Teoria do caos escrita por Angelina Dourado


Capítulo 23
Depois da Queda - Capítulo Dezenove


Notas iniciais do capítulo

E começamos finalmente a segunda parte desta história! E com atraso, mas por sorte foi apenas um dia, desculpa pessoal ;p
Boa leitura!



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Para Alphys aquele havia sido o dia mais agitado de toda a sua vida, e ainda estava longe de acabar. Não só recebeu o título de Cientista Real pelo próprio Asgore, como ganhara o prestígio do rei por criar uma alma artificial!

Bem, não era exatamente uma alma artificial... Metaton era na verdade um corpo artificial! Mas era quase a mesma coisa, não é mesmo?

Alphys tentava pensar que sim.

Ela sabia desde muito cedo onde ficava o laboratório, na verdade não tinha como não ser visto, era basicamente uma caixa de metal gigantesca no meio da inóspita Hotland, não era algo lindo de se ver. Mas nunca se imaginou entrando neste lugar, muito menos trabalhando e possivelmente vivendo ali dentro! Era um sonho se tornando realidade.

Mal podia conter a ansiedade, a se ver na frente da porta esperou por alguns minutos antes de apertar o interfone, apenas contemplando o lugar e pensando sobre o seu futuro. Sua mão tremulava em direção ao botão de chamada, e quando o acionou acabou se assustando com o barulho estridente, dando um pulo que quase fez seus óculos caírem.

Surpreendeu-se ao ver que a porta se abriu sozinha. Não devia ser automático, afinal não era muito segura uma porta que abrisse para qualquer um, provavelmente havia sido acionada por alguém lá de dentro. Assim, Alphys entrou cautelosamente, sendo inundada pela luz artificial das lâmpadas e sentindo o frescor daquele ambiente gélido.

Havia um ar pesado naquele lugar, por algum motivo inspirava ao horror, ao medo, era como andar em uma rua escura no meio do nada. Alphys por um momento quis sair dali, esquecendo-se que aquele era o seu destino, que naquele lugar misteriosamente sombrio era onde estava o maior avanço de seu trabalho.

— Hey.

Alphys gritou assustada com a voz que apareceu de surpresa em seu encalço, virou-se para trás assustada, tremendo e com os olhos arregalados. Deparando-se a primeira vista com um maltrapilho no meio do ambiente mal iluminado.

— Q-quem é v-você?! – Questionou não conseguindo evitar o gaguejo. O outro monstro pareceu se assustar com sua reação, pois tinha dado alguns passos para trás. Por um segundo Alphys teve a impressão de ver seu olho esquerdo brilhar num misto de azul e amarelo.

— Calma aí! Gritando assim você me deixa aSOMbrado. – O estranho disse em meio a um riso nervoso. Ao ver que aparentemente ele não era um perigo, Alphys relaxou um pouco sua postura, conseguindo analisar melhor a pessoa em sua frente.

Ela sabia que haveria alguém ali dentro para lhe guiar pelo laboratório, lhe disseram que era o único funcionário atualmente, o antigo assistente do antigo cientista real. Alphys sentia muito curiosidade acerca do cientista, do qual estranhamente ninguém parecia saber seu nome ou como ele era, apenas sabia que era tão genial que criara algo tão magnífico como o Core.

O monstro a sua frente tratava-se de um esqueleto, baixo e robusto. Estampava um grande sorriso no rosto e parecia ser muito bem humorado, apesar de aparentar um tanto de desleixo. Seu jaleco estava amarelado, por baixo usava um suéter cinza com algumas manchas estranhas, com calças de moletom e não usando nada nos pés além de um par de meias.

— S-sinto muito, é que e-eu não estava e-esperando por isso... – Disse um tanto sem jeito, falar com estranhos já não era o seu forte, depois disso então Alphys não sabia como ainda podia abrir sua boca.

— Não se preocupe, vamos começar de novo. Eu sou Sans! Sans o... Esqueleto, obviamente, hehe. – Ele estendeu sua mão em direção a Alphys que aceitou o cumprimento um pouco hesitante.

— Alphys. Q-quer dizer, o meu nome é Alphys.

— Ah sim! Você é a nova cientista real, certo? Eu recebi uma mensagem mais cedo avisando que você viria, acho que vou ter que te mostrar como as coisas funcionam por aqui. – Sans passou por Alphys fazendo sinal para que ela o seguisse, comportando-se quase como um guia turístico. – O lugar aqui é bem grande, dá até pra usar essa parte superior como moradia se você quiser. Se eu não me engano o antigo cientista vivia aqui, na verdade as coisas dele ainda estão todas empacotadas. Mas não se preocupe, uma hora a gente tira toda essa tralha daqui.

 - OH, então você c-conheceu o antigo ci-cientista real? – Perguntou curiosa, mas se surpreendendo ao ver a expressão de Sans mudar completamente para um misto de confusão e reflexão. Ele parou, refletindo por alguns segundos como se buscasse por uma resposta em sua mente, como algo muito antigo que lhe custava lembrar.

— Não exatamente... Na verdade, ele era um cara bem reservado, nem sequer lembro de já o ter visto.  – Acabou respondendo e apesar de Alphys ter aceitado aquele resposta, o próprio Sans tinha dúvidas de sua própria memória. Era estranho, como um buraco em sua mente, onde na tentativa de preenche-lo ela tentasse colocar qualquer coisa para fazer alguma espécie de sentido.

Sans mostrou todas as facetas do laboratório, desde os cômodos repletos da mais alta tecnologia até os mais podres e caindo aos pedaços. Eram tantas salas e corredores para percorrer que o esqueleto sentia vontade de desabar no chão e tirar uma soneca, entretanto precisava treinar a mais nova cientista real.

O melhor de todo aquele tour com certeza era o seu guia. Apesar de todo o ambiente de trabalho e os assuntos sérios, Sans conseguia deixar tudo muito mais descontraído e confortável. Até mesmo Alphys se vira abrindo-se mais e entrando no meio dos diálogos que o outro cientista criava, debatendo ideias e diversos outros assuntos. Ela esperava que fossem amigos, não era todo dia que Alphys encontrava alguém com os mesmos assuntos em comum.

Mas apesar do jeito descontraído de Sans, por vezes Alphys não conseguia deixar de temer aquele lugar. Aquela aura sombria continuava a pairar pelo ambiente, como um fantasma muito silencioso. Além do mais, toda a complexidade das máquinas que deveria tomar conta e a responsabilidade de cuidar do laboratório começava a assustá-la. Tinha dúvidas se conseguiria tomar conta de tudo isso sozinha.

Principalmente quando se tratava do Core, que funcionava como o coração de todo o subsolo, sendo a peça mais importante do laboratório e a maior criação do antigo cientista real.

— Vou ser bem sincero com você Alphys, mas só falo isso pra você por que você parecer ser muito gente boa. – Disse Sans enquanto percorria os dedos pelas teclas da sala de controle da grandiosa máquina. Apesar de parecer querer entrar num assunto sério, o seu tom descontraído fazia Alphys se sentir menos nervosa e gostava de como a conversa entre eles fluía tão bem. – Eu só estou aqui ainda por que alguém tem que sempre ficar de olho nessa belezinha. O Core é quase independente claro, mas não dá pra correr o risco de deixar isso aí sozinho, imagina o estrago caso algo dar errado! Se não fosse por isso e pelo meu irmão, eu já teria largado tudo.

— M-mas por quê? Você parecer ser um ótimo p-profissional. – Questionou alarmada. Apesar da aparência de desleixo de Sans, no pouco tempo que estava ali com ele pode notar o quanto conhecimento o mesmo tinha, fazendo com que ela mesma se sentisse inferior a ele.

— Eh, nem eu sei direito. Olha, eu adoro a ciência e principalmente a área de física quântica! Por Asgore ás vezes fico vidrado no assunto e poderia discutir isso por dias. – Sans deu uma risada fraca antes de continuar, afastando-se do painel. – Mas estou aqui há tanto tempo, e estranhamente trabalhar com isso parece ser muito desgastante pra mim. Não sei se eu que sou muito preguiçoso, mas me sinto exausto de tudo isso.

Alphys não compreendeu o ‘’estou aqui há muito tempo’’, na verdade se o próprio Sans parasse pra pensar no que havia dito ele mesmo não entenderia. Ele parecia ser muito jovem, talvez fosse só alguns anos mais velho que ela, como poderia estar tanto tempo assim neste ramo? Talvez fosse só um sentido metafórico? Ela não compreendia, mas sentia-se triste ao ver que provavelmente não o teria como colega de trabalho.

— É uma pena... Seria le-legal ter você como co-colega. Aqui parece ser um tanto so-solitário. – Disse um tanto embaraçada e Sans sorriu ligeiramente, colocando a mão em seu ombro.

— Nem esquenta, posso ver que você vai se dar muito bem aqui! Melhor do que eu tenho certeza, mas de qualquer jeito, pode contar comigo pra qualquer coisa. Sabe, parceiros de ciência e tal. – Sans ofereceu um ‘’toca aqui’’ e Alphys o fez dando um riso nervoso. Realmente esperava poder ver Sans depois disso, ele parecia ser um cara legal.

A nova cientista real sentia que ainda tinha muita coisa a aprender sobre aquele lugar, mas mesmo assim Sans achou melhor pararem um pouco para fazerem um lanche. Assim num clima menos profissional, ambos puderam desabafar sobre suas decepções e sonhos sobre o futuro.

— Fo-foi um erro fazerem uma continuação de As duper gatinhas! Estragaram completamente com a história o-original. Não sei como aquilo fez sucesso! – Disse indignada, mas ao mesmo tempo aliviada em poder falar sobre isso para alguém, mesmo que Sans não entendesse nada do que estava falando.

— Sabe o que seria ótimo para este laboratório? Uma máquina de batatinhas. – Sans comentou provavelmente inspirado pelas próprias batatas que estava dividindo com Alphys. Estavam sentados em um sofá velho de um dos escritórios já desativados do edifício, apenas relaxando um pouco daquele dia agitado que tiveram.

Como um cômodo não mais utilizado, era óbvia a sua decadência. Havia alguns móveis quebrados acumulados em um canto, a poeira voava pela correnteza de ar dos tubos de ventilação gastos, junto a diversos papéis e planilhas azuladas espalhadas pelo chão, algumas estavam até rasgadas ou molhadas. Por curiosidade, Alphys pegou uma das planilhas que estava aos seus pés, surpreendendo-se com os estranhos símbolos que a preenchiam.

— Interessante... E-esses códigos aqui, foi e-ele... Que-quer dizer, foi o antigo cientista re-real que criou isso? – Alphys perguntou impressionada e Sans ficou sério novamente, parecendo tentar se lembrar de algo.

— É, ele usava essa forma estranha pra escrever. – Ele confirmou um pouco hesitante e Alphys ao notar aquilo decidiu não fazer mais perguntas, por algum motivo aquilo deixava Sans desconfortável.

O porquê disso nem Sans compreendia. Era apenas um pressentimento estranho de que não era seguro meter-se com aqueles velhos projetos, e esperava que Alphys não decidisse tentar descobrir o que estava escrito. Tinha uma vontade enorme de recolher todos aqueles papéis e livrar-se deles de uma vez por todas, para que ninguém sentisse tentado a copiar as ideias do antigo cientista. Sans sabia que tinha um motivo para sentir aquilo, mas por mais que tentasse lembrar não vinha nada em sua mente.

Enquanto estava perdido em seus próprios pensamentos, Sans deu-se conta numa terceira pessoa naquele cômodo. Uma presença quase fantasmagórica, que sem notar Sans acabou por congelar o tempo ao seu redor.

Mas a figura a sua frente, não pareceu ser afetada pela sua mágica.

Nunca havia visto aquele monstro antes. Era pequeno, de forma humanoide e com grandes olhos, sendo de um cinza sólido que mais parecia algo impresso em uma máquina do que real. Sua face era estagnada, completamente morta.

— Quem é você? – Indagou alarmado, estava completamente paralisado, sem saber como agir. Por algum motivo, aquela estranha figura lhe causava mais medo do que deveria.

Faz sentido por que Asgore demorou tanto tempo para encontrar um novo cientista real. — A estranha criatura falou, com uma voz tão baixa que mais parecia um sussurro sofrido, e estranhamente robótico igual a uma máquina antiga. – Afinal, o outro... Dr.Gaster. Que exemplo a ser seguido!

Dr.Gaster.

Ao ouvir aquilo, a alma de Sans pareceu parar por alguns segundos e ao retornar, memórias antigas começaram a bombardear a cabeça de Sans. O doutor, ele e o irmão vivendo juntos, os experimentos, o laboratório.

A queda.

Tudo de uma só vez, fazendo Sans levar sua mão a cabeça, os olhos ficando completamente negros. Se fosse possível, estaria suando de pavor, seus ossos tremiam, e sua cabeça parecia girar.

Eles dizem que ele criou o Core. Porém, a sua vida... Durou pouco. Um dia, ele caiu em sua criação, e...— A criatura fez uma longa pausa antes de continuar, e por um momento pareceu que alguma outra expressão surgiria naquela face congelada. – Será que Alphys vai acabar da mesma maneira?

E em um piscar de olhos a criatura sumiu e o tempo voltou ao normal. Como se jamais tivesse acontecido.

— Eu vo-vou ter bastante tra-trabalho para limpar este lugar. – Alphys comentou alheia ao que tinha acontecido, enquanto o próprio Sans estava horrorizado.

— Gaster. – Disse quase que em transe. – O nome dele era Gaster.

— Oh, está fa-falando do antigo ci-cientista? – Alphys perguntou curiosa. – Haha, po-por um momento pensei que ni-ninguém sa-sabia sequer seu no-nome.

Mas seu nome não era apenas Gaster. Qual era o resto?

Mas no final desta frase, Sans já havia se esquecido de todo resto. O Vazio havia varrido mais uma vez todas as suas lembranças com o antigo cientista real, fazendo-o novamente se sentir tão vazio quanto o próprio.

Só que um sentimento permaneceu, o de que não queria Alphys ali. Como se ela pudesse ser contaminada por aquele lugar sombrio. Mas aquela não era a decisão dele, o destino da jovem garota já havia sido decidido pelo rei. Queria ao menos estar ali para guia-la, entretanto, o que podia fazer se ele próprio não mais suportava o laboratório?

— Está na hora de fechar. – Disse secamente, e Alphys pigarreou qualquer coisa do qual não prestou atenção. Apenas começou a trancar as portas e a desligar alguns aparelhos enquanto a garota lhe seguia silenciosamente.

Precisava sair dali, não aguentava mais aquele lugar.

— E-ei Sans! – Alphys falou um pouco mais alto, provavelmente por que já estava tentando falar com ele já havia alguns minutos, mas a havia ignorado. Obviamente ela notara aquela brusca mudança de humor, mas para sua sorte ela não se atreveu a perguntar o porquê.

— Sim? – Indagou enquanto trancava a porta de entrada, sentindo-se já um pouco mais leve a se ver do lado de fora.

— Ã... Be-bem, claro que esta nã-não é a sua área e vo-você po-possue muito mais co-conhecimento para um cargo assim... Ma-mas apenas se quiser saber, já-já que está pensando em sair daqui... Ouvi dizer que estão contratando vi-vigias em Snowdin.

— Sério? – Indagou levemente interessado, colocando as chaves no bolso. – Vou pensar sobre isso com meu irmão. Obrigado Alphys.

— I-imagina Sans, eu a-apenas... – Alphys foi interrompida com uma mão repousando em seu ombro, dando de cara com Sans que parecia ter voltado ao seu humor habitual, com um largo sorriso no rosto.

— Não esquenta garota, aposto que você vai se dar muito bem aqui. – Sans disse dando dois leves tapinhas em seu ombro antes de começar a se afastar. – Até logo Alphys!

— A-até logo! – Despediu-se, mas quando olhou para qualquer outro lugar que não fosse o chão, Sans já estava alguns metros a frente. Vendo-se sozinha, Alphys deu uma boa olhada para o laboratório, e as extensões do Core ao seu redor, contemplando a sua imensidão.

Seria aquele um sonho ruim?


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Notas finais do capítulo

Não entendo como tem tanta gente que não gosta da Alphys, eu acho a história dela tão interessante! Mas não só ela aparecerá aqui nesta história, outros personagens conhecidos estão por vir ^-^
Pelo que estou planejando aqui, parece que esta segunda parte vai ser um tanto menor que a primeira, até por que a passagem de tempo é bem menor. Acho que será uns dez ou doze capítulos. Ao menos pretendo terminar a história antes de seu primeiro aniversário, será que consigo? Veremos ;p
Comentários são sempre bem vindos! Estou de olho nesses fantasmas ^-^



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