Eu não sabia pra onde ir depois de sair correndo da escola. Eu não queria ir pra casa para ver o quão solitário aquele lugar era sem a minha mãe. Eu não queria na verdade ir para lugar nenhum, eu queria apagar a minha existência daquele mundinho idiota! Depois daquilo tudo que o Adrien disse coisas ficaram voltando na minha mente, cenas do passado que eu queria esquecer, mas ele tinha mesmo que me lembrar daquilo tudo? Eu queria gritar de frustração, eu queria a minha mãe para me consolar, mas eu sabia que ela não viria. Ela tinha  abandonado o papai e me abandonado também.  O relacionamento dos dois já não era bom desde o começo. Só se juntaram por serem ricos e por serem ricos deveriam ficar juntos, coisa que conseguiram implantar na minha mente. Eles viviam brigando, mesmo depois que eu nasci. Eu era obrigada a ouvir todos os dias que o casamento dos meus pais era um erro e que eu era outro ainda pior, pois, de acordo com eles mesmos, eles só ainda estavam juntos para não me magoar, e claro que aquilo era a pior coisa que uma menina tão pequena quanto eu era na época podia escutar. Eu queria amor, que queria, mas eles não me davam porque estavam sempre ocupados com emprego e quando estavam em casa estavam ocupados com brigas por qualquer motivo. Eu já não aguentava mais aquilo e minha mãe também não porque de repente ela simplesmente pediu o divorcio e saiu de casa entrando no carro de um homem que eu não conhecia e nunca mais voltou. Eu nunca mais vi minha mãe e não faço ideia do que aconteceu com ela. Meu pai ficou mais distante do que já era, agora ele pensava que para suprir a falta que eu sentia de carinho era só me dar presentes caros e só, e isso me fez do jeito que eu sou. Passei a ver naqueles presentes, que sempre eram o melhor que o dinheiro poderia me dar, o amor que meus pais nunca fizeram questão de me dar. Pra mim aquilo era o amor, o dinheiro. E eu conhecia alguém que tinha muito dinheiro apesar de não parecer ligar pra ele: Adrien Agreste. Fomos criados juntos desde sempre e na minha mente veio uma das coisas que meus pais me ensinaram, que eles estavam juntos porque eram ricos e era assim que funcionava. Então, eu como uma bela garota rica, deveria ficar com Adrien que também era rico. Era simplesmente logico, até aquela vadia da Marinette aparecer no caminho dele. Ela estragou todo o amor que era pra ser meu! Foi isso que eu expliquei para a Sabrina depois que fui pra casa dela. Sim eu fui pra casa dela, não sabia pra onde ir só queria desabafar e a ruiva sempre me escutava quieta e atenta, mas daquela vez foi diferente. Ela resolveu opinar.

— Chloe eu acho que... A Marinette não tem culpa de nada nisso tudo.  – Ela sussurrou baixinho.

— O que? – Falei incrédula.

— Chloe eu vi como ela e o Adrien pareciam felizes hoje no final da aula. Eles estão juntos porque se amam de verdade e... É como o Adrien te disse não é mesmo? Ele ama te vê como uma amiga. – Ela falou dando um sorriso gentil, provavelmente tentando me ajudar com aquelas palavras.

— Você está contra mim Sabrina? – Perguntei me levantando da cama dela, ode eu estava sentada.

— Não Chloe e-e-eu só estava tentando te fazer entender! Não a-acha melhor deixar eles felizes e juntos sem tentar interferir nisso? – Ela perguntou gaguejando meio nervosa. – Como o Adrien disse existem vários outros caras por aí! Se você tentar mudar um pouco esse seu jeito... Difícil eles podem passar a te ver de um jeito melhor e eu tenho certeza que alguém vai gostar de você de ver-

— VOCÊ NÃO ENTENDE! – Eu gritei a interrompendo. –NIGUÉM ME ENTENDE! EU NÃO CONSIGO MUDAR! – Eu estava contendo as lagrimas. – Eu sou assim Sabrina e eu vou continuar assim! Porque erros como eu não podem ser desfeitos!

Eu me lembro muito bem do dia que meus pais gritaram isso pra mim... Eles estavam no meio de uma discussão pesada e eu tentei me intrometer pra consertar aquilo, mas... Aquilo só fez eles revelarem pra mim que nunca queriam ter tido aquele relacionamento, nunca queriam ter me tido, e que eu era um erro que prendia os dois juntos. Claro que depois eles vieram tentando consertar dizendo que só disseram aquilo porque estavam muito nervosos na hora e me deram uma nova casa de bonecas, mas aquilo iria mesmo tirar aquelas palavras da minha mente? Não! Principalmente por que depois eles tornaram a repeti-las mais e mais vezes...

— Mas Chloe... – Sabrina pegou na minha mão. – Você pode tentar mud-

— CALA A BOCA SABRINA! – Eu berrei dando um tapa na mão dela e saindo pisando duro do quarto dela.

— Chloe volta aqui! – Ela pediu vindo atrás de mim.

— Me deixa em paz! – Eu falei saindo da casa dela e fechando a porta com força deixando ela lá dentro, provavelmente sem reação.

Caminhei irritada olhando pra tudo com desprezo. “Porque essas flores não simplesmente murcham?” me perguntei encarando um canteiro pelo qual passei. “Porque esses pássaros não calam a boca?” olhei para cima onde alguns pombos voavam fazendo aqueles barulhos irritantes de pombo. “Porque essas pessoas não morrem de uma vez?” pensei olhando para todos aqueles sorrisos que se encontravam na gente que estava andando por aí calmamente. “Porque eles são felizes!” conclui “Coisa que pelo que parece eu não tenho direito nenhum de ser!”. Minha mente voou para a cena que aconteceu na escola enquanto eu andava sem destino pelas ruas parisienses. Todos estariam comentando aquilo amanhã! Ah ótimo a ultima coisa que eu queria era ir para aquele lugar onde ninguém gostava de mim para ouvir eles rindo da minha desgraça. Seria mesmo muito bom sumir, me tornar invisível. Já imaginava as pessoas me olhando de cima abaixo, apontando pra mim e rindo cinicamente. Eu não podia mesmo ter feito aquilo! Agora além da minha vida  minha imagem também estaria arruinada, eu tinha certeza de que cheguei a notar alguém gravando aquilo! O que meu pai diria de uma coisa assim? Com certeza me diria palavras duras me humilhando o máximo o possível e me castigando por ter quebrado a imagem perfeita da minha família, sequer se importando em tentar me consolar. Aquilo me dava raiva e tristeza, olhei uma família feliz em uma lanchonete do outro lado da rua e aquilo me fez dar um soluço. Aquelas pessoas tinha tudo que eu queria ter. Porque eu simplesmente não podia ter nascido em uma família de gente assim? Eu queria que de uma forma magica algo me desse poder para poder tirar a felicidade daquelas pessoas e tê-la para mim.  Meus pensamentos maldosos me distraíram a ponto de eu não perceber que estava atravessando a rua e muito menos que um carro vinha na minha direção. Se eu tivesse corrido com certeza teria escapado, mas falando sério para que tentar escapar? Se aquele carro batesse contra mim eu conseguiria morrer e me livrar daquela vida desprezível que eu levava! “Sim, sim senhor carro me acerte com toda a força e me livre desse pesadelo!” pensei com um pouco de esperança, mas antes do meu desejo se realizar senti meu corpo ser empurrado com muita força para a calçada. Cai com força e aquilo doeu, mas não bastaria pra tirar a minha vida. Olhei querendo descobrir quem era o desgraçado que tinha salvado a minha vida e por cima de mim se encontrava uma pessoa que eu realmente não esperava que fosse tentar me ajudar: Nathaniel Kurtzberg. O ruivo se levantou me encarando como se eu tivesse acabado de pular o muro de um sanatório.

— Você tem algum problema mental pra ficar assim parada na frente de um carro, loira? –Ele não parecia acreditar que eu tinha feito aquilo.

— Você é idiota? Não conseguiu perceber que eu QUERIA que aquela merda de carro me atingisse? – Perguntei furiosa.

— O que? – Ele falou surpreso.

— É você é mesmo um idiota seu tomate podre! Da próxima vez que me ver a beira da morte me faz um favor: ME DEIXA MORRER PORRA! – Gritei batendo o pé no chão com força, eu já estava me virando para sair andando sem rumo de novo quando ele me interrompeu entrando na minha frente.

— Espera a- Ele começou a falar me encarando fixamente, o que me irritou.

— O QUE?- Berrei já sem paciência pra mais nada.

— Seus olhos... Vermelhos e inchados. Você estava chorando. – Ele afirmou. Ah não o que eu menos queria era aquele babaca espalhando para tudo enquanto é lado que eu estava chorando no meio da rua! Eu empurrei ele para o lado com força e saí correndo antes que eles pudesse dizer mais qualquer coisa. Olhei ao redor e percebi que estava perto de casa, se é que se pode chamar aquele lugar frio e sem sentimentos de casa.  Suspirei encarando o céu que já estava começando a escurecer. Respirei fundo indo em direção ao lugar que menos queria ir. Entrei ignorando tudo ao meu redor e pisando duro. Fui para o meu quarto fechando a porta com brutalidade e a trancando em seguida. Olhei para a porta e alguma pequena parte de mim ainda tinha a mínima esperança de que meu pai bateria na porta e me chamaria me perguntando o que tinha acontecido para eu ficar o dia todo fora e dizendo que estava preocupado, mas ninguém veio.

P.O.V Marinette

Acordei morrendo de vontade de continuar dormindo. Eu acabei passando tempo demais conversando com o Adrien e quando desliguei lembrei que tinha que fazer muito dever que eu não tinha conseguido terminar na sala de aula e fiquei até tarde da noite fazendo. Resultado: acordei morrendo de sono e sem a menor vontade de sequer pensar na escola. Mas claro que meu despertador irritante não compreendia meus sentimentos e fui obrigada a me levantar. Depois de me arrumar e passar um pouco de base pra disfarçar as olheiras eu acabei por me animar, porque? Porque lembrei que agora eu teria um motivo muito melhor para ir pra escola do que perder a aula estupida de física: o meu Adrien estaria lá. E quando cheguei ele estava mesmo. Sentado nas escadas olhando para o nada, parecendo bem pensativo. Eu andei até ele e me sentei ao seu lado. Ele não notou minha presença. Deitei minha cabeça no ombro dele e escutei ele soltar um gritinho de susto, eu ri.

— Mari... – Ele falou se acalmando.

— Oi. – Cumprimentei.

— Tá aqui há muito tempo? – Ele perguntou passando a mão no meu cabelo.

— Nah... No que estava pensando? – Encarei os olhos verdes preocupados.

— Nada em especial. – Sorriu pra mim.

— Tem certeza? – Falei desconfiada.

— Tenho. – Ele falou. – Ei o que é isso?- Apontou para um pote de plástico que eu estava segurando.

— Ah eu quase esqueci! – Falei abrindo o pote, logo nós dois pudemos sentir um cheiro doce se espalhando pelo ar. – Já que vocês reclamaram tanto ontem de eu não ter guardados bolinhos pra vocês eu peguei alguns hoje na padaria com os meus pais! Aqui. – Entreguei um deles para o Adrien sorrindo.

— Uau! Isso tá muito bom! – Ele disse com os olhos verdes brilhando em admiração pelo sabor.

— Ei os dois egoístas estão comendo sem esperar a gente é? – Alya disse caminhando até nós de mãos dadas com Nino.

— Vocês estavam demorando. – Falei.

— Ora, ora a senhorita Marinette Dupain Cheng que está sempre atrasada está reclamando de nós? – Nino falou ironicamente.

A partir daí começamos a brincar e comer bolinhos até o sinal tocar e subirmos as escadas indo para a aula. A Srta. Mendeleiev já estava sentada na sua mesa esperando os alunos chegarem, emburrada como sempre. A aula de física começou, como sempre entediante, mas ninguém ousava abrir a boca pra falar isso,  afinal quem é que iria falar uma coisa dessas na frente da assustadora Srta. Mendeleiev? Aquela mulher me causava arrepios quando estava nervosa! Ela resolveu passar uma atividade em dupla pra ser feita em e entregue na sala. Eu fiquei completamente ansiosa, desejando muito fazer dupla com o Adrien, mas infelizmente não foi o caso porque a dupla dele foi o Ivan Bruel. ”Nheh mais sorte na próxima Marinette.” pensei.

— Marinette Dupain Cheng e... – A professora ajeitou seus óculos olhando ao redor pra procurar alguém que, assim como eu, tinha sobrado. – Sabrina Raincomprix. – Falou por fim.

“Antes Sabrina do que Chloe né?” pensei comigo mesma. Me surpreendi quando vi que a ruiva estava sentada sozinha. Fui até a mesa dela levando meus materiais.

— Oi. – Cumprimentei a garota que parecia perdida em seu próprio mundo.

— Ah... Oi. O que você quer? – Ela perguntou baixinho.

— Ahh, bem a professora passou uma atividade e você é a minha dupla. – Eu expliquei enquanto me sentava ao lado dela. Eu não consegui acreditar que a Sabrina não sabia o que deveria ser feito! Justo ela que era simplesmente uma das mais aplicadas da sala!

— Certo.  – Falou desanimada, me encarando como se quisesse que eu explicasse a atividade.

Eu disse o que deveríamos fazer e antes mesmo de eu terminar de falar ela começou a fazer tudo sozinha. Eu tentei ajudar ela do melhor jeito que pude com ela praticamente dispensando o meu trabalho. “Nós”, que na verdade foi praticamente só ela sozinha, fomos as primeiras a terminar a atividade e como a minha carteira de verdade ainda estava ocupada pela Mylene Haprele que era a dupla da Alya eu tive que continuar sentada com a Sabrina e aquilo estava meio que me incomodando porque aquela menina não falava nada e só ficava olhando para baixo com uma cara séria.

— Ahhh, então a Chloe faltou hoje não é? – Eu tentei puxar assunto e quebrar aquele silencio constrangedor.

— É. – Confirmou simplesmente.

— Porque será? – Eu perguntei tentando tirar mais de uma simples palavra da boca da ruiva.

— Se quer saber tanto porque não pergunta pro Adrien? Ele poderia te explicar bem melhor que eu! – Resmungou irritada e virou a cara para o lado.

Eu fiquei sem entender porcaria nenhuma daquilo tudo, só sabia que agora eu estava mesmo curiosa pra saber o que é que o meu Adrien tinha a ver com a Chloe faltar! As aulas se passaram, eu voltei para o meu lugar e fiquei encarando a lourice delicada do meu Adrien tentando adivinhar. Chegou o recreio e eu não perguntei nada, estava esperando para ver se ele contava alguma coisa, mas ele não disse absolutamente na-da! Esperei, esperei, esperei e ele nada disse. Até que as aulas acabaram e nós nos despedimos normalmente cada um indo para o seu canto. Ah mas você tá achando que eu vou voltar com duvida pra casa? Hoje não meu querido! Marinette modo stalker on! Vou seguir o Adrien para descobrir o que é que está acontecendo aqui! Se prepare meu amor, você já deveria saber que não pode esconder nada de mim!