lado do primo. - Tchau, Rose! - Ele acenou a mão para ela, queria abraça-la, mas ficou com medo do pai dela.

— Tchau, Scorpius! Até semana que vem então. - Ginny despediu do menino sorrindo. Ele respondeu educadamente "Tchau, Sra.Potter" e acenou para Hugo e Lily antes de ir na direção dos pais.

James se aproximava da família sozinho, Freddie já havia ido embora para pegar um ônibus até o Caldeirão Furado e encontrar os pais no Diagon Alley. Quando estava alguns passos escutou sua tia Hermione dizer para sua mãe "Você tinha razão, ele é mesmo fofo" e seu tio Ron começou pronunciar sentenças indignado.

— Quem é fofo? - James perguntou ao se aproximar.

— Scorpius Malfoy. - Lily respondeu com o pescoço erguido para olhar o irmão. James seguiu o olhar de Rose e Albus e viu Scorpius de costa se afastando junto a um homem e uma mulher.

— Ah sim, ele é uma gracinha. - James soltou as malas no chão e foi em direção a mãe dando um forte abraço nela. Ginny de imediato se assustou, não estava esperando algo assim do filho que mal mandava cartas para casa. James deu o mesmo abraço caloroso no pai antes de dizer. - Caramba estou morrendo de fome. Bem que nós todos podíamos comer em algum lugar.

— Ótima ideia! - Ron concordou animado

As duas famílias saíram juntas da estação King Cross, Hugo e Lily iam na frente conversando sobre algo que parecia engraçado, Albus e Rose estavam próximos a Ron, Hermione e Ginny de vez enquanto comentando algo sobre o ano letivo com os adultos, James andava ao lado de Harry conversando alegremente com o pai sobre; As aulas mais interessantes que teve aquele ano, as pessoas novas que conheceu, algumas brincadeiras que ele e Freddie fizeram. E as vezes fazia indagações ao pai: "Como vai o trabalho?", "...E as coisas em casa sem nós três?", "Mamãe está bem em ficar longe de Lily?"

E assim aquelas pessoas, que no momento estavam todas felizes, seguiram até encontrarem um lugar para comerem.