Olhei todas aquelas caixas de papelão em meu quarto, ainda faltava desempacotar muita coisa. Vi uma caixa escrita “fotos” e resolvi abri-la, vou colocar alguns porta-retratos na cômoda. Peguei uma fotografia antiga dos meus pais, estávamos todos na praia fazendo pose ao lado do castelo de areia que eu acabara de montar. Essa foto foi tirada alguns meses antes do acidente.

Peguei outra fotografia, era eu e Trish ainda pequenas saindo da escola, ela fazia um chifre em mim enquanto eu ria e apontava para o rosto dela. A gente devia ter uns 13 anos na época.

Por fim, peguei o ultimo porta retrato, a foto foi tirada no fim do jogo de basquete de Austin, ele estava com o uniforme do jogo e Dez estava com o rosto pintado de azul e amarelo (as cores da mascote da escola Marino), Trish estava segurando um pom-pom e eu estava com o número 8 pintado no rosto (o número da camisa de Austin). Aquela foi nossa última semana na escola.

— Cadê a nossa foto? – Austin estava atrás de mim, desde quando ele estava aqui?

— Que susto! – Coloquei a mão no peito, sentindo meu coração acelerado. – O almoço já está pronto?

— Já. Mas e então, cadê nossa foto? Aquela que a gente tirou na formatura?

— Eu ainda vou emoldurar e ai eu coloco ela aqui ok? – Apontei para a cômoda junto com as demais fotos. Ele sorriu e murmurou um ok. – Vamos almoçar que eu estou morrendo de fome.

Fomos para a pequena cozinha e lá estava Dez e Trish terminando de montar os hambúrgueres. Esse é o único momento que os dois não brigam, quando estão cozinhando. Eles amam cozinhar, mas assim que saem da cozinha os dois apenas discutem, sinceramente não sei o porquê a Trish pega tanto no pé de Dez já que ela gosta dele.

— Ok, um x-salada para a Ally, um x-bacon para o Austin, um x-tudo para mim e o x-egg de Trish. – Dez colocou todos os lanches na mesa e se sentou, Trish se sentou logo em seguida com o suco. – Ei Trish, se fosse escrever uma crítica dos meus lanches no seu blog o que escreveria?

Ah sim, Trish tem um blog de críticas, ela faz críticas de filme, comidas típicas de outros países, livros e, principalmente, critica de restaurantes. E como muitas pessoas leem o seu blog, ela ganha dinheiro todo mês por isso. E o melhor de tudo é que ninguém sabe a identidade dela.

— Escreveria que você é muito atrapalhado na cozinha, que serve comida morna e com pouco tempero. Ainda bem que eu ajudei. – Ela mordeu um pedaço de seu lanche rindo.

— Estão ótimos Dez. – Sorri para ele, que devolveu com uma piscadinha. Senti minha bochecha queimar e olhei para baixo.

***

Desempacotei algumas coisas que sobraram no meu quarto e guardei algumas roupas no armário. Foi um sacrifício conseguir espaço para todas as minhas coisas naquele cômodo minúsculo. Sentei na cama exausta.

Nem acredito que já estamos na faculdade, na mesma faculdade. Quando pequenos a gente sonhava em fazer a mesma faculdade e olha onde estamos, dividindo a mesma casa no campos da mesma universidade, e a Universidade Internacional da Florida (FIU) é uma das melhores do estado.

Falando na faculdade, eu ainda não conheço aqui muito bem. Fui até o quarto do ruivo, ele ainda estava desempacotando algumas coisas.

— Dez? – Ele se virou pra mim. – É... Eu vou dar uma volta pela universidade para conhecer melhor, quer vir comigo? – Encostei no batente da porta.

— Eu adoraria, mas tenho que me livrar dessas caixas hoje mesmo. Pode ser mais tarde? – Realmente o quarto dele estava cheio de caixas, ainda mais ele que divide o quarto com Austin, e o loiro é um pouco desorganizado.

— Claro. Se quiser ajuda com as cai...

— Ally ainda bem. Eu estava indo agora mesmo andar um pouco. – Austin levantou da cama pegando as chaves. – Vem vamos. – Ele puxou meu braço até a porta e saiu apreçado.

— Ta, o que foi isso? – Perguntei soltando meu braço que estava um pouco dolorido.

— Vamos para aquele lado, lá tem muitas garotas. – Austin apontou para o outro lado da faculdade. – Preciso fazer algumas amizades se é que me entende. – Ele sorriu malicioso. – Depois se quiser a gente procura alguns “amigos” para você também, ai você esquece o Dez.

— Oi? Como assim esquecer o Dez? – Comecei a enrolar meus dedos nas pontas do cabelo, é um costume estranho meu que eu faço quando estou nervosa, com vergonha ou quando estou desconfortável. E no caso eu estava com os três.

— É eu sei que você sente algo por ele. Aliás está um pouco na cara. – Arregalei os olhos, como ele sabia? Austin começou a rir da minha cara. – Eu sabia que tinha alguma coisa.

— Esta tão na cara assim? – Meus dedos já estavam doendo de tanto enrolar meu cabelo.

— Um pouco. Você fica muito tímida perto dele, chega a ser engraçado. Ainda mais convidando ele para dar uma volta, querendo ajudar ele... – Austin olhou pra mim com um sorriso malicioso. – Quanto tempo você gosta dele?

— Não faz muito tempo... Mas Austin, por favor, Trish não pode saber disso. Ela não pode saber em hipótese alguma. – Juntei as mãos implorando.

— Mas por que?

— Ela gosta do Dez a muito tempo. – Austin abriu a boca surpreso, achei que todos sabiam que ela tinha uma queda por ele.

— Dez está podendo com as garotas hein, quem diria. – Ele começou a rir, sei que Austin está com ciúmes porque geralmente ele que é o centro das atenções, e agora ele sabe que a atenção está sendo o Dez. – Então você e sua melhor amiga gostam do mesmo cara?

— Aham.

— Ally, você está ferrada.