Death Tricks escrita por Midnight


Capítulo 2
Anne's Short Life Story


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me qualquer erro :)
Boa leitura ^-^



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Empire - Bring me to the Horizon (cover, Elizabeth Grace)

 

Capítulo 1:

Os vagarosos passos de Juliet guiavam-na para a zona alta da capital de Wasserkristall, onde tudo poderia ser descrito por quatro simples palavras: riqueza, joias, luxúria e corrupção. Claro que antes de se poder visualizar aquela brilhante parte da cidade, tem que se passar pela zona baixa, onde, pelo contrário, tudo era podre e melancólico...

Os guardas tentavam controlar o tumulto da população, mas sempre olhavam Juliet quando ela passava, porque a sua aparência era agradável aos olhos ou talvez porque aqueles que a conheciam gostavam de ver a mulher que sempre satisfazia o rei sexualmente e emocionalmente nas ruas. Aos olhos deles, Juliet era uma mera prostituta interesseira que ambicionava riqueza e fama e talvez essa ideia não estivesse tão longe da verdade...

Aparentemente receosa, melancólica e desesperada, todos deduziam que ela acabara de ouvir a notícia da morte do rei. Tudo era um teatro e todos acreditavam no que ela queria que acreditassem... Nada arruinaria o plano e tudo acabaria naquele dia. Ela voltaria a ser Juliet, ela voltaria a ser ela...

O caminho por onde andava era interrompido pelos festejos e pelas revoltas da população. Não havia absolutamente nenhum membro do povo que não estivesse feliz com a mais recente notícia da morte do rei, porém as revoltas surgiam na mesma, devido à guarda das ruas que se tornara excessiva.

— O que é suposto fazermos? — um dos guardas questionou outro, desesperadamente.

— Como é que queres que eu saiba? — o outro respondeu-lhe, exausto.

— Por que merda Jayden pensa que há algo mais para investigar? O rei foi morto por estes selvagens a que chamamos de povo, mais nada!

Juliet quis sorrir ao escutar tal conversa, já que aquilo confirmava o sucesso do seu plano, porém conteve-se, uma vez que teria que manter a sua postura até ao fim.

Finalmente, os seus pés pisaram a bela ponte de pedra que separava o palácio real do resto da cidade e, assim que olhou o portão, viu o capitão da Guarda Real caminhar na sua direção. Ao ver Jayden, sentiu-se fraca como se qualquer movimento, por mais simples que fosse, pudesse denunciá-la.

Sempre que o seu olhar pousava na figura de Jayden, dificilmente conseguia desviá-lo, não só pela aparência dele como pela paciência e dedicação que ele colocava no trabalho que executava, por isso ela temia que as suas próximas ações deixassem no orgulho dele uma cicatriz para o resto da vida. Era o seu único arrependimento... Não queria atingir Jayden daquela forma, queria que depois daquilo tudo, ela fosse a única ferida, porém este seria o único caminho que ela poderia seguir.

Jayden é mais velho que Juliet, pelo que ele tem cerca de vinte e sete anos, enquanto que ela tem vinte e dois. Ele era um dos homens mais belos que ela havia visto na vida, pelo que os seus cabelos curtos eram rebeldes, mas desfrutavam de um tom avelã gentil. Já o seu olhar era do mesmo tom, sempre intenso e distante, humilde e meigo... Naquele dia em particular, ele parecia exausto, a sua barba tinha dois ou três dias, embora fosse discreta pelo que o seu tom era suave e facilmente se camuflava no tom marfim da sua pele. Ele era alto e o seu físico era bem preparado, por isso ela sabia que numa luta normal, nunca o venceria, o que a levava a cingir-se ao plano, para não o arruinar com distrações, como Jayden e os seus sentimentos por ele.

— Jayden... — Juliet adquiriu um tom de voz que transbordava agonia. — É mesmo verdade?

Jayden olhou-a e viu o receio e o desespero em que ela se encontrava. Não queria ser ele a dar a notícia da morte do seu suposto amado, porém também não queria que fosse uma pessoa qualquer a fazê-lo. Os olhos dele estavam nos dela, buscando qualquer vestígio de mentira nela, procurando de alguma forma saber se tal mulher, tão bela e serena, amava verdadeiramente um rei tão severo e injusto... Mas nada encontrou...

— Lamento imenso, Anne... — ele murmurou, ressentido.

Juliet ouviu o nome daquela personagem criada pura e simplesmente para aquela missão e logo pensou, aliviada, em como depois de tudo aquilo, ela não seria mais Anne, ela não seria mais a interesseira amante do rei, pois naquele dia, Anne morreria.

A intensidade com que Jayden a olhava perturbava-a, logo virou a cabeça para baixo, observando o chão e fingindo conter-se para não chorar. Sentiu uma mão no seu ombro e novamente olhou Jayden, que estava obviamente preocupado com ela, sem saber que lhe dizer ou como a ajudar, limitando-se então a secar aquelas lágrimas de crocodilo com um lenço. Quis lhe dizer que o rei não merecia tais lágrimas, pois ele nunca realmente se importara com ela da forma que ela se importava, quis lhe dizer que há muito mais no mundo para ver do que aquele palácio ridículo, porém, embora fossem tantas as coisas que lhe queria dizer, ele não a queria ferir mais.

— Talvez seja melhor entrarmos... — ele sugeriu, sentindo o olhar de outros guardas sobre eles.

— Eu... Eu não quero entrar... Por favor, Jayden, leva-me para outro lugar que não este...

Jayden mostrou-se reticente. Embora ele soubesse que seria melhor não a deixar sozinha, já que ela aparentava ser movida pelas emoções, ele tentava entender o porquê de ela lhe pedir para a acompanhar.

Depois de ter avisado os guardas que sairia, Jayden começou a caminhar ao lado de Juliet, mudo, não entendendo onde ela queria ir e questionando-se sobre o mistério que aquela mulher era e sobre o porquê de ela se importar tanto com o rei. Lembrou-se dos rumores sobre ela ser uma prostituta com uma grande necessidade de dinheiro e ele temeu que fossem verdade. Por um lado, não a queria ver como uma mulher interesseira, que venderia o seu orgulho, dignidade e corpo por dinheiro, por outro lado, não queria acreditar que ela fosse tão ingénua a ponto se de apaixonar por um tão rei insensível e imoral como aquele.

Olhou-a novamente, como fez trezentas vezes naquele caminho a lado nenhum. Olhou os longos cabelos de Juliet, cuja cor variava entre o ruivo claro, que lembrava o pôr do sol, e o castanho avelã. Admirou os olhos dela, que num tom claro de âmbar, se encontravam perdidos em pensamentos. Já os lábios dela, num tom de coral claro e belíssimo, eram carnudos, o que fazia Jayden lembrar-se de todas as vezes que a viu e não conseguiu desviar  olhar deles, atraído, querendo beijá-la... Por fim, o seu corpo dotado de curvas era escondido pelo casaco largo que a cobria por completo, enquanto caminhava lentamente ao lado dele, tentado esquecer quem ele era...

O silêncio penetrava o clima indesejavelmente, pois havia tanto que queriam dizer, porém ele tinha receio de escolher as palavras erradas e ela temia que qualquer ação não planeada a tornasse transparente e óbvia em relação a quem realmente era.

À medida que os passos continuavam, o som de água corrente cada vez ficava mais percetível até a imagem de uma deslumbrante catarata irromper nos seus olhos como um quadro de óleo habilidosa e delicadamente bem pintado. O fim do precipício não era sequer visível de tão alto que era. O frio era acompanhado de um nevoeiro níveo que misteriosamente ornamentava aquela estupenda paisagem. Já a água era a mais forte e doce melodia do local, pois empenhava-se em tentar perfurar a terra enquanto despejava as suas águas no abismo...

Depois de admirar a magnífica visão da paisagem, Jayden sentiu um forte calafrio quando percebeu que Juliet se encontrava demasiado próxima da ponta do abismo. Ela chorava, não porque deveria, não para facilitar o teatro, apenas porque aquele lugar lhe trazia memórias que nunca desapareceriam com o tempo...

Voltando à realidade e percebendo que se encontrava no meio da missão, ela olhou Jayden, tentando parar de chorar e fungar.

— Eu... Não sei como viemos parar aqui... — com uma voz fraca, Juliet falou, entre lágrimas.

— Anne... Por favor, afasta-te do abismo... — Jayden suplicava, sentindo receio, como se a vida daquela inocente moça fosse a sua responsabilidade.

— Talvez fosse suposto ser assim... — ela continuou, com uma voz chorosa,  relembrando todos os momentos da sua vida e deixando que eles falassem por si, pois assim ela seria verdadeira, assim como as suas lágrimas. — Talvez o aparecimento deste lugar fosse uma resposta aos meus desejos...

— Anne, por favor... Sabes que não é verdade, isto não é o suposto... — Jayden tentava, sentindo que a escassez de suas palavras não o ajudaria em nada.

— Nunca nada acabou bem para mim... Sempre havia algo errado. — ela fechou os olhos, tentando em vão parar as lágrimas que ainda escorriam pelas suas bochechas encarnadas. — Por quê, Jayden? Por que, então, só agora percebi que eu é que era o erro?

As suas palavras eram verdadeiras, elas provinham do seu coração, onde havia trancado todas as angústias da sua vida que, agora, olhando aquele abismo, emergiam para a superfície do seu olhar.

— Tu não és o erro, Anne, tu apenas precisas de encontrar o caminho certo...

A míngua de palavras de carinho ou conforto dificultavam a conversa. Ele sabia da melancolia dela desde que a viu pela primeira vez, pois sempre a via chorar, porém sem nunca saber que lhe dizer... Neste dia, não é diferente. Sem palavras e completamente desesperado, olhava-a na borda de um abismo. Tentou diminuir a distância entre ambos, dando um passo, porém Juliet logo se sobressaltou:

— Não! Por favor, não te aproximes... Isto é a minha decisão, a minha vida, não a tua... — proferiu francamente.

— Vais desistir então? — ele expressava-se agora indignado.

A pergunta apanhou-a de surpresa, lembrando-se de Lyra e do quanto lhe devia e lembrando-se da luta pela sua insignificante e indesejada vida que aquele rapaz na sua frente tinha ao vê-la tão próxima da morte.

— Tu só encontrarás o caminho certo se continuares a andar... Mesmo que sem direção ou destino, eu sei que encontrarás. Apenas não desistas. Não agora, tu sabes que ele não merece isso. — Jayden continuou, esperando verdadeiramente que aquilo a fizesse mudar de ideias.

Juliet sorriu. Para Jayden pareceu um sorriso cheio de melancolia com sabor a despedida, mas para Juliet, foi um sorriso de pura felicidade. Por segundos, sentiu-se culpada pela enorme cicatriz que deixaria nele, mas com certeza não esqueceria quem ele era ou os seus sentimentos por ele.

— Obrigada, Jayden... Mas isto aconteceria de qualquer forma...

Sem dar qualquer tempo para Jayden reagir, ela deixou-se cair, sem medo ou hesitação, apenas sentiu-se perfurar o ar, ocultando-se no nevoeiro...


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Notas finais do capítulo

Se alguém estiver a ler, que me diga a sua opinião :)
Kiss kiss
MidnightQueen



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