Le Sobriété de Pouvoir escrita por Megara


Capítulo 16
S02C06 - O cão


Notas iniciais do capítulo

Oiê! Espero que gostem!
[CAPÍTULO BETADO 22/02/2020, @PatBlack, [u/26945/]



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            A conversa com Oliver Wood somente ocorrera no dia anterior, mas as histórias que o garoto contara a Dahlia não saíam de seus pensamentos. Tudo que ela podia pensar era em bruxas, grimórios e covens, por mais que não soubesse nem o básico de toda aquela história.

            Ela não havia contado nada do combinado com o capitão do time da Grifinória para suas amigas, ainda que se sentisse compelida a fazê-lo. A garota sabia muito bem que suas amigas nunca se atreveriam a contar uma palavra a qualquer pessoa, mas a Dursley estava desconfiando até mesmo que as paredes do castelo pudessem ouvir sobre aquele assunto. Sempre que algum colega de casa se adiantava para iniciar uma conversa com a garota, seu coração disparava dentro do peito. Ela sabia que podia estar sendo paranóica, mas, ao mesmo tempo, não acreditava que qualquer cuidado fosse exagero.

            Como ela não podia contar com qualquer ajuda de Ginny, Gwendolyn ou Luna e, aproveitando que tinha uma autorização especial da Profa McGonnaga para que pudesse pegar a quantidade de livros que desejasse, ela foi até a biblioteca e pegou nada menos do que sete livros diferentes sobre o século X, que parecia ser o tempo de concentração relativa do poderio feminino no mundo bruxo. Apesar dos olhares desconfiados de Madame Pince, ela se sentiu esperançosa.

            Pura lorota, se alguém a perguntasse no momento.

            Nos livros, quando se mencionavam os covens, não havia nada além de contos sobre os cultos e mera especulação masculina sobre os rituais que ocorriam nas reuniões.Não havia nada realmente palpável e que fizesse a garota se debruçar de curiosidade. Toda a esperança que ela havia sentido inicialmente parecia ter evaporado.

            Suas pesquisas com relação aos covens permaneceram infrutíferas, porém, seu trabalho estratégico com Oliver ocorria às mil maravilhas. Os dois, juntos, haviam desenvolvido meios para burlar a velocidade dos jogadores da Sonserina com a expertise do time da Grifinória. Apesar de tudo, grande parte dos planos dos dois envolvia o primo de Dahlia, Harry. O garoto Potter era o apanhador do time e tinha a vassoura mais rápida da casa, uma Nimbus 2000, que era mais lenta que a de Malfoy, mas, com a habilidade do garoto, podia acabar dando conta do recado.

            A ansiedade e o medo de estar ajudando uma casa rival à sua e a vontade de conhecer melhor a história por trás dos grimórios de bruxas estavam deixando a sonserina irritada com Wood à espera do livro que o garoto havia prometido; mas ele havia informado, com veemência, que a antiguidade da avó viria coma correspondência enviada por sua mãe, porém podia acabar demorando algum tempo, pois a mulher trabalhava viajando e, no momento, não se encontrava nem mesmo na Grã-Bretanha.

            Afundada no drama de quadribol com Oliver, Dahlia quase não aproveitou tanto o boom das aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas quanto seus colegas de classe. Todos os tópicos abordados pelo Professor Lupin estavam sendo um sucesso até o momento e, pelo julgamento de Dahlia, não parariam de sê-lo por muito tempo. O professor tinha uma didática excelente e trabalhava muito bem para que suas aulas nunca permanecessem entediantes, mesmo para as turmas de primeiro, segundo e terceiro anos. Apenas alguns alunos da Sonserina pareciam determinados a encontrar defeitos nas aulas do homem.

— Olha só as vestes dele — disse Malfoy, em um sussurro mal intencionado, num dia em que o professsor de Defesa andava em direção ao refeitório, discutindo acaloradamente com Ginny e Dahlia. — Ele se veste como um velho elfo doméstico.

Lupin ignorou educadamente o aluno mal-educado, da mesma forma que ignorou a azaração, muito bem-lançada, que Ginny jogou no sonserino loiro, o que fez Dahlia disfarçar uma risada com uma tosse.

— Eu vi você jogando uma maçã na cabeça dos seus irmãos hoje pela manhã, Srta. Weasley — iniciou o professor, que também escondia um sorriso dos sonserinos com um dos braços, como se estivesse coçando a orelha; apenas Dahlia e Ginny, que estavam à esquerda dele, puderam ver seu escárnio. — Sua mira realmente é muito boa.

— Anos de prática, professor — respondeu a ruiva, seríssima. — Sou a mais nova de sete irmãos, sabe...

[...]

Quase todas as aulas de Dahlia iam às mil maravilhas, à exceção de uma em especial: Poções. A garota estudava para a matéria da mesma forma que fazia quando ainda tinha a tutela do professor Snape, porém as aulas reais da matéria, aquelas às quais a Sonserina dividia com a Grifinória, não podiam estar piores.

O professor de Poções nunca fora uma flor delicada com os alunos da Grifinória, porém, durantes as semanas que seguiram a saída da garota Dursley de sua tutela, o morcegão das masmorras estava mais intragável do que nunca. Mesmo os alunos sonserinos, que normalmente fugiam muito fácil da ira do professor, não haviam escapado do mar de irritação que o homem emanava.

Dahlia já havia decidido que não era culpada pela ira do professor, pois, primeiramente, ele não devia tratar nenhum aluno diferente do que era seu dever como professor, fato pelo qual a garota havia rompido com suas aulas particulares, em segunda instância, um professor também não devia descontar qualquer irritação que tivesse em sua sala de aula. Apesar de acreditar que o professor era um profissional arbitrário, a sonserina ainda sabia que devia se desculpar por sua insolência. Ela sabia, e muito bem, que independentemente do que ela achasse sobre a postura do homem com seus colegas, ela ainda devia pedirpelo perdão ao professor.

Tendo postergado aquele pedido de desculpas por mais tempo do que qualquer um poderia aguentar, ela havia decidido que iria até o escritório do homem no fim daquela semana, quando os alunos mais velhos fossem autorizados a ir a seu primeiro fim de semana em Hogsmead, o povoado bruxo que ficava aos arredores de Hogwarts.

No sábado em que os alunos acima do terceiro ano se preparavam para sair do castelo, Dahlia havia assado dezenas de bolinhos de mirtilho, que Harry clamava serem os melhores doces do mundo, somente para entregar ao professor Snape. Ginny havia lhe informado como chegar à cozinha do castelo e ela se encontrava no lugar quase desde que acordara.

Ela sabia que não havia como comprar o perdão do homem, mas ela sentia um impulso quase incontrolável de cozinhar quando estava com o nível de ansiedade em que se encontrava no momento. Todas as pessoas da sua casa já haviam provado daqueles bolinhos como pedido de desculpas, à exceção de Dudley, que havia recebido os doces como suborno.

Ao fim da manhã, ela não havia comido, e se recusava a almoçar, devido ao nervosismo. Se estivesse acompanhada de suas amigas, ela tinha certeza que Gwendolyn lhe entregaria um prato cheio de comida, Ginny a encararia com seu olhar reprovador e Luna correria os dedos pelas pontas de seus cabelos loiros. Entretanto, as três garotas estavam acampadas na biblioteca, tentando terminar um dos deveres de Transfiguração. Na noite anterior, quando elas se separaram, Dahlia poderia ter dito “eu avisei”, mas escolheu apenas revirar os olhos quando as garotas disseram que estavam atrasadas em seus deveres e que ficariam na biblioteca durante o final de semana.

Dahlia já havia terminado de arranjar os bolinhos em uma cestinha quando um dos elfos domésticos da cozinha parou ao seu lado, encarando-o com seus olhos grandões e preto-azulados.

— Srta. Dahlia, você tem que comer um pouco, senhorita — disse o elfo. Outros encarregados da cozinha já haviam tentado insistir com a garota para que ela comesse, mas ela não se sentia bem do estômago o suficiente para tentar ingerir algo.

— Muito obrigada, Spi, mas acho que não consigo comer agora — ela respondeu, sorrindo para a criatura mirrada.

De todos os elfos domésticos da cozinha, Spi, diminutivo de Spinx e a forma como Dahlia o chamava, era o menor de todos. Se a garota precisasse apostar, ela diria que ele devia ser um jovem adulto, na idade dos elfos; mais jovem do que propriamente adulto. Ele tinha as orelhas pontudas características de sua raça, pés achatados e cabeludos, a pele um pouco azulada e dois olhos grandes e pretos, meio repuxados nos cantos.

— Se a senhorita estiver com o estômago engraçadinho, eu tenho a solução, sabe? — disse ele, levando em consideração a afirmação que ela havia feito. — É um chazinho que nós costumamos lavar as mãos e os pés depois de um dia árduo de trabalho.

Dahlia sorriu sem graça para o elfo, levantando uma das sobrancelhas em um questionamento mudo. O elfo logo notou seu erro e se corrigiu, se embolando um pouco de vergonha:

— O chá é novinho em folha, sabe? Ninguém lavou nada com ele não, senhorita. — Aquele elfo era, sem sombras de dúvidas, a criatura mais doce que ela já havia encontrado. De alguma forma, ele a lembrou um pouco de Neville. — É uma erva que é encontrada facinho na floresta e que nasce no pé das árvores. Muuuito boa para aliviar pele machucada, sabe? Por dentro e por fora, sabe?

Apenas para agradar o elfo, Dahlia resolveu:

— Me traga um pouquinho do seu chá então, Spi — pediu ela com delicadeza. — Mas somente se não for atrapalhar seu trabalho aqui na cozinha.

O pequeno elfo sorriu tanto que suas bochechas pareceram quase rasgar pelos ladinhos, tamanha sua alegria. Ele saiu logo de perto dela e foi se adiantando pela cozinha, pegando um banquinho mais alto do que sua própria estatura e subindo em uma das diversas prateleiras do lugar, empurrando potes e abrindo alguns, provavelmente à procura da erva para o chá. Enquanto procurava, ele dizia:

— Não atrapalha não, senhorita. Não atrapalha nunca! — Muitos dos elfos da cozinha haviam se dispersado pelo lugar, mas um ou dois, que pareciam mais velhos, se sentaram em banquinhos, observando com carinho o elfo mais novo zanzar pela cozinha. — É o nosso trabalho, dos elfos, sabe? É cuidar dos estudantes e funcionários de Hog-werrts, senhorita. É muito do meu prazer cuidar da senhorita, sabe?

Dahlia poderia ter aceitado mais dez diferentes tipos de chá se isso significasse que o pequeno elfo continuaria falando, com seu jeito enroladinho e palavras arrastadas. Ele quase parecia um garotinho que havia saído do campo para a cidade grande, por causa de seu jeito.

— Ele acabou de virar um pequeno adulto, senhorita — afirmou uma das elfas que estava observando Spi com carinho. — Por isso toda essa animação. Spinx é o xodó de todos da cozinha; todos gostam muito do garoto.

— Dá pra imaginar o porquê — respondeu Dahlia, sorrindo para a elfa.

Mal passados cinco minutos de sua saída, o elfo que se encarregara de fazer-lhe o chá voltara com um copo fumegante em uma das mãos e dois pedaços de torta salgada na outra. Dahlia quase protestou ante a visão da comida, mas escolheu não estragar o ânimo da criaturinha.

— Obrigada, Spi — a garota agradeceu, sorrindo. — Vou comer um dos pedaços agora e guardar o outro para mais tarde, ok?

A garota embrulhou uma das tortas em um pedaço de pano da cozinha e a guardou em sua mochila. Rapidamente, os dois elfos mais velhos que rodeavam a garota e o elfo Spinx saíram em direção aos fogões do lugar para ajudar os demais com o lento preparo do jantar daquele dia. Observando o movimento dos elfos que cuidavam da comida, Dahlia mal percebeu as lentas alterações que o chá parecia fazer em seu estômago. Logo, suas entranhas não pareciam mais revirar-se com a ansiedade e ela quase podia dizer que estava respirando mais leve. Ao notar as mudanças, ela olhou, surpresa, na direção do elfo.

Antes que ela pudesse questioná-lo, o elfo se adiantou e disse:

— Spi disse à senhorita que o chá era muito bom. Disse, não disse? — reafirmou Spinx com um sorrisinho pendendo em um dos lados da boca.

— Talvez eu tenha depositado pouca fé no seu chá, Spi — admitiu Dahlia, escondendo seu sorriso com o copo de chá.

Com a calmaria que a bebida instalou em seu corpo, a sonserina foi capaz de comer a torta que tinha em mãos. Em pouquíssimo tempo, todo o lanche já havia acabado e Dahlia se sentia razoavelmente preparada para enfrentar o professor de poções.

— Muito obrigada por toda a ajuda de hoje, Spi — disse Dahlia, começando a recolher seus pertences. Quando tudo que trouxe para o lugar estava devidamente instalado em sua mochila, e os bolinhos de mirtilho estavam seguros na cesta em suas mãos, ela novamente se voltou para o elfo, agradecendo-lhe com os olhos.

— Não há de quê, senhorita — guinchou ele com os olhos alegres.

Acenando uma das mãos em despedida, ela saiu da cozinha.

[...]

            No primeiro andar do castelo, ainda em direção às masmorras, Dahlia não pôde esconder a surpresa ao se deparar com Harry pelos corredores. O garoto parecia, no mínimo, miserável e a sonserina se sentiu culpada por não imaginar que seus pais pudessem ter se recusado a assinar a autorização para Hogsmead do primo.

            — Oi — cumprimentou Dahlia, baixinho, quando chegou perto do primo.

            — Hey! — exclamou Harry, surpreso. — Parece que faz séculos que eu não te vejo!

            — Nem me fale… — concordou a garota, pesarosa. Com sua entrada em Hogwarts, ela imaginou que estaria mais próxima da pessoa que mais considerava como família no mundo, mas parecia que havia se enganado.

            — Você não quer ter um tempo de qualidade juntos hoje? — perguntou o garoto, a voz pingando com esperança. Mesmo sabendo que devia recusar, a culpa por praticamente ignorar o primo por tanto tempo pareceu engolfá-la, então ela apenas acenou em concordância.

            — Aposto que você ia gostar de um agrado — disse Dahlia, abrindo um sorriso maroto nos lábios. — Talvez, apenas talvez, eu deixe você dar uma espiada no que eu tenho aqui.

            Semicerrando os olhos em desconfiança, Harry farejou o ar ao redor, olhando com expectativa para a cesta que a prima segurava contra o peito.

            — O que você tem aí, hein? — questionou o grifinório sorrindo. — É o que eu acho que é?

            — Depende do que você acha que é — zombou Dahlia, levantando uma de suas sobrancelhas. Ela pretendia rodar um pouco mais naquela enrolação, mas ao ver o olhar de cachorro sem-dono do primo, ela cedeu com mais facilidade. Enfiando uma das mãos dentro da cesta, ela tirou dois bolinhos de mirtilho e entregou nas mãos ansiosas do primo.

            — Eu acho que os céus ouviram as minhas preces por um dia melhor — suspirou o garoto, contente. — Meu dia acaba de melhorar em noventa por cento.

            — Me sinto ofendida — respondeu Dahlia, fechando a expressão. — Como assim não melhorou seu dia em cem por cento? Meus bolinhos são perfeitos, Potter!

            Depois de dar uma gargalhada gostosa, mesmo estando com a boa entupida de bolo (o que Dahlia achou um pouco grosseiro, mas estava acostumada com o jeito espontâneo do primo quando estava com ela para ligar muito), o garoto disse:

            — Eu realmente senti sua falta, pirralha. Meu mundo não é o mesmo sem você.

            Aceitando o desvio de assunto, a garota abriu a boca para começar a falar sobre um assunto aleatório, mas foi interrompida por uma voz à direita de Harry.

            — Harry? Dahlia?

            Virando-se para ver quem os havia chamado, Dahlia se deparou com o professor Lupin em suas usuais vestes gastas e rosto cansado.

            — O que vocês estão fazendo aqui no corredor? — questionou o professor, balanceando seu olhar entre os dois alunos. — Harry, eu achei que você estaria em Hogsmead junto aos demais alunos, junto de Ron e Hermione.

            — Minha autorização não foi assinada pelos meus tios, professor — respondeu o garoto com pesar na voz. Dahlia tivera a intenção de pergunta-lhesobre o assunto, mas sabia que era melhor fazê-lo quando ambos estivessem novamente sós.

            — Por que não vamos todos à minha sala? — perguntou o professor com um sorriso bondoso no rosto. — Podem ver em primeira mão o que eu tenho preparado para a próxima aula do terceiro ano.

            Os três começaram a andar juntos, com o professor ligeiramente à frente dos alunos. Havia se instalado um silêncio desconfortável, por isso Dahlia se adiantou até o professor e disse:

            — Professor Lupin — chamou ela, pareada ao lado do homem. Harry, parecendo não querer ficar para trás, logo se colocou ao outro lado de Lupin. — Qual animal o senhor irá mostrar ao terceiro ano?

            O homem pareceu divertir-se por um momento antes de responder:

            — Você é muito ansiosa, Srta. Dursley — atestou ele. — É um grindylow.

            Dahlia já ouvira falar sobre o animal antes, mas Harry, que além de ter sido criado por trouxas, ainda não tinha o costume de estudar nada além do necessário, parecia não fazer a mínima ideia de que animal os dois falavam.

            — Um o quê? — perguntou o grifinório, coçando um dos lados da cabeça. Os três haviam chegado à sala do professor e, por isso, o homem mais velho apenas indicou a sala com a cabeça, puxando a maçaneta e acenando para a porta, em um pedido mudo para que os dois alunos seguissem em frente.

            Os garotos entraram no lugar junto com o homem mais velho. Em um dos cantos da sala, havia uma enorme caixa de vidro, contendo um bicho de cor verde-bile e chifrinhos pontiagudos, que comprimia a cara contra o vidro, fazendo caretas e agitando os dedos longos e afilados.

            — É um demônio aquático, Harry — respondeu o professor, examinando a criatura com a expressão pensativa. — Não deve nos dar muito trabalho, não depois dos kappas. O truque é deixar as mãos deles sem ação. Repararam nos dedos anormalmente compridos? Fortes, mas muito quebradiços.

O grindylow arreganhou os dentes verdes e, em seguida, se enterrou num emaranhado de ervas em um dos cantos da caixa de vidro.

— Vocês aceitam uma xícara de chá? — perguntou o homem, acenando a varinha para um dos cantos da sala, onde uma chaleira começou a ferver em cima de uma bancada. — Eu estava com vontade de tomar chá desde a primeira hora da manhã de hoje.

Os dois garotos aceitaram a oferta, recebendo as xícaras fumegantes que vinham flutuando da bancada calmamente em sua direção. Dahlia provou o chá com receio, sabendo que não se agradava de grande parte dos sabores de chá que existiam. A garota disfarçou com cuidado uma careta devido ao gosto da bebida: morango. A Dursley detestava chá de morango, o preferido de sua mãe.

— Sentem-se — convidou Lupin, acenando para um dos sofás enormes do lugar. Dahlia e Harry se sentaram lado a lado, ambos cabendo sem maiores esforços em uma única poltrona. A garota, por um momento, divagou sobre o motivo de terem poltronas tão grandes na sala do professor de Defesa, mas o assunto não perdurou em sua mente.

— Receio que, infelizmente, esse chá não seja tão bom quanto há de se esperar — falou Lupin, sorrindo com discrição. — Foi feito com saquinhos… mas creio que Harry já deva estar farto de chá feito com folhas.

Dahlia levantou uma das sobrancelhas, questionando o primo com o olhar. O garoto apenas deu de ombros, sussurrando baixinho, em tom de explicação: “Adivinhação”. Dahlia torceu um pouco o nariz ante a menção da matéria. Ela, talvez, estivesse sendo influenciada pela opinião que Hermione tinha em relação àquele assunto, mas apenas descartou o pensamento.

— Como foi que o senhor soube disso? — perguntou Harry.

— A Profa. McGonagall me contou — respondeu Lupin, sorrindo com pesar. — Você não está preocupado, está?

— Não — respondeu o garoto, mas Dahlia sentiu um pouco de hesitação em sua voz e fez uma nota mental para pergunta-lhe sobre o assunto depois. O professor, que parecia ser uma pessoa perceptiva, também indicou ter notado que havia algo de errado.

— Tem alguma coisa o deixando preocupado, Harry? — perguntou o homem mais velho.

— Tem, sim, professor — afirmou o garoto. Dahlia sempre soube que Harry era muito tímido e que o garoto nunca falava sobre seus problemas com quem não tivesse muita intimidade e, por isso, a afirmação do primo a surpreendeu demasiado. — O senhor se lembra daquele dia em que lutamos contra o bicho-papão?

— Sim, eu me lembro.

— Por que o senhor não me deixou enfrentá-lo? — perguntou Harry.

— Eu acreditei que a resposta para esta pergunta fosse óbvia, Harry — disse o professor, parecendo muito surpreso. — Eu assumi que, se você enfrentasse o bicho-papão, a criatura assumiria a forma de Lord Voldemort.

Dahlia arreganhou os olhos em surpresa ante a fala do professor, que parecia quase irreal. Imagine! Um bicho-papão transfigurado na forma do bruxo mais temido das últimas décadas, somente para assustar um garoto de treze anos. Ela poderia ter imaginado que seria hilário se a ideia não fosse muito mais assustadora do que engraçada.

— Pelo visto eu me enganei... — disse o professor em tom de desculpas, mas ainda franzindo a testa. — Não achei que fosse uma boa ideia Lord Voldemort se materializar na sala dos professores. Imaginei que os alunos entrariam em pânico.

— Logo no começo, eu realmente pensei em Voldemort — respondeu Harry, fazendo Dahlia olhá-lo, calada. — Mas depois, eu... eu me lembrei daqueles dementadores.

— Ah, sim… Bem, estou impressionado. — refletiu o professor, por um momento permanecendo calado, mas logo depois sorrindo para o garoto. — Isto sugere que o que você mais teme é o medo. Muito sensato, Harry.

Harry fez uma pausa enquanto olhava o professor e Dahlia pode ver que as bochechas do primo se rosaram um pouco ante o elogio inesperado. Ela sorriu para o professor, em simpatia.

— Imagino que meu primo desmiolado tenha pensado a pior das hipóteses com a recusa dele de enfrentar o bicho, professor — disse Dahlia, cutucando o grifinório nas costelas, fazendo-o quase derramar o chá para esquivar de suas mãos.

— E que seria isso, senhorita? — questionou Lupin com curiosidade.

— Que você não o achasse capaz o suficiente, é claro — ela respondeu.

— Bem... é. — Harry parecia muito mais feliz agora do que no estado miserável de quando Dahlia havia o encontrado.

— Tenho certeza que vocês dois ainda têm muito sobre o que tratar, garotos — começou Dahlia, levantando-se e pegando suas coisas da mesa. — Mas eu ainda tenho que visitar outro professor hoje antes do jantar. Acredito que essa seja minha deixa…

A garota foi interrompida por uma batida na porta.

— Entre — convidou Lupin.

A porta se abriu e Snape entrou. Trazia um cálice ligeiramente fumegante, mas parou sua entrada, apertando os olhos negros ao ver Harry e Dahlia na sala.

— Ah, Severus — exclamou Lupin sorridente. — Muito obrigado. Podia deixar aí na mesa para mim?

Snape pousou o cálice fumegante na mesa do outro professor, os olhos indo de Harry para Lupin e depois à Dahlia.

— Eu estava mostrando o meu grindylow aos garotos — disse Lupin em tom agradável, indicando o tanque de água. — Infelizmente, Dahlia já estava de saída.

— Fascinante — comentou Snape sem sequer olhar para o tanque. — Você devia beber isso logo, Lupin.

A afirmação do professor de Poções fez Dahlia voltar sua atenção ao cálice que o homem havia trazido à sala. O que parecia ser uma poção, ao ver da garota, exalava uma fraca fumaça azulada, o que fez Dahlia levantar uma das sobrancelhas em descrença. Para discrição do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, ela permaneceu de boca fechada sobre o assunto.

— É, é, vou beber — respondeu Lupin.

— Fiz um caldeirão cheio — continuou Snape. — Se precisar de mais…

— Provavelmente eu deveria tomar mais um pouco amanhã. Muito obrigado, Severus.

— De nada — respondeu o colega, olhando rapidamente na direção de Dahlia, mas sem dizer nenhuma palavra à garota. O professor se retirou de costas para a porta, sem sorrir, vigilante.

— Professor Snape — chamou Dahlia com sua mochila bem presa às costas e com a cesta de bolinhos segura nas mãos. — Gostaria de conversar com o senhor por alguns momentos, se me permitisse.

Snape apenas arqueou as sobrancelhas para a garota, abrindo a boca para soltar a negativa que Dahlia sabia que receberia. Para a surpresa da sonserina, o professor apenas disse:

— Me acompanhe, Srta. Dursley.

Feliz da vida por não ter tido seu pedido negado, Dahlia se adiantou para seguir o professor de Poções, se despedindo de Harry e do Prof. Lupin rapidamente. Quando os dois sonserinos já se encontravam fora da sala de Lupin, Snape parou, no meio do corredor vazio, e disse, rispidamente:

— Fale.

A garota engoliu em seco antes de começar: — Eu gostaria de pedir perdão pelo meu comportamento quando terminamos nossas aulas extras, professor. Não foi devido de minha parte.

— Realmente, não foi — respondeu o homem, abrindo um sorriso ferino. — Mas, infelizmente, se está pedindo perdão apenas por causa de suas aulas, creio que irá se decepcionar, garota. Já preenchi todo o tempo possível de minha rotina.

— Na verdade, eu não tinha muita esperança de reaver minhas aulas, professor — disse Dahlia, sorrindo um pouco trêmula. — Mas realmente desejo o seu perdão.

O homem pareceu refletir por alguns momentos antes de, finalmente, acenar levemente com a cabeça, o que fez a garota abrir um sorriso que quase lhe rasgou os cantos da boca.

— Muito obrigada pela confiança, professor — agradeceu a garota com sinceridade na voz. — Vou fazer o possível para ser merecedora.

— Espero que sim, Srta. Dahlia — respondeu o professor, sorrindo levemente. Surpresa, a garota notou duas coisas extraordinárias naquele momento. A primeira, o professor havia a chamado de Dahlia, coisa que nunca fazia. A segunda era que, pela primeira vez, a sonserina via um sorriso que parecia completamente honesto abrir na face do professor. Ambos os fatos alegraram a garota de tal maneira que ela se sentia quase abraçada pela alegria.

— Professor, eu fiz alguns bolinhos de mirtilho para o senhor — disse a garota, subitamente, ao finalmente sentir o peso da sexta em seus braços. — Meu primo afirma com veemência que são os melhores doces do mundo e eu acredito no julgamento dele. Espero que o senhor goste.

A garota estendeu a cesta para o homem e, surpreso, o professor de Poções levou alguns segundos para finalmente recolher o objeto das mãos da aluna. Parecendo curioso, ele levantou um dos lados do pano que cobria a boca da cesta e espiou os bolinhos, pegando um deles na mão e dando uma mordida.

Ansiosa, a garota observou o professor enquanto ele devorava o doce que ela havia confeccionado, à espera de um veredito.

— Você cozinhou esse bolinho tão bem quanto uma de suas poções, senhorita — afirmou o professor, fechando novamente a cesta e a segurando em uma das mãos. — Muito obrigado pelo gesto.

— Não se preocupe, professor. Eu que lhe devo todos os agradecimentos — disse a garota, muito séria.

Observando sua aluna por alguns segundos, o Prof. Snape limpou a garganta e iniciou, com hesitação, a falar:

— Srta. Dursley, você, por algum acaso, reconheceu a poção que eu entreguei ao professor Lupin, hoje mais cedo?

A alegria de Dahlia morreu rapidamente diante daquela pergunta. Se a garota conhecia o aspecto da poção chamada “mata-cão”? Sim, ela já havia lido sobre ela em um dos trabalhos que fizera, incrivelmente, para o próprio professor Snape. Ela quase lhe disse que ele sabia muito bem sobre o conhecimento daquela poção específica, mas escolheu melhor suas palavras:

— Sim, senhor.

— E você sabe as implicações disso? — perguntou o professor com expectativa.

— Sei, sim, senhor — respondeu a garota, seus pensamentos se voltando ao professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. — Entretanto, tenho bastante confiança no Prof. Lupin, senhor. Não acho que as implicações irão além do incômodo de ter que se lembrar de tomar a poção todos os dias.

O homem mais velho encarou Dahlia por longos segundos, antes de suspirar e ajeitar sua postura.

— Tenho certeza que acredita nisso, Srta. Dursley — respondeu o professor. — Tenho que ir agora, mas, para sua próxima lição, quero que estude o modo de preparo da poção que estamos falando. Apenas estude; essa poção é muito delicada para seu avanço no momento.

Muitas perguntas pularam na mente da garota naquele momento, mas a que saiu de seus lábios foi:

— Mas, professor, o senhor tinha dito que nós não retomaríamos as aulas… — A garota não sabia se o que tinha deixado seus lábios fora uma pergunta ou uma afirmação, mas sua surpresa a fez não dar muita importância para o fato.

— Eu mudei de ideia, garota — afirmou Snape, levantando uma de suas sobrancelhas. — Alguma objeção?

— Não! Não, senhor! — disse Dahlia, apressadíssima.

Com um ligeiro aceno, o professor de Poções seguiu seu caminho pelo corredor, não esperando pela garota. Ela imaginou que aquilo era a deixa de sua despedida, então começou a seguir seu caminho na direção do Salão Principal, sabendo que o jantar não tardaria a começar.

[...]

Dahlia divagava sobre tudo que acontecera em seu dia à caminho do Salão Principal, por isso, em sua distração, ela não notou que sua passagem cruzava com um cachorro que vinha pelo corredor, trombando fortemente com o animal que seguia o caminho da saída do castelo.

— Opa! — exclamou ela, lutando para recuperar o equilíbrio, mas falhando, o que causou uma queda feia no chão de pedra do castelo.

A garota havia amortecido o tombo com as mãos e os joelhos, deixando aquelas partes do seu corpo machucadas e com pontos sangrando. A sonserina suspirou encarando seus novos ralados.

Quando a menina desviou sua atenção das consequências de sua queda, ela se surpreendeu ao perceber que o grande animal preto não havia seguido seu rumo, encarando a menina com seus olhos negros.

— Oi, amigão — disse a garota, levantando-se com certa dificuldade. — Eu achei que você já tinha ido embora.Acho que me enganei…

O cachorro parecia ter o dobro de tamanho de qualquer outro cão que ela já havia conhecido, mas, apesar da constituição corpulenta e meio ameaçadora, o animal não pareceu ter nenhuma vergonha de começar a abanar o rabo para a garota, deitando no chão de costas, como se esperasse carinho por parte da menina.

Dahlia não o decepcionou, curvando-se para correr as duas mãos sobre a pelagem do cachorro, mesmo que estivesse, apesar da pelagem negra, imunda. Ao continuar a fazer carinho no cão, ela não pode deixar de sentir muitas costelas por sobre os dedos, coisa que o fez franzir o cenho.

— Ora… que engraçado — divagou ela, pensando alto. — Por que você está tão magro, hein? Os elfos aqui do castelo alimentam todos os animais que vivem aqui por perto…

O cachorro não deu à mínima para o que a garota falava, coçando suas costas peludas no chão com ganas. A Dursley se levantou novamente, ganhando um olhar injuriado do cachorro. Sorrindo, ela abriu sua mochila e retirou o pedaço de torta de frango que havia guardado ali mais cedo.

— Aposto que você ia gostar de um pouco disso, certo? — instigou a garota, fazendo o cachorro se levantar com interesse do chão e olhar fixamente para a mão da garota que segurava a torta.

Desembrulhando o alimento, ela o postou perto do cão, que não tardou em avançar com ganas na torta. Mal pareceu ter passado um segundo quando, lambendo os beiços, o cachorro se aprumou novamente, voltando novamente seu olhar à garota.

— Você está morando aqui pelos arredores agora? — perguntou a garota em tom de conversa. Obviamente, a menina sabia muito bem que não conseguiria uma resposta do cachorro, mas pareceu certo preencher o silêncio do lugar com algumas palavras. — Talvez nós possamos nos encontrar às vezes por aí, sim? Não sei onde você está ficando, mas acho que posso sempre manter uns pedaços de torta ou outras coisas na mochila, em reserva.

O cachorro preto virou um pouco a cabeça para observar a garota, mas não fez nada além daquilo, fazendo-a acariciar-lhe a cabeça.

— Ok, vou fazer assim então… Noir — afirmou a garota, sorrindo. — O que acha desse nome? “Noir”? Acho que te serve bem, já que significa “preto” em francês e bem… essa é meio que sua cor.

O nome que ela havia arranjado para o cachorro fê-la pensar sobre as aulas de francês que estava ganhando de Gwendolyn (aulas que ela estava negligenciando completamente nos últimos dias), mas o pensamento foi embora tão rápido quanto chegou.

— Preciso ir embora agora, mas nos vemos por aí, hein? Tenho um jantar de Dia das Bruxas para comparecer agora.

Dando-lhe as costas, a menina se afastou pelo corredor, quase sentindo o olhar do cachorro lhe seguindo.

Mais tarde naquele dia, Dahlia ouvira falar sobre o que acontecera com a pintura da torre da grifinória. Entretanto, enquanto enchia um guardanapo com tortas de frango e bolinhos de arroz e, em nenhum momento, ela relacionou o acontecido à Mulher Gorda com o seu novo amigo canino.


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Notas finais do capítulo

Serase eu ainda tenho leitores, com todo esse tempo que eu levo pra atualizar? Fica o questionamento kkkkk



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