A biblioteca estava silenciosa, poucas pessoas andavam pelos corredores de estantes lotadas de livros. Era final de semana e grande parte dos alunos preferiam se reunir na parte externa da escola e fazerem um monte de coisas sem graças, na opinião de Rose. Os alunos mais novos se divertiam com jogos em grupos diversificados, já grande parte dos alunos mais velhos faziam coisas que a Weasley considerava estúpidas; como formarem diversos grupinhos de garotas e garotos e ficarem se exibindo uns para os outros.

Ela preferia ficar dentro da escola, onde haviam poucas pessoas, Rose não gostava de pessoas em geral. Por isso não tinha muitos amigos, gostava de ficar na presença de algumas pessoas específicas, mas não o tempo todo. Não ter um grande melhor amigo não era problema para ela, na verdade ela agradecia por não ter ninguém querendo ficar colada ao lado dela o tempo todo. Rose era solitária.

Tal personalidade não significa de forma alguma que ela não tinha amigos e colegas, apenas significa que ela gostava de passar a maior parte do tempo consigo mesma. Quando criança Rose brincava com os primos, mas logo cansava e preferia ficar sentada brincando sozinha ao lado dos adultos. Hugo e Rose nunca foram os melhores amigos irmãos, eles eram próximos e se amavam, mas a garota nunca gostou de partilhar brincadeiras com o irmãozinho. Não era problema, ele nunca sentiu vergonha de bater na casa dos vizinhos e chamar  alguma criança para brincar, portanto não se sentiu solitário. Assim Rose ficava feliz brincando sozinha em seu quarto e Hugo corria alegremente como bobo na rua em companhia de uma criança qualquer.

Não era tão difícil enumerar as pessoas que Rose mais apreciava a existência, por exemplo; o primo Albus estava em quarto lugar, vindo logo após seus pais e seu irmão. A garotinha loura de dentes tortos que conheceu no primeiro ano também estava na lista, em décimo talvez, eram praticamente amigas. Lily vinha em quinto, seguida por James que apesar de ser irritante tinha seus momentos como bom amigo para conversar. Adiante disso era complicado organizar em colocações, mas era aí que encontrava-se o resto da família, tirando Lucy com certeza. Rose não conseguia gostar de Lucy, a achava desnecessariamente grossa e mal educada.

Nessa curta listas de"Pessoas com quem Rose Weasley suportaria ficar presa em um quarto sem se matar" havia uma pessoa que poderia ser incluída, mas ela não sabia se era correto. Scorpius não era seu amigo, era amigo de Albus e no máximo seu colega, mas Rose suportava de bom grado a presença dele. Scorp a fazia rir sem muito esforço da mesma forma que apenas James e Freddie conseguiam e ela se sentia bem quando conversava com ele sobre diversos assuntos. Mesmo assim ela não o incluíra oficialmente na lista.

Rose entrou na seção de romances, histórias e contos, quando avistou o garoto que fazia seu coração palpitar. Ele estava em pé com um livro de capa verde nas mãos. Rose o observou de onde estava, tentando disfarçar olhando os livros da prateleira. Ela notou como a postura dele era reta e elegante, os cabelos eram castanhos e comuns e a blusa e as calças eram escura com detalhes laranja, perfeitamente alinhadas.

A garota não sabia muito sobre ele, tentara descobrir pacientemente sozinha o máximo que conseguia sem precisar perguntar a ninguém, não queria ninguém desconfiando dos seus sentimentos. Ele estava no quinto ano, chamava Mike Bobbin, era aluno da Hufflepuff , jogava Quadribol e sua família era puro-sangue.

— Quem é ele? - Rose pulou de susto e derrubou um livro, aquela voz tinha vindo do nada e muito alta para o ambiente silencioso da biblioteca, Mike olhou na direção da garota que agora estava acompanhada por um garotinho ruivo do primeiro ano. Rose percebeu que Mike olhava seu vexame, ficou vermelha e saiu puxando o irmão pelo braço para a sessão mais distante possível daquela.

— Você é doido, Hugo? Não pode falar alto por aqui se não a Sra.Reagan amaldiçoa sua língua. - Rose sussurrou para o irmão quando pararam ao lado de uma estante repleta de livros sobre poções . - Por que está aqui dentro, não deveria estar lá fora fazendo gracinhas com Louis? - Ela estava irritada e ainda estava vermelha de vergonha. Hugo estreitou os olhos para a irmã.

— Nós decidimos adiantar os trabalhos de História da Magia. - Ele sussurrou também e olhou em direção as mesas. Louis estava sentado olhando para eles sorrindo divertido e uma garota ao lado dele lia algum livro grande de história. Rose notou que a mesa onde eles estavam era bem de frente para o corredor de história, contos e romances. Ela lutou contra o sangue que começou preencher suas bochechas novamente. - Vai me dizer quem era aquele cara?

Hugo não era ciumento com a irmã e tão pouco queria intrometer, só queria incomodá-la, não dava a mínima pra quem o garoto era e se Rose gostava dele. Ele se divertia com gosto ao ver o rosto vermelho de Rose.

— Não é da sua conta!!! - Isso sim foi quase um grito, "shhhhhh" Sra. Reagan gritou de algum lugar da biblioteca e Rose respirou fundo procurando se acalmar enquanto Hugo ria silenciosamente.

— Rose, é você? - Uma voz veio da sessão ao lado, era Scorpius, ela o olhou  enquanto se aproximava e agradeceu intimamente que ele não seria capaz de ver como ela estava vermelha. Ele sorriu - Por que você esta gritando? Pode acabar perdendo a língua.

Hugo olhou atentamente para o garoto que falava com a sua irmã. Ele era o Malfoy que seu pai tanto desprezava sem motivos, só por isso Hugo já gostava um bocado dele. Aparentemente Rose estava calma novamente e conversava aos sussurros com Scorpius, Hugo escutou algo como: "... meu irmão idiota.". O garoto louro olhou para o irmãozinho de Rose.

— Oi! - Acenou uma mão. "Olá" Hugo acenou de volta. - Ele se parece bastante com você. - Disse a Rose enquanto comparava os traços dos irmãos, ele não podia identificar as cores semelhantes dos cabelos e dos olhos deles, mas podia ver como ambos os rostos tinham formatos triangulares, os olhos eram igualmente próximos da raiz do nariz e as sobrancelhas eram quase idênticas em formato de arco. Observar cuidadosamente os traços das pessoas foi a maneira que Scorpius encontrou,  após entrar em Hogwarts, para diferencia-las mais facilmente.

 - Nem tanto. Rose tem orelhas de abano, eu não. - Hugo rebateu. - Não dá pra ver porque ela tampa com o cabelo.

— É mesmo?! - Scorpius fingiu uma surpresa exagerada e virou para Rose que nitidamente estava irritada novamente por estarem falando de suas orelhas. - Deixa eu ver. - Ele levou a mão aos cabelos dela para tira-los da frente da orelha esquerda, mas ela afastou a cabeça para trás o deixando intimamente desapontado por não ter finalmente conseguido tocar naqueles alinhados cachinhos.

— Pelo menos eu não tenho dentes de coelho. - Ela provocou o irmão, que abriu a boca em um grande "O" forçado, fazendo Scorp rir não só da gracinha, mas porque o menino tinha realmente os dois dentes dianteiros maiores que os outros.

— Que afronta! - Ele começou a rir tentando fazê-lo o mais baixo possível. - Como você consegue dormir a noite ofendendo assim os dentes de alguém? - Rose riu também, sentindo toda sua irritação ir embora definitivamente, as vezes Hugo era um grande bobo alegre que não queria mais do que fazer coisas bobas. Foi quando ela notou o cachecol verde e prata ao redor do pescoço do irmão.

— Hey! O que é isso? - Ela apontou para o acessório comprido.

— Um cachecol. - Ele respondeu dando de ombros e sorrindo.

— Eu sei! Por que você está com um cachecol da Slytherin?. - Rose segurou o tecido nas mão, não era obrigatório usar uniforme nos finais de semana, mas a grande estranheza era pensar por que o irmão estava usando algo que não era da sua casa e onde ele havia conseguido.

Scorpius olhou para o cachecol, infelizmente ele não podia confirmar se Rose dizia a verdade. Ele tinha um problema de visão, já é bem obvio. Seu avô materno tinha o mesmo problema e foi portanto Astoria que notou que o filho havia o herdado. Mas não é nada de mais! Ela disse a muito tempo atrás no dia que tentou explicar que ele nunca poderia ver as cores como as demais pessoas."Não tem muita coisa colorida para se ver nessa casa mesmo. Aqui é quase tudo cinza ou preto, no final vemos as mesmas cores." Ela queria confortá-lo, mas ele não achou que a mãe parecia excepcionalmente feliz com eles verem as mesmas cores.

Uma vez perguntou ao seu pai como eram as cores, o homem respondeu coisas absurdas como; o vermelho é uma cor quente, o azul é frio... Como cores podem ter temperatura?! Ele se indignou na época e decidiu que não se importava, não fazia a menor diferença em sua vida saber identificar algo amarelo ou verde. Isso até o dia em que colocou os pés em Hogwarts, não saber reconhecer os alunos da mesma casa era chato, mas não conseguir ver diferença entre algumas poções ou ingredientes era um grande empecilho nas aulas.  

Rose havia dito para ele que os trouxas tinham um nome para aquele tipo de problema, algo como Daltismo.Ou seria Doltinismo? Em fim, ela lhe explicou que haviam quatro tipos diferente e o dele era o pior, o que não identifica nenhuma das cores. Também explicou como funcionava a visão dos seres humanos coisas sobre as cores serem ondas, lente óptica e o cérebro quem realmente enxerga. Por mais que foi complicado compreender tudo aquilo, o garoto ficou maravilhado com aquelas informações fazendo-o pela primeira vez sentir esperança que esses trouxas tivessem uma solução para o seu problema. A menina disse que não sabia se existia algo que resolvesse, quando Scorp lhe perguntou esperançoso. E desde então ele voltou a não se importar que coisas azuis causavam frio.

 Foi Albus quem lhe disse no primeiro ano as cores de cada uma das casas, assim começou a amizade. Slytherin ele sabia que era verde e prata, seu pai já havia adiantado a informação e opinado que era a combinação de cores mais bonitas em Hogwarts. As roupas azuis da Raveclaw deviam ser geladas! Scorius pensou divertido, por isso Hugo naquele momento na biblioteca usava um cachecol da Slytherin. Aquilo era uma piada interna que o fazia rir em silêncio enquanto Rose tentava explicar aos sussurros para o irmão que ele não podia usar o uniforme das outras casas.

— E por que não? - Hugo contra argumentou e Rose rebateu e Hugo explicou o que pensava e Rose expos sua contraposição... Scorpius percebendo que os irmãos Weasley não iriam parar a discussão tão cedo e que tinha sido completamente esquecido pelos dois, se afastou sem que eles notassem indo em direção à sessão de livros ao lado onde estava antes de Rose gritar.

Ele voltou a procurar por um livro específico sobre criaturas das trevas, o trabalho de D.A.T era para segunda e ele ainda tinha muito o que lê. Depois de alguns minutos finalmente encontrou o livro, ele cheirava mofo e a lombar estava torta. Pediu permissão para sra. Reagan deixa-lo retirar o livro, ela anotou o nome do garoto e o título do livro em uma ficha e o fez assinar. A assinatura era mágica e faria a consciência do aluno literalmente doer por três dias se não cuidasse do livro, agisse de más intenções para com ele e esquece de devolve-lo no dia marcado.

Quando saia da biblioteca Scorpius viu que Rose e Hugo ainda discutiam, ele pensou que a garota ficava fofa quando estava séria e concentrada em algo. Ele ficou encantado pela menina desde o primeiro momento que a viu, foi no salão comunal na momento das seleções das casa. Ele gostava de observar o rosto cheio de manchinhas enquanto eles estudavam juntos ou faziam algum trabalho, era raro esses momentos já que Rose preferia fazer ambas as coisas sozinha, mas de vez enquanto aceitava sentar com ele e Albus e fazerem juntos. Para Scorpius era obvio que ela não pensava nele da mesma forma. Tudo bem! A família dele e a dela se desprezavam, ele sabia, então terem algo próximo de uma amizade já estava perfeito.

Vovozinho Lucius! Scorpius pensou de repente por decorrência de suas divagações sobre o ódio das famílias. Lembrou amargamente do dia que o avó descobriu quem era seu melhor amiguinho de Hogwats e em como ele gritou raivoso com seu pai, Draco. Scorpius passou a ser um desgosto para Lucius.

Mas o que ele poderia fazer? Aquela família o atraia magneticamente; Albus, Rose, Lucy que também era da Slytherin e bastante divertida e agora havia conhecido Lily e Hugo e já simpatizara bastante com ambos. Surpreendentemente Scorp gostava até mesmo de James e Freddie, por mais que em seu primeiro ano a dupla tinha agido como perfeitos babacas com ele. Por algum motivo James e Freddie tinham parado com as piadinhas, talvez perdeu a graça ou eles tinham crescido mentalmente.

Quando se deu conta Scorpius estava diante do muro que era a passagem para o dormitório da Slytherin, ele sussurrou a senha e os blocos da parede afastaram abrindo uma passagem. Albus o esperava sentado em uma das mesas da ampla sala comum, já tinha pegado os pergaminhos, as penas e os tinteiros.

— Você demorou! Foi difícil achar o livro? - Albus perguntou enquanto Scorp afastava a cadeira ao seu lado.

— Sim, ele estava no lugar errado. - Al era o único que sabia, graças a Merlin não era o tipo amigo chato que ficava fazendo piadas o tempo todo, sobre sua paixonite por Rose, mas Scorp ficou com vergonha de dizer que havia demorado por que encontrou a garota e o irmão na biblioteca.

Bom, não era exatamente uma mentira o que havia dito a Al. O livro foi fácil de encontrar, porém o titulo dele começava com "M" e ele estava erroneamente na letra "O".