Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 24
Epílogo - Humanos e Monstros


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, desculpa pela demora!!! Meu Deus, faz praticamente meio ano, mas muita coisa aconteceu! Pra vocês terem noção eu escrevi esse capítulo três vezes, a primeira meu pen drive quebrou antes que eu pudesse salvar no computador e o perdi inteiro quando já estava pronto! Isso me desanimou bastante e entrei num bloqueio criativo tremendo. A segunda vez meu computador teve problemas para salvar e o capítulo novamente não foi salvo! E começou assim de novo, mas finalmente ele está aqui agora, inteiro!
Vocês devem estar confusos pois imaginavam que a história ia ser mais longa. Bem, este era o meu plano inicial para ela, entretanto eu sempre tive em mente que caso eu não conseguisse fazê-la tão longa, eu queria chegar ao menos até a queda de Gaster. Não é a toa que o capítulo passado já tinha uma cara de ''último capítulo'', pois já estava meio que planejado isso. Sinto muito por não fazer da história tão longa como esperavam, mas na realidade caso fosse não seria nada de novo, seriam apenas narrações de coisas que já sabemos no jogo, então não se preocupem quanto ao desenrolar de tudo!
Nesse epílogo quero agradecer a todos os comentários, favoritos e pela recomendação! Foi bem divertido escrever esta história e devo isso ao apoio de todos vocês! Muito obrigada! ^-^
Uma boa leitura para todos!



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FRISK

Este nome fará de sua vida um inferno

O céu avermelhado pelo crepúsculo enchia os olhos da criança abandonada, a combustão do veículo foi solta com a fumaça negra esvoaçando em seu rosto. Frisk levou a mão até o nariz, espirrando, em seguida voltou a olhar o carro se distanciando cada vez mais, sendo engolido pelo horizonte.

Frisk não sabia como agir naquele momento. Deveria correr atrás de sua família? Gritar para que não o deixassem? Não. Já sabia que tudo isso seria inútil, afinal não era a primeira vez que tentavam se livrar dela. As primeiras vezes foram difíceis, entre gritos e lágrimas, mas com o passar de tantos episódios semelhantes Frisk começou a se acostumar com a visão do carro partindo sem ele. Já fazia tempo que os abandonos passaram a ser mais de dois dígitos.

Pois por conta de toda a sua determinação, Frisk sempre encontrava um jeito de retornar para casa. Pegava toda a vontade que sobrava em sua alma e seguia em frente, nunca desistindo. Mesmo que voltassem a deixá-lo em um lugar deserto e inóspito, Frisk sempre insistia em voltar para seu lar.

Era um ciclo um tanto quanto irônico, pois foi quando os magos disseram que Frisk havia uma alma determinada que sua família começou a tentar se livrar dela de todas as formas. Chegava a ser quase cômico o quão assustados um bando de adultos poderia ficar perto de uma criancinha. Desde a descoberta da natureza de sua alma, Frisk foi perseguido por uma sombra de pavor que cobria todos que ficavam ao seu redor.

Não compreendia o que havia de tão perigoso em si para que causasse tamanho alvoroço. Frisk sentia-se normal, jamais havia notado qualquer coisa estranha que realmente justificasse aquelas atitudes. O que poderia ser tão ameaçador a ponto de fazer alguém abandonar sua própria criança no meio da floresta?

Questões como aquela faziam Frisk pensar se realmente deveria se esforçar a voltar para casa. Em parte por si mesma, que pensava não merecer pessoas assim que o abandonavam na míngua. Em parte também por eles, pois também pensava ser um perigo para aqueles que amava, mesmo não sabendo ao certo que culpa tinha.

Residindo na dúvida, Frisk finalmente resolveu olhar para trás e descobrir o que o destino lhe reservava. Não lhe era uma visão estranha, o monte alto coberto por um manto verdejante preenchia quase toda a paisagem ao redor, quase um astro no meio do céu rodeado por pequenos corpos celestes como as árvores, as pedras e a criança. Era o Monte Ebott.

Lendas dizem que aqueles que escalam a montanha jamais retornam.

Lembrando-se de todas as histórias que ouviu daquele lugar fez Frisk pensar se aquele não era mesmo o fim da linha. Deixaram a criança ali para que desaparecesse e que nunca mais voltasse. Imaginou sendo devorada pela montanha, coberta de monstros, com a escuridão eterna o assombrando.

Chorou. Não como a primeira vez que a deixaram, mas como a última. As lágrimas escorrendo em silêncio pelo seu rosto, pingando aos seus pés, o rosto completamente vazio encarando a montanha. Por um momento, Frisk quase perdeu toda sua determinação, e a teria perdido se um graveto não tivesse sido jogado aos seus pés.

Lentamente voltou seu olhar para o chão, deixando nem que por alguns segundos a montanha sozinha. De língua de fora e um rabo abanando, um pequeno cãozinho branco o olhava com alegria estampada nos olhos negros que encaravam de Frisk ao graveto. Latiu algumas vezes, querendo chamar a atenção da criança que mal acreditava no que via.

Frisk o olhou atônito, por vários segundos apenas encarou o animal antes de enxugar suas lágrimas e pegar o graveto oferecido. Assim que o tocou, o cão deu um salto de ansiedade, era óbvio o que o cãozinho desejava. Frisk ponderou por mais alguns segundos, até finalmente jogar o graveto para longe, com sua órbita sendo perseguida feito um raio pela bolinha de pelos. Poucos segundos depois o cachorro retornou, trotando alegremente com o graveto na boca, o soltando na frente de Frisk mais uma vez pedindo para que o jogasse.

E assim o fez, jogou o graveto tantas vezes que chegou a perder a conta, o cão parecia uma máquina incansável. No começo jogava sem vontade, apenas para agradar o animal, mas com o passar do tempo Frisk começou a se animar, um sorriso lentamente se formou em seu rosto e no final já estava brincando de verdade com o cão. Era a primeira vez que se divertia em muito tempo.

Depois de vários minutos, Frisk exausto resolveu se sentar no chão, o animal pulou em seu colo como se fosse um velho amigo, implorando por carinho. A criança permaneceu algum tempo assim, acariciando o animal e brincando com as mordiscadas que ele dava vez ou outra. Por um momento se esqueceu de sua situação, dando tempo para descansar a própria mente jovem demais para tantos problemas.

Até que para sua surpresa, o cão branco saiu de seu colo em um salto, como se tivesse se dado conta de alguma coisa. Frisk o olhou confuso, tentando chamá-lo de volta estalando os dedos, mas foi respondido apenas por latidos insistentes do outro que encarava de Frisk para o Monte Ebott, da mesma forma que tinha feito com o graveto.

Frisk se fez de desentendida, apesar de entender de certa forma que o cão queria levá-lo até a montanha. Ficou parada por alguns segundos, esperando que o animal desistisse e voltasse a lhe fazer companhia, mas para seu desespero o animal se pôs a correr floresta adentro.

 - Não! – Gritou estendendo o braço, como se pudesse alcançá-lo ainda. – Há monstros ali!

Viu-se completamente sozinho mais uma vez. Era impressionante como alguns minutos de afeição verdadeira já eram o suficiente para Frisk se desacostumar com a solidão. A preocupação sobre seu destino voltou, ponderando se deveria esquecer o cão ou retornar ao plano de tentar encontrar sua casa.

Não ficou no dilema por muito tempo, já estava quase certa de que não tinha para onde ir. Levantou-se e correu em direção à floresta, ainda segurando o graveto, com esperanças de encontrar o cão mais uma vez, ao menos ele parecia saber para onde estava indo.

Por um tempo Frisk se pôs a afastar a flora do lugar, folhas e galhos tomavam grande parte de sua paisagem assim como a escuridão da mata fechada, tudo o que Frisk usava para se guiar eram apenas os latidos que vinham de longe. Quanto mais avançava pela floresta e consequentemente subia a montanha, uma pequena trilha começava a se formar, deixando o caminho visível e por vezes Frisk conseguia ver um pontinho branco caminhando longe. Certo momento a criança percebeu a velha trilha que se abria aos seus pés, assim começou a se guiar mais por ela do que pelo próprio cão que já parecia conhecer o caminho muito bem.

Quase no topo da montanha, Frisk encontrou o que parecia ser uma caverna, levemente camuflada pela vegetação ao redor, o fim da trilha terminava logo em sua entrada. Parou quase que na hora que avistou o pedaço de escuridão, ficando apreensivo e pensando se deveria voltar ou desviar o caminho de alguma forma.

Mas seu companheiro peludo surgiu da entrada da caverna, como uma luz no fim do túnel. Abanando o rabo, o animal latiu para Frisk como se o chamasse. Ao ver o cão ali fez com que Frisk se sentisse mais segura em prosseguir com o caminho, sentindo-se cheio de determinação.

O interior da caverna era úmido, recheado de estalagmites e estalactites, com plantas trepadeiras forrando o chão como se fosse grama. Não muito mais a frente, havia um enorme buraco, profundo e assustador o bastante para causar arrepios em Frisk. O cão se posicionou em sua borda, não tendo medo do perigo, parecia que estava pensando em se jogar naquele abismo.

Frisk não se atreveu a dar nem mais um passo para frente, mas temia pela segurança do seu novo amigo. Tentou chamá-lo, mas o cão apenas o respondia com latidos, olhando da fenda para criança e da criança para a fenda.

— Por favor, volte. – Tentou dizer com a maior calma possível, estendendo o graveto em direção ao cão para chamá-lo. – Eu não quero ficar sozinho.

Para sua alegria, o cão pegou a outra ponta do graveto. Mas imaginando que o animal voltaria até ela, Frisk foi pego de surpresa quando o cão puxou o graveto para trás, fazendo com que a criança se desequilibrasse e tropeçasse nas raízes que cobriam a caverna. Seu corpo rolou até o abismo, e por pouco Frisk não caiu no meio da escuridão, agarrando com todas as suas forças uma pedra saliente da fenda.

O cachorro olhava para ela lá de cima, de língua de fora e parecendo satisfeito com seu trabalho. Mas Frisk estava apavorado demais para prestar atenção naquilo, seu coração retumbava no peito e sentia seu ar ir embora cada vez que suas mãos escorregavam cada vez mais. Não havia mais ninguém para ouvir os gritos de pavor da criança, e muito menos havia forças para se impulsionar para cima.

Foi assim que Frisk caiu.

                                                                             ***

Frisk... Por que você veio aqui? Todos conhecem a lenda, certo...? ‘’Dizem que quem escala o Monte Ebott desaparece’’

Apenas você sabe a resposta, não é mesmo...?

Eu sei por que Chara escalou a montanha. Não foi por um bom motivo.

E sua queda fez com que sua alma se encontrasse com os pedaços de outra semelhante a sua, fazendo com que as duas acordassem.

Frisk despertou em um lugar escuro. Tão escuro que não conseguia distinguir o que era cima ou baixo, esquerda ou direita. Permaneceu confuso por um bom tempo, olhando para todas as direções em busca de respostas, até lembrar-se do que havia acontecido.

Então era assim que funcionava a morte?

— Não, ao menos não para pessoas como nós. Podemos voltar se quisermos. – Alguém disse inesperadamente atrás de si. Frisk virou-se assustada, deparando-se com a imagem de outra criança de sua idade. – Quer dizer, você pode voltar. Eu não tenho determinação há muito tempo.

A criança desconhecida tinha a mesma altura que Frisk. Possuía a pele clara, o cabelo de um castanho avermelhado que contrastava com suas bochechas rosadas. Usava uma camiseta listrada, como todas as crianças, com duas listras verdes e uma amarela no meio. Tinha um sorriso amigável, mas amedrontador de certa forma, que fez com que Frisk desse alguns passos para trás.

— Quem é você? – Frisk questionou.

Saudações, eu sou Chara. Qual o seu nome? – A criança estranha estendeu a mão para Frisk, mesmo estando alguns metros de distância. Ao não receber respostas abaixou o braço dando de ombros. – Não precisa me olhar assim, também estou confuso. Não faço ideia por que estou aqui com você, eu deveria estar morta. O nosso plano deu errado.

Frisk não entendeu que tipo de plano era aquele, mas não demorou a compreender que Chara estava falando sobre outra pessoa.

— Meu nome é Frisk. – Respondeu com certa desconfiança, recebendo um sorriso ainda maior de Chara que resolveu se aproximar mesmo com a relutância do outro.

— É um nome bonito, Frisk. – Disse olhando para Frisk que apenas desviava o olhar. – Você tem uma alma determinada, não é mesmo? Por isso que você veio até aqui, por que eles têm medo de você.

— Eu não quis vir aqui. – Frisk retrucou de forma ríspida, fazendo Chara erguer as sobrancelhas de surpresa.

— Eu também não queria, mas precisei fugir deles.  – Chara explicou mudando totalmente sua face, como se fosse assombrada por suas próprias memórias.

— Você não está entendendo, eu não...

— Pare Frisk. – Chara a interrompeu com a voz firme, fazendo com que Frisk se calasse na hora. – Você precisa pensar no que realmente importa agora, você deve voltar Frisk. Eu não sei por que estou aqui com você, mas sinto que tem relação com sua alma, tão determinada como um dia fui. Por isso não desperdice essa chance como eu, não perca a sua determinação.

— Voltar...? – Frisk indagou, a palavra parecia ser de uma língua estrangeira naquele momento. Não conseguia compreender o que Chara queria dizer com aquilo, afinal nunca vira ninguém voltar dos mortos. – Eu não sei como posso voltar.

Chara nada disse, apenas apontou para frente, completamente estática. Frisk se virou para trás, seus cabelos negros esvoaçaram por alguns segundos naquele lugar imune as leis da física. A poucos metros de si estava uma estranha figura, brilhando em dourado como uma estrela. Frisk se aproximou com cautela, dando-se conta que não era nenhum corpo celeste, eram letras, que formavam a seguinte palavra:

RESETAR

Uma estranha força parecia puxar Frisk em direção aquela palavra, como se a chamasse com um encanto. Estendeu sua mão até ela, relutando no último segundo.

— Não precisa ter medo. – Chara disse aparecendo ao seu lado surpreendentemente. Frisk se sobressaltou, mas ao ouvir aquilo relaxou os ombros. Sem dizer nada, pegou na mão de Chara que franziu o cenho, mas não contestou. – Bem, se isso te acalma...

— Não me deixe sozinha. – Frisk pediu olhando para os olhos de Chara que se reviraram apesar de um pequeno sorriso se formar em seu rosto pálido.

— Que bebê chorão. – Disse rindo, fazendo com que Frisk lhe mostrasse a língua como birra. – Eu já disse, parece que estamos juntos nessa. Deve ser por que você caiu bem no meu túmulo.

— Quer dizer que somos como um só agora? – Frisk questionou, mas não recebeu maiores respostas que o dar de ombros de Chara. – Está bem então, vamos fazer isso.

— Tenha determinação Frisk. – Chara disse apertando a mão de Frisk que assentiu ao ouvir. Encarou as palavras cintilantes mais uma vez, pronta para selar o seu destino.

Saber que Chara estava ao seu lado enchia Frisk de determinação.

                                                                         ***

Fazia muito tempo que Sans não tinha um daqueles sonhos. Parecia que aquela flor maníaca tinha resolvido criar algum tipo de vergonha na cara, ou estava cansada demais em se meter na vida de todos, pois de alguma forma ela havia desaparecido. De qualquer maneira, apesar de não se sentir animado, Sans se sentia aliviado por ter um pouco de descanso.

Entretanto quando se viu naquele ambiente repleto de escuridão, com aquela sensação de alerta pulsando em sua alma a todo instante, Sans sentiu que aquilo ainda não havia terminado. Lá vamos nós de novo, foi o que pensou revirando seus olhos fantasmagóricos.

— [Sans.] — Uma voz estática como os ruídos de um rádio, soou igual um fantasma para o esqueleto que se sentiu atordoado ao ouvir aquela fonte tão característica. Apesar das falhas em sua memória, sua alma ainda era capaz de sentir todo o impacto que aquela voz um dia lhe causou.

Sans olhou para todos os lados, até encontrar o corpo disforme de Gaster. Parecia mais uma estátua, seu corpo físico não era capaz de suportar estar presente em todos os tempos possíveis, por isso havia a impressão de que ele sequer estava vivo.

Não respondeu nada para a criatura onisciente, sua alma parecia se encolher cada vez mais, querendo fugir para o lugar mais distante de Gaster. Mas não foi preciso, o doutor não estava ali para uma simples visita, não valeria todo o trabalho árduo para conseguir se comunicar com Sans. Estava ali para passar uma mensagem.

—[Cuidado com as almas determinadas.] – Foi tudo o que a voz estática e desregulada de Gaster disse antes de se dissolver como pó, passando igual vento por Sans que sentiu um arrepio lhe percorrer a espinha pelo pavor. A mensagem se tornou muito mais clara quando Sans percebeu que ele e Gaster não eram os únicos naquele lugar.

Duas crianças humanas bem parecidas estavam de frente para um estranho objeto brilhante. Conversavam uma com a outra, mas Sans estava longe demais para ouvir o que diziam. Para sua surpresa, no momento em que as duas crianças tocaram na imagem cintilante ambas desapareceram tal qual Gaster, como se nunca tivessem estado ali.

Foi quando Sans acordou.

— Cochilando de novo em seu turno! Por que não estou impressionado?! – A voz estridente de Papyrus foi a primeira coisa que ouviu, a imagem um tanto borrada de seu cachecol vermelho esvoaçando ao vento trouxe tranquilidade a Sans que ficara atordoado com o sonho pavoroso que teve.

— É meu horário de almoço, estou no direito de cochilar. – Sans respondeu automaticamente, com as mesmas desculpas de sempre – afinal, Papyrus não reclamava de seu desleixo com o trabalho por nada. Mas naquele momento estava absorto demais com a imagem misteriosa de Gaster e as crianças, o que aquilo deveria significar?

— Seu horário de almoço foi há duas horas Sans! – Papyrus gritou levando os braços pra cima, mas apesar de irritado não parecia ameaçador, afinal era Papyrus. Sans deu um meio sorriso, o escondendo colocando a mão na frente para o irmão não notar. – Há muito que ser feito hoje! A Doutora Alphys terminou de instalar o puzzle que ela desenvolveu, estou muito animado para ver como funciona! Claro que não será tão magnífico como os meus, afinal eu sou O Grande Papyrus!

— Tenho certeza que ela fez algo éphyco. – Retrucou com um sorriso de deboche no rosto, fazendo o rosto de Papyrus se retorcer de forma praticamente impossível para um crânio.

— Não faça trocadilhos infames no seu expediente! – Papyrus ordenou irritado, mas tudo o que Sans fez foi rir enquanto observava Papyrus de braços cruzados, se negando a olhar para o rosto do irmão mais velho e encarando a floresta coberta de branco. Snowdin era um lugar tranquilo e observando aquele cenário quase dava para acreditar que era intocado pelas preocupações.

Terem aceitado aquele trabalho foi uma das melhores coisas que poderia ter acontecido, Sans conseguia cochilar bastante enquanto Papyrus se sentia orgulhoso pelos seus feitos, com bons amigos e uma bela casa. Era uma vida tranquila, - até mesmo na época em que Sans sonhava com uma flor estranha - e bem melhor do que a que tinham antes. O porquê de sentirem aquilo era um mistério, afinal viviam na capital e Sans possuía um excelente cargo, mas por algum motivo não conseguiam ser plenamente felizes naquele lugar.

Snowdin os proporcionou a paz que buscaram por tanto tempo e apesar de não ser perfeito – principalmente para Sans, sendo assombrado como sempre – era o suficiente para os dois.

E por falar em assombração, lá estava Sans com aquele sentimento de angústia novamente. Observava o irmão vestido em sua fantasia de Guarda Real, feliz e esperançoso e se perguntava se por acaso conseguiriam permanecer daquele jeito. Por conta do sonho ele sentia que tudo estava instável e que em algum momento tudo poderia mudar drasticamente, como se Sans pudesse sentir as emoções do aviso de Gaster.

 - Ei, irmão. – Falou fazendo Papyrus voltar seu olhar em sua direção novamente. – Poderia me dar um abraço?

Sans não sabia ao certo por que sentiu aquela vontade inesperada de ficar próximo do irmão mais novo, mas provavelmente fora provocado pela aflição que sentia.

— Mas é claro que sim Sans! Nunca é cedo ou tarde demais para um abraço! – Respondeu já abrindo os longos braços. Sans mal saiu de trás do posto de vigia e fora erguido pelo mais alto que o apertara com força. Contudo, para Sans algumas costelas quebradas não eram nada comparadas ao carinho que sentiam um pelo outro. – Assim é o suficiente? Ou acha que devemos nos abraçar por mais alguns segundos?

— Está ótimo, você é o melhor Paps. – Sans disse enquanto era posto no chão novamente, pois por conta da enorme diferença de altura ele sempre acabava sendo tirado do chão por Papyrus.

— E você é o melhor fã número um que existe. – Papyrus sorria, afinal adorava ser bajulado. – Mas temos trabalho a fazer Sans, precisamos recalibrar nossos puzzles. Nunca se sabe quando um humano irá aparecer!

A palavra humano fez com que Sans estremecesse, lembrando-se não só das crianças estranhas em seu sonho, mas de uma promessa que havia feito. Entretanto, querendo ele ou não este era o seu trabalho: vigiar a procura de humanos.

Assim Sans e Papyrus combinaram de se encontrarem mais tarde, havia muitas áreas a serem cobertas em Snowdin e por conta disso precisavam se separar durante a vigia. Quando o irmão lhe deixou Sans voltou para seu posto, deitando a cabeça em seus braços enquanto observava a floresta escura, sentindo o sono começando a se apoderar de seu corpo mais uma vez.

Repentinamente Sans despertou antes mesmo que adentrasse no mundo dos sonhos, de forma tão brusca que fez seu olho brilhar nos tons de azul e amarelo instintivamente. Havia sons de passos vindo da floresta, mas não havia nada lá além de uma velha porta.

Se um dia uma criança humana passar por esta porta... Você poderia por favor, por favor me prometer algo?

Sans se levantou, saindo de seu posto. Pôs-se a observar a floresta, mas por conta do breu não conseguia enxergar ninguém chegando, apenas ouvir os seus passos lentos e hesitantes ecoando.

No dia que eu capturar um humano Sans, eu me tornarei um verdadeiro Guarda Real!

Deveria estar nervoso, mas apesar de tudo naquele momento Sans sentia que sabia o que deveria ser feito. Era o seu trabalho, não poderia escapar daquilo mesmo sendo um preguiçoso incurável. Sentia como se aquele tivesse sido o seu destino o tempo inteiro.

[Cuidado com as almas determinadas.]

Assim Sans se teletransportou para dentro da floresta de Snowdin, vendo ao longe a imagem de uma criança humana andando no subsolo.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a todos vocês! Vocês me encheram de determinação! ♥
Isso é tudo pessoal!



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