Jogos Vorazes - Brasil. escrita por Pudim de Menta


Capítulo 2
Punida


Notas iniciais do capítulo

Olá, eu quero pedir desculpas a demora e quero comunicar que já estou escrevendo o próximo.



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Era sexta-feira, o tal dia da Lua, em uma noite de lua cheia uma vez por ano, a noite era dedicada em oferendas a Jaci, deusa da lua e era o dia em que o sorteio e os punidos eram mandados para os Jogos Vorazes.

O dia começou cedo, morávamos na cidade de Campos, que ficava no Centro-Oeste, mais precisamente no estado do Maquiri do Sul, geralmente éramos uma cidade bem tranquila, mas hoje as coisas estavam agitadas.

Meu pai foi para seu trabalho no frigorifico, eu não frequentava a escola, meus pais não concordavam com o ensino.

Meu pai costumava dizer sussurrando que a escola era uma grande doutrinação e lá eu não aprenderia o necessário, tínhamos livros escondidos em casa e para ele e tanto para mim bastava.

Ele tinha ancestralidade Canadense e minha mãe Espanhola, e as línguas passavam de geração em geração, eu falava ambas as línguas, tinha um parco conhecimento de matemática e as ciências exatas, entendia um pouco de história e lia muito sobre Biologia nos livros escondidos em casa.

Fiz as minhas tarefas domesticas, meu pai não veio para o almoço e a tarde fiquei zanzando em casa.

As 15h alguém bateu na porta, fui prontamente atender, meu sangue gelou e subiu a cabeça, era a vistoria.

Estavam atrás de livros, à vistoria sempre aparece de surpresa, não tem data e nem hora, apenas aparecem.

A vistoria se compunha de dois homens uniformizados de azul, os cabelos eram quase inexistentes, os dois tinham peles bronzeadas pela exposição ao sol e seus olhos eram escuros e seus lábios mostravam que nunca tinham visto um sorriso.

Eles entraram e mandaram eu e minha mãe sentar e saíram vasculhando a casa, eu nunca soube onde meu pai escondia seus livros, a vistoria nunca tinha encontrado até aquele dia.

Mas naquele faditico dia encontraram, meia hora depois eles apareceram, com um livro de Astronomia e uma de história para crianças nos braços, não haviam achado todos, mas o suficiente par ser punível com a morte ou a escravidão.

Eles jogaram violentamente os livros no chão e segurei as lagrimas, já imaginei as piores cenas na minha cabeça.

―Nomes e números de registro. ― Um homem sacou um pequeno aparelho de vidro, e outro uma arma de alta tecnologia, a maioria das regiões não conheciam tecnologia, mas a vistoria vinha de Distrito, nossa grande metrópole tecnológica e que governa nosso país, mas no momento não estava pensando nisso, apenas na arma que um dos homens apontava.

―Eva Gomes Southves. ― Minha mãe balbuciou seu nome. ― Número de registro EGS121345289.

―O nome do seu esposo. ― Exigiu um dos homens da vistoria. ― Se for casada.

―Adamastor Gonzilva Southves. ― Ela tremia e eu estava em estado catatônico. ― Número de registro AGS456712900.

―O seu mocinha. ― O tom de voz dele era ameaçador.

 Eu tremia das cabeças aos pés, juntei a coragem restante para responder.

―Alésia Gomes Southves. Número de registro AGS708006411.

O homem anotava tudo em seu dispositivo o outro continuava segurar a arma na nossa direção.

―Eva Southves, 40 anos, nascida na cidade de Campos, no Centro-Oeste, órfã e o seu irmão mais velho lutou nos Jogos Vorazes, porém não sobreviveu.

Minha mãe engoliu em seco e segurou as lagrimas.

―Correto? ― Ele perguntou e minha mãe não respondeu, estava perdida demais para raciocinar. ― Me responda!

Ela permaneceu em silêncio e o homem se aproximou e acertou um tapa na bochecha direita dela.

―Sua criminosa. ― Esse foi o adjetivo menos baixo que ele usou e depois vieram muitos piores que não ouso repetir, o medo se transformou em ira, quase saltei em cima dele, porém uma voz racional que ainda estava ativa no fundo de minha mente me impediu de cometer tal ato.

―Correto. ―Respondi no lugar dela.

―Adamastor Gonzilva Southves,42 anos,  filho único, nascido em Riso, no Centro- Oeste, correto?

A cena do homem acertando um tapa em minha mãe ainda pipocava na minha cabeça, então prontamente respondi que sim, antes que eu ou ela fossemos punidas.

―Você, Alésia Gomes Southves,17 anos,  filha única, nascida em Campos, no Centro-Oeste, correto?

Afirmei enquanto olhava para minha mãe que parecia dividida nessa realidade onde ela tremia e segurava as lagrimas e a realidade futura onde ninguém seguraria lagrimas.

―Dessa vez, vou ser misericordioso com a família de vocês, darei chance de vida, esses livros serão queimados na fogueira hoje à noite, no festival a Jaci, ter mais de um livro, a lei implica que toda sua família se tornasse escravos em Distrito. ― Ele explicava como se a ideia de ser executada em praça publica ou se tornar um escravo fosse atraente, rapidamente me senti nauseada e mais amedrontada. ― Mas lei tem brechas, a punição a sua família é apenas você, será tributo nos Jogos e já mandei seu nome para o Distrito.

Ele falou como se eu fosse tirar férias e então em seguida produziu um riso sarcástico.

―Torpe mentira, não sou misericordioso, acho que o casal perder sua única filha é mais doloroso que ser executado em praça pública ou se tornar Avox. ― O homem desdenhou e deu uma risadinha. ― Alésia espere seu nome ser chamado no telão e assistirei sua morte, como uma miserável do Centro-Oeste será a primeira a morrer.

Ele saiu e de longe se sentia o seu sadismo, vi ele se afastando da casa, conseguia vislumbrar pela janela da sala.

Assim que desapareceram da nossa vista levando os livros, eu vomitei e minha mãe voltou à realidade chorando copiosamente.

Ela me abraçou e chorava mais ainda e gritava e eu não sabia o que fazer.

Quando meu pai chegou em casa pelo fim da tarde, explicamos a situação a ele, minha mãe se dividia pelas lagrimas e pela fúria, gritando comentários ácidos a respeito de como meu pai era tolo.

“Não traga esses livros para casa” “ Deserte da organização”, depois os gritos foram substituídos por abraços e mais lagrimas e mais vômitos.

Ninguém parecia ser capaz de articular frases completas.    

.........           

Chegou a hora do festival da Lua e do sorteio.

Eu tinha duas maneiras de chegar à praça, como uma vitoriosa, uma pessoa que encara o seu destino de frente ou como uma perfeita covarde e chorona, qual desses modos você acha que eu cheguei?


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Notas finais do capítulo

Até loguinho



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