Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 6
Antes da Queda - Capítulo Cinco


Notas iniciais do capítulo

Pensei que não ia conseguir postar hoje, ainda bem que deu certo!
Boa leitura!



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— Essas linhas do tempo são tipo os finais diferentes de Star Fox entende? Tipo são as mesmas pessoas, os mesmo lugares, mas com várias versões! Ou elas podem ser apenas o nosso universo em uma época diferente. Então com essas linhas de tempos podemos ir para um lugar onde não estamos no subsolo ou não deixar que a guerra aconteça! Mexer no tempo sabe? – Sans tentava explicar o que aprendera do projeto para Papyrus, que parecia mais interessado em colocar latinhas uma do lado da outra.

— Isso parece legal! – Disse soltando um sorriso, mas logo voltando para seu objetivo. – Mas como a gente faz pra ir até elas?

— Isso eu não entendi muito bem, mas pelo que vi é necessária uma alma muito forte pra conseguir fazer isso. Por isso estamos cuidando daquele pedaço de alma humana, pra depois Gaster misturar com magia de teleporte e conseguir a habilidade pra viajar entre as linhas do tempo. Acho que é isso?

— Wowie, então eu acho que tenho que por mais um cobertor pra aquecer a alma! – Papyrus comentou pensativo. Apesar de Gaster frisar que aquilo não era um animal de estimação, Papyrus o tratava como se o fosse e por vezes até Sans entrava na brincadeira. – Mas agora temos que focar nisso daqui, Sans ao ataque!

— Ta bem, mas se esconda! – Sans avisou levantando-se do chão, imediatamente Papyrus correu em direção a uma mesa de metal virada a usando como se fosse um escudo, espiando com a cabeça fora do perímetro. – Eu disse pra se esconder...

— Chato. – Papyrus emburrado escondeu o rosto por fim, mas foi só Sans virar para outra direção que voltara a espiar por cima da mesa.

Sans encarou as duas mãos, em seguida fechou os olhos, concentrando-se ao máximo para conjurar o ataque. Não podia tentar alguma espécie de força física, afinal a magia vinha direto da alma, uma essência que apenas os monstros podiam realizar. Sentia algo dentro de si ascender, uma força surpreendente que parecia anular todos os seus sentidos, era um tanto incomodo já que tinha a sensação de estar sendo queimado e uma fraqueza o assolava de repente, como se sua alma fosse se separar de seu corpo. Até que de repente toda a sensação se esvaia, ficando apenas uma espécie de vazio no peito e um cansaço extremo, abriu os olhos e vira um pequenino osso formado em suas mãos, do tamanho de seu polegar. Ele flutuava a poucos centímetros de sua palma, mas não permaneceria assim por muito tempo, por isso Sans o atirou tentando mirar em umas das latas.

O osso passou voando entre elas, batendo na parede e quicando três vezes no chão e se quebrando ao meio. Sans encarou descrente para seu ataque, não bastava ser algo minúsculo tinha que ainda por cima errar o alvo! Bufou irritado enquanto Papyrus saía de trás da mesa e se aproximava do osso partido.

— Eu te disse que não era perigoso! – Papyrus comentou pondo as mãos na cintura, Sans cruzou os braços e desviou o olhar irritado, o mais novo ao perceber que não fora uma boa dizer aquilo naquela situação imediatamente se corrigiu. – Mas você foi muito bem, acho que você tem potencial Sans!

— Valeu. – Disse Sans em um muxoxo, não muito convencido. Assim Papyrus se aproximou do irmão, dando dois tapinhas leves em seu ombro.

— Quando você menos esperar vai atirar ossos para todos os lados!

— Como em um ossocalipse? – Sans ao fazer a piada pareceu se animar instantaneamente, ao contrário do irmão que fechara completamente a cara.

— Suas piadas estão piorando... – Papyrus colocou a mão no rosto, cobrindo os olhos de decepção, Sans ria com a reação do outro já não dando mais tanta atenção para seu ataque fracassado. Quando se recuperou da péssima piada, Papyrus pareceu se lembrar de algo, olhando alarmado para o irmão. – Nós não tínhamos que cuidar da alma agora?

— Essa não! – Sans olhara para o relógio na parede, atrasados para dar a solução ao resto de alma humana. Gaster levava os horários muito a sério, ainda mais quando envolviam seus projetos. Os irmãos não disseram uma única palavra, apenas correram para fora do quarto em direção a sala de testes onde o contêiner ficava a maior parte do tempo.

Viram o doutor de relance trabalhando em uma máquina que estava montando havia semanas, torcendo para que ele nem notasse a presença de ambos. Quando chegaram ao balcão onde o recipiente da alma estava nenhum dos dois era mais duas crianças brincando com seus poderes recém descobertos, eram assistentes profissionais que não davam espaços para erros.

Papyrus pegou em uma gaveta as seringas e a solução lacrada em um vidro, higienizando e preparando de maneira adequada para o uso. Sans mexia na base do recipiente, vendo seus dados e o estado da alma, em seguida pegou a seringa estendida por Papyrus, colocando a agulha na abertura feita para o procedimento, enquanto colocava o líquido lentamente o mais novo encarava a tela na base do contêiner atento para qualquer mudança. Quando terminaram, eles colocaram os materiais em uma maleta metálica, botando em seu devido lugar na gaveta. Olharam uma última vez para o recipiente, para ter certeza se estava tudo bem, antes de se afastarem e irem até Gaster que assim que os vira fizera um sinal para se aproximarem.

Para o alívio de ambos Gaster não notara, ou não dera atenção, ao atraso dos dois. Apenas pedindo para ficarem e o ajudarem com aquela máquina. Não era bem um computador, era apenas uma tela inteira em cima de um maquinário rodeado por fios, cabos, fontes e invólucros para magia. Era naquele complexo bolo de eletrônicos onde Gaster trabalhava, unindo, modificando, consertando e montando o engenho em desenvolvimento daquela máquina. Ao seu redor estavam diversos estojos com ferramentas e instrumentos, planilhas azuladas com croquis desenhados espalhadas pelo chão, junto com três computadores portáteis diferentes conectados á máquina que mostravam diversos dados e esquemas.

Os irmãos estavam realmente sendo os assistentes do doutor, lhe alcançavam as ferramentas, lhe ditavam os dados e passavam as informações escritas nas planilhas. Por vezes Gaster testava a máquina enquanto ela estava ligada, fazendo com que os irmãos tivessem que observar sua tela que oscilava com imagens de diversas cores, á procura de algum sinal diferente.  

— [Agora.] – Disse Gaster quando algumas faíscas elétricas serpentearam por baixo do equipamento, as luvas que usava para trabalhar estavam negras de tanto serem torradas com os choques. Atendendo ao pedido Sans ligou a máquina mais uma vez, a tela faiscando, ganhando e também perdendo sinal, um show de luzes começou a piscar em uma velocidade absurda, fazendo Sans ficar tonto e com a cabeça dolorida. Até que de repente a tela ficou completamente branca, o brilho forte no meio da escuridão do cômodo chamava muito a atenção, fazendo com que até Papyrus que estava um pouco mais afastado se virasse para ver o que houve.

— Ta diferente. – Anunciou Sans e imediatamente Gaster se levantou, por pouco não batendo o crânio na quina da máquina. Empurrou o menor para o lado, encarando a tela como se aquilo fosse sua própria vida, suas íris ganhando suas cores de ataque sem querer por conta da ansiedade. No bolso do jaleco retirou um gravador antigo, a espera de algo para documentar.

Os irmãos não viram no começo o que aquela tela vazia tinha a oferecer. Até que de repente em um ponto uma escuridão começava a preencher a brancura lentamente, e Gaster sendo o primeiro a notar aquilo prontamente ligou o gravador com um olhar tão animado que os garotos jamais viram.

— [Registro número dezessete] — Doutor Gaster iniciara. O negro já tomando quase a metade da tela, mas os meninos olhavam mais para a expressão de êxtase do doutor do que para o próprio experimento. – [Escuro mais escuro ainda mais escuro. A escuridão continua crescendo as sombras cortam profundamente.]

Gaster olhara repentinamente para um dos computadores no chão, analisando seus dados antes de voltar para a máquina, a tela já estava completamente tomada pela escuridão.

— [Leituras de fótons negativas.]— Concluiu, um sorriso em seu rosto se formara coisa que não fazia já há muito tempo. . – [Este próximo experimento parece muito, muito interessante...]

Então ele olhara para cada um dos irmãos, de uma maneira que surpreendeu a ambos.

— [O que vocês dois acham?]

Foi então a vez dos irmãos olharem um para o outro, surpresos. Papyrus exibia um sorriso no rosto que só não aumentava mais por que seus ossos não permitiam, afinal Gaster estava pedindo um opinião para eles! Sans apenas ficara estático, encarando a máquina e os dados mostrados nos computadores, tentando compreender bem o que estava acontecendo.

— Essa coisa que o negócio ali mostrou... – Papyrus explicou sem muita concordância, apontando para a máquina em desenvolvimento. – É tipo o menu de Star Fox né?! Só que tipo, do tempo e espaço.

— É o Vazio. – Sans pronunciou, com a palavra apropriada que havia lido em um dos registros antigos do doutor. – Um lugar onde o tempo não existe, mas que é aonde abriga todas as linhas do tempo. Isso que você está construindo, é para ver como elas se comportam e funcionam?

Correto. — Respondeu Gaster colocando em seguida cada mão em um dos ombros dos dois, sem tirar os olhos de sua mais recente criação. Sentia orgulho dos irmãos, mas este sentimento nem se comparava ao da realização daquele grande passo! Podia ser a parte mais simples do projeto, entretanto caso não tivesse ido como os conformes tudo ficaria estagnado. Mas agora as pesquisas iriam continuar, os primeiros testes poderiam ser feitos, e assim a teoria se tornaria cada vez mais forte.

Além do mais, aquela era a maior prova que Gaster não precisava de nenhuma equipe. Mais do que todo o resto era isso que lhe trazia mais orgulho.

— Como vai ser o nome do treco?! – Papyrus interrompeu os pensamentos do doutor que revirou os olhos, já podia prever no que aquilo iria dar.

— Eu acho que deveria ser...

— Sem trocadilhos Sans!

WD.P6-003. – Gaster cortou a discussão desnecessária sem antes de a mesma começar, afastando as mãos dos garotos que perceberam de imediato que o momento de aproximação entre os três acabara tão repentinamente quanto começara. – Peço mais profissionalismo da parte de ambos. Ademais o trabalho ainda não está concluído. A máquina funciona, mas ainda é necessário fazer seus ajustes e completá-la.

Os garotos assentiram completamente sérios. Deixando o breve momento de descontração para voltarem ao trabalho, peças e mais peças com dados e engenhocas. Todas elas iniciadas pelas iniciais WD.

                                                                      ***

O cheiro de produtos químicos e desinfetantes inundava aquela sala, iluminada demais comparada ao resto do laboratório faziam os olhos arderem. Sendo uma das principais salas de testes, onde mais parecia ser uma sala de cirurgia. Como não fora usada já fazia muito tempo, o pó voava aqui e ali cobrindo vários equipamentos e móveis, fazendo com que os ossos dos meninos coçassem por não estarem acostumados.

Assim que a máquina para estudar e medir o comportamento das linhas to tempo fora completada, um novo passo pode ser dado. E com Gaster as coisas eram muito mais rápidas do que se pensava, ele simplesmente não conseguia ficar parado, ao terminar um projeto não demorava muito para começar a planejar outro. Sans lembrava-se ligeiramente de vovô Semi dizendo de brincadeira que Gaster só permanecera com ele pra nunca poder ficar parado.

Talvez ele criou Papyrus por que ele não fora agitação o suficiente, pensou.

— A esse ponto eu acho que a gente merece jalecos legais de cientista. – Papyrus sussurrou espiando por cima da mesa metálica onde Gaster preparava os materiais. O cientista olhou o menor de relance, o ignorando como fazia de costume e voltando a se concentrar em seu primeiro teste.

Os meninos estavam - ou deveriam estar – sentados em duas cadeiras que compartilhavam uma única escrivaninha mais afastada de onde trabalhava, apenas observando como funcionava o método científico, enquanto ele preparava os materiais. Na mesa havia duas seringas, uma delas mais grossa e de puro metal que serviria para abrir um pequeno buraco em seu osso, para em seguida poder receber a outra seringa de formato mais convencional com uma longa agulha que iria até a sua medula.

Querendo ele ou não, era o único candidato para testes. Mas Gaster jamais negaria algo á ciência, pois quais fossem as consequências todas elas seriam apenas para o avanço.

— [Sans acorde.] – Falou alto o bastante para o garoto abrir um dos olhos, afastando a cabeça de seus braços que até então serviam como travesseiro na mesa, murmurando desgostoso por seu sono interrompido. – [E vá para seu lugar Papyrus.]

O mais novo soltou um ‘’ah’’ de decepção enquanto rumava com a coluna curvada até o seu devido lugar. Assim que se sentou levou um cutuque de Sans em seu ombro, devolvendo mais um na testa do irmão em seguida, até que uma briga silenciosa de cutucões começasse entre os dois.

— [Quietos.] – Gaster disse de maneira ríspida, seus orbes se tornando completamente negros, fazendo os dois irmãos imediatamente pararem com a brincadeira, ambos se encolhendo e olhando para o chão. Sabiam da falta de paciência do tutor e que caso o irritassem novamente teriam que lidar com as consequências, por isso eles permaneceram o resto do tempo estáticos para prestar atenção nas palavras do doutor, que preferiu gesticular daquele momento em diante para ser mais bem compreendido.

Começara com a notícia que não era mais necessário cuidar do resto de alma humana, afinal ela havia sido completamente corrompida para poder extrair o elemento daquela experiência. A força das almas humanas mesclada com a magia de locomoção instantânea criada por Gaster fora desenvolvida dentro dela, fazendo com que ela se fortalecesse e logo se autodestruísse quando retirado o elemento.

O plano era fortalecer uma alma com aquele composto desenvolvido, facilitando o contato com outras linhas do tempo. Aquele era o caminho mais difícil para conseguir este resultado, porém era o mais seguro e com mais chances de dar certo. O doutor tinha em mente não tentar o outro plano, havia riscos demais a serem considerados por mais invasivo que este primeiro método fosse.

E Gaster testaria o composto nele mesmo, já que aquilo era muito mais seguro do que uma enorme chance de cair num limbo espaço temporal.

É muito provável que meu corpo não reagirá a favor do composto, por isso friso em alertá-los. Provavelmente vou-me sentir enfermo e até mesmo posso permanecer desacordado. Mas não haverá motivos para alarde, esse quadro durará no máximo dois dias. — Gaster disse por fim antes de pegar a primeira seringa, a mais robusta. Pousou o braço esquerdo em cima da mesa metálica, prendendo-o com cintos para não movimentá-lo sem querer durante o procedimento. Tentava disfarçar o medo em seu olhar, mas em uma situação como aquela era quase impossível não hesitar um pouco, tremendo levemente a mão que segurava a seringa erguida.

Os irmãos olhavam aquilo com interesse e curiosidade, de uma maneira infantil que fora posta em choque no momento em que Gaster inserira a agulha, pulsando o metal contra o osso até se quebrar em um pequeno buraco perfeitamente simétrico, os irmãos se contorceram cada um á sua maneira só de imaginar algo assim com eles. O doutor emitira um grito abafado, fechando as mãos em formato de punho até retirar o metal de dentro do osso rádio.

Ao se livrar dela logo deu a atenção a segunda, já preenchida com o elemento diluído em vários ml de soro. Era uma concentração extremamente diluída, mas seus efeitos eram difíceis de serem previstos.  Aquela altura Papyrus já havia tapado os olhos, com as mangas de seu suéter listrado já que poderia ter o risco de ver alguma coisa por entre os ossos das mãos, enquanto Sans permanecia de olhos bem abertos, abismado com tudo aquilo.

A segunda seringa era menos violenta, apesar de causar bastante dor quando perfurava o tutano era mais suportável que a outra. Quando terminou Gaster a jogou sem muita delicadeza, fazendo-a tilintar na bandeja em cima da mesa. Pegou uma bandagem que estava por perto, com as mãos tremendo e o rosto aflito enquanto a enrolava no osso perfurado.

Os irmãos saíram de seus lugares se aproximando do doutor preocupados.

— Você ta bem? Ta doendo muito? Quer que a gente traga alguma coisa? Ta sentindo algum super poder? – Papyrus perguntava incessantemente, mas Gaster apenas fez sinal para que buscassem alguma cadeira enquanto se esforçava para permanecer escorado na mesa. Sans rapidamente chegou arrastando a cadeira que fazia um barulho azucrinante no chão, o doutor quase se jogou nela, pondo a mão na cabeça tentando permanecer acordado.

— [Isso já estava previsto para acontecer...] – Sua voz estática estava baixa demais, entretanto Sans que estava mais acostumado com sua língua compreendera sua fala. Assim os irmãos apenas ficaram a espera da melhora do doutor, Sans guardava todos os materiais utilizados descartando-os ou os esterilizando para uso futuro, enquanto Papyrus apenas ficava ao lado do doutor dando leves tapinhas em suas costas e dizendo ‘’Pronto, pronto... Já passou!’’.

Com o passar dos minutos Gaster começara a se sentir mais forte novamente, logo conseguindo se sentar ereto e em seguida podendo se levantar. De pé de seu jeito firme, mal parecera que quase desmaiara.  Foi só aquele sinal ser dado que os meninos começaram com perguntas que estavam entaladas em suas mentes, todas relacionadas sobre o que aconteceria a seguir.

O doutor pareceu que ia dizer alguma coisa, se seria uma resposta de verdade ou uma cortada impaciente não havia como saber, pois inesperadamente uma imensa dor irrompera por todo o seu esqueleto, em especial o crânio que segurou com as duas mãos, encolhido e completamente zonzo. Com o grito que dera os meninos se assustaram, chamando pelo seu nome e perguntando o que deveriam fazer, mas o doutor desabara no chão completamente desacordado.

— O que fazemos o que fazemos?! – Papyrus perguntava para ninguém em específico, assustado com a situação, com as mãos na cabeça batia os pés no chão de nervosismo enquanto o irmão se abaixava para ver o estado do doutor.

— E-ele disse que era normal, que ele podia ficar assim e não devemos nos p-preocupar... – Sans dizia não sabendo se era para Papyrus ou para si mesmo. Não bastava o quadro súbito de inconsciência do doutor, Sans notara que seu crânio havia rachado, e não era pela queda, pois ele havia caído para outro lado. A rachadura era grande, sendo possível ver o interior da mandíbula, ficava no canto inferior esquerdo indo do queixo até o canto da boca no formato de uma linha torta.

— Mas ele estava bem, estávamos indo pra casa no andar de cima! – Papyrus rebateu, gritando assustado. Sans tão apavorado quanto o outro e vendo a responsabilidade sendo jogada em seus ombros novamente, botou uma das mãos na cabeça quase tentando afundá-la para dentro de seu crânio tamanho desespero, tentando respirar fundo para se acalmar.

— Imprevisto podem acontecer... É bem comum. – Sans disse se lembrando das várias vezes em que o doutor explicara seus métodos. – Mas ele vai voltar, em uns dois dias ele volta. Gaster foi quem disse isso então temos que confiar.

Papyrus apenas assentiu e Sans olhou de relance para o tutor caído no chão pensando no que fazer. Decidiram que iriam por Gaster em uma posição melhor para quando ele acordasse. Como não conseguiriam levar ele até o andar de cima onde ficava seu quarto decidiram apenas o colocar na cadeira, com os braços e a cabeça escorada na mesa. Uma tarefa que demorou vários minutos, pois ainda deveriam levantá-lo de algum jeito, ás vezes o deixando cair de cara no chão, outras vezes fazendo o corpo de Gaster cair em cima deles. Mas quando a tarefa fora cumprida sentiram-se tremendamente orgulhosos de si mesmo, enquanto o doutor parecia apenas estar cochilando durante o trabalho como frequentemente o fazia quando ficava muitas noites sem dormir.

Os dois só subiram para o andar de cima para pegarem comida, o videogame e seu carregador, revistinhas, papéis, canetas, cobertas e travesseiros. Ambos correndo e desafiando um ao outro quem pegava tudo mais rápido (Papyrus óbvio), até voltarem para a sala onde estava o tutor de ambos. Preparando o próprio cantinho para passarem a noite enquanto vigiavam o mais velho, afinal eles não tinham coragem de ficarem sozinho lá em cima e muito menos de deixarem o próprio doutor sozinho.

Seriam uma ou no máximo duas noites, não havia com o que se preocupar.

Naquela pequena aventura ambos descobriram que o espaguete estranho de Gaster realmente ficava melhor estando congelado, Sans conseguira mais um final diferente em Star Fox e Papyrus passara a fazer caça-palavras. Jogavam conversa fora, brincavam aos arredores, Sans contava piadas e Papyrus se segurava para não rir apenas para manter seu orgulho. Esporadicamente ambos tentavam reanimar Gaster, o cutucando, chamando-o, usando magia de cura. Preocupavam-se com o fato dele não se alimentar durante aquele período, mas não havia muito a ser feito quanto a isso e apenas o esperavam.

E esperaram.

Três dias, cinco, uma semana, dez dias. Gaster não acordava e os meninos começavam a se desesperarem. Não tanto pela iminente falta de comida – eles tinham sorte de Gaster preparar muito e congelar para não ter que alimentá-los toda hora -, mas pelo fato de estarem sozinho, de não saberem o que fazer, de não saberem para quem pedir ajuda!

— E se ele não voltar?! E se ele ficar assim para sempre?! – Papyrus perguntava mais para si mesmo do que para Sans, andando de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Já estava há vários dias tentando ser positivo, mas havia horas em que nem mesmo alguém como ele aguentava tamanha pressão, se desesperando por fim.

Sans ao contrário do outro sofria em silêncio. Sentado no chão abraçando os joelhos permanecia com as órbitas abertas, parecendo estar em pânico. Em sua mente mil coisas se passavam, sendo grande parte delas o fato de que querendo ele ou não, fosse o que ocorresse ele deveria cuidar de Papyrus, deveria dar um jeito de proteger ele e o irmão. Tentara por diversas vezes ler livros e mais livros, revisando e revirando as entradas feitas por Gaster para achar alguma solução para ele acordar. Mas não encontrava absolutamente nada, pois tudo o que Gaster estava fazendo era completamente novo.

Tentara uma vez junto com Papyrus sair do laboratório a procura de algum antigo funcionário, talvez assim eles pudessem achar uma solução. Mas Hotland era uma região quase deserta. Suas cidades e vilas ficavam espalhadas por vários quilômetros de distância, sem tirar o fato de que nenhum dos dois sabia que caminhos percorrerem.

Pensaram também em se comunicar com alguém, mas apesar de terem telefones não havia nenhum contato. Gaster deixava muitas coisas em sua própria mente, números e endereços eram uma delas, e naquele momento aquilo fazia falta.

Mas Sans ainda tentava pensar em algo, uma solução, qualquer coisa! Só que estavam sozinhos, não havia ninguém mais.

— Será que a rachadura não o deixa acordar? E se nós consertássemos? Tentássemos curar? Ta você tentou usar magia de cura uns dias atrás e não funcionou, mas e se a gente...

— Fica quieto! – Sans gritou quase que sem pensar, Papyrus se encolheu assustado com lágrimas se formando no canto de seus olhos. – Me deixa pensar no que fazer!

Essa última sentença disse com tanto ardor que três ossos voaram e direções diferentes da sala, um passando de raspão pela perna de Papyrus que pulou de susto e dor, massageando o local atingido. E com isso foi como se Sans acordasse, botando as mãos na boca e suas órbitas tremulando de medo e remorso.

— N-não, não... Eu não... – Sans tentava dizer, confundindo-se nas suas próprias palavras. Afinal acabara de ressuscitar um medo que custara a perder, e na pior situação possível! Não bastava ter gritado com o irmão daquela forma, havia ferido Papyrus! Nunca se perdoaria disso, jamais. – Paps não... Não chega perto...

Mas já era tarde de mais, mancando nos primeiros dois passos Papyrus se aproximava do irmão enxugando as lágrimas com a manga do suéter.

— Não foi nada Sans, foi sem querer não foi? E não doeu, nem arranhou, olha. – Papyrus esticou a perna ferida parecendo completamente intacta, Sans assentiu transtornado balançando a cabeça repetitivamente.

— Eu não queria... Me desculpe Paps, me desculpe...

— Eu desculpo, sempre desculpo. – Papyrus disse com a voz melancólica, abraçando o irmão que demorara a retribuir, com medo de machucar o mais novo novamente. Mas assim que o fez segurou o irmão com força, pois sabia que mesmo se perdesse tudo Papyrus continuaria ao seu lado.

Gaster acordou três dias depois desse ocorrido.

Ironicamente os irmãos estavam dormindo quando o doutor levantou a cabeça, confuso e olhando para os lados, não entendendo qual era a daquele acampamento formado no laboratório. Erguera-se, sua coluna doía e seus braços pareciam adormecidos de tanto serem pressionados por sua cabeça, permaneceu sentado enquanto procurava seus óculos que estavam na mesa onde os garotos havia posto. Quando arriscara se erguer, apoiando-se na parede para ganhar equilíbrio, Papyrus acordou dando um grito de alegria e chacoalhando o irmão até que acordasse.

O doutor em um primeiro momento não compreendera tamanho alarde da parte dos dois, principalmente por ambos tentarem falar centenas de coisas ao mesmo tempo. Ainda por cima não o largavam, ambos se agarravam cada um em uma perna sua como se para ele não ter como escapar mais. Mas assim que se acalmaram se surpreendeu com o tanto de tempo que ficara desacordado, quase duas semanas! Além de ter notado a enorme rachadura em seu crânio, aquilo não o incomodava, porém era uma sensação muito estranha ter uma parte do rosto partida.

— [Os efeitos da solução foram mais violentos do que imaginei...] – Refletiu consigo mesmo segurando os dois em cada braço. Não era de seu feitio dar tamanha atenção para os dois, mas até mesmo ele via que os irmãos estavam em um estado de choque com medo que ele se afastasse novamente, seja a forma que fosse. – [Acalmem-se os dois. Caso um episódio semelhante ocorra preciso que ambos estejam preparados.]

— Vai acontecer de novo?! – Sans indagou alarmado, seus orbes tremulando só de lembrar. Gaster revirou os olhos impaciente, queria e precisava saber o que o composto fez e faria em seu corpo, deveria fazer testes, colher resultados, testar hipóteses, não tinha tempo de acalmar duas crianças!

Felizmente, por algum motivo sua recuperação fora muito mais rápida dessa vez, não sentindo nenhum sintoma a não ser o torcicolo devido à posição que permaneceu aquele período, talvez tenha se estabilizado, porém não havia como ter certeza. E com isso dava sua resposta sincera:

— [Não se sabe, talvez sim ou talvez não.] – Respondeu, ambos estavam tremendo em seus braços.

— Eu fiz isso para quando você acordasse. – Disse Papyrus mostrando um pedaço de papel ligeiramente amassado. Era um desenho mal feito, com três pessoas desenhadas. Não demorou a se reconhecer como sendo o boneco palito do meio mais alto e usando óculos, em cada lado havia dois bonecos palito menores que seguravam suas mãos, os dois usando camisetas listradas, obviamente sendo os dois irmãos. Os três estavam sorrindo.

Suspirou cansado, encarando os dois que lhe olhavam com gigantescos sorrisos no rosto, não sabendo ao certo o que fazer naquela situação.

Talvez considerasse a ideia dos jalecos.


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Notas finais do capítulo

Ele apenas considerou a ideia, nada de jalecos legais de cientistas ;-;
Parabéns ao Gaster que ganhou sua primeira rachadura, vamos ver até onde as desgraças vão parar!
Comentários são sempre bem-vindos! ^-^
Vocês não fazem ideia do quanto pesquisei sobre procedimentos cirúrgicos para este capítulo ;p



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