A governanta escrita por Sirukyps


Capítulo 8
Capítulo 08




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Motivado pela curiosidade diante a escuta do maquiavélico plano, tentei espionar. Entreabrindo a porta lentamente, as enferrujadas dobradiças fizeram um repentino ruído, denunciando-me. Droga! Sentindo os passos em minha direção, comecei a caminhar de costas, arquitetando uma desculpa ou almejando inventar. 

 

 

 

Meus confusos lábios balbuciavam: “Eu procurava o banheiro”. Sim, eu procurava o banheiro. Também poderia dizer que era a nova governanta e almejava conhecer a propriedade, porém “eu procurava o banheiro” era o melhor naquela situação.

 

 

 

Olhando para os lados, o extenso corredor parecia não ter para onde fugir. Próximo a cada porta trancada, existia uma cômoda suportando um grande vaso de porcelana com extravagantes plantas desconhecidas. Pensei em me esconder atrás de algum... Como também, poderia mergulhar no instigante desenho bordado a mão no extenso tapete indiano. Ambas as ideias ridículas. 

 

 

 

 Olhando para trás, a porta realmente abria e já não existia tempo para correr. Sim, correr. Aprontando-me para desaparecer dali, terminei pisando num daqueles malditos brinquedo cujo atrito com o sapato boneca se transformou numa espontânea queda ao chão. 

 

 

 

Cerrando meus olhos, foi um quente corpo que me acolheu. Involuntariamente, meu coração começou a palpitar mais rápido. Aquele toque era exatamente como o de Eduardo. E como eu conhecia o abraço de Eduardo. 

 

 

 

Ele se chocou contra a parede, ainda assim, continuou me segurando firmemente. Abraçava-me tão forte, apesar de não me conhecer, talvez para amenizar a dor sentida durante o impacto. 

 

 

 

Eu permanecia calado, estático e sem reação. “Eu procurava o banheiro”, a única frase ressoando em minha cabeça diversas vezes. O abraço se tornou mais forte quase me deixando sem respirar. 

 

 

 

— O seu cheiro... – Comentou pensativo, aspirando meu pescoço sem nenhuma permissão. E... Aquela voz forte e decidida, a qual minha mente jamais conseguiu esquecer. Meu corpo ficou trêmulo e saliva difícil de engolir. Eu queria chorar e desaparecer imediatamente daquele local. Havia sido uma péssima ideia. Ele me reconheceria... Não... Ele já havia me reconhecido. -... Sim. O seu cheiro lembra manjericão... Ou seria coentro? 

 

 

 

Suspirei aliviado por alguns segundos. Uma senhora de meia idade, trajando roupas de empregada domestica, o típico vestido preto com o avental sujo de sangue, saiu tendo as enrugadas mãos e roupas ensanguentadas. 

 

 

 

Abrindo um acolhedor sorriso, enxugou as mãos de leve no branco avental, permanecendo nos observando ali, caídos próximos a porta do misterioso cômodo de planejamentos macabros: 

 

 

 

— Agora, quem é esta bonita jovem? 

 

 

 

Somente assim, Eduardo cedeu o abraço permitindo que meu coração se acalmasse um pouco. A senhora me estendeu a avermelhada mão, ajudando-me a levantar. Fitando-a sem jeito, esbocei meu forçado sorriso, pois tinha certeza que ela esperava uma resposta. Atrapalhado pelo nervosismo, disse:

 

 

 

— Sou... Eu... Governanta... Procurava o banheiro. – Suspirei fundo, fechando os olhos, adquirindo forças para falar de vez. - Sim, eu procurava o banheiro.  

 

 

 

— Eu posso te levar até o banheiro. Isto se você me ajudar a levantar. – Interpôs Eduardo, estendo-me a mão e abafando o riso. Eu não estava preparado para encará-lo, mas deveria agradecer depois do acontecido. Tinha obrigação. Eu poderia ter chocado a minha cabeça contra a parede e fraturado o pescoço como antes eles planejavam para mim. 

 

 

 

Mantendo o forçado sorriso, virei para agradecê-lo. Estendi a mão esquerda para ajudá-lo, desviando o olhar, fingindo interesse na senhora. Eu tentava não encarar aqueles negros olhos profundos. Certamente, eu seria descoberto.

 

 

 

O meu amigo não contribuía. O ar de brincadeira estático no sorriso, ele levantava me encarando atentamente como se suspeitasse de algo. Meu amigo era sempre tão desconfiado. 

 

 

 

Confesso que tinha saudades. Queria abraçá-lo, cumprimentá-lo devidamente, mas a lembrança dos maus tratos cometidos contra a minha esposa martelava em minha lembrança. Então, ele realmente havia retornado e por mais que eu não quisesse, ela estava falando a verdade e permanecia sequestrada em algum local daquela amarronzada residência de madeira. 

 

 

 

— Você é bem tímida para uma governanta. – Comentou franzindo o cenho e estreitando os olhos em minha direção. 

 

 

 

— Eu... Eu só procuro o banheiro. – Sorri, retribuindo o olhar. Precisava me portar como uma garota ou arruinaria meu disfarce em um momento tão crucial. 

 

 

 

 - Oh! Esta é a senhorita que sua vó ligou mais cedo informando ser a nova governanta que conhecia a casa? 

 

 

 

— Sim. Acho que é ela. Não é verdade, senhora governanta procuradora de banheiros?   

 

 

 

— Eu espero que me desculpe... 

 

 

 

— Eu só desculpo se você permanecer aqui. – Fitou-me extremamente carente, fazendo manha igual uma criança abandonada num dia chuvoso, coisa que ele era expert. – Para sempre. Ao meu lado. Você não sabe o quanto esperei por você, senhora governanta... 

 

 

 

A velha empregada sorria se divertindo. Eu permanecia ainda mais corado. Torcia para aquele quilo de base e corretivo funcionar e não deixar transparecer minha extrema vergonha. 

 

 

 

Naquele dia, ele me fez várias perguntas, comentando sobre suas viagens e me levando para conhecer o restante da casa. Até mesmo esqueceu o meu pedido. 

 

 

 

Parecia tão animado como quando íamos acampar durante as férias de verão. Fomos apenas duas vezes. Ele me ajudou a fugir de casa e assumiu a responsabilidade quando minha mãe me encontrou, afirmando que havia me obrigado. Da última vez, minha mãe viajou tentando nos separar, contudo sempre trocávamos mensagens e, na metade do inverno, Eduardo também se mudou para a minha cidade, abraçando-me tão apertado como fez ao impedir minha queda. 

 

 

 

Talvez, ele tivesse braços fortes e todos os seus abraços fossem assim... Assim, tão forte que deixava meu coração como uma pulsante bomba relógio prestes a explodir. 

 

 

 

Para a minha tristeza, minha amada esposa não estava na grande residência. Se tivesse, estaria escondida no sótão ou trancafiada no assombroso porão. 

 

 

 

Eu analisava cada palavra de Eduardo e sua expressão não aparentava culpa ou crime. Como o maldito conseguia disfarçar tão bem? Porém, era fato que Oríntia circulava a mansão. Em segredo, todos comentavam sobre a ilustre presença da minha querida. 

 

 

 

Seria questão de tempo até eu descobrir seu paradeiro e fugi daquele local. De qualquer modo, acho que não conseguia guardar nenhum rancor. Não compreendia... Eu jamais conseguiria odiar o meu amigo. 

 

 

 

Uma nova ligação. Eduardo informou que sua avó avisava sobre minha amiga estar de saída. Quando retornamos ao salão principal, segurando minhas mãos e levantando a altura dos nossos peitos, ele me fez prometer que aceitaria o cargo. 

 

 

 

Minha amiga sorria como a empregada de mais cedo. Ela me pagaria, apesar da dívida ser minha. Sem opção, confirmei meu retorno e fui fortemente acolhido novamente por aquele intenso abraço. Definitivamente, Eduardo tinha fortes braços. 


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