Sejamos Tolos escrita por Last Rose of Summer


Capítulo 1
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— É melhor fechar os olhos. — Dorian balançou seu cajado de forma extravagante e a porta do templo explodiu em faíscas. Abriu um sorriso vaidoso e, em seguida, lançou um olhar para trás, onde o resto da equipe esperava. Ninguém se moveu, ficaram todos esperando pelo Inquisidor e o que ele faria. Seu sorriso desapareceu. — Eu sei que parece uma ótima ideia ficar aqui e esperar os Venatori saírem, mas eu sugiro irmos atrás deles.

— Ugh. — Cassandra revirou os olhos e fez uma careta antes de passar pelo buraco onde, minutos antes, havia uma enorme porta de madeira, evitando seus restos chamuscados no chão. Foi seguida pelo Inquisidor, Dorian, Solas e, por último, Varric, que segurava Bianca.

Os passos ecoaram no saguão do que era, obviamente, um templo élfico antigo. Se a história das Emerald Graves já não fizessem isso óbvio, a arquitetura ou a decoração o fariam. O Inquisidor abriu um sorriso que só podia ser descrito como melancólico enquanto seu olhar divagava entre as paredes imensas e as estátuas de deuses que ele reconhecia.

Seu povo perdera tanto! Como Dalish, era difícil andar por aquele templo sem tentar imaginar como teria sido no passado, com elfos sorridentes e bem-vestidos andando como nobreza e adorando seus deuses como devia ser. Ele abaixou os olhos, tentando espantar a imagem mental e se concentrar em achar vestígios dos Venatori. Antes que conseguisse, porém, Dorian estava do seu lado.

O mago pôs a mão em seu ombro.

— Eu sei o que você está pensando.

— Magia tevene pode ler mentes agora, é? Além de viajar no tempo.

— Não preciso de magia para saber o que você está pensando. — Ele abriu um sorriso triste. — Eu sinto-

— Dorian. — O dalish o interrompeu. — Vamos nos concentrar em encontrar os Venatori. Aqui não é o melhor lugar para conversarmos sobre isso. — Mahanon soou mais rude do que tinha a intenção, mas não disse mais nada, só franziu os lábios. Com isso, o silêncio voltou e o elfo voltou aos seus próprios pensamentos.

Era difícil.

Ser Inquisidor, ser elfo, ser considerado o Arauto de Andraste. Acima de tudo, era difícil estar apaixonado por Dorian Pavus. Não porque ele fosse de Tevinter, embora esse fosse um motivo convincente, mas porque, acima de tudo, tinha medo de perdê-lo.

Cada vez que Mahanon tinha que levá-lo para a batalha, cada vez que havia uma missão e ele não conseguia convencê-lo a ficar em Skyhold ou em um dos acampamentos, as batalhas se tornavam mais tensas e a vontade de vencer crescia absurdamente. Talvez isso pudesse ser considerado como uma vantagem. Talvez não…

— Tem alguma coisa por aqui. — Solas chamou. Perdido em seus pensamentos, Mahanon ficara ligeiramente para trás.

— Um daqueles artefatos, talvez?

— Não sei. Parece… diferente.

— Vamos ver o que é. — O Inquisidor disse por fim, depois de pensar por alguns momentos.

— Pode ser uma armadilha.

— Esperar a armadilha é o primeiro passo para virar as coisas a seu favor.

— Um homem muito inteligente te disse isso certa vez, aposto. Ele era muito bonito, também…?

— Como você sabe? Você o conheceu?

— Eu convivo com ele diariamente.

Mahanon abriu um sorriso. Você podia contar com Dorian para aliviar o clima.

— Eu vou na frente e aviso se não for nada.

— E se for alguma coisa?

— Nesse caso, vocês vão me ouvir gritar.

— Já consigo ver as canções sobre um Inquisidor: um cavaleiro de armadura brilhante que tinha o costume de andar para a morte iminente sozinho.

— Nada vai acontecer, Dorian. Eu sei me defender.

— Sim, claro, seu martelo de guerra vai ser muito útil contra vinte magos talentosos. Eles nem vão fazer picadinho de você. Não, eu vou junto.

— Vocês dois, se acalmem. Eu e Chuckles vamos verificar o que está acontecendo, vocês esperam aqui.

O Inquisidor deu de ombros. Dorian, por sua vez, encostou em uma das paredes, os braços cruzados, os olhos em Mahanon. Cassandra decidiu que uma das estátuas era muito bonita e interessante, e que queria muito estudá-la mais de perto.

— Eu achei que sabia qual era o problema, mas aparentemente estava errado.

— Do que você está falando?

— Desentendido, então? Muito bem, se vamos por esse caminho… — Dorian suspirou. — Eu achei que o problema fosse o templo élfico e… bem, eu. Ou melhor, o lugar de onde eu venho. Fazia sentido que você tivesse um problema com isso. Mas já não sei o que pensar.

— Dorian…

— Por mais que você odeie o fato de eu estar aqui, se jogar em uma missão suicida não faz o seu estilo. Quer dizer, talvez faça. Afinal, não foi em uma missão suicida que você conseguiu a marca? Se bem que não era suicida, na época que você aceitou cumpri-la.

— Dorian.

— Desculpe-me, estou divagando de novo.

— Você faz isso com frequência. — Mahanon abriu um sorriso. — Faz parte do seu charme.

— Oh? Achei que minha beleza e minha inteligência fossem o meu charme.

— Isso também. Dorian.

— Já é a terceira vez que você fala o meu nome.

— Eu tenho uma coisa pra te dizer. Estou ganhando tempo.

— Sutileza não é muito a sua praia.

— Serei direto, então. Eu me importo com você. Quero que fique seguro.

— Você chama isso de direto?

— Você n-

— Pessoal! — Era a voz do Varric. — Vocês precisam ver isso.

— Nós vamos continuar conversando assim que sairmos daqui. Não esqueça o que você estava me dizendo.

— Não vou.




Eles estavam numa câmara com um ambiente meio agourento. Estava escuro, apesar de ainda ser dia, e estava frio, apesar do fogo queimando nas tochas nas paredes. No centro da câmara havia um pedestal e, em cima do pedestal, uma espécie de ídolo.

— Era disso que estava falando, Chuckles?

— Sim. Parece… corrompido. Qualquer que seja a magia que contém, não vale a pena inquietá-la. É perigoso demais. Talvez devêssemos… vocês ouviram isso?

De repente, o ar ficou empesteado com cheiro de morte e o ambiente se encheu com o som de corpos se levantando.

— Nunca um bom presságio. — Varric reclamou.

— Preparem-se! — Cassandra pediu, retirando a espada da bainha e subindo o próprio escudo para proteger seus amigos do que estava por vir. Mahanon preparou seu martelo de guerra, Varric carregou Bianca, Solas lançou escudos de energia em todos eles e, por último, Dorian lançou uma bola de fogo para o alto, para melhorar a vista.

Foi então que eles viram. Os inimigos.

— Venatori…?

— Não, Inquisidor. Mortos-vivos. Não fomos os primeiros a alcançar a câmara. Os Venatori chegaram primeiro.

— Isso é obra do artefato?

— Muito provavelmente.

As criaturas que antes eram Venatori começaram a se aproximar, cada vez mais, de todos os lados da câmara, fazendo um barulho desagradável ao se mover.

— De onde eles estão vindo...? — Havia um tom de desespero na voz do Inquisidor. Ele segurou seu martelo com mais força, preparando-se, enquanto seu coração batia cada vez mais rápido. Adrenalina? Antecipação? Medo? Todas as anteriores?

O primeiro corpo caiu por uma flecha certeira de Bianca. O segundo caiu por causa de uma bola de fogo no peito. O terceiro perdeu a cabeça para a lâmina de Cassandra, mas eles não paravam de aparecer, não paravam de surgir do chão e investir contra o grupo que estava cada vez mais acuado no centro da sala, sem ter para onde fugir.

— Eu sou bonito demais para morrer aqui. — A voz de Dorian foi abafada pelo barulho de uma explosão. As faíscas douradas se dispersaram e atingiram vários inimigos, que continuaram em chamas até caírem e serem substituídos pelos que vinham atrás. Já não eram mais somente Venatori avançando. — Se antes me dissessem que eu, Dorian da casa Pavus, um altus, morreria em uma câmara imunda de um templo élfico abandonado, eu teria acreditado que a pessoa estava bêbada. No mínimo.

Ele começava a parecer cansado. Estava pálido. Mas continuava lançando feitiços, um atrás do outro, iluminando a câmara com bolas de fogo. Não era o único. Solas também parecia não aguentar, Varric estava ficando sem flechas e Cassandra já estava em seu último frasco de poção curativa. Mahanon, por sua vez, estava com os braços doloridos, mas não tinha a menor intenção de parar de lutar.

— Tem que ter um jeito… — Mahanon resmungou, pensando.

— Sparkles, você consegue abrir caminho?

— No que está pensando, Varric?

— Paredes de fogo? Você que é o especialista aqui.

— Não vai dar tempo. Dorian não vai conseguir manter nenhum feitiço por tempo suficiente para todo mundo sair daqui.

— O que você sugere?

— Vocês não vão gostar. — O Inquisidor sorriu e, antes que pudesse ser impedido, balançou o martelo e atingiu o ídolo, despedaçando-o. De repente, todos os inimigos que avançavam caíram e viraram pó.

— Inquisidor! — Dorian gritou. Poucos segundos depois de atingir o ídolo com seu martelo, Mahanon desmaiara. — Droga. Acorda! Inquisidor! — O mago tevene correu para seu lado e tentou sacudi-lo. — Inquisidor! Amatus!

— Calma, Sparkles. — Varric se aproximou. Colocou a mão em seu ombro.

— Como “calma”, ele está-

— Desmaiado. — Solas interrompeu. — Mas vivo. — Dorian não se permitiu suspirar em alívio. Não ficaria aliviado até que ele estivesse acordado e empunhando aquele maldito martelo novamente.

— Vamos sair desse lugar imundo.




— Se você continuar andando para lá e para cá, vai acabar furando o chão. — Dorian não respondeu. Em vez disso, pegou o livro que estivera lendo, abriu na parte em que parara e tentou se concentrar.

Naqueles dias, mesmo depois da devastação da Primeira Podridão, o Império se estendia por todo o território-”.

Ele fechou o livro. Se levantou. Voltou a andar pelo cômodo.

— Chuckles está cuidando dele. Já fez isso uma vez, impediu que a marca o matasse. Tenha um pouco de confiança.

— Não é uma questão de confiança, é- — A porta se abriu e Solas saiu lá de dentro. — Como ele está?

— Ele vai sobreviver.

— Que bom. Perder alguém é horrível para a aparência. — Dorian tentou sorrir. Não deu muito certo. — O que aconteceu?

— O ídolo tinha uma espécie de feitiço protetor. Ao que tudo indica, o feitiço foi corrompido de alguma forma e essa corrupção passou para o martelo quando o ídolo foi destruído. O Inquisidor foi atingido por magia residual e teve muita sorte de não ter encostado no ídolo diretamente, ou não sobreviveria. — Ele deixou a predição no ar por um segundo antes de acrescentar. — O Inquisidor vai ficar bem. Deve acordar a qualquer momento.

Dorian tentou pensar em uma resposta espirituosa, mas nada apareceu na sua mente. Em vez disso, ele entrou no quarto e se sentou na beirada da cama. O Inquisidor parecia dormir tranquilamente e isso o acalmou.

— Sabe, se você tivesse morrido eu faria questão de te trazer de volta só para te matar.

— Ainda bem que eu não morri, então.

Dorian fechou os olhos. Era bom ouvir a voz dele.

— Eu gostaria muito de poder socá-lo. No meio da cara. Como um plebeu.

— É uma imagem mental interessante, mas eu prefiro manter meu nariz intacto.

— Inquisidor, você é louco.

— Isso é novo.

— Destruir um ídolo mágico sem saber exatamente o tipo de magia envolvida? Você poderia ter morrido! Magia é um assunto sério, você não pode se intrometer com um feitiço sem saber exatamente o que está envolvido! É preciso pesquisar cuidadosamente, estudar os efeitos… qualquer errinho pode ser desastroso!

— Não havia tempo...

— Não se atreva.

— … eu precisava salvar você. Eu te disse antes. Eu me importo com você e quero que fique seguro.

— E como você acha que eu me sentiria se você se jogasse em um ataque suicida para salvar a minha vida?

— Vivo. — Dorian fez uma careta. Em seguida, puxou o Inquisidor para os seus braços e o beijou.

— Se você fizer isso de novo, nunca vou te perdoar.

— Não posso prometer nada. — O Inquisidor sorriu.

— O que seria da Inquisição se você morresse? Como você acha que ficaria o mundo? Você tem responsabilidades, Inquisidor, não pode jogar sua vida fora como se elas não fossem nada.

— Foi mais forte que eu.

Dorian suspirou.

Festis bei umo canavarum.

— O que isso quer dizer?

— Um dia eu te conto.

— Se fazendo de difícil?

— Eu sou difícil.

— Não vai me ouvir discordar.

Dorian riu. Podia rir, agora. O Inquisidor estava a salvo. Fora tolo da sua parte duvidar que ele ficaria. Afinal, Mahanon do clã Lavellan era o Arauto de Andraste, protegido pelo Criador. Nada aconteceria.

Eles ficariam bem.


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