A governanta escrita por Sirukyps


Capítulo 5
Capítulo 05




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A garota morava próximo ao hospital. Uns cinco minutos no celta cinza seminovo. Nada impressionante. Um pequeno apartamento em financiamento, conforme ela expôs enquanto subíamos de elevador, embora aconchegante e acolhedor.

— Acho melhor você permanecer desaparecido por um tempo... – Afirmou, sentada a mesa, dividindo comigo a humilde sopa de macarrão instantâneo. – Deixar tudo para trás... Fazer com que pensem que faleceu também...

— Mas não quero continuar te incomodando.

— Não está. – Respondeu sorrindo, levando outra colher cheia até a boca como se esta visasse fugir.  Após engolir, continuou. - Sua presença até que é... Agradável. Acredito que, se ele realmente tentou te matar e é rico, ele tentará novamente e você não terá a mesma sorte.

— Mas e quanto a minha esposa? – Preocupei-me. Havia ingerido poucas colheres do alaranjado líquido salgado. Não sentia fome, frio, sono ou qualquer outra destas tais necessidades básicas. Largando a colher, mantive os cotovelos apoiados na mesa, massageando minhas têmporas para que pudesse pensar melhor, embora isto não fosse elegante. – Não posso deixá-la. 

— Mas ele não a ama? Deixe que se resolvam.

— Ele planeja matá-la... Pelo menos, era isto que dizia a confusa carta... E... Não posso deixá-la sozinha... Não depois de tudo que aconteceu entre nós.

Ela suspirou pensativa. Voltou àquelas rápidas colheradas no prato já raso. Eu não conseguia comer. Desejava visitar minha mãe novamente. Gostaria de permanecer no hospital para que pudesse estar presente em eventuais necessidades. Repousando a colher, ela também colocou os cotovelos sobre a mesa. Fitando-me intrigada, disse:

— Aos sábados, sou enfermeira doméstica para algum membro da família Ivanhoé.

— Então você o conhece? – Assombrei-me, empalidecendo. Sabia que não deveria ter contado, afinal, meu problema apenas me pertencia.

— Algum membro. Não disse que conhecia este tal de Eduardo.

— Mas, hoje, ele tem apenas uma tia-avó viva...

—... Então eu acho que conheço este tal Eduardo. – Ela corrigiu, tendo jubilosa alegria naquele rosto redondo como a lua cheia. – De vista, sabe né? É impossível não notar quando aquele homem forte passa. – Suspirou apaixonada perdida em devaneio. – Mantendo aquele jeito de lorde, mesmo que no Brasil não tenha mais estas tais realezas. – Percebendo meu visível arrependimento, ela mudou de assunto, prosseguindo. – Então, neste final de semana, terei que ir medicar a tia dele novamente e posso te levar comigo. Eduardo não vive na mansão principal, todavia acredito que se você já estiver lá dentro, talvez fique mais fácil encontrar sua esposa.

 - E onde ele está morando? - Intriguei-me. Sabia que esta tia não era um familiar de verdade. Desde cedo, seus pais frequentemente viajavam, deixando meu amigo sozinho. Como ele era extremamente recluso, ninguém tinha conhecimento sobre a existência dos diversos parentes, como o tio do Alasca, o qual chamava meu amigo para passar férias durante o inverno, argumentando sobre as belezas natalinas; também havia um parente em Nova Zelândia e Austrália que lhe enviava presentes exóticos pelos correios. No geral, todos eram distantes e podia enumerar estes raros contatos aos dedos. Apenas esta mulher, a quem intitulava como tia-avó para que não surgissem muitas perguntas, era a responsável pelas suas ações enquanto este não atingia a maior idade.

— Parece que sua tia cuida de tudo. Ele está morando em uma ilha no Sul do Caribe...

“Sul do Caribe?” Desconfiei. As consequentes desgraças poderiam ser um acaso do destino, considerando a veracidade desta informação. Então, quem estaria atacando Oríntia? Não. Ele havia aparecido naquela noite. Questionamentos se desenhavam, enlaçando minha massa encefálica de modo confuso e inesperado. Começando pela louca ideia da minha colega de faculdade, que continuou dizendo:

— Então, viria comigo? Você pode espionar a casa enquanto a medico. 

— Seria loucura. – Repliquei altamente desacreditado. – Se ele estiver aqui, irá me reconhecer imediatamente, eu acho. Quer dizer, não posso ter mudado tanto em um ano... Além que...

— Você pode usar um disfarce. – Ela interrompeu se levantando e recolhendo os pratos para a pia. – Tipo, uma peruca, óculos, maquiagem... – Ainda lavando os utensílios utilizados, gritou. – Sabia que maquiagem muda uma pessoa? Venha até aqui.

Segui sua voz, desconfiado. Não acreditava que fosse mudar tanto a ponto do meu amigo não me reconhecer. Chegando ao quarto, após passar pela cozinha, encontrei diversas roupas sobre a cama e um guarda-roupa saturado de objetos. Como uma loja de fantasia, o apertado cômodo tinha tanto peças  masculinas como femininas, além de uma grande diversidade de sapatos e perucas nas prateleiras. O que aquela garota fazia nas horas vagas?

Acariciando os fios de kanekalon de uma peruca curta e franja verde, tipo cabelo Joãozinho, trouxe esta até mim. Eu recuei um passo para trás, mantendo uma expressão desacreditada como se aquilo fosse gozação. Única explicação, não? No entanto, ela pulou a cama e me alcançou, clamando dramaticamente:

— Vai, Jorge! Contribui. Neste momento, sua esposa pode está nas severas mãos do cruel Eduardo. Sofrendo e clamando: “Jorge, meu amor, venha me salvar”. – Agindo como uma donzela e levando o dorso da mão esquerda até a testa, jogou a cabeça um pouco para trás, continuando ao fechar os olhos. – “Jorge, você me ama mesmo?” – Olhando com apreço para mim, evidente como me forçaria de qualquer maneira. Eu havia cruzado um caminho sem retorno. – Ai ela começa a chorar, sucumbi de desgosto e morre. E você lembra como o Eduardo – Falou o nome dele através de um suspiro apaixonado. – É malvado? Aqueles olhos negros que te matam cruelmente. Ai ele te pega de modo decidido... Aquelas mãos grandes e fortes. Sua esposa só: “Oh, Jorge, salve-me, por favor... Não... Nãoo.... Jorgee.... Jorgee...!!!” – Finalizando a forçada atuação, voltou a expressão normal, questionando-me naturalmente. - Você não quer salvá-la?

— Não acredito que seja assim...

— Pois é. – Ela confirmou assentindo positivamente. – Aliás, nem eu acho que seja assim também. Aposto que é pior. Mas, Jorge, o que custaria usar um disfarce por um ou dois dias? Ai você a encontra e os dois fogem como um casal feliz e vivem felizes para sempre, tipo filme Disney.

— Só por dois dias? Será que eu conseguiria?

— Ai só depende do seu potencial. Eu vou perguntar onde ela está para a tia do Eduardo, provavelmente nos luxuosos aposentos. Depois, é só você entrar, vai até o quarto do Eduardo, combina com a sua esposa para te encontrar na portaria principal da mansão depois da meia-noite e foge. – Explicou, voltando a se aproximar com aquele chamativo utensílio.

— Minha esposa não estaria no quarto do Eduardo... – Corrigi.

— Claro. Estaria na cozinha. – Ironizou, dando um tapa descrente no meu braço. Aquela desconhecida pessoa cada vez me assustava mais. – Ele só queria mais uma empregada, sabe né? – Assumindo a postura como um homem grosseiro costuma ter, continuou. - “Poxa, a esposa do meu amigo, ta ligada que suas pernas combinam com a minha pia?” Ou ainda, “Ai como queria que estas mãos tocassem o meu pão matutino, sua linda.”. 

— Mas o Eduardo não está nesta mansão, como você disse mais cedo... – Observei.

— Dou a minha palavra que te colocarei na casa de Eduardo Honorato Ivanhoé ou não me chamo Emília Santiago Lopes Ferreira da Conceição Mello. – Confirmou, levando a mão direito ao alto do peito e fazendo um juramento. – Além que, levando o que você disse em consideração, ele pode sim está por aqui.

— Sim pode. – Confirmei preocupado. Parecia simples quando ela colocava, todavia, era algo extremamente problemático. Eu não acreditava que fosse capaz, mas não existiam muitas alternativas naquele momento. Precisava salvar minha esposa e terminei aceitando participar daquele plano maluco.

Depois de algumas horas, acredito que algumas daquelas fantasias eram brincadeiras, como a de motoqueiro e o estagiário de medicina. O pior ainda estava por vim, quando ela começou a me arrumar com fantasias femininas, afirmando que seria mais discreto, pois meu amigo jamais havia me imaginado como uma garota indefesa, por isto, seria o lobo na pele do cordeiro.

Sem minha permissão, ela tirou várias fotos e levou ao computador. Objetivava me fazer notar a diferença, visto que eu seguia argumentando me sentir o mesmo. Tentei reivindicar, porém o disfarce havia ficado bom para o meu azar. Aparentava uma dama delicada pela quantidade de bbcream revestindo como concreto meu rosto, isto aliado a outros tipos de maquiagens desconhecidas. Horrível. Inaceitável. Inadmissível. Suspirando profundamente, repeti só concordar com aquilo pela minha esposa e, no fim, firmamos contrato.

Ela comemorava como uma criança ganhando presente. Parecia conspirar algo além daquilo, passando-me medo pelos sussurros solitários. Todavia, não tive tempo para perguntar. Logo, ela me indicou o banheiro. Após o banho, segui suas instruções, indo descansar para o dia seguinte quando treinaria meu comportamento. Se bem... Minha conduta não seria problema na visão da senhora doente, entretanto eu poderia ficar muito evidente ao meu amigo que me conhecia tão bem.

 

Cautela era o recomendável. 


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