Aquela seria uma longa tarde...

Durante o nosso primeiro filme, Austin e Dez bateram na porta querendo entrar, ligaram para os nossos celulares e até ameaçaram derrubar a porta. Após quinze minutos, viram que a gente não iria abrir a porta, e desistiram.

Trish tinha xingado tanto o protagonista que eu fiquei com dó. Também chorou horrores, e acabamos com um pote grande de sorvete.

— Odeio esse filme. Odeio. - Ela disse quando o filme acabou. - Cansei. Odeio Dez também.

Comecei a rir, sua maquiagem estava borrada, e ela parecia um palhaço, ou um panda. Talvez uma mistura dos dois.

— Vamos falar sobre outra coisa. - Ela enxugou os olhos, numa tentativa falha de limpar as lágrimas, e a maquiagem, que borrou ainda mais. - Me conte sobre Austin.

— Até parece que não mora com ele. - Ri.

— Sobre você e ele. - Ela se virou para mim, sorrindo. - O que você sente quando está com ele?

— Ah... Gosto de estar com ele. Ele é divertido.

— E o que mais? Vocês já se beijaram que eu vi, lá na festa da faculdade. - Afundei no sofá, minhas bochechas queimaram de vergonha. - Como foi? Ai, deve ser muito bom beijar o Austin.

—Hey, me respeita, ele é meu ex.- Bati de leve em seu ombro, fingindo estar brava. - Hum... foi bom mesmo. Muito bom. - Trish sorriu maliciosa, e tudo o que eu queria no momento era cavar um buraco e enfiar minha cabeça.

— Você gosta dele? Fala a verdade.

— Não sei Trish... - Ela me olhou, querendo continuação. Antes que eu pudesse pensar, comecei a falar. - Gosto de ficar com ele, eu me sinto bem. Por incrível que pareça, ele me fez mais feliz fingindo ser meu namorado, do que todos os meninos que já fiquei. É complicado... - Fiz uma pausa. - Quando beijei ele, senti algo tão incrível que não dá nem para explicar.

— Você gosta dele. - Não. - Tenho certeza. - Não. - Eu sentia isso com Dez. - Opa.

— Ele é meu amigo Trish. - Revirei os olhos.

— Eu dizia a mesma coisa do Dez, e olha agora, estou chorando o dia inteiro por ele... Mas enfim o pouco que eu vi de vocês dois juntos, pareciam mesmo gostar um do outro. - Ela raspou o fim do sorvete. - Principalmente ele.

— Austin disse que talvez ele tivesse se apaixonando por mim... - Pensei alto, até demais. Só me dei conta do que disse quando a latina bateu em meu ombro dizendo que gosto do Austin. - Trish, quando ele me beijou pela primeira vez, ele pediu desculpa.

— Vai ver ele achou que invadiu um espaço seu, e então pediu desculpas. Acho que ele falou isso por ter medo de você não ter gostado, não sei. Tenho certeza que ele gosta de você, de verdade.

— Será?

— Ah olha você, está com os olhos brilhando. Toda apaixonada. - Trish me fez cócegas de leve na barriga.

É, talvez eu goste do loiro.

**

Acordo assustada com um barulho na janela, ultimamente algumas pessoas tem reclamado de furtos aqui no campus da faculdade. Automaticamente pego meu celular, tentando ligar para a polícia, ou até mesmo para algum dos meninos. Vejo que tenho uma ligação perdida de Austin e decido retornar.

— Tem alguém tentando entrar em casa, pela minha janela. – Digo, assim que o mesmo atende.

— Relaxa Ally, abre logo a janela. Sou eu. – Afasto um pouco o celular. – Anda logo. – Vou até a janela, e a abro, um pouco apreensiva. – Surpresa. – Ele diz, ainda com o celular na mão.

— Austin? – Vejo que a chamada do telefone ainda estava ligada, e encerro. – O que está fazendo aqui?

— Surpresa. – Ele levanta os braços e pula a janela, entrando em meu quarto. – Acho que precisamos conversar.

— Conversar? – Pergunto. Não temos nada para conversar.

Austin senta e bate a mão em minha cama, me convidando para sentar ao seu lado. Vou até ele em silencio, afinal todos estavam dormindo.

— A gente mal se fala Ally! Quando que a gente vai poder conversar novamente?

Isso realmente era verdade. Austin e eu não nos falamos desde o termino, e já faz duas semanas, bom, tirando aquele churrasco, que foi uma exceção. Desde que terminamos, somos obrigados a nos evitar em todo lugar, até em casa. Quando Austin abre a boca para falar comigo, Dez o chama, dizendo que ele não precisa se desculpar. Quando eu vou falar com ele, Kira – que fica a maior parte do tempo comigo – me impede, dizendo para eu não correr atrás de quem me machucou. Eles realmente não têm culpa disso, só querem nos proteger, e então eu e Austin só temos a opção de trocar mensagens escondidos. 

— É só questão de tempo até eles esquecerem...

— Ai está o problema Ally, eles não vão esquecer. Eu não aguento mais ficar sem falar com você.

— Eu também não loirinho. – Coloco minha cabeça em seu colo, estava morrendo de sono. Ficamos um tempo em silencio. Eu sentia falta de momentos assim com ele, sentia falta dele.

— Ally... Sobre eu ter pedido desculpa naquele primeiro beijo... Eu só pensei que você tinha ficado brava comigo por te beijar de surpresa... Não que eu não tenha gostado, só achei que você...

— Tudo bem Austin. – Falei rápido, tentando acalma-lo. Ele começou a mexer no meu cabelo, e foi como se todo o sono que eu estava sentindo se multiplicasse. – Eu também gostei. – Ele sorriu tímido e não pude deixar de sorrir junto.

— E sobre aquele último beijo...

— Não precisamos conversar sobre isso agora. – Fechei os olhos, me deixando ser consumida por todo aquele sono.

A verdade é que eu não queria contar a Austin o quanto aquele beijo significou para mim, e nem o quanto eu tinha gostado. Não queria contar que aquele beijo me deixou acordada por noites, e me distraiu por aulas. Não queria contar o frio na barriga que senti, e nem que eu queria repetir aquela sensação.

— Boa noite Ally.

— Boa noite.

Não queria contar que estava gostando do Austin Moon.