Fui para a lanchonete da faculdade onde sempre vou no meu horário de almoço. Chegando lá, vejo Dez sentado em uma mesa, sozinho. Estranho, ele nunca vem aqui. 

—Oi Ally. Podemos conversar? – Ele aponta para a cadeira vazia em sua frente. Sentei, sem escolha. 

— Oi Ally. Vai querer o de sempre? – Cassie, a garçonete do lugar, perguntou. Respondi que sim. – Então um hambúrguer, com suco grande de laranja. O que você vai querer? – Perguntou para Dez. 

— Suco de maracujá por favor. – Cassie anotou e foi embora atender outra mesa. – Eu quero conversar sobre o beijo. Explicar o que aconteceu.  

Suspirei. Eu sinceramente não queria conversar sobre isso. Eu só queria esquecer tudo o que aconteceu naquele parque. 

— Explicar? Dez, você namora minha melhor amiga. E você traiu ela! Comigo aliás! 

— Ally, eu estou me sentindo péssimo por isso... De verdade. – Ele olha para mim, fazendo aquela cara de dó. – Sabe, eu gosto muito da Trish.

Ally, não se deixe levar por esse belo par de olho azul.

— Se gosta tanto dela, por que você me beijou?  

— Eu não sei! – Ele aumentou a voz. Algumas pessoas olharam para a gente. – Eu não sei tá legal? – Dez abaixou o tom de voz. 

— Como assim você não sabe? – Comecei a perder a paciência. Eu não queria ouvir as desculpas sem lógica de Dez.

— Olha... a gente estava naquele túnel, e eu estava perguntando como estava seu namoro com Austin, mas você parecia estar perdida nos seus pensamentos. E então, por um momento, por um pequeno momento, eu me perguntei como seria te beijar. Eu não sei porque pensei nisso... Talvez porque antes de gostar da Trish, eu tinha uma queda por você. – Que? Abri a boca para falar, mas Dez foi mais rápido. – Isso foi no oitavo ano. Mas a questão é que, eu perdi o controle sobre meus movimentos, e quando vi, já estava te beijando. Foi como se aquele sentimento que eu tinha por você no oitavo ano voltasse por dois segundos. 

Eu tentava falar alguma coisa, mas nada saía. Eu não acreditava nas palavras que acabara de ouvir. Não conseguia acreditar que ele um dia já gostou de mim. 

— Dez... É... Vamos só... fingir que nada aconteceu. Nem o beijo nem nada. 

— Isso. Mesmo porque esse beijo não significou nada. – Ele me olha. – Não é? 

— Não significou nada. – Concordei. E eu não menti. 

O beijo só provou o que eu já suspeitava, que eu não sinto mais nada pelo ruivo. Quando nos beijamos, não senti nada, nem um frio na barriga, nem felicidade. A única coisa que fui capaz de sentir foi nojo de mim mesma, pois, de um jeito ou de outro, trai Trish. E isso foi a pior coisa do mundo.

— Ótimo. – Ele diz. 

Cassie trouxe nossos pedidos. 

*** 

Parei de ler A Teoria Musical e fiz algumas anotações para o meu trabalho. Esse semestre só  tivemos a parte teórica, e eu não via a hora de ir para a parte prática. Ou melhor, já não via a hora de me formar.

— Ally, você me esqueceu no parque! Sou um unicórnio triste. – Austin apareceu no meu quarto segurando o bicho de pelúcia em frente ao seu rosto. Ele tinha essa mania chata de entrar sem bater, e isso me irritava, muito. 

— Desculpa. – Peguei o unicórnio de suas mãos e coloquei em cima da cama. Sentei novamente na mesa, para terminar meu trabalho. Austin era a última pessoa com quem eu queria conversar no momento.

— Por que você esta estranha comigo? 

— Se divertiu muito com Kira? – O olhei. 

Desde quando fomos embora do parque, a imagem de Austin não saía da minha cabeça. Ele manchado de batom, e ela com seu batom borrado, bem na minha frente. Eu não deveria, mas estou incomodada com isso. Enquanto eu estava pensando nele, ele estava beijando Kira.

— Me diver... – Ele parou por um momento. – Pera. O que? Você está brava comigo por causa disso? Por que eu fiquei com ela? – Peguei meu livro e voltei a ler, eu precisava terminar logo esse trabalho. – Você está brincando comigo? 

— Droga Austin.- Fechei meu livro com força. -  Sim, eu estou brava com você por causa disso. Feliz? Feliz em saber que eu estou com ciúmes? Pronto, o seu enorme ego já foi preenchido. Já pode ir. 

— Você não deveria ficar tão alterada com isso. Afinal, nem estamos juntos de verdade. - Minha respiração falhou por um segundo, como se eu tivesse levado um soco. E de um jeito ou de outro, essas palavras me atingiram como um. – Pelo que sei, começamos esse namoro falso para você esquecer Dez e para eu conseguir ficar com Kira. 

— E pelo que eu sei, isso foi ideia sua. Quer saber? Ótimo, já podemos parar por aqui. Eu já esqueci ele, e você já ganhou a Kira. Parabéns. – O semblante do loiro foi de nervoso para confuso. 

— Como assim você esqueceu ele? Quando? – Austin, que até agora estava gritando, assim como eu, abaixou o tom de voz. 

— No brinquedo... No último brinquedo, ele me beijou. – Suspirei. – E eu não senti nada. Foi a mesma coisa que beijar uma porta. – Deixei um riso escapar. Vi que Austin estava nervoso. 

— Como assim ele te beijou? – Ele fechou os punhos, e começou a caminhar pelo quarto. – Eu não acredito nisso. Por que ele fez isso? 

— Foi sem pensar Austin. 

— Ah claro, sem pensar. – Debochou.

— Por que você esta assim? Achei que tinha dito que a gente não estava junto. – Falei nervosa. Austin sentou na beira da cama. 

— Eu também acho que parei de gostar da Kira. – Confessou. Sentei ao seu lado, esperando ele falar mais alguma coisa. – Naquele túnel ridículo, eu estava conversando com ela, e eu precisava ter certeza se gostava dela ou não.  E então eu a beijei. Sabe, só fiz isso para ter certeza se eu ainda tinha sentimentos por ela... E foi como você disse, como beijar uma porta. Então acho que isso significa que não sinto mais nada por ela. – Ele sorriu, sem humor.  - Quer ouvir algo engraçado? – O loiro coçou a nuca, sem jeito.

— O que? 

— Quando beijei Kira, desejei que fosse você. – Ele me olhou, sorrindo. Não pude deixar de sorrir junto, afinal, o mesmo aconteceu comigo