Sinto algo vibrar. Austin me ligava novamente. Era a quinta vez em dez minutos, sem contar as mensagens que me mandou:

Me desculpe.

Atende!!  

Ok, você tem razão de estar brava.

Precisamos conversar sobre isso...

Pisei na bola né?

Tive vontade de responder a última mensagem, mas me controlei e desliguei o celular. Não queria atrapalhar o encontro dele. Eu precisava ficar um pouco sozinha.

Peguei minha mochila e coloquei algumas peças de roupa dentro, estava cogitando a hipótese de dormir fora hoje. Não queria conversar com Austin, nem mesmo olhar para ele. Dormir na mesma casa do garoto que você gosta tem seus defeitos.

— Onde você vai? – Me assusto com Trish entrando. Já falei que odeio quando entram sem bater? Preciso arrumar uma chave para esse quarto urgente. – Por que seu olho está vermelho? Você estava chorando? O que aconteceu?

— Acho que levei o maior fora de todos os tempos. – Ri comigo mesma.

— Como assim?

— Austin.

— Pera... O que? Você levou um fora do Austin? Como?

— Eu encontrei com ele na rua, e meio que falei que gostava dele... E então a namorada dele apareceu na minha frente, e os dois saíram... – Sentei na cama, cansada.

— Parou ai.  Você gosta do Austin então? – Ela me olhou. – Ah garota, finalmente você admitiu isso, já estava na hora né! – Trish fechou a porta do quarto. – Eu sabia.

— Que parte do: A namorada dele apareceu, você não entendeu?

— Que parte do: Finalmente admitiu, você não entendeu? – A latina revirou os olhos. – Eu falei que tinha um sentimento a mais, eu falei. Mas você me ouviu? Não, não ouviu. Agora olha o que aconteceu.

— Ok, eu entendi. – Me levantei.

Peguei algumas coisas e joguei dentro da mala. Não queria ficar trancada em meu quarto ouvindo o quanto Trish estava certa, e eu errada, não queria ouvir o quanto ela me avisou, e como tem razão. Achei que assim como eu a ajudei quanto terminou com Dez, ela me ajudaria. Se ela não vai me ajudar, não vou ficar. Estava decidida, iria dormir fora.

— Onde vai?

— Não sei. – Respondi, saindo do quarto.

***

— Oi Kira! Amiga, quanto tempo. Acho que vou dormir aqui para colocar o assunto em dia! – A cumprimentei com dois beijos.

— Oi? A gente se viu hoje.

— Dormir no sofá? Não me importo. Licença. – Entrei na casa. – Vou colocar minhas coisas aqui. – Deixei minha mala no chão.

— Ok. Isso foi muito estranho... – Ela fechou a porta de entrada. – Qualquer coisa vou estar no meu quarto. – Apontou para o segundo andar. Assim que ela subiu, desabei no sofá.

Liguei meu celular novamente e coloquei meus fones. Passei os olhos pelas minhas músicas, e acabei colocando em Somebody That I Used To Know, nada como uma música triste quando você já está mal. Quando penso que estou no fundo do poço, Stone cold começa a tocar.

— Ally! – Vejo Kira balançar os braços na minha frente. Retiro meu fone para poder ouvi-la. – Não pude deixar de ouvir você cantando... Acho que a faculdade inteira ouviu você. Na verdade isso foi bem engraçado. O que aconteceu? – Ela parou por um segundo. – Já até imagino, não está lidando bem com o termino do seu namoro com Austin não é?

— Não! - Penso um pouco, ela e Dez ainda acreditam que namorei ele. – Quer dizer, sim. Sabe, sinto falta dele... – Menti. - Acho que nós nunca vamos voltar a ser os mesmos, e isso dói. – Fui sincera dessa vez.

— Eu já passei por isso, várias vezes. E sei o que vai te ajudar. – Kira pegou seu celular e colocou no amplificador. – Vem, isso sempre funciona. – Me levantei e ela deu play na música.

Shout Out To My Ex ecoou pela casa inteira. E essa foi a primeira de muitas músicas que dançamos.

Pegamos o controle remoto e fingimos estar em um show, isso realmente foi algo que uma adolescente faria, mas não nos importamos. Nunca ri tanto em uma noite.

***

37 mensagens. 3 conversas. Austin, Trish e Dez, como sempre. Todas elas me perguntando onde estava, resolvo ignorar.

16 chamadas perdidas. Todas de Austin e Trish. Resolvo ignorar.

1 nova caixa postal. Austin. Resolvo enfim, ouvir.

Ally, não sei se você vai ouvir isso, já que está ignorando todas as minhas mensagens e não está atendendo minhas ligações... Mas se estiver ouvindo, saiba que eu estou indo ai, na Kira, para conversar. E não, não adianta fugir. Já estou chegando.

Assim que a mensagem acabou, a campainha toca. Droga, deve ser ele. Me levanto, e forço o melhor sorriso. Não queria que ele soubesse que estou magoada, ou algo do tipo.

— Austin? – Finjo surpresa ao abrir a porta.

— Acho que precisamos conversar.

Sentei ali mesmo, na porta. Ele sentou ao meu lado.

— Então... – Ele quebrou o silencio constrangedor que havia tomado conta dali. – Kira que me contou que estava aqui... – Silencio novamente. – É verdade aquilo? – O olhei confusa e ele continuou – De você gostar de mim.

— Ah. – Olhei para baixo. – Acho que sim. – Suspirei.

— Então acho que te devo explicações...  Lembra quando fui no seu quarto, conversar sobre o beijo? – Fiz que sim com a cabeça. – Você disse que não queria conversar sobre o nosso último beijo... E eu acabei interpretando mal.

— O que? – Perguntei.

— Foi naquele beijo que eu disse que achava que gostava de você, e quando você disse que não queria conversar sobre isso, entendi que você não sentia o mesmo, entende? – Ele me olhou, e logo pensei, se ele fizesse o mesmo, entenderia da mesma maneira. Se eu estivesse no lugar dele, acharia que estava recebendo um leve fora.

— Eu só disse aquilo porque estava confusa sobre o que sentia por você. – Me expliquei. – Mas vejo que isso não faz diferença já que tem namorada.

— Ally, eu não namoro ela, só fiquei com ela. Ela disse aquilo para te provocar.

— Mas não se importou em me explicar na hora. – Levantei.

— Ally, me escuta. Eu só fiquei com ela porque achava que você não gostava de mim. Não entende? – Austin se levantou também.

— E quando eu contei que gostava de você, continuou com ela. Olha Austin, eu tive uma ótima noite, e não quero estraga-la, então por favor, vai embora. – Abri a porta, pronta para entrar.

— Não vai querer me ouvir?

Entrei na casa e fechei a porta.

— Só pra saber, não estou mais com ela. – Pude ouvir a voz do Austin abafada, do outro lado.

Sentei no chão.

O que eu fiz?