Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 3
Antes da Queda - Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Isso foi postado mais tarde do que eu esperava, mas ao menos temos um capítulo SUPER longo! Sinto muito aos que não curtem capítulos colossais...
Obrigada a todos os comentários e favoritos que recebi logo no primeiro capítulo! Vocês me enchem de determinação para continuar!
Não sei se eu disse isso no primeiro capítulo, mas prefiro manter o nome das cidades e lugares em inglês mesmo, na minha opinião soa melhor. Qualquer dúvida só me avisarem!
Boa leitura! ^-^



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— Olhar para a porta não fará com que ela se abra mais rápido. – Sans disse enquanto terminava de revisar as traduções que por incrível que parecesse ele conseguira terminar naquela madrugada. Desde que acordara Papyrus ficou sentado na frente da porta do quarto, esperando ansiosamente que a porta fosse destrancada por Gaster.

A única fonte de luz do quarto era uma lamparina com fogo mágico, uma luz fraca que não iluminava muito o local, se não fosse pelo relógio de corda em cima da cômoda os dois nem saberiam que já era de manhã. Eles nunca haviam ficado tanto tempo assim trancados no quarto, coisa que Gaster fazia sempre que queria trabalhar sozinho e em silêncio.

Mas era de se esperar algo assim, Gaster deveria estar trabalhando em alguma forma de resfriar o Core de maneira independente, algo que não fizesse com que ele se sobrecarregasse a ponto de ter que desativá-lo temporariamente. Como era sua maior criação, Gaster sempre falava algo sobre e isso fazia com que os irmãos tivessem certo conhecimento sobre o Core. Ambos sabiam que como uma fonte que retirava energia do próprio manto da Terra mesclada à magia, era de se esperar uma enorme instabilidade, assim como o Core não era capaz de se resfriar sozinho era dever de Gaster procurar alguma outra forma que não prejudicasse os monstros.

— Me deixe acreditar que sim! – Papyrus respondeu determinado, ainda encarando a porta. Para a surpresa de ambos - e principalmente a felicidade de Papyrus -, a porta se destrancou revelando um Gaster cansado e de não muito bom humor. – Viu?!

O cientista real não disse uma palavra, deu meia volta pelo corredor e os irmãos se apressaram para segui-lo. Ambos começaram a lhe encher de perguntas sobre o estado do Core, quando a luz voltaria e o que ele faria sobre. Apesar de ter experiência em ignorá-los estava sendo difícil o fazê-lo com toda aquela curiosidade infantil incessante.

Calados! — Gesticulou de maneira firme, afrontando-os com o olhar. Os irmãos se calaram como foi pedido, olhando apenas para o chão ou um para o outro com o canto dos olhos. Gaster os fitou por mais alguns segundos, analisando se o silêncio continuaria, antes que dissesse:

O incidente da noite passada necessitou de atitudes imediatas e sem avisos prévios. É meu dever esclarecer todos os acontecimentos para Asgore que consequentemente acalmará o resto do povo, por isso estou de partida para New Home agora mesmo. — O doutor olhou para ambos de maneira firme antes de continuar sua fala. – Voltarei tarde e espero que quando retornar o laboratório esteja intacto.

— Você vai para a capital? Wowie! – Papyrus animado se aproximou mais do doutor, quase andando a sua frente para que ele pudesse vê-lo. – Eu e Sans podemos ir junto? Nunca fui para New Home! Apesar de nunca termos ido para nenhuma cidade se parar para pensar...

— [Não.] - O som agudo e estático da voz de Gaster fez ambos estremecerem. Aquela era uma das poucas palavras em wingdings que Papyrus aprendera, de tão frequente que ela era pronunciada.

— M-mas nós ajudamos você de madrugada! Por favor, pa... Gaster! – O mais novo implorou mais uma vez enquanto entravam em mais um dos vários escritórios de Gaster. Sans apenas observava silencioso, já imaginando onde aquela discussão iria parar.

Não era mais que a obrigação de vocês. — O doutor respondeu com as mãos mágicas enquanto as outras vasculhavam algumas gavetas á procura de artigos e planilhas. Em seu ombro direito estava uma maleta onde ele as colocava sem muito cuidado, amassando algumas. – Ademais, isso não é uma visita de férias. É um trabalho, assuntos de extrema importância que devem ser tratados onde esqueletinhos não estão inclusos.

— Podíamos te ajudar!

Vocês possuem suas próprias obrigações aqui.

— Eu terminei todas as minhas e os extras também!

E quanto ao outro?  - Gaster fechou a maleta, encarando Sans que ficou estático ao notar que até mesmo o seu irmão o observava. O doutor o olhava com uma expressão de escárnio enquanto Papyrus lhe olhava esperançoso com os punhos erguidos, aquilo deixara Sans receoso na resposta até ele se dar conta do seu feito da noite passada.

— Eu terminei tudo também! Pode ver se quiser. – Respondeu Sans entusiasmado. Apesar de ainda ter dúvidas de qual seria o destino daquela discussão, sentia-se o monstro mais sortudo por ter aceitado o desafio de Papyrus. O doutor o olhou com o canto dos olhos, desconfiado, mas ao refletir viu que não haveria motivos para o menor mentir.

— [Vou me arrepender disso mais tarde...] - Disse Gaster para si mesmo olhando para os dois pequenos. – Vocês têm três minutos para pegarem suas coisas e me encontrarem na entrada.

Papyrus deu um grito de alegria correndo em direção ao quarto, Sans quase não acreditando no que estava acontecendo apenas seguiu o irmão com uma expressão de surpresa. Andando num ritmo mais lento como sempre, quando chegou à porta do aposento Papyrus já estava saindo aos tropeços enquanto arrumava as galochas recém calçadas, com uma mochila desgastada nas costas que encontrou no fundo das gavetas.

Apesar do pouco tempo que Gaster instituíra, Sans abriu as gavetas do armário lentamente à procura de seus sapatos, ainda surpreso com o fato de o doutor os deixar irem para capital. Foram pouquíssimas vezes em que saíram do laboratório e nunca foram muito longe, por conta disso seu par de  tênis estava praticamente novo apesar de o ter há vários anos. Quando os calçou ficou observando os cadarços soltos, refletindo se os amarrava ou não.

— Sans! Temos trinta segundos! – Papyrus apareceu na porta, irritado com a demora do irmão. Aquilo parecia ser uma resposta ao seu dilema, andando até o irmão com os cadarços batendo uns nos outros conforme os seus passos.

Gaster os esperava na entrada do laboratório, os irmãos foram ao seu encontro não escondendo tamanha alegria de poder acompanhá-lo. O mais novo estava tão animado que tremia de inquietação, segurando com força a alça da mochila que trazia nas costas. O doutor começou a andar e Papyrus prontamente pegou na sua mão, ele não contestou, mas também não retribuiu fazendo com que o menor apenas segurasse a mão solta.

— Nós vamos para a capital! – Papyrus gritou entusiasmado e Sans riu. 

Vamos fazer o jogo do silêncio. — Sugeriu Gaster com a mão livre, parecendo já estar arrependido de sua decisão.

— Ah não... Eu sempre perco nesse jogo. – Papyrus inocentemente falou desanimado enquanto seu irmão mais velho apenas revirava os olhos, pois Sans já imaginava que mais cedo ou mais tarde aquele maldito jogo apareceria.

Grande parte do percurso seria feito a pé, pois a quantidade de magia para um teleporte daquela distância seria muito alta para Gaster que deveria fazer para mais dois monstros além de si. Assim eles teriam que chegar o mais perto o possível antes de usar desta ferramenta mágica. Apesar daquilo não alegrar o doutor nem um pouco que já estava cansado de toda aquela paisagem de sempre, os seus quase encarcerados pupilos ficavam encantados com todas as coisas novas que viam, junto aos seus passos sendo abafados pela terra vermelha.

Hotland era composta basicamente por ramificações do Core, pequenas e grandes tubulações trabalhando simultaneamente com o manto da crosta e convertendo tudo em energia mágica, suas temperaturas altíssimas produziam vapores que se soltavam de um jeito descoordenado e frequente, com a lava iluminando toda sua extensão. Por conta disso não era o melhor lugar do subsolo para viver, tendo a menor população de monstros comparada a Snowdin e New Home. Mas aquele dia tudo estava diferente, com o Núcleo inativo temporariamente, Hotland se tornara apenas um lugar silencioso e escuro.

Apesar da nova aparência pacata do lugar, os irmãos olhavam para qualquer coisa que os chamasse a atenção. Um caminho diferente, um que outro monstro andando, a lava se petrificando lá embaixo. Qualquer coisa despertava uma enorme curiosidade, principalmente em Papyrus que se segurava para não ‘’perder’’ o jogo e assim começar a perguntar e afirmar sobre tudo o que via.

Em determinado momento Gaster precisou usar uma de suas mãos espectrais para iluminar o ambiente a sua volta, permanecendo assim até quando entraram no próprio Core e se depararem com todos os elevadores inativos. Lá era o máximo que conseguiam avançar sem o uso de energia, bastou um olhar do doutor para os dois ficarem estáticos e em seguida se verem bem no meio da capital.

Prédios grandes e pequenos, em suma maioria cinzentos parecendo uma grande e extensa muralha que ia para todos os lados. Com uma arquitetura que apesar de diversificada, conseguia não chamar tanta atenção assim, pois a verdadeira magia daquele lugar eram seus habitantes. Em New Home os monstros viviam quase que sem problemas, esperançosos e alegres com a tão próxima presença de seu rei que a cada dia renovava cada vez mais a esperança de todos. Toda aquela novidade deixara os irmãos maravilhados com tudo aquilo.

— Wowie...! – Papyrus exclamou estupefato, com seus olhos brilhando de alegria, esquecendo-se do ‘’jogo’’ que se esforçara para vencer até aquele momento.   

— Quem é de New Home pode ser chamado de no...

— Não se atreva Sans. – Papyrus encarou seu irmão com o canto do olho, irritado com a piada ainda não feita. Sans antes que pensasse em algo para retrucar, percebera Gaster começando a andar sem avisos, assim ele rapidamente pegou a mão do irmão puxando-o em direção ao tutor.

Com certa dificuldade ambos tentavam não perder o doutor de vista no meio de toda aquela multidão, já que Gaster parecia ter se esquecido que não estava sozinho. Ainda mais com o subsolo sem luz, ficava cada vez mais difícil de acompanhar o ritmo do cientista. Por um momento pensaram que eles haviam o perdido, até ficarem aliviados ao ver que Gaster os procurou quando percebeu a falta de ambos.

Sem os elevadores funcionando o caminho se torna mais longo. Não posso voltar a todo o momento para buscá-los, peço que permaneçam no caminho. — Gaster alertou com uma expressão de impaciência, logo voltando a seguir caminho quase sem olhar para trás. Sans pensara em retrucar, porém não se daria ao trabalho de algo que era provável não valer à pena.

O caminho começara a ficar mais estreito, sem nenhum monstro a vista além de guardas reais que não davam atenção para Gaster, provavelmente por todas as várias vezes em que o mesmo esteve ali. Os irmãos também pouco chamavam a atenção, já que por conta da semelhança logo eram ligados ao cientista. Logo se viram dentro das muralhas do castelo do rei, um lugar que parecia mais um extenso labirinto de tijolos cinzentos. Mais assustador do que se perderem no meio da multidão era ficarem sozinhos naquela imensidão cinza.

Gaster parou inesperadamente, fazendo os irmãos tropeçarem um no outro. Ele virou-se para trás e abaixou para ficar da mesma altura dos dois, enquanto pegava alguma coisa nos bolsos de seu casaco.

Eu tenho um trabalho para vocês. — Disse com a mão livre antes de tirar dos bolsos um pedaço de papel com algo escrito em wingdings, Papyrus o pegou analisando a palavra que não sabia traduzir. – Não seria profissional de minha parte aparecer com ambos sem aviso algum, mas preciso da ajuda de vocês, isso me poupará tempo. Há uma biblioteca real por aqui, com centenas de livros completamente únicos que não existem em outros lugares. Por isso preciso que ambos procurem por este exemplar enquanto eu estiver ocupado.

Papyrus parecera explodir de vez de felicidade, pois além de conhecer a capital ainda estava sendo útil! Não conseguia parar de falar sobre como ele faria um bom trabalho. Entretanto, fora interrompido por Sans:

— Você vai vir nos buscar mais tarde? Ou nós vamos até você? – Questionou desconfiado e Gaster refletiu por alguns segundos, como se não tivesse pensado nessa parte.

Me aguardem, estarei de volta perto das dezenove horas. Agora me sigam. — Respondeu por fim, começando a guiá-los pelo local. Não demorou muito para chegarem ao destino, uma porta grande e desbotada. A biblioteca parecia ser uma espécie de cômodo abandonado, como se já tivesse sido algo grandioso e tivesse se tornado irrelevante com o passar do tempo. Gaster teve que usar um pouco de força para abrir as portas, parecia estar com os trincos enferrujados, revelando um ambiente de dois andares repleto de prateleiras com centenas de livros.

— Se encontrarmos o livro cedo, o que fazemos até você voltar? – Sans continuava a questionar fazendo Gaster parecer cada vez mais impaciente. A poeira dos livros pairava sobre o lugar como uma névoa.

Eu duvido que isso ocorra.

— Mas e se acontecer?

— É, e se acontecer? – Papyrus entrou no dilema, apenas para não se sentir excluído.

Leiam.

— E se a gente ler todos os livros?! – Papyrus levantou a improvável hipótese, sendo ignorado por ambos.

— Como vamos saber quando vai voltar? Não temos nenhum relógio. – Sans questionou e o doutor parou de andar.  Gaster suspirou cansado, pegou alguma coisa na maleta e em seguida entregou para Sans um objeto retangular de plástico preto.

Liguem apenas se não tiverem mais nada a ser feito ou para saberem as horas, a bateria não vai durar muito. E muito cuidado, isso é uma relíquia humana. — Gaster encarou ambos esperando alguma outra contestação antes de prosseguir. – Não posso me atrasar, por isso vejo vocês mais tarde. Espero nenhum tipo de imprevisto vindo dos dois.

Mesmo depois de virar em outro corredor, os passos de Gaster puderam ser ouvidos por um tempo, ecoando pelas paredes cinzentas. Ambos os irmãos se olharam, como se só tivessem se dado conta naquele momento que estavam completamente sozinhos e sem supervisão.

— Eu queria conhecer o rei... – Papyrus disse desanimado, já que a ideia de ajudante não lhe parecia mais tão prazerosa. Sans o fitou pensativo, olhando em seguida para todos os livros a sua frente.

— E ter que aguentar as reclamações do Gaster o dia inteiro? Não, eu prefiro ficar aqui mesmo. Olha quanto tempo nós temos de folga! – Disse para tentar levantar novamente o animo do irmão que imediatamente pareceu mudar de humor, mas não do jeito que ele esperava.

— Sans! Não estamos aqui para relaxar, temos um trabalho a ser feito! – Determinado, o mais novo marchou até o interior da biblioteca sem ao menos saber que exemplar deveria pegar. Sans apenas o seguiu, encarando o objeto retangular que ganhara de Gaster e se perguntando para o que servia.

— Me dê o nome do livro. – Pediu e Papyrus que já começara a revirar as prateleiras se sobressaltou, pegando o papel já amassado do bolso e entregando para Sans. – Queria saber por que ele está lendo tantos livros novos.

— Talvez o pai esteja procurando ideias para consertar o Core.

— E o que isso teria a ver com ‘’Enciclopédia completa da História Humana Volume Dois’’? – Questionou colocando o papel no bolso de seu casaco, Papyrus coçou sua bochecha por alguns instantes pensando em alguma resposta.

— Eu não sei.

— Poderíamos saber se Gaster fosse como um livro aberto. – Sans sorriu largamente esperando alguma reação do irmão que lhe encarou com desgosto. – Vai dizer que essa não foi boa?!

— Só procure o livro Sans.

Cada um revirava um extremo diferente do lugar, ambos com a sua própria maneira. Enquanto um passava o dedo por todos os livros em seu caminho, lendo suas lombadas o mais rápido que conseguia, o outro permanecia parado encarando as prateleiras como um todo, pegando apenas livros do qual achava que tinham uma ‘’cara de enciclopédia’’.

Todos aqueles livros não eram nada parecidos com os do cientista. Mais do que artigos, teorias e mecânicas, havia uma gigantesca diversidade de gêneros literários. Era inevitável que em alguns momentos, um dos dois pegasse algum exemplar apenas para ver o seu interior, a curiosidade e a surpresa ao ver algo além de números e fórmulas. Havia tantas opções, tantas histórias!

Mas mesmo assim Sans preferia ler um livro de piadas novo. Depois de já ter decorado todas as do antigo, ele estava começando a ficar sem ideias.

— Sans! Sans! Sans! Sans! – Ouvia a voz incessante de Papyrus se aproximando cada vez mais, seus passos eram rápidos e ansiosos. Ele apareceu em pouquíssimos segundos, com um livro debaixo do braço esquerdo. – Olha só o que achei!

— Já encontrou o livro do Gaster?! – Perguntou surpreso, pegando o livro que o irmão o estendia. Estava sem a capa da frente, e o que sobrara da de trás era um pouco aveludada, pelo número de páginas parecia ser pequeno demais para uma enciclopédia.

— Não, mas achei esse livro de historinha! – Papyrus respondeu apontando para o título da contracapa: Esconde-esconde com o coelhinho felpudo.

— Ah... – Disse Sans tentando parecer empolgado. Aquilo poderia ser apropriado para a idade de Papyrus, mas para ele não era nem um pouco interessante. Mas ao ver o irmão tão empolgado, tinha que tentar se esforçar para entrar na onda dele. – Você quer que eu leia?

— Tanto faz. – Papyrus deu de ombros, mostrando que não era nisso que estava pensando. – Eu posso levar o livro conosco? Já que o pai vai pegar um acho que posso fazer isso também, não é? Depois devolvemos como ele faz!

Aquilo surpreendeu Sans, pois era mais um daqueles momentos onde se dava conta de que era o irmão mais velho. Afinal sem Gaster, era para ele quem Papyrus pedia por permissão. Querendo ou não, era uma referência para o mais novo.

Olhou para o livro infantil e em seguida para o irmão a sua frente sorrindo, seja qual fosse sua resposta Papyrus o obedeceria. Era Sans quem deveria decidir, era ele quem deveria ver o melhor caminho. Aquilo o assustava, pois agora era apenas um livro, mas e depois? Ainda assim continuaria sendo o irmão mais velho protegendo o mais novo.

— Claro Paps, vai ser bom ter pelo menos uma noite com uma história descente para contar. – Não importando as consequências da sua decisão, valia à pena ver a expressão alegre do mais novo que segurou o livro carinhosamente.

— E este livro que você estava segurando? Também vai levar? – Papyrus indagou apontando para o livro de piadas que antes segurava.

— Não preciso, já tenho tudo de letra. — Disse tentando segurar o riso de sua própria piada, enquanto a expressão do outro se fechava lentamente.

— Volte ao trabalho Sans.

Tinham muito tempo até Gaster voltar, era inevitável que depois de algumas horas um enorme sentimento de tédio começaria a pairar pelo lugar. Ambos sabiam da tarefa que havia, mas acabavam se distraindo com outros livros, com alguma conversa aleatória que ambos começavam, com a poeira voando pelo lugar. Qualquer coisa parecia mais interessante!

— Encontrou?

— Não. E você?

— Parece uma sessão de livros de biologia. Será que ajuda em alguma coisa?

— Acho que o que procuramos está mais para história Papyrus.

—Pelo menos achei umas fitas nessa caixa. – Papyrus se aproximou segurando uma caixa velha e mofada com cinco fitas de vídeo dentro. – Se acharmos alguma televisão poderíamos ver o que tem nelas!

— Devem ser documentários, iguais aqueles que Gaster passou para nós alguns meses atrás. – Disse Sans desinteressado, só de lembrar o título ‘’Elementos da Física Básica’’ sentia vontade de fechar os olhos. Papyrus também deveria sentir o mesmo, pois deixou a caixa de lado imediatamente.

— Acha que foi uma boa ideia eu ter convencido o pai de nos trazer junto? – Perguntou sentando-se no chão encostado em uma das prateleiras, coisa que Sans já tinha feito.

— Claro, por que não?

— É que eu pensava que ia ser bem mais legal. – Papyrus respondeu desanimado, olhando para o chão. Ele estava completamente desiludido, pois havia imaginado diversas situações e quase nenhuma aconteceu. Era duro sentir a realidade, principalmente para quem é acostumado a sonhar. Vendo o irmão assim, Sans refletiu por um momento, pensando em alguma forma de animá-lo novamente.

— Sério? Eu to achando isso o máximo. – Respondeu Sans sentando-se mais perto do irmão que lhe olhou surpreso.

— Você acha...?

— Mas é claro que sim! – Disse como se fosse algo óbvio. – Bem, não estamos tendo altas aventuras pela capital. Mas pensa, ficar na biblioteca real é bem mais legal que ficar trancafiado no laboratório. Sem falar que vindo até aqui a gente viu várias coisas diferentes, fizemos quase um tour turístico por New Home!

— Sim! Não há como uma ideia minha ser ruim! – Papyrus disse entusiasmado, levantando-se em seguida em uma pose heróica, esquecendo-se surpreendentemente rápido do seu desânimo. – Além do mais, temos uma missão a cumprir! Vamos encontrar o livro Sans!

— Na verdade eu gostaria de fazer uma pausa para o lanche. Até a comida do Gaster estou aceitando neste momento. – Reclamou Sans fazendo o mais novo ficar pensativo por um tempo.

— Não trouxe nada assim... – Comentou e seu rosto pareceu se iluminar em seguida, começando a vasculhar a mochila que trazia nas costas e tirando uma caixa multicolorida de dentro. – Mas eu trouxe Flocos Temmie!

— Mano você é o melhor.

— Eu sei!

Flocos Temmie era geralmente um substituto para quando Gaster não tinha tempo para preparar algo melhor. Sendo frequentemente o café da manhã dos dois, acompanhado por um copo de leite (faz bem para os ossos). O cereal apesar de toda sua propaganda por cima não tinha gosto de nada, sendo nada mais que farinha multicolorida. Tanto que Papyrus já tentara uma vez comer papel pensando serem os flocos, e o pior de tudo é que ele só descobrira o engano por que o doutor o impedira de devorar mais.

Na pequena pausa ambos dividiam a caixa de cereal que ficava entre os dois, enquanto Papyrus parecia ansioso para voltar ao trabalho Sans deitava-se lentamente como se estivesse sendo hipnotizado pelo próprio sono. Daquela posição ele podia ver as prateleiras mais altas, com as laterais dos livros amostra. Cravou o olhar em uma edição em especial: um volume de capa dura, vermelho, era tão grosso que ficava difícil não olhar para ele no meio dos outros livros, suas letras douradas um tanto desbotadas estavam escrito o tão esperado título: Enciclopédia completa da História Humana Volume Dois.

— Paps! Eu achei! – Praticamente gritou fazendo o outro se sobressaltar.

— Onde?

— Ali em cima! – Ao ver o exemplar que estava sendo apontado, Papyrus se levantou em menos de um segundo, correndo em busca de alguma coisa para subir em cima.

— Eu disse que estava na sessão de biologia! – Berrou o mais novo pela biblioteca. Voltou mais rápido do que se esperava, com um velho banco de madeira, posiciono-o de frente para a estante e em seguida Sans subiu em cima para pegar o livro tão buscado. – Me pergunto onde está o volume um.

— Isso não importa, e sim que nós conseguimos Paps! – Sans exclamou, feliz que o trabalho finalmente havia terminado, agora era apenas esperar que Gaster venha ao encontro deles. Esticou os braços para alcançar o livro, apenas roçando os dedos em sua capa, mesmo com a ponta dos pés e dando pulinhos ele mal conseguia agarrá-lo. – Droga! Ta alto demais.

— Eu pego. – Papyrus disse tranquilamente, já subindo na cadeira recém abandonada pelo irmão que lhe encarou com desdém.

— Papyrus, se eu não consegui pegar é óbvio que...

— Consegui! – Disse vitorioso, começando a puxar o grosso livro para fora da prateleira. Sans ao ver aquilo ficou estagnado e encarando o mais novo com os olhos arregalados, até aquele momento imaginava que ambos tinham a mesma altura. Queria pensar em algum trocadilho para aquilo, mas estava surpreso demais para algo vir em sua mente.

Papyrus puxava o livro com certa dificuldade, pois era extremamente pesado. Quando conseguiu retirá-lo, infelizmente o peso fez com que ele se desequilibrasse, cambaleando na cadeira até que caísse no chão, com o livro batendo na sua cabeça em seguida. Ao ver a cena, Sans não resistiu de rir um pouco.

— Isso foi duro de queda. — Aproveitou o momento para soltar mais uma piada, mas logo se arrependeu ao ver a expressão de choro que Papyrus se esforçava para segurar. De imediato tentou acalmá-lo de algum jeito, tinha dúvidas se saberia lidar com aquela situação estando sozinho. – Está tudo bem, eu estou aqui, não foi nada, calma... Por favor, não chore!

— Isso dói Sans... – Papyrus parecia ter ficado mais emotivo com as palavras do irmão, não conseguindo mais conter o choro. Um tombo aparentemente não era algo grave aos olhos da maioria, mas para duas crianças completamente sozinhas era motivo de desespero. Assim, Sans assustado por não saber como acalmar Papyrus, somado com o fato de ambos estarem sem a ajuda de ninguém, fazia com que ele quase se juntasse ao irmão.

Sans nunca estivera tão ansioso para ver Gaster, por que apesar de tudo, o doutor sempre consertava tudo.

— Olá...? – Uma voz desconhecida surgiu junto com o ranger da porta sendo aberta. Seguido de passos altamente sonoros, pesados que a cada segundo ficavam mais altos. Os dois congelaram no lugar, Papyrus parara de chorar imediatamente, já que ambos tinham dúvidas do que poderia acontecer caso alguém os encontrasse ali. – Se for ocê mais uma vez garotinha, saiba que já passou da hora de ir pra casa!

— Sans, quem é? – Papyrus sussurrou enquanto enxugava o resto das lágrimas com a manga, tão surpreso que esquecera a dor no crânio.

— Como eu vou saber?!

— Não fale alto!

— Você que está falando alto agora!

— Sans quieto!

— Quieto você!

Naquela pequena e boba discussão os irmãos realmente pensavam que não estavam chamando tanta atenção assim. Mal sabiam que aquilo só atraia mais a curiosidade do visitante, que não demorou muito para encontrá-los. De braços cruzados, o guarda real prestes a se aposentar olhava para os dois rindo baixinho, se perguntando o que levara os dois esqueletos até aquele lugar.

— Estou vendo que aquela pestinha está fazendo a mente das outras crianças... – O velho resmungou antes de encará-los. Os irmãos ficaram estáticos ao verem que foram descobertos, receosos por não saberem o que viria a seguir. – Ninguém vai ir lutar com o rei hoje, vão para casa!

— Mas senhor, nós estamos esperando o nosso... Ã... Nosso...

— Pai. – Papyrus complementou e Sans deu de ombros.

— É... Estamos esperando ele. – Disse o mais velho estranhando por um momento o modo de se referir a Gaster, entretanto aquela era a maneira mais fácil de explicar as coisas.

— Oh! Então sinto muito pelo engano. – O velho guarda disse massageando a pequena barba grisalha que tinha. – Precisam de ajuda com algo? Ouvi um barulho bem alto e por isso vim até aqui.

— Ah, é que esse livro caiu em cima da minha cabeça! – Papyrus disse animado como se não estivesse chorando sobre isso há poucos minutos atrás.

— Ocê ta bem pivete? – Perguntou preocupado ao ver o tamanho do livro.

— Ele ta bem sim. A sorte é que meu irmão é osso duro. – Sans respondeu aos risos e o guarda soltou uma gargalhada. Apenas a ‘’vítima’’ da piada permanecia sério, com uma expressão de desprezo.

— Wahaha... Essa foi boa, pivete. Mas me falem não ta meio tarde pra o pai de ocês te deixarem aqui? – Ele perguntou e os irmãos se olharam surpresos.

— Que horas são agora? – Sans perguntou. Não tinha criado coragem o suficiente para ligar o aparelho que Gaster lhe entregara, parecia precioso demais, tendo apenas confiado na palavra do mais velho de que seria pontual.

— São quase dez da noite.

— O que?! Ele está atrasado! – Papyrus disse indignado enquanto Sans permaneceu quieto e pensativo. De certa forma o atraso do doutor era um pouco positivo, pois encontraram o seu livro além do prazo estipulado. Mas Sans tinha dúvidas se isso valia à pena, já que agora permaneceria com o receio de o que poderia ter acontecido para ele ainda não ter ido buscá-los.

Ou ele pode ter nos esquecido, pensou.

O velho guarda real pareceu refletir por um tempo, analisando os dois pequenos esqueletos a sua frente, e o que poderia fazer quanto àquela situação.

— Não é correto eu deixar ocês dois aqui sozinhos á essa hora. – Disse alisando a barba, pensativo. – Que tal ocês pararem para comer algo, talvez eu possa dar um jeito pra poderem ficar no dormitório da guarda real.

Papyrus olhou para Sans, seus olhos brilhavam de animação. Esperando que fosse Sans quem decidisse ou não. Novamente aquele peso estava nas costas do mais velho, que deveria pensar na melhor solução. Apesar de Gaster poder aparecer a qualquer momento, sabia que tanto ele quanto o irmão precisavam de uma comida descente e um descanso.

— Pode nos ajudar a carregar esse livro? Por favor?

— Mas é claro que sim pivete. – Disse o velho pegando o livro com mais facilidade do que os dois pequenos. – Livro sobre humanos, isso me faz lembrar-se de uma história.

— É mesmo?! – Papyrus se mostrou empolgado enquanto ele e o irmão seguiam o velho guarda.

— Sim! Mas... Num lembro da história agora. Mas olha só, nem me apresentei direito! Ocês podem me chamar de Gerson, e ocês dois pivetes?

— Eu sou Papyrus!

— Sans.

Assim que abrigou os dois, Gerson fez uma simples janta para os meninos, uma sopa que sobrara da noite anterior. Mas mesmo assim havia sido a melhor coisa que ambos já haviam provado, repetindo o prato até não sobrar mais nada. Com a nova companhia, o velho aproveitava para contar as mesmas velhas histórias que já repetira para diversas pessoas. Ambos prestavam a máxima atenção, principalmente Papyrus que ficara impressionado com todos os feitos da guarda real e do próprio Gerson quando era jovem.

— Mas isso não dá mais pra mim. Já vi e fiz muita coisa, por isso penso em trabalhar em outro negócio agora. Eu gosto muito de história, afinal já presenciei grande parte dela como ocês podem ver. Talvez eu faça algo haver com isso agora. – Ele explicara enquanto apresentava todo o lugar para os dois.

O dormitório da guarda real estava completamente vazio, ao contrário de quando eles chegaram, tendo só sobrado Gerson para organizar algumas coisas. Ele contara que um boato sobre um humano vagando por aí fez com que a guarda se espalhasse por todo o subsolo, espalhados pelas cidades a sua procura. Até aquele momento não recebera mais notícias.

— Bem no dia em que Gaster nos pede um livro sobre humanos, que coincidência. – Sans comentou com o irmão que apenas dera de ombros, Papyrus estava muito animado para ouvir mais uma história do velho.

Eles tinham o dormitório inteiro para eles, um lugar bem vazio a não ser pelas camas enfileiradas. Poderiam ter escolhido qualquer cama para si, mas acharam melhor dormir juntos na companhia um do outro, para compensar o sentimento de abandono que crescia a cada segundo. Gerson podia ser um bom monstro, mostrando ser também um bom amigo que os acolhera, mas ainda assim ambos queriam estar de volta com aquele que os criara.

Com tantas histórias de uma vez, pela primeira vez na vida Papyrus dormira antes que o irmão. Sans permanecia deitado, pensativo e analisando o objeto retangular que Gaster havia lhe entregado antes de partir. Vendo melhor descobrira que ele se abria, mostrando duas telas e alguns botões, quando finalmente o ligara se impressionou com a luz que emitira, temendo que pudesse acordar o irmão.

O que raios esse tal de Nintendo era Sans não sabia, mas aquilo era fascinante e como Gaster havia dito: mostrava as horas.

Eram quinze pra uma da madrugada.

Mas aquele dispositivo ia muito além. Explorando melhor Sans descobrira algo incrível, a coisa mais divertida que vira em sua vida: pela primeira vez estava jogando um videogame. Com o volume o mais baixo o possível para não despertar o irmão, explorara o único jogo que havia o máximo que podia, até a bateria do dispositivo acabar como Gaster alertara. Quando vira, já era passada das duas horas e por incrível que parecesse ainda não tinha dormido.

Mas aquela alegria logo se dissipou, encarando a tela negra lembrara-se que só teria o jogo de volta caso Gaster voltasse. Mas quando? Era decepcionante que na primeira vez que andava além de Hotland o doutor falhara daquele jeito. Conforme o tempo passava mais pensamentos surgiam, e Sans pensava em Gaster ter planejado aquilo, tê-los abandonado. Era um pensamento assustador, queria que fosse algo irreal e coisa da sua cabeça, mas lá no fundo era como se houvesse uma voz que repetia aquilo sem parar.

E se ele não quiser voltar?

Antes de decidir fechar os olhos, Sans olhou pela janela em direção a biblioteca uma última vez, esperando que Gaster aparecesse para buscá-los.

Mas ele não veio.

                                                                         ***                                        

Sans acordou com Papyrus praticamente pulando nele, gritando com um largo sorriso no rosto que Gaster havia voltado para buscá-los, que ele estava na frente da porta da biblioteca naquele exato momento.

— Quando levantei eu o vi Sans! Na janela, ele está nos esperando. Vamos irmão, levanta! – Dizia puxando o mais velho que se esforçava para acordar, mas seu corpo queria continuar adormecido.

— Agora...? – Ainda meio grogue Sans piscava os olhos em uma tentativa de espantar o sono, recebendo em resposta um olhar nada satisfeito de Papyrus.

— Mas é claro que sim seu preguiçoso! – Expulsando o irmão mais velho da cama, Papyrus começou a esticar os lençóis e cobertores para arrumá-la. – Não fique parado aí, me ajuda Sans!

Um pouco mais desperto, Sans ajudou o irmão a arrumar a cama. Não só pelo costume que Gaster havia os ensinado, mas por uma questão de educação. Ele ficara tentado a olhar pela janela, como fizera de madrugada, para ver com seus próprios olhos Gaster outra vez, mas decidira arrumar as coisas o mais rápido o possível para poder vê-lo pessoalmente, e assim voltarem para casa.

Papyrus descera as escadas correndo, anunciando para Gerson que ‘’o pai’’ dos dois estava os esperando. Sans vinha logo atrás, tendo que carregar a mochila do irmão que estava com os livros, era tão pesado que a sensação era como se sua coluna se quebraria ao meio e as vértebras amassariam com o peso. Alcançou o irmão com quase nenhum fôlego, enquanto ele dava pulinhos de ansiedade ao ver Gerson abrir a porta.

— Eu nem o tinha visto pivete, ainda bem que me disse. – O velho guarda comentou aos risos, acompanhando os dois pequenos ao lugar de onde havia os encontrado. Sans o fitou por alguns momentos, pensando sobre como ele fora amigável e acolhedor com ambos, lhe pesava (mais que a mochila) saber que talvez não voltasse a vê-lo tão cedo assim.

— Muito obrigado Gerson. – Disse e o velho lhe olhou com uma expressão calorosa. – Por nos ajudar e pelo resto também.

Sans não era muito bom com discursos, nunca fora e provavelmente nunca seria. Mas aquelas duas frases eram o suficiente para exprimir toda sua gratidão, e Gerson com toda sua experiência pode perceber isso.

— Que nada pivete, mesmo um velho como eu não pode ficar parado se alguém precisa de ajuda. – Respondeu Gerson dando um leve cascudo no crânio do menino. – Só me promete uma coisa viu pivete? Faz esse pai de ocês prestar mais atenção, não quero ver ocês perdidos assim de novo.

Sans assentiu um pouco sem jeito, pois tinha a sensação de que não seria tão fácil assim mudar o jeito de Gaster. Logo a frente pode vê-lo em uma posição que nunca imaginara presenciar de sua parte. O doutor estava sentado no chão escorado nas portas da biblioteca, abraçando os joelhos parecia estar dormindo de cansaço, como se estivesse esperando já havia algum tempo.

Papyrus ao vê-lo mais de perto começou a correr em sua direção, até que pareceu se lembrar de alguma coisa e freou repentinamente, dando meia volta e correndo para dar um abraço em Gerson.

— Quase me esqueci de dizer obrigado senhor Gerson! Gostei muito de suas histórias! – Foi tudo o que disse antes de voltar para o seu objetivo. Sans olhou para o velho guarda uma última vez, retribuindo o sorrido, antes de acompanhar o irmão que corria aos gritos em direção ao tutor. – Doutor Gaster!

Papyrus pulou no doutor como uma bomba, o abraço fora tão inusitado que o doutor acordara na hora com os olhos iluminados de azul e laranja por alguns segundos. Ao notar que não era nenhum tipo de ameaça, pegou Papyrus pelos ombros e o olhou surpreso, como se não acreditasse no que vira.

— [Pensei que os tivesse perdido!] - Disse aliviado começando a checar os braços, cabeça e pernas de Papyrus como se quisesse ter certeza de que nada estava quebrado.

— Onde você estava? – Sans fora direto com a pergunta, deixando a mochila largada no chão. Gaster lhe fitou enquanto se levantava como se pensasse na resposta certa.

Não vou enganá-los, está mais do que óbvio que os esqueci. — Admitiu e Papyrus encolheu os ombros em desanimo, pois até aquele momento imaginava que era apenas um enorme atraso. – Entretanto assim que dei conta de meu erro, voltei o mais rápido que pude, mas não os encontrei aqui. Por onde estavam? Deixaram-me receoso com o paradeiro de vocês.

— Um guarda real nos cuidou enquanto você não vinha. – Sans respondeu, não sabendo ao certo como se sentir naquele momento. Deveria ficar feliz ou com raiva? Era difícil discernir seus sentimentos. – Você percebeu meio tarde o nosso desaparecimento.

Admito, teria sido melhor eu ter notado antes. Mas não podemos voltar no tempo, não há por que remoer esses acontecimentos. — Gaster disse antes de pegar a mochila que estava no chão e por nas próprias costas, não deixando de notar o peso. – Ao menos encontraram o que eu pedi.

— Você ficou esperando nós voltar?! – Papyrus perguntou.

Óbvio que sim. — Respondeu simplesmente, encarando ambos com um olhar firme. – Da próxima vez não saiam do lugar, muito menos conversem com estranhos. Sabe-se lá o que poderia ter acontecido.

— Mas estamos bem. – O mais novo retrucou. O doutor suspirou cansado, pegando na mão de cada um antes de começar a andarem, para garantir que não os perdesse de novo.

— [Sim, vocês estão.]

Ele voltou. Sans pensava, era tudo o que sua mente dizia até voltarem para casa, quase não acreditando no que estava acontecendo. Ele realmente voltou.


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Notas finais do capítulo

Gaster, você ganhou o prêmio de pai mais irresponsável do ano. Parabéns.
E sim, a garotinha mencionada é a Undyne.
Por enquanto as coisas estão felizes - sim isso é feliz nessa história - aproveitem enquanto podem (✿◠‿◠)
Comentários são sempre bem vindos! ^-^



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