Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 2
S01C02 - Diga Adeus


Notas iniciais do capítulo

Oláaaa, gente!
Como cês tão?
Segundo dia de olimpíada, os ginastas ainda se apresentando no Rio...
Espero que o Samir Ait Sait, o ginasta francês, consiga se recuperar :/
Boa leitura!



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— Ron! Como você...? – Ofegante de emoção, Harry deslizara furtivamente até a janela, abrindo-a para conversar com o amigo que não deveria estar ali.

Quando Florence se achegou ao lado do primo para participar da cena, deixou seu queixo cair por vários segundos enquanto processava a cena a sua frente. O garoto ruivo estava debruçado precariamente sob um carro azul que flutuava em frente à janela de Harry, com outros dois garotos ruivos idênticos nos bancos da frente.

— Que houve com você, Harry? Não tem respondido minhas cartas, nem dado sinal de vida! – Perguntou o garoto ruivo chamado Ron, que encarava Harry consternado.

— E aí, Harry? Quem é essa? – Perguntou o ruivo ao volante, se dirigindo à Harry, logo após apontando discretamente com a cabeça para Florence.

— Sou p-prima do Harry. – Florence se repreendeu por gaguejar, mas estava estupefata demais com cena para não o fazê-lo. – Como vocês...

— Espere um momento, Florence... – Falou Harry enquanto subia em cima de sua cômoda para falar melhor com o amigo. – Escute, Ron... não foi minha culpa não responder suas cartas! Mal as recebi, mas a história é longa demais para se contar tão depressa. Preciso que contate o professor Dumbledore por mim. Os Dursley estão me prendendo aqui, não vão me deixar voltar para Hogwarts...

— O que é que você está falando? – Perguntou Ron, o cenho franzido. – Viemos te buscar para leva-lo conosco!

Harry se sentira nas nuvens por um momento, agradecendo aos céus por ter amigos tão bons, até que se lembrara da prima atrás de si. Florence mal acreditava no que ouvia. Seu lado mais egoísta e narcisista insistia em se entristecer com a saída repentina do primo, mas seu lado que amava Harry, o prevalecente, ficou extremamente feliz por ele.

— Ande, Harry! Depressa! Tem que arrumar suas coisas enquanto meus pais não acordam. Se fizermos pouco barulho talvez nem acordem. – Falou Florence excitada, se virando para correr até a porta e vigiar o corredor. Foi impedida pela mão do primo.

— Não posso te deixar para trás, Flor. Você também é bruxa, merece ir para Hogwarts tanto quanto eu! – Falou Harry, enquanto olhava a prima nos olhos. Florence sentia que o peito poderia romper de tanta felicidade com a demonstração de afeto do primo, mas não podia deixar que aquilo acontecesse.

— Harry, meus pais nunca vão deixar que eu frequente uma escola bruxa! Nem em um milhão de anos! Pegue sua chance e vá. – Falou Florence, tirando a mão do primo do braço e sorrindo um pouco. – Hey, vocês ruivos. Nenhum de vocês sabe arrombar um cadeado?

— Bom... por acaso, achamos que aprender essas coisas trouxas pode ser uma utilidade... então sim, senhorita! – Falou o ruivo número dois à frente. – Mas temos que tirar esse pequeno problema do caminho, não? – Falou o ruivo, apontando para a grade. – Sou Fred, a propósito.

— Amarre isso nas grades – falou Fred, jogando uma corda grossa ao encontro de Harry.

— Se os Dursley acordarem, estou morto. – Falou Harry preocupado. Querendo se fazer útil de algo, Florence se abaixou na portinhola da porta e escutou com atenção os barulhos provindos do quarto dos pais.

Quando voltou o olhar para a janela novamente, somente pode ouvir o barulho de trituração que saía das grades sendo arrancadas da parede. Prestou um pouco mais de atenção nos pais, mas tudo que ouvia eram os roncos de Vernon. Suspirou aliviada.

Observou enquanto o carro dava uma quinada e subia quase verticalmente no céu para que as grades não fizessem estardalhaço, voltaram para baixo somente quando Ron as guinchou, ofegante, para o banco traseiro do carro. O ruivo que não era Fred deu marcha ré até que o carro estivesse em frente à janela novamente.

— Entre logo, Harry! – Falou Ron, abrindo a porta do carro azul para meu primo.

— Não posso, minhas coisas... todas presas!

— Todas as coisas bruxas dele estão trancadas no armário sob a escada. Vocês aí gêmeos parecem altos, então reparem na soleira da entrada da cozinha, verão um pequeno molho de chaves lá. Vão! – E os gêmeos pularam do carro para a casa feito gatos, passando por Florence e Harry e indo abrir silenciosamente a porta do quarto do garoto.

— Você não quer ir conosco? – Perguntou Ron, ainda do carro, olhando para Florence.

— Não posso. Vocês têm aquele bruxo superpoderoso Dumbie ou algo assim do seu lado. Tentem falar com ele, creio que será de melhor ajuda. – A conversa paralela sessou quanto ouviram o clique da fechadura aberta. Os olhos dos gêmeos passaram para Harry.

— Vamos apanhar suas coisas. Enquanto isso, passe o que precisar do seu quarto para Ron, depressa! Não vamos demorar. – Falou o ruivo que Florence ainda não sabia o nome, que olhou diretamente para ela e sorriu marotamente. – A propósito, sou George.

Harry foi ajudar Fred e George a subir com o malão e suas outras coisas escada acima, então Florence se ocupou com a tarefa de passar todas as outras coisas necessárias à Ron pela janela. Quando Florence achara que terminara, um reflexo prateado refletiu da cômoda de Harry até seus olhos.

Observou a coruja de Harry por poucos segundos, caindo em si rapidamente. Estava ajudando o primo a fugir de casa. Seus pais enfartariam no dia seguinte! Pegou rapidamente a gaiola com a coruja e a passou silenciosamente para Ron do outro lado de janela.

Finalmente, ofegantes, os garotos entraram novamente no quarto de Harry com o malão à tiracolo, carregando-o para a janela aberta. George pulara para o lado de Ron, para ajudar a puxar o malão, enquanto Harry, Fred e Florence empurravam pelo outro lado. Tarefa árdua, levaram minutos para enfim...

— Mais um pouquinho... – gemeu George, do carro. – Só mais um empurrãozinho...

E o malão deslizou do quarto para o carro flutuante.

— Florence, estou implorando! Por favor, venha conosco. – Falou Harry, abraçando a prima que tanto ajudara.

— Eu não posso, Harry. Eles são cruéis, mas ainda são minha família! Acho que meu pai morreria se eu sumisse da noite para o dia, sem explicação. – Falou Florence, enquanto apertava Harry em seu abraço, sentindo o coração murchar com a despedida. De novo.

— Eu prometo, Flor... vou mandar uma carta ainda hoje ao professor Dumbledore. Ele não vai deixar alguém tão extraordinária quanto você aqui presa... – Harry ainda não acreditava em suas próprias palavras, mas Florence fingiu deixar-se enganar. Não seria ela a pedra que impediria Harry de seguir com a própria vida.

— Vá.

 

Florence não havia conseguido dormir depois da saída do primo, então não foi acordada pelo grito de Petunia ou pelos brados de Vernon, na manhã seguinte. Suspirou levemente e se levantou para se arrumar. Ao menos Florence havia tido aulas de teatro.

Saiu do quarto com uma expressão cansada e desinteressada, atuando perfeitamente. Observou a cena por um momento antes de se pronunciar; Petunia gesticulava com o marido firmemente enquanto apontava para o quarto do sobrinho, enquanto a cor de Vernon se divergia entre verde-adoentado e vermelho-furioso.

— Mãe, Pai, o que está acontecendo? Essa gritaria logo pela manhã... – Sim, Florence podia ser falsa.

— O que aconteceu... sim, o que aconteceu foi que tivemos mais uma confirmação hoje, Dahlia. Seu adorado priminho é um delinquente juvenil, um criminoso mal-agradecido. – Sussurrou Vernon, não parecendo capaz de fazer mais que isso.

— Que escândalo! O que será de nossa reputação quando virem as marcas na parede? A Sra. Flitz não precisa de mais motivos para maldizer essa casa, a velha... – Florence odiava quando a mãe torcia o nariz, com a mão no peito.

Florence fez sua melhor cara de atriz para fingir surpresa, o que enganou facilmente o pai, mas a mãe era uma águia para detectar mentiras. Florence torcia para que tivesse conseguido engalobar a megera.

— E você, Dahlia! Eu nunca imaginaria, uma filha minha... mais uma daquela laia de... anormais. Estamos conversando sobre o plano anual do seu internato. Parece que usa suas férias para compactuar com aquele projeto de demônio, logo não as terá mais... – Vernon não parecia apiedado da filha, parecia, na verdade, livre de um peso ao dizer aquelas palavras. Isso magoou Florence mais do que podia mesurar. Observou o pai dando as costas a ela.

— Se acha que eu caí em sua pequena mentirinha está muito enganada, garotinha... não sei como, mas você tem algum dedo na saída silenciosa de Potter. Não pense que pode me enganar, ainda sou sua infeliz mãe. – Petunia havia agarrado o braço da filha quando Vernon dera as costas, e Florence sentia o sangue parar de circular pelo braço, mas a mãe não parecia muito disposta a larga-la.

— Eu não...

— Tão parecida com minha irmãzinha miserável... e todo esse cabelo loiro. – Petunia não a olhava com ódio, mas sim com nojo e decepção profundos. – Queria ter podido me livrar de você quando tive a chance, mas Lilian não pode morrer antes de me impedir, certo? Não morreu nem mesmo em hora oportuna, e gostava de se enfiar em assuntos que não lhe eram próprios. Esse foi o motivo de sua morte, não siga pelo mesmo caminho, idiota.

Parecia um conselho distorcido, mas Florence não conseguiu assimilar muito o fato quando tudo que retumbava em sua mente era o fato que sua mãe havia cogitado até mesmo um aborto para se livrar dela. A ideia pareceu absurda antes de ser tornar indiscutivelmente dolorosa.

Devia sua vida miserável à mãe morta do primo. Doce ironia.

 

Os dias se passavam lentos desde o dia fatídico da fuga de Harry Potter da Rua dos Alfeneiros. Florence estudava e lia os livros que Dudley descartava, Vernon trabalhava, Petunia fofocava e o próprio Dudders continuava a tornar a vida de alguns outros miserável. A janela do quarto do primo havia sido consertada e nada mais fora falado do assunto.

O aniversário de Florence fora no dia anterior e os pais haviam lhe presenteado com alguns livros sobre como uma garota deve se portar na sociedade. Florence havia picotado todos, jogado no vaso sanitário e dado descarga; coisa que os pais jamais poderiam sonhar. O dia sete de agosto nunca tinha sido tão enfadonho.

Florence criou o hábito de observar pessoas, o que se tornou um hobbie. Por isso, passava sempre algum tempo do dia observando a vida monótona dos moradores de Little Whinging. Em quatro dias, descobrira segredos que a própria mãe se desdobraria para ouvir.

 O marido da fofoqueira Sra. Flitz (com quem Petunia passava a maior parte do dia, embora se detestassem mutuamente) a traia com a filha de dezenove anos do vizinho. A Sra. Dodge, uma professora de matemática viúva, tinha um caso sexual com um de seus alunos. Mas o Sr. Abrams era o mais curioso, de fato.

O Sr. Abrams era o homem mais bonito e charmoso do bairro inteiro, por isso, Florence não descobria o motivo de ter se casado com sua mulher, senhora detestável, nada bonita e de gostos duvidosos; por algum tempo achou que fosse por amor (nada impossível), até descobrir que o Sr. Abrams também tinha um amante (sim, homem) igualmente bonito, porém intragável. A pulga continuava na orelha da garota.

Noutro dia, enquanto saia para uma caminhada prolongada pelo parque, Florence observou o próprio homem encostado em uma árvore gigantesca, longe da esposa. Ele tragava um cigarro segurado pelos dedos longos e soltava a fumaça suavemente para baixo, longe da roupa. Florence mal sabia seu primeiro nome; Petunia achava pouco decoroso garotas sequer saberem os nomes de homens casados ou mais velhos, e achou que aquela seria uma boa hora de descobrir.

— Olá, Sr. Abrams. – A garota dispendeu seu sorriso mais brilhante ao homem, o que não mudou sua chegada de surpresa, que fez o homem se embaralhar com a fumaça e o cigarro, tossindo. Acabou por jogar o cigarro no chão e o pisar.

— Olá, senhorita... Dursley, certo? Um belo dia este. – Falou o homem, enquanto continuava encostado na árvore, sem demonstrar sinais de respeito. Florence não ligou muito, sabia que ele não julgava mulheres como muito importantes; isso a irritava.

— Sim, de fato um belo dia. – Falou Florence, enquanto se sentava em uma das grandes raízes da árvore. Isso fê-la reparar que aquela era a única árvore de todo o parque que obtinha suas raízes proeminentes. Achou o fato digno de nota. – Sr. Abrams, o senhor acredita em amor para toda a vida?

— Sim, senhorita. Mas é algo incomum de se pensar nessa idade, suponho. – Ele estava curioso.

— Oh, desculpe! Certamente deveria estar pensando em bonecas... que cabeça a minha. – Um sorriso felino se abria no rosto da garota.

— Ora, que personalidade! – Surpreendeu-se o homem. – Mas já que deseja esse assunto, não vou me opor.

— Tudo bem, então... – Falou a garota, olhando-o de baixo e medindo-o. Decidiu ser direta e franca, ele não parecia fraco e tolo, como a maioria. Parecia somente tolo. – Se acredita em amor para toda a vida, por qual motivo se casou com sua senhora Abrams?

O homem levantou uma das sobrancelhas e encarou a garota estupefato, mas respondeu ainda sim. – Amo-a.

— Hm, curioso... – Florence decidiu que gostava dessa brincadeira de manipulação. – Qual seu sentimento pelo então belíssimo senhor que o visita sempre às onze da noite em ponto? Ama-o da mesma forma ou um pouco mais?

O homem mediu a garota duas vezes antes de se dar conta que fora pego por uma criança. Pior, uma mulher. Sempre tivera um mal olhar às mulheres. – Garota esperta, essa. Amo minha tola esposa como amaria um irmão, e amo meu adorável amigo como deveria amar uma esposa. Responde sua pergunta?

— É uma sociedade ruim, é o que digo. Deveria ter se casado com o outro. Porém, todas essas perguntas deveriam ser sobre seu desconhecido nome, na verdade. Desconhecido por mim, é claro. Qual o é?

As risadas do Sr. Abrams se prolongaram por longos minutos, mesmo depois de sua saída do lugar. Ele não respondeu a última pergunta da garota, mas ela dera o assunto por encerrado mesmo assim.

            O belo e arredio Sr. Abrams morreu no dia seguinte, vítima de um acidente de carro. E Florence decidiu que ele não precisava de um nome.

 

x...x

 

Os Dursley não compareceram ao enterro do Sr. Abrams, Dudders contraíra um terrível resfriado, que o impedia de fazer quase tudo, exceto, é claro, comer.

Petunia decidira então transformar Florence na cozinheira substituta da família, já que ela mesma tinha de adular Dudley o máximo que era possível.

Felizmente, Florence amou a arte de cozinhar; o que transformava as horas dentro da cozinha prazerosas e educativas. Florence havia desenterrado o velho livro de culinária dos Evans e fazia um bom uso dos anos de experiência das antepassadas da família.

Naquela tarde, Florence estava na cozinha cozinhando uma bela torta de morangos (a favorita de Dudders). O pai havia saído para o trabalho como sempre e Petunia havia saído para o centro para comprar mais remédios para Dudders, que se queixava de dores que Florence sabia que não existiam.

Se não estivesse tão atenta ao livro que lia compenetrada, Florence certamente teria visto o estranho antes. Ao levantar os olhos do livro de receitas pela primeira vez em vários minutos, Florence deixou-o cair com um baque seco ao chão enquanto gritava e empunhava uma frigideira como se fosse uma arma.

Havia uma pessoa totalmente desconhecida para Florence em sua cozinha. Era ainda mais alto que sua mãe, e tão magro quanto, porém muito velho. Sua barba e cabelos eram prateados, e ambos extremamente longos; algo que gente como seus pais nunca perdoariam, mas Florence achou curioso. Usava uns óculos pequeno com lentes em formato de meia-lua por cima dos olhos claros, apoiados em um nariz compridíssimo e completamente torto.

— Quem diabos é você? E o que faz na minha casa? – Perguntou Florence, andando calmamente de costas em direção ao telefone da cozinha. Pretendia ligar para a polícia, é claro.

— Deveria estar mais interessada em quem você é e o que faz aqui. – Falou o senhorzinho calmamente. – Mas concordo que não é a hora certa. Sou Albus Dumbledore. Seu primo, Harry, me enviou.

Florence não confiou muito no homem. Ele parecia inteligente e confiável, mas o sexto sentido da garota não acreditou muito em seus olhos, e seu maravilhoso sexto sentido estava sempre certo. Sempre. Porém ele não parecia mentir, e sua aparência era exatamente o que ela esperava de um bruxo.

— O que espera fazer? Enfeitiçar meus pais? Não vejo outra forma de que possa me tirar dessa casa. – Falou Florence infeliz, largando enfim a frigideira e indo em direção ao forno. Sua torta ao menos estava bonita, restava saber se estava saborosa. – Sente-se, por favor.

— Veja bem, minha querida... – começou Albus, sentando-se a mesa dos Dursley. Era uma cena no mínimo incomum. – Todos os estudantes bruxos têm uma vaga em Hogwarts desde o nascimento, com você não seria diferente. Tenho certeza que seus pais irão compreender.

Florence procurou não discutir, embora tivesse certeza da insensatez do homem. Calçou uma luva grossa nas mãos e tirou a bela torta do forno. Sua boca salivou, mas a bendita tinha de esperar ao mínimo três horas na geladeira antes de ser consumida. Nesse tempo seu irmão obeso teria acordado e a comeria toda em uma dentada.

— Que doce maravilhoso! – Observando a guloseima nas mãos da garota com os olhos brilhando, Dumbledore retirou um toco de madeira das vestes e balançou-o na direção de Florence. Imediatamente, a torta parou de vaporizar. – Creio que possa desfrutar de seu feito com agilidade agora, Florence. Seria uma boa anfitriã e me ofereceria um pedaço, por favor? Esse velho tem um fraco por doces...

Florence era gentil, então serviu dois pedaços em um prato destinado a Dumbledore e pegou um único para si própria. Após guardar o restante na geladeira, sentou-se ao lado do idoso e começou a comer. Ambos calados e desfrutando de uma torta foi como Petunia Dursley encontrou-os algum tempo depois.

Florence apostava que o grito da mãe teria sido ouvido do outro lado de Little Whinging, senão mais além. As pequenas compras em seus braços foram parar no chão enquanto Petunia corria para o lado de Florence e pegava a mesma frigideira que a filha outrora pegava. Se sentiu infeliz ao perceber que, talvez, fosse realmente um pouco parecida com a mãe.

— O que diabos faz em minha casa?

— Como são parecidas! – O olhar que Petunia lhe destinou não era, de longe, amigável, mas piorou um pouco ao ouvir a comparação com Florence. – Tenho certeza que se lembra de mim, Sra. Dursley.

— Claro que me lembro! O precursor de toda a minha desgraça. Mas lembro claramente de ter perguntado o que fazia em minha casa. Responda!

— Petunia, realmente pensou que Florence não frequentaria Hogwarts? Tal qual a família? – Perguntou Dumbledore, os olhos claros brilhando através das lentes dos óculos.

— Somos a família dela! E ela não vai para aquele lugar, nunca! – Petunia estava vermelha e tremia de tal modo que parecia tentada a jogar a frigideira no velho a qualquer momento.

— Srta. Dursley... Florence... deixe-nos à sós por um momento, sim? Creio que sua mãe precise de uma conversa mais esclarecedora sobre o assunto.

Florence abocanhou a última colher de torta que estava sobre a colher em sua mão e levou o prato sujo à pia. Saiu calmamente da cozinha, sem olhar para trás. É claro que, esperta como era (embora fosse uma víbora em si) e conhecedora de ambos os filhos, Petunia mandou-a ir direto para o quarto, com a promessa que estaria de castigo até o fim dos tempos se desobedecesse.

Florence era uma garota impetuosa, e ainda assim muito inteligente. Correu para o quarto e trancou a porta, escorando uma cadeira firmemente contra a maçaneta. Foi em direção à janela, que, para sua sorte, era logo ao lado da cozinha e longe dos olhares dos curiosos transeuntes da rua.

A garota tinha um certo temor de altura, mas nada que a impedisse quando estava determinada. Abriu a janela e jogou o corpo afora, apoiando-o somente no parapeito da janela. Quando estava suficientemente segura pelas pernas, Florence se jogou com o silêncio de um gato em direção ao telhado da cozinha, mais baixo que o restante da casa. Ignorando o coração ribombando dentro do peito, a garota pôs-se a ouvir a conversa secreta.

— ... nunca! Em toda minha vida... como ousa sugerir tal coisa? – Ofegou sua mãe, aparentemente escandalizada. As vozes de ambos, Dumbledore e Petunia, eram quase levadas pelo vento e suprimidas pela porta e paredes. - ... levada para longe... aquele ser desprezível...

— Voldemort... morto... Harry. – Talvez se Florence chegasse um pouquinho mais perto da janela aberta da cozinha... - ... perfeitamente capazes de cumprir com suas obrigações. Suas escolhas são passado, mas as consequências delas são gritos que não pode ignorar, Sra. Dursley. Assuma-as ou o farei por você.

 - Não faria tal coisa nem séculos de tortura, seu miserável. Já lidei com minhas consequências, certamente não acha que pode arruinar anos de...

O barulho de um carro conhecido fê-los parar a conversa imediatamente. Era o carro de Vernon, que chegava do trabalho. Petunia ou Dumbledore deixaram nenhuma palavra escapar, tampouco o velho fora embora, restando o pequeno espaço de tempo que levou até que o Sr. Dursley chegasse à cozinha.

— Mas... o que?! – Cadeiras foram arrastadas e xingamentos pesados foram desferidos, até que Vernon recompôs-se. – Quem é você? O que faz em nossa casa?

— Temo que já nos conheçamos, Sr. Dursley. Embora não pessoalmente, é claro. – Falou Dumbledore, calmamente. – Sou Albus Dumbledore, como deve se recordar agora.

— O maldito homem que largou o garoto imprestável em nossa porta, hm?! – Florence podia apostar todas suas coisas que o pai estava vermelho. – Veio buscá-lo tarde, já não o quisemos desde o primeiro dia, velhote.

— Sugiro que consiga mais calma e paciência para aguentar alguns anos mais. Vim tratar de um assunto urgente. – Continuou a voz baixa. – Não recebemos a coruja da Srta. Dursley confirmando sua presença em Hogwarts. Estou ciente da estadia do Sr. Potter na casa dos Srs. Weasley pelo resto das férias escolares, e também da falta de coruja dos senhores. Certamente posso atribuir esses fatores à carta não enviada, certo?

— Errado, velho insolente! – Falou Vernon novamente, Petunia havia estado calada desde a chegada do marido, e não soava que se pronunciaria tão cedo. – Minha filha nunca irá para o antro de anormais que você conduz. Nem por cima do meu cadáver.

— Bem... só me resta ressaltar que eu já havia pontuado alguns assuntos com a Sra. Dursley. Amanhã, duas pessoas da minha mais alta confiança estarão à sua porta para levar a pequena Florence até a casa dos Srs. Weasley. Eles não os forçarão a entregar a menina, é claro. Mas se ela for impedida, contra sua vontade, como bem sei, terei de enviar um protegido meu. Creio que Petunia o conheça. Um antigo amigo de Lilian.

— Não me importo! Ela não irá.

Florence não vira, mas Petunia estava lívida e pálida atrás do marido púrpuro. O olhar de Dumbledore lhe caindo como uma lupa para procurar seus segredos mais sombrios. Viu o olhar do bruxo se desviar de si para Vernon, e soube que, no fim, ela não poderia impedir o inevitável. Mas Petunia era absolutamente medrosa, e ótima em adiar certos momentos.

Florence mal podia acreditar no que estava acontecendo desde o dia anterior. Petunia se enfurnara no quarto de casal com Vernon, o mesmo gritando frases desconexas e estapafúrdias enquanto a esposa sussurrava.

A loira tinha voltado sorrateiramente para o quarto e aguardava a porta do mesmo se abrir. De forma ou outra, seu futuro iria se decidir pelas próximas horas. Contou os minutos enquanto observava um gato de listras amarelas no muro da vizinhança. Sentiu um arrepio que durou por segundos. O gato estava observando-a. "Loucura”, pensou Florence enquanto atribuía o arrepio ao frio. Fechou a janela.

Como se os acontecimentos fossem impulsionados pela ação da janela, a porta do quarto se abriu com um rompante batendo na parede. O pai como um boi enfurecido no portal e a mãe olhando cabisbaixa para as costas enormes do marido. Vernon começou.

— Dahlia, querida... entendo que é muito nova para entender essas coisas de adultos, – Florence irritou-se imediatamente – mas precisamos que entenda. Esses lunáticos estão tentando leva-la de nós. Não podemos impedir, obviamente, então é sua decisão.

— Ir com eles, ou ficar. – Falou Petunia. Pela primeira vez na vida, Florence viu um traço de amor nos olhos da mãe, que estavam brilhantes pelas lágrimas que a mesma parecia segurar. Se sentiu culpada no mesmo instante.

— Eu... eu... – Florence ia ficar, claro que ia! Sua insensível mãe estava chorando por ela. Abriu a boca para tranquilizar os pais, mas ouviu-se um berro antes disso.

— MÃE! MINHA TORTA! – Era Dudders, é claro. Ninguém lhe entregara o doce preferido, e quando o fizessem, ele, obviamente, a jogaria furioso no chão. Dudders não apreciava dividir. Sentiu um aperto no coração e a vontade de chorar voltar quando disse, com a voz firme como nunca antes:

— Eu vou com Harry.

 

A perspectiva de não permanecer na Rua dos Alfeneiros com os pais pareceu cada vez mais acertada quando os acontecimentos seguintes se desenrolaram.

Petunia chegou-se perto de Florence com sangue nos olhos, o brilho de amor nos olhos sumindo tão rápido quanto viera. Os berros de Dudders ecoando no quarto próximo e a visão do pai parado no batente da porta não emudeceram a dor de ter a mãe sacudindo-a tão forte pelos braços que faziam os dentes de Florence chocarem uns com os outros.

— Ingrata! Como pude acreditar que... tão parecida com ela! Devia ser minha filha. – Petunia havia parado, mas ainda segurava os braços de Florence com tanta força que a garota sentia as unhas enfiando-se na carne. Olhou para a mãe com um medo que nunca sentira antes, mas Petunia mal parecia vê-la.

Petunia só soltara a filha quando o marido, postado atrás de si, puxara-a calmamente de perto da garota, dizendo entredentes. – Deixe-a, querida. Não é mais nossa filha, escolheu a parte degenerada da família. Que seja.

Vernon olhava a filha com ódio, e Florence sentiu o mundo ruir ao seu redor. Seu pai sempre fora seu porto seguro, a pessoa que Florence sabia poder se apoiar quando a mãe não lhe dava o amor que dirigia a Dudley. Vernon lhe amara tanto que Florence podia se sentir satisfeita, mesmo que não tivesse o que lhe era devido por parte da mãe.

Observou ambos os pais saírem de seu quarto, sentindo um vazio estranho no peito. Florence desejou poder chorar, os soluços secos eram mais dolorosos que qualquer lágrima.


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Notas finais do capítulo

Tadinha da Flor ;-;
Comentem, pessoal ;)
Beijões,
Meg.