A governanta escrita por Sirukyps


Capítulo 2
Capítulo 02




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Depois daquela perturbada noite, não me encontrei novamente com meu amigo por quase um ano. Ele não compareceu ao meu casamento. Quando retornei para a escola, recebi a notícia sobre uma misteriosa transferência, a qual somente eu conhecia o motivo. Celular e redes sociais também foram desativados. Confesso que fiquei preocupado, contudo decidi arrastar minha vida.

Minha esposa era uma pessoa maravilhosa. Acho que comecei a gostar dela bastante. Sempre atenciosa, dedicada, engraçada... Eram tantas características positivas. Perguntava-me o motivo pela sua escolha, ela sorria e afirmava que os meus olhos haviam capturado seu coração.

A vida passava tranquila como se fosse o momento de aterrissagem da montanha russa. Conclui o ensino médio e nossa empresa voltou a prosperar aliada a da minha esposa. Entrei na faculdade para me especializar no ramo da administração que atuaria, pois esperava algum preparo quando uma próxima enxurrada de decepções resolvesse aparecer. Afinal, esta era uma das únicas certezas da minha vida, aliada a morte e aos impostos, já que o sistema capitalista é composto por crises cíclicas.

E foi próximo ao natal que meu sofrimento se intensificou novamente. Minha esposa retornou para casa, assanhada, ofegante, roupa rasgada e agredida, afirmando que havia sido Eduardo. Aos prantos, caindo aos meus braços assustados, relatava sobre a proposta de fuga e como jamais poderia me abandonar, pois eu era o amor de sua vida.

Acariciei suas costas, pois não sabia o que fazer. Pedi calma e ela apenas desabou em choro. Compreensível, considerando o trauma psicológico que deveria ter passado.

Por que Eduardo tinha voltado agora? O que planejava? Eu não podia permitir que ele levasse a minha esposa neste momento, eu havia lhe concedido uma chance antes do casamento... Cheguei atrasado, demorei a responder, apenas aguardando que ele chegasse e se colocasse contra aquilo. Todavia, ele não apareceu. Por que então agora?  

— Peço que, por estes dias, permaneça mais em casa. – Propus pensativo, pois conhecia como ela adorava viver em compras. Cotidianamente, saía cedo e retornava tarde da noite cheia de sacolas. – Não sabemos o que Eduardo será capaz... Contudo, asseguro que te protegerei.

—... Por que você me ama? – Perguntou aos soluços, mantendo o rosto abafado contra meu peito.

Acho que ainda não havia descoberto o significado da palavra amor para ser capaz de responder aquela indagação. Talvez sim. Uma vez, minha avó me contou que existia aquele amor por atração e o por convivência. Meu amigo também tentou me ensinar algumas coisas quanto aos relacionamentos no ensino médio... Organizei meus pensamentos e, sem encontrar uma reposta, abracei-lhe bem forte e assenti.

— Sim... Porque eu te amo, minha adorável esposa.

— Você me salvaria se ele me sequestrasse?

— Claro...

— Eu tenho medo de ficar distante de ti, Jorge. Ele sempre me atormentou durante a infância e eu sabia que você, apenas você, seria capaz de me proteger das frequentes maldades que Dudu cometia. – O choro aumentou devido às tristes lembranças retornando a mente. – Eu achei que estaria livre depois deste tempo, porém, agora, acho que nem mesmo sua presença irá pará-lo. Ele retornou mais cruel...

— Não tema, minha esposa, eu irei protegê-la. – Assegurei, passando a mão sobre sua cabeça para que parasse de chorar. – Entraria na mansão de Eduardo, apenas para te resgatar daquele mal... – Não, eu não tinha raiva dele e não compreendia o motivo. Sentia-me mal em tentar proferir palavras que o afligisse.

— Sim, aquele maldito...! – Ela complementou, voltando o olhar marejado para mim. E logo após, recostou contra meu peito novamente e continuou chorando vomitando as palavras abarrotadas de raiva. – Aquele maldito! Maldito! Eu o odeio e o desejo morto. Apenas com a sua morte eu conseguirei obter a minha paz.

— A morte?

— Sim, meu amor. Você seria capaz de matá-lo? – Interrogou, voltando os olhos molhados em minha direção, aguardando a evidente resposta. Assustado, eu não poderia prometer tal coisa jamais.

— M-Mas a morte é um crime grave. Segundo diversas legislações vigentes: o direito a vida sobrepõe todos os demais.

— Achei que faria de tudo para me proteger. – Franziu o cenho, maleando a cabeça negativamente, desacreditada pela minha fria consolação. - Achei que o nosso amor era capaz de tudo... Mas... Você prefere aquele amigo inútil. Mesmo depois... 

— Eu mataria. – Interrompi convicto. Eu não queria perder a minha esposa, mesmo que fosse para o meu amigo que a amava. Ele teve a oportunidade, mas desperdiçou e desapareceu. No entanto... Por que tinha voltado agora? E se realmente fosse verdade aquelas denúncias de maus tratos? Era um crime grave, principalmente para uma pessoa detentora de tantos bens materiais.

O medo era o nosso cotidiano companheiro. Ela sempre ficava abraçada comigo, principalmente quando íamos à igreja durante o domingo. Eu acariciava sua cabeça, atento para a possível presença do meu amigo.

Falando a verdade... Não sei, acho que queria conversar com ele. Minha colega de faculdade disse que seria a melhor alternativa. Confesso certo medo em rever aquele olhar profundo e senti novamente aquele toque perturbador... Aquela noite ainda permanecia vívida em minha mente.


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