Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 7
Antes da Queda - Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Mais um capítulo aqui, este está cheio de ''coisas científicas'' novamente e se ficar muito confuso é só me avisarem que eu dou um jeito de ficar mais simples! Sorte que eu tenho os capítulos escritos já adiantados, pois se não fosse hoje não daria para postar, mas talvez semana que vem não tenha capítulo novo. Mas tudo volta ao normal na outra semana!
De qualquer jeito, boa leitura! ^_^



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E as várias latas antes alinhadas perfeitamente uma do lado da outra, começavam a cair uma por uma. Tiros certeiros, pegando bem no meio de seu alumínio, os ossos jogados atingindo ao chão enquanto mais deles eram atirados habilmente para acertarem mais alvos. 

Sans sentia-se orgulhoso, um olhar de satisfação cobria o seu rosto ósseo. Tamanha facilidade que tinha para controlar seus ataques, mal se lembrava da época em que os ossos voavam por aí sem sua permissão. Não queria admitir, mas se sentia o máximo quando Papyrus o aplaudia depois de demonstrar suas habilidades, a espontaneidade do seu irmão era difícil de ser ignorada.

— Este é meu mano! – Comemorou Papyrus antes de levantar Sans por trás, segurando sua cintura. O mais velho ergueu os braços, como um vitorioso.

— Saudações, meros mortais! – Sans narrou de maneira heróica e em seguida ambos riram, não era a primeira vez que faziam algo assim, porém sempre era divertido.

— Agora é a minha vez! Dê espaço para o Incrível Papyrus! Magnífico Papyrus...? Tenho que pensar nisso ainda.  – Avisou Papyrus que botou Sans no chão novamente, se pondo em modo de ataque. Posicionou-se com as pernas afastadas, as mãos estendidas como se estivessem segurando alguma coisa, começou fazer força tentando contrair todos seus ossos – se é que isso era possível.

— O ataque vem da alma Paps, não do seu corpo. – Sans explicou dando um risinho por conta da atitude do irmão. Papyrus sempre se esquecia daquilo, indo sempre por seus próprios instintos, mas esses enganos ocasionais não o faziam saber menos.

Fechando os olhos em busca de mais concentração, não demorou nem um minuto para que um pequeno osso surgisse entre as palmas de Papyrus, ele o jogou tentando mirar na última lata em pé que Sans havia deixado para ele, o osso acabou passando de raspão por ela.

— Você viu isso?! Viu Sans?! Eu quase consegui, quase! – Papyrus comemorou, os braços levantados como um vitorioso. Sans se aproximou, dando dois leves tapinhas no ombro de Papyrus.

— Se continuar desse jeito vai quebrar os meus recordes. – Comentou o mais velho se escorando nas costas do mais novo, a diferença de altura entre os dois agora estava mais evidente, Papyrus já era quase dez centímetros mais alto que Sans.

— Não precisamos quebrar recorde de ninguém, prefiro fazer novos juntos. – Papyrus retrucou com seu jeito inocente de sempre e Sans sorriu, dando um leve cascudo no crânio do irmão mais novo. – Que foi?

— Você é bonzinho demais. – Sans disse de braços cruzados, olhando divertido para o irmão.

— E tem problema com isso? – Papyrus perguntou desconfiado e Sans negou lentamente com a cabeça.

— Absolutamente nenhum. AH, que tal o Surpreendente Papyrus? – Sugeriu e Papyrus negou com a cabeça mostrando que aquele ainda não era o título perfeito. Sans em seguida se afastou do irmão fazendo sinal para que ele o seguisse. – Então vamos ver o que Gaster está fazendo, to curioso pra ver o que ele vai descobrir hoje.

— O pai disse para não atrapalhar ele! – Retrucou Papyrus relutando seguir Sans.

— Nós não vamos atrapalhar, nós vamos ver. – Argumentou e o mais novo refletiu por alguns segundos até que começou a andar lentamente, parecendo ainda estar um pouco contrariado.

— Se algo der errado, a culpa é sua. – Disse Papyrus cruzando os braços e Sans riu divertido, colocando as mãos no bolso sem se importar com nada.

Gaster estava na principal sala de testes. Todos os seus móveis haviam sido retirados, assim o lugar ficava com um extenso espaço livre para ser utilizado, suas paredes de metal eram úteis para qualquer tipo de acidentes, sendo eles explosivos ou não. Ao lado da porta para entrar no local, havia uma grande vidraça blindada que era utilizada para observar os testes. Em teoria como não havia mais funcionários e sendo Gaster o próprio teste, não deveria haver ninguém para assistir os eventos.

A não ser dois esqueletinhos curiosos.

Abaixados, com apenas parte da cabeça a vista na vidraça para poderem ver o que acontecia, os irmãos ficavam quietos e quase sem se mexer, não queriam ser notados por Gaster que havia frisado para permanecerem no quarto. O doutor havia parado de trancá-los quando queria trabalhar sozinho, e inocentemente acreditava que ambos ficavam no mesmo lugar aquele tempo todo.

Mas eles cresceram naquele ambiente, repleto de descobertas, teorias e hipóteses. Era difícil para eles tão acostumados com a ciência terem que ficar longe de uma experiência, sem poder presenciar seus resultados.

Seus orbes não se moviam, estavam muito concentrados no que viam. Gaster estava com espécies de eletrodos grudados em seu crânio, só que metálicos e retangulares sem necessidade de fios. Estava de pé, segurando um notebook com um braço enquanto com o outro digitava alguns comandos, com os eletrodos em sua cabeça nem dava para notar as duas rachaduras que possuía. Sim duas, havia ganhado um tempo atrás mais uma um pouco acima do olho direito, parecia aumentar cada vez mais com o passar do tempo, estando agora quase passando perto de seu olho, se não parasse talvez o rachasse ao meio.

Colocou o notebook no chão, pois não havia nenhuma mesa para ocupar o espaço. Analisou com o canto dos olhos uma última vez o programa na tela, com vários gráficos escritos em wingdings que poluíam o navegador, ilegíveis para os irmãos compreenderem.

— [Registro número 49.] — Iniciou o doutor que ligara o gravador e o segurava com a mão direita perto da boca. Era um gravador novo, pois o primeiro que usara há uns dois anos atrás havia se quebrado. Afinal era um de seus experimentos mais longos e estava quase chegando ao tempo que demorara pra criar o Core. – [Já é sabido que o composto em meu corpo aumenta o nível de magia que possa ser liberada por mim. Como visto em registros anteriores a habilidade de levitação e do que apelidei de ‘’checar’’ foram as habilidades novas que pude manifestar. Mas a magia não lida bem com corpos físicos, por conta disso meu corpo acaba se deteriorando lentamente, como visto na nova rachadura em meu crânio que aumenta lentamente cada vez que manifesto magia de níveis maiores que o comum em monstros.]

[Por conta disso criei um dispositivo que monitora a quantidade de magia liberada e o máximo de dano que ela pode causar em meu corpo, impedindo que eu avance a ponto de por minha vida em risco. Sendo assim farei um teste onde tentarei por o máximo de poder, se tiver sorte conseguirei algum contato com diferentes linhas do tempo.]

Gaster então desligou o gravador, o pôs no bolso e ficou estático, olhando para um ponto fixo extremamente concentrado. Em alguns segundos seus olhos ganharam sua iluminação típica de quando manifestava magia, o ponto azul e laranja em seus orbes fizeram os garotos se levantarem lentamente, curiosos pelo o que iria acontecer a seguir.

A alma do doutor ficou nítida, um coração invertido e brilhante por baixo de sua camisa cinzenta. Estava acumulando um nível muito alto de magia, os gráficos na tela do computador no chão estavam indo para cima e para baixo completamente desordenados. Chegara a um ponto onde o doutor não parecia saber como controlar tamanho poder, parecia mais hipnotizado por toda a magia que emanava ao seu redor, era tão forte que os irmãos fora do quarto podiam sentir toda aquela força.

Lentamente começou a levantar os braços, até ficarem no nível de seu peito, as palmas de suas mãos viradas para frente como se fosse bloquear alguma coisa. Seus olhos nunca estiveram tão iluminados, a magia era tanta que fizera a lâmpada do lugar entrar em curto circuito e queimar. O lugar se preencheu com luzes em azul e laranja, e o que aconteceu depois fora tão rápido que ninguém teve tempo de ver ao certo o que ocorrera.

Os garotos não sabiam se seus olhos não haviam enganado-os, ou se era realmente o crânio de uma horrenda criatura que surgira logo a frente do doutor. A cabeça abrira sua gigantesca mandíbula e inesperadamente soltara um forte golpe, uma explosão que voara a vários metros à frente, tão iluminada que quase cegara os garotos que assistiam, detonara a parede de metal formando um enorme e chamuscado buraco mostrando o outro cômodo ao lado, seus detritos ficaram espalhados pelo chão.

Gaster depois daquilo estava caído no chão com os braços estendidos, o impulso fora tão grande que havia sido jogado alguns metros para trás. Os irmãos assustados se apressaram até a porta da sala, se deparando com a mesma trancada, Sans rapidamente conjurara um ataque e destruíra a maçaneta, para assim poderem ir socorrer o doutor.

Felizmente ele estava acordado, fraco e ferido, mas acordado. Um tanto confuso com o que acabara de acontecer, fora auxiliado a ficar de pé com a ajuda dos seus pupilos, estavam desesperados para que se mantivesse acordado para não acontecer à mesma coisa que ocorreu quando injetara o composto pela primeira vez.

— [Disse para... Ficarem no quarto...] – Pronunciou com certa dificuldade e Sans o olhou com um sorriso nervoso.

— Ainda bem que não ficamos então. – Riu secamente, o doutor já permanecendo em pé por conta própria mesmo que cambaleante. Gaster colocou uma das mãos na cabeça, uma dor incessante martelava em seu crânio.

— Pai, suas mãos! – Papyrus alertara e antes que Gaster o repreendesse sobre o modo como ele havia o referido, percebera o que havia deixado o menor tão alarmado. Suas duas mãos estavam muito feridas, - não sentia dor por mais estranho que fosse - em cada palma havia sido formado um círculo completamente perfeito, uma leve fumaça ainda saía por entre seu vazio pelo ataque recém feito.

O doutor ficara estático, olhando para suas palmas como se estivesse apenas em uma ilusão. Os irmãos ficaram quietos, observando receosos qual fosse a reação de Gaster perante aquilo. Alguns segundos depois ele começara a movimentar as mãos, checando se havia alguma diferença na hora de movimentar, até suas mãos holográficas foram conjuradas para ver se haviam ficado da mesma forma.

Ao confirmar aquilo pegou o gravador em seu bolso, tendo um pouco de dificuldade por conta do novo formato de suas palmas, quando conseguiu o ligou, começando mais um registro:

— [Ainda nenhum contato com outras linhas do tempo, entretanto fui capaz de conjurar um novo ataque. Não pude medir de maneira exata o seu dano, mas acredito ser extremamente alto.] — Enquanto falava os irmãos o olhavam de maneira descrente, especialmente Sans que não conseguia disfarçar o olhar de indignação. – [Infelizmente o ataque para ser conjurado precisou de muita magia através do composto, assim foram inevitáveis certos danos físicos. Acredito que poderia ter ido mais longe, mas o dispositivo impediu por conta do risco que eu corria. Ademais, procurarei agora buscar mais informações sobre este novo ataque assim como outros elementos causados pelo composto.]

Gaster prosseguiu cambaleante, as mãos espectrais levavam o computador segurando com dificuldade por conta de seu novo formato. Os meninos iam logo atrás, mal acreditando que depois do que acabara de ocorrer o doutor não pararia de trabalhar.

— Ei Gaster, o que vai fazer? Você meio que rachou a cabeça fazendo este treco, não deveria estar sei lá, se recuperando?! – Sans tentava dizer enquanto acompanhava os passos cambaleantes do doutor. Papyrus lhe dera um leve empurrão por ter feito o trocadilho, mostrando que não era a hora apropriada para aquilo. – Ta, entendi Paps.

Não há como curar isso, vide o exemplo de meu crânio rachado. O composto é forte o bastante para deteriorar por completo um corpo, sem a possibilidade de regeneração. — Gaster gesticulou vacilante, tentando se acostumar com o novo estado de suas mãos. Os irmãos o fitavam com desconfiança, e apesar de não estar a fim de dar satisfação a duas crianças, ele prosseguiu para não ser mais incomodado por eles. – Um breve cansaço não ficará entre eu e o dever. Antes de tomar qualquer providência sobre os danos causados, preciso documentar e analisar se este ataque formou algum tipo de singularidade no espaço-tempo.

Os irmãos se entreolharam com uma expressão de derrota, era sempre assim. Gaster cuidava mais do seu trabalho do que de sua própria saúde, era frequente às vezes em que ele ficava dias sem dormir e por vezes realizava apenas uma refeição ao dia, quando ficava enfermo não havia ninguém capaz de fazê-lo permanecer em repouso, ele iria para sua mesa de trabalho nem que fosse se arrastando.

Acompanharam o cientista até uma sala próxima da de testes, onde residia o já completo WD.P6-003 - ou Radar Espaço-Temporal – que atualmente possuía um tamanho mais compacto que sua primeira versão, não sendo muito maior que um computador casual. O doutor ligou a máquina apenas passando a palma das mãos sobre a tela que logo se acendeu, em seguida a iluminação fora preenchida com uma escuridão profunda, tendo um pequeno contraste com finíssimas linhas multicoloridas aqui e ali.

Cada uma delas era o sinal de alguma linha do tempo. Daquela forma pareciam apenas milhares de linhas horizontais, finas que preenchiam toda aquela escuridão sem encostar uma nas outras. Mas quando a imagem era ampliada, cada uma delas ganhava um trajeto diferente, como se fossem as ramificações de uma árvore, cada universo daqueles formava seu próprio desenho com seu próprio leque de possibilidades e realidades, toda uma história do que foi ou que poderia ter sido contada daquela forma tão minimalista.

E fora exatamente isso que o doutor fez, girando um pequeno botão do lado direito superior da máquina, a imagem começava a ser ampliada e a escuridão começava a desaparecer por conta do foco nas linhas do tempo. Uma delas em questão estava bem destacada, todas as suas ramificações podiam ser vistas de maneira detalhada, regulando outro botão alguns pontos em vermelho começavam a aparecer em diversos lugares da linha, como se quisessem apontar alguma coisa.

Gaster dera atenção para um ponto em específico, pulsando de maneira fraca a cada quinze segundos. Os meninos não entenderam ao certo o que aquilo significava, nem mesmo Sans que geralmente se interessava mais por essas coisas.

— Por que ela está tremendo assim? Há algo de errado com nossa linha do tempo? – Sans perguntou com uma expressão séria, Papyrus ao ouvir aquilo não demorou meio segundo para realizar suas perguntas eufóricas:

— O que isso significa?! O mundo vai acabar?! Vamos parar no vazio e explodir?!

— [Não acontecerá nada, pois isto está no passado.] – Gaster respondeu pondo uma das mãos na cabeça e fechando os olhos, começando a ficar impaciente com a presença dos dois. Os garotos ficaram quietos, olhando para Gaster com atenção ao ouvirem aquilo. – [O ataque feito há alguns minutos atrás causou um forte atrito no tempo, mas nem perto da força que seria necessária para realmente causar uma alteração significante. Estamos longe de encontrar uma forma de interferir no tempo, porém este caminho parece estar começando a se abrir.]

Gaster sorriu, satisfeito e orgulhoso por aquele ‘’pequeno’’ feito. Mas não durou muitos segundos, os irmãos mal haviam notado, pois logo voltara a sua expressão séria de sempre.

— Como vai se chamar o treco? – Papyrus perguntou ansioso com seus olhos brilhando tamanha a sua animação. – Sabe o ataque que explodiu a parede da sala de testes, como você vai chamar ele?

— Provavelmente WD-jasusinimpurwl... – Sans respondeu no lugar fazendo sons engraçados com a boca, Papyrus riu apesar de não ser a resposta que procurava. Enquanto Gaster rolava os olhos tão para cima que suas íris quase foram para trás de seu crânio.

— [Nomeio meus experimentos e projetos de maneira que fiquem bem organizados. Será dessa forma queiram vocês ou não.]

— Ah... Mas esse merece um nome legal. O ataque explodiu suas mãos! – Papyrus falou animado, poucos segundos depois se deu conta que aquilo não fora uma boa ideia dado o olhar que o doutor havia lhe lançado. – A porta da sala de testes também...?

— Nem precisa ser um nome, um segundo nome! Um apelido? – Sans sugeria falando quase ao mesmo tempo em que o mais novo.

Gaster suspirou, olhando para os garotos sorridentes ao seu lado. Por mais que odiasse admitir, era frequentemente persuadido por eles.

— Se chamará Blaster, por causa do dano que é capaz de causar. – Anunciou por fim, vencido pelos irmãos. Os meninos sorriram com os olhos brilhando de alegria por aquele simples gesto: o de nomear algo novo.

— Ei, espera! Nãos seria melhor se fosse uma Gaster Blaster? – Sans sugeriu com um tom divertido, orgulhoso pelo trocadilho feito.

— Sans! – Papyrus disse irritado automaticamente, mas logo substituiu o olhar de raiva por um pensativo, ponderando. – Espera, até que essa foi boa.

— Você gosta das minhas piadas!

— Não foi o que eu disse!

E de uma hora para outra, sem aviso prévio o laboratório do cientista real se transformara por conta das vozes infantis que discutiam por assuntos bobos. Enquanto para o doutor, só restava ignorar.

                                                                            ***

Os cálculos davam certos, os dados mostravam todas as variáveis positivas e negativas. O plano estava formado, a teoria estava perfeita e sem furos a serem preenchidos, deveria estar tudo funcionando, deveria estar avançando, deveria estar explorado as possibilidades, deveria, deveria,...

Mas a prática não funcionava assim.

Gaster tinha tudo para conseguir entrar em contato com as linhas do tempo, mas não dava certo. Não seria com uma máquina do tempo ou algo assim que esta porta se abriria, apenas com magia. Mas não a magia comum utilizada pelos monstros, e sim o composto feito com a habilidade mágica capaz de o teleportar somada à misteriosa essência da alma humana.

Ou era isso, ou só conseguiria através do outro método pensado. Mas havia prometido a si mesmo que ele estava fora de questão.

Ele tinha feito de tudo para evitá-lo, havia testado o elemento nele mesmo. Sabia exatamente o que deveria fazer e como faria para mergulhar entre o espaço e o tempo, mas se o fizesse... Morreria, um resultado igual ao da alternativa que não arriscava tentar. Ele não faria o outro método, não poderia fazer, sabem-se lá as consequencias que viriam com o mesmo.

Os corpos dos monstros não eram tão físicos quanto os dos humanos, por isso eram capazes de usar mágica. Mas por conta disso não suportavam a essência das almas humanas como havia observado. Seu corpo se deteriorava cada vez que utilizava a mágica derivada do composto, a rachadura acima de sua cabeça aumentava a ponto de já beirar perto de seu olho. O último teste - nomeado de Gaster Blaster pelos garotos - havia mutilado suas mãos, sendo assim caso tentasse algo, além disso, provavelmente sucumbiria.

E Gaster sabia onde havia errado. Não deveria ter usado o elemento direto em seu corpo, fazendo-o circular por sua medula. Deveria ter criado uma máquina capaz de fundir o elemento direto na alma, fazendo-o ser parte de sua própria essência. Até já havia criado, modificando a mesma máquina que extraíra a essência humana do resto de alma, mas mesmo que fizesse em si mesmo não adiantaria em nada. A magia já impregnada em seu corpo anularia a nova recebida, não sendo possível causar o efeito desejável.

Era necessário um novo corpo. Infelizmente não havia mais ninguém além dele a trabalhar na área da ciência. Cobaias por voluntários não era uma boa ideia, o método científico prezava um experimento devidamente controlado ao invés de um elemento qualquer com histórico inacessível, não haveria como excluir variáveis e medir doses. Mas mesmo assim ele havia arriscado requisitar a Asgore por voluntários, mas ninguém apareceu já que a ciência não era algo que chamasse muita atenção pelo subsolo, estavam todos confiantes demais com o primeiro plano para voltarem à superfície. Além de ser um teste de proporções assustadoras onde ninguém possuía coragem o suficiente para fazer parte.

Por conta disso, o projeto estava completamente estagnado. Não haveria nenhuma outra ideia na mente do cientista real que não fosse a alternativa de riscos.

— Não botei açúcar por que sei que você não gosta, mas Paps me fez trazer um pouco mesmo assim para caso mudasse de ideia. – Seus pensamentos foram cortados pelas palavras de Sans e a xícara de café posta logo a sua frente. Agradeceu com um gesto rapidamente, encarando o vapor que saía da xícara antes de fitar o garoto com o canto dos olhos.

Para um garoto de quase treze anos Sans era muito mais baixo que a média, entretanto não era nem um pouco fraco. Era tão forte como o doutor vira com a sua nova habilidade de ver através da alma de outras criaturas, tendo evoluído seus ataques com tamanha habilidade e maestria desde que começara a ter magia para aquilo.

Gaster tinha a sua rotina decorada, sabia de toda sua saúde, todo seu histórico, sabia a medida de cada osso de seu corpo. Tinha total poder sobre ele acima de tudo.

Não. Pensou assim que se deu conta para onde seus pensamentos o estavam levando. Os criei pela e para ciência, mas não a este ponto! Isso é pior que o Plano B!

— A bateria do DS quebrou, posso pegar uma das que você guarda na gaveta para substituir? – Sans perguntou receoso com a resposta, afinal era raro ás vezes em que pedia algo ao doutor. Gaster apenas assentiu, mal havia ouvido a pergunta. O garoto sorriu com a afirmação, não demorando a abrir a última gaveta de um dos armários, pegando a bateria que acreditava caber no videogame. – Obrigado Gaster!

Sans saiu correndo de volta ao quarto para juntar-se ao irmão. Enquanto Gaster continuava sentado diante de seus papéis repletos de cálculos, aquela com certeza seria mais uma noite sem dormir, onde seus próprios pensamentos o assombrariam pelo resto da noite.

                                                                      *** 

Papyrus sempre teve dificuldade para dormir.

Sempre precisou das histórias de dormir que Sans lhe contava, no começo era por serem tão chatas que acabava por dormir de tédio. Mas desde que descobrira aquele livro na biblioteca real, havia escrito toda a sua história e até tentou imitar os desenhos, para que assim tivesse a história para sempre mesmo quando tivesse que devolver o original. Pois por algum motivo ela o acalmava, era tranquila e alegre como um bom sonho, e seu irmão sempre a contando era apenas um acréscimo a mais.

Só que além de não conseguir dormir, seu sono era leve. Qualquer barulho o fazia acordar, e foi o que havia acontecido àquela noite em específico. O baixo ranger da porta do quarto de ambos o fez despertar, sentando-se na cama para ver o que havia acontecido.

Gaster havia aberto a porta e entrava no quarto devagar, andando da maneira mais silenciosa possível para que não os acordasse. Mas havia falhado, Papyrus acordava com qualquer ruído, já Sans poderia aparecer uma manada de elefantes e continuaria dormindo tranquilamente.

— Pai...? – Indagou, uma expressão confusa estampava o seu rosto. O doutor se sobressaltou ao ver que não passara despercebido, nem tendo tempo de perceber a forma como o mais novo havia se dirigido a ele, não o repreendendo por isso.

— Volte a dormir Papyrus. – Gaster mandou, havia algo em seu olhar que Papyrus não sabia dizer o que era. Um vazio profundo, pesado e desolador.

O menino obedeceu mesmo que um tanto hesitante, se pondo de volta as cobertas lentamente, sem desviar o olhar do cientista que se aproximava do beliche debaixo.

Notou que Gaster tentava acordar Sans que acabou acordando do mesmo jeito de sempre, aos resmungos e reclamações. Pareceu ficar tão surpreso quanto Papyrus ao ver o cientista ali, levantando-se rapidamente assim que se dera conta do que estava acontecendo.

Gaster falou em wingdings com Sans, e apesar de agora compreender melhor a fala do doutor, Papyrus ainda tinha dificuldade em certas palavras, ainda mais quando ele sussurrava como naquele momento. Por isso infelizmente não compreendeu o que foi dito, mas fez com que Sans saísse do quarto junto com ele, ainda um tanto confuso sobre o que estava para acontecer.

Em seguida a porta se fechou, Papyrus ouviu a chave sendo virada e se viu trancado sozinho no quarto. Fazia tempo que Gaster não fazia isso, mas este não era o problema e sim que era a primeira vez que fizera sem os dois irmãos estarem no quarto. O doutor havia levado Sans embora, e apenas ele ficara naquele quarto escuro e úmido.

Não conseguiria dormir mais de qualquer jeito, os pensamentos sobre o paradeiro do irmão o assombrariam a noite toda. Por conta disso se levantou da cama, acendeu a luz do quarto e testou a maçaneta só para ter certeza se estava realmente trancada, infelizmente estava. Papyrus se sentou no chão, com as costas encostadas na porta, apenas aguardando a volta do irmão.

Vários pensamentos se passavam em sua mente, em grande parte o porquê de Gaster ter aparecido no quarto de ambos repentinamente. Desde que havia começado este novo projeto estava começando a se comportar de maneira estranha – mais do que o normal – e os garotos não deixaram de notar aquilo, o doutor parecia cada vez mais distante. Desde que Papyrus se conhecia por gente havia uma enorme distância entre ele os irmãos, entretanto jamais chegara aquele ponto. Ele e Sans cuidavam mais um do outro, pois o doutor por vezes parecia os ter esquecido.

Algo estava perturbando Gaster. Preocupavam-se com o doutor e o que ele estava fazendo a si mesmo, mas eles tinham medo de falar alguma coisa contra ao novo experimento, pois sabiam que o cientista se recusaria a mudar de planos. Tudo o que restava a ser feito era esperar tudo aquilo acabar, quem sabe para um futuro melhor.

Papyrus!

O chamado desesperado de Sans, abafado por tantos cômodos os separando, despertou Papyrus de seus pensamentos. O mais novo se levantou assustado, dando receosos passos para trás encarando a porta. O que estava acontecendo com seu irmão? Por que pedia ajuda?

— Sans? – Gritou a espera de alguma resposta. – Sans? Pai? O que está acontecendo?!

Mas não houve resposta. Tentou socar a porta enquanto os chamava, mas de nada adiantava, ninguém o respondia. Parou em certo momento, confuso, teria imaginado o pedido de ajuda do irmão? O medo começou a assolar sua alma, abraçando a si próprio com os ombros encolhidos, por vários minutos permanecera quieto e em silêncio, tentando se acalmar e imaginar que não era nada.

Foi então que um grito irrompera.

Retumbando sua mente e ultrapassando toda a distância entre os dois, o grito de agonia e dor de Sans era muito claro na mente de Papyrus. Seu irmão estava sofrendo, ele precisava de ajuda! Sans havia o chamado, estava implorando para que o tirasse de lá! Mas como?!

— Sans! Sans o que está acontecendo?! – Gritava em desespero, seus punhos doendo de tanto bater na porta, foi então que se dera conta de algo, do ponto chave daquela situação. Parou por alguns instantes, as lágrimas se acumulando no canto de seus olhos. – Gaster! O que está fazendo com o meu irmão?! Deixe-o em paz!

De novo não havia resposta, o medo e o desespero tomavam conta de seu corpo. Seus ossos tremiam e sua visão embaçava por conta das lágrimas. Em uma última tentativa tentara conjurar um ataque, fruto de toda a agonia em sua alma, mas o osso fora tão pequeno que quando batera na maçaneta se quebrou no meio. Papyrus soluçava, estava sozinho e incapaz de ajudar o irmão, nunca se sentira tão assustado e inútil em toda a sua vida.

— Me deixa sair! – Cada palavra era mais um soco dado na porta, suas mãos já estavam manchadas de tanto bater. – Me deixe sair daqui! Eu quero ver Sans! Por favor... Me deixa sair...

E sua voz ficava cada vez mais fraca, de tanto gritar por horas e horas, sem uma única resposta. Quebrara dois de seus dedos, mas a maior dor era aquela dentro de sua alma, uma dor fruto do terror passado. Naquela noite Papyrus dormira de exaustão, de tanto gritar, de tanto bater, de tanto implorar.


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Notas finais do capítulo

Que comecem os feels! (●´ω`●)
Nos vemos - talvez - semana que vem! Há muitas surpresas por vir
Comentários são sempre bem vindos ^-^



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