A governanta escrita por Sirukyps


Capítulo 13
Capítulo 13




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Enfim, saímos para procurar o emblemático presente para Orintia. Confesso, eu estava bem exausto, cansado e entristecido por aquele dia. Todavia, sem alternativa, eu o acompanhei.

Nada parecia agradá-lo.

Inclusive ele me sugeriu experimentar algumas peças femininas, usando a desculpa que a pessoa tinha medidas iguais as minhas. Ele falava por gozação, estava claro. Oríntia era baixinha e tinha curvas bem femininas, ao contrário de mim, alto e sem nenhum atrativo.

Claro que neguei. Aquele vestido negro comprido já era humilhação demais para mim.

As horas corriam desesperadas.  Fazia dois dias que eu não visitava minha mãe. Estaria melhor? Teria acordado? Preocupado, eu temia ligar para minha amiga...

Uma bela melodia distante aliviou minha preocupação. Segui o som da misteriosa sereia até que cheguei a uma prateleira da vitrine e encontrei a caixinha de música em madeira vermelha com arredondadas curvas antigas.

Peguei.

Era tão pequena que cabia em minha mão.

Levemente entreaberta, havia caído da prateleira superior, sendo arrumada às pressas para não prejudicar a dinâmica de vendas. Pergunto-me há quanto tempo tocava. A música enfraquecia, por isto, apenas atentos ouvidos distraídos conseguiam captar a ousada magia.

— Esta música.... Lembra-me sua baixa voz. - Abordou-me quase por murmúrios, envolvendo por trás em um repentino abraço e fechando a caixa entre minhas mãos e as dele.

Enrubesci.

Desejava me afastar daquele calor, porém ele me impedia. Toda aquela intimidade era inaceitável. Eu sentia seu tórax pulsando rapidamente. Seria seu coração? Agora, tendo suas mãos repousadas sobre as minhas, eu conseguia captar seu nervoso. Por que meu amigo se sentia desta maneira? Realmente, nutria sentimentos por uma mera governanta?

— Acho que... Uma caixa de música... É um presente ideal para qualquer pessoa. Como se... Como uma mensagem. Sua voz. Sua lembrança. – Tentei explicar, ficando cada vez mais desconcertado com a situação. - Sempre que ela escutar esta música irá lembrar-se de sua voz.

— Então, eu lhe daria uma eterna recordação? – Comentou, logo após soltou-me do repentino abraço e pediu. – Vire-se para mim!

Obedeci sem saber como protestar.

O rapaz permanecia me encarando. Segurando minhas mãos, ocultava a pequena caixinha como se fosse um segredo apenas nosso. Os olhos tão sérios me afugentavam como fumaça. A voz carente, praticamente, implorava como uma criança perdida:  

— Por favor...

— Sim. – Arrancando minha última coragem das entranhas, fitei.

— Você lembraria?

Vermelho, somente sorri, sem resposta.

Porém, ele permaneceu aguardando.

Evidentemente, pela expressão, estava seriamente preocupado.

A cor intensa dos seus olhos... Suas mãos calorosas... Aquele deveria ser um amor muito antigo... Como eu nunca soube de nada? As lembranças das palavras de mais cedo retornaram a minha mente. Ele não me considerava como um amigo, afinal.

Mantendo aquele sorriso, agora forçado, apenas assenti positivamente. Após abandonar a pequena caixinha em suas mãos, eu me distanciei efusivamente.

Aproveitando que ele havia ido ao caixa, desliguei o celular e arremessei no lixo.

Meu coração doía e lágrimas involuntárias escorriam. Eu, nem ao menos, compreendia corretamente o motivo. Homens não deviam chorar e... Aquilo borraria minha maquiagem... No entanto, quer saber? Não ligava mais para maquiagem e nada deste plano estúpido.

Entrei em uma loja e comprei algumas roupas masculinas e a vendedora ainda perguntou se deveria colocar em um papel de presente.

“Sim”, respondi. Seria um presente para mim. Meu recomeço sem Orintia e nem Eduardo.

Sorrindo profissionalmente, solicitou que eu sempre retornasse ao estabelecimento. Aproveitando a hospitalidade, compartilhei meu segredo e pedi para me trocar ali mesmo, pois não queria que meu perseguidor me encontrasse quando eu saísse daquele lugar.

Inicialmente, ela ficou surpresa, todavia sorriu (agora de forma mais verdadeira) e me guiou até o provador.

Inclusive me deu uns cosméticos para retirar o concreto à prova de água da minha face inchada de choro, enquanto comentava sobre como já havia sido perseguida por imbecis e que tudo ficaria bem. No fim, nunca ficava, mas as pessoas insistiam já que precisavam de algo para acreditar.

Aceitando a desgraça como uma amiga intima, naquele momento, eu só queria me livrar daquela terrível sensação agonizando meu peito. Eu só queria parar de chorar.  


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