Midnight escrita por Sherl


Capítulo 7
Midnight Six


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu entrei aqui hoje para postar o último capítulo e vejo a recomendação linda que a leitora Lari fez, quase gritei!!!! Muito obrigada, eu amei muito ♥ ♥ ♥

Capítulo dedicado a ela e a todos que acompanharam Midnight até o finalzinho.



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 m i d n i g h t   s i x  

O alarme tocou e Castiel olhou para ele. Já era hora de se arrumar para a reunião com seu pai e ele não havia dormido nem um minuto sequer desde sua chega às uma da manhã em seu quarto. Não conseguiu dormir, ainda sentindo o fantasma dos lábios ressecados do Dean contra os seus, e o traço de eletricidade que os dedos dele deixaram em seu corpo.  

Castiel quer beijá-lo novamente. Dean lhe fazia sentir uma mágica dentro de seus ossos, ele fazia Castiel se perguntar como que alguém que se parece com bruxaria durante o dia, tinha um gosto tão sagrado à meia noite.  

Olhou para suas mãos e encontrou vestígios de glitter em sua pele, queria deixá-los ali, mas tinha que tomar banho para se arrumar. Maldito dia em que teria de ir para uma editora porque seu pai não iria conseguir ir tão longe sozinho.  

Após o banho, vestiu o terno preto que tinha e saiu do quarto, encontrando seu pai em frente a porta de entrada, parado e já vestido. Era um pouco estranho vê-lo sem o roupão e sem os óculos, e Chuck havia até mesmo feito a barba.  

"Você está bem? Eu posso ir sozinho, pai." 

Chuck negou com um gesti de cabeça. "Não, eu preciso ir. Acho que já é hora de eu s-sair." Ele fechou os olhos e respirou fundo, parecendo mais calmo após o feito.  

Castiel abriu a porta e deixou que seu pai passasse para poder segui-lo e fechou-a novamente. Segurou no braço do Chuck e o levou para a calçada, parando bruscamente quando ele se assustou com uma borboleta azul que passou perto de seu rosto.  

"Tudo bem, é apenas uma borboleta." Disse Castiel sorrindo, continuando a andar com Chuck ao seu lado.  

Dean não estava em frente a sua casa, fumando um cigarro quietamente como sempre fazia. Castiel tentou não se deixar ficar triste porque não o veria pela manhã.  

✧ 

A reunião com a editora ocorreu muito bem, Chuck finalmente iria lançar o livro que vinha escrevendo há anos, Castiel estava feliz por ele, os dois ainda lancharam pela segunda vez em um restaurante, e mesmo que quando Chuck chegou em casa pareceu mais aliviado, ainda era um avanço, Castiel sabia que era difícil para ele.  

Castiel estava sentado em sua cama com um caderno sobre suas pernas, tentando fazer um desenho bonita para a aula de artes, mas estava falhando miseravelmente. Por que é tão difícil desenhar?  

Arrancou outra folha e amassou, a colocando junto as outras ao seu lado. Suspirou olhando para o branco e então procurou inspiração pelo quarto. Com o time perfeito, uma borboleta azul, talvez a mesma de mais cedo, entrou pela janela e voou até ele. Castiel tentou pegá-la com a mão, mas não conseguiu.  

Então voltou sua atenção para o caderno e desenhou um pequeno jardim com a borboleta voando por cima, saindo muito diferente da imagem que teve em sua cabeça.  

"Hey, Cas." Uma voz disse da janela e Castiel virou o rosto, conhecendo-a sendo do Dean.  

"Olá, Dean." Ele sorriu sem perceber e corou.  

"Ei, isso é uma borboleta azul?" Dean perguntou subindo a janela e entrou no quarto, sentando na cama em frente ao Castiel, dobrando suas pernas iguais as dele. "Elas são suas favoritas, não é?" 

"Sim, como sabe?" 

Dean deu de ombros. "O que 'ta fazendo?" 

"Eu estava tentando desenhar a borboleta, mas desisto. Aparentemente não nasci com esse dom." Castiel tentou não deixar visível que estava achando aquela situação estranha, Dean não dirigia uma palavra à ele quando de manhã, e subitamente ali estava em seu quarto. 

Castiel realmente deseja que seu pai não entrasse. 

"Você desenha muito mal, Jeez, Cas." Dean disse sorrindo, fazendo Castiel revirar os olhos. 

"Bem, agradeço por destacar o óbvio." 

Dean abriu ainda mais o sorriso e então pegou o lápis, virando a página e desenhando. Castiel o observou atenciosamente, a pequena volta que seu nariz torto fazia, provavelmente por já tê-lo quebrado alguma vez, o maxilar forte e bem marcado, a sobrancelha e os cílios loiros, seu cabelo  espetado para todos os lados que provavelmente também tivesse sido loiro, mas agora estava escurecendo, a boca carnuda e rosa, e os vários cortes e manchas como galáxias em sua pele. 

E ele ainda tinha um pouco de glitter amarelo por cima de suas sardas. 

Com um último olhar em Castiel, Dean lhe entregou o caderno. "Pronto." 

Castiel olhou para a folha e suas sobrancelhas se ergueram em surpresa. "Eu não sabia que você sabia desenhar."  

Dean havia desenhado a cabeça do Castiel, olhando meio para o lado, a boca aberta e três borboletas azuis sobre seus olhos, era como uma foto bem editada. 

"Você provavelmente não sabe muito sobre mim." 

"Sei apenas o que não acho que seja verdade." Disse Castiel erguendo os olhos para fitar o outro. "Mas eu gostaria de escutar de você." 

Dean deu um meio sorriso e os dois se olharam bem nos olhos. Azul no verde, como um que desce do céu para tocar a Terra. Castiel desceu os olhos apenas um pouco, de modo que ainda via sem foco o verde olhando para ele, e agora observava as pequenas manchinhas sobre seu nariz e bochechas. 

"O que 'ta fazendo?" 

"Olhando suas sardas." 

Dean fez uma careta e virou o rosto, olhando agora para a mesinha de estudo. "Não olhe 'pra elas, são horríveis, eu odeio." 

"Eu as acho lindas." 

Castiel percebeu um pouco de rosa claro se espalhar pelas bochechas do Dean e sorriu. Lá estava a quem todos chamam de perigoso, a quem todos acham que matou alguém, sentado em sua cama, corando porque foi lhe dito que suas sardas são lindas. Castiel não sabia descrever como se sentia em relação a isso. 

"Dean, eu gostaria de beijá-lo agora." 

Dean começou a rir, deixando Castiel confuso e meio receoso. "Você é tão estranho...mas eu gosto." Dean se aproximou vagarosamente. 

"Gosta de que?" 

"De você, Cas." 

"Oh." 

"Uhum." 

Castiel olhou para a boca do Dean e entreabriu a sua, sabendo o que viria a seguir. O tocar de lábios foi tão delicado quanto a primeira vez na noite passada, e o que Castiel sentiu foi tão forte quanto o que havia sentido, porque ele gosta tanto do garoto a sua frente e estava o beijando pela segunda vez. 

"Dean." Sussurrou Castiel entre o beijo. 

Seus lábios se separaram e os dois abriram os olhos, permanecendo ainda próximos demais, seus narizes quase se tocando. As sardas do Dean destacavam-se mais do que nunca vistas naquela posição e o que restou do glitter brilhava ao se encontrar com a luz do sol que vinha em sua direção da janela. 

"Vamos sair." Dean disse. 

"Ainda não é meia noite." 

"Eu sei." 

"Meu pai está fazendo o almoço." 

"Nós almoçaremos na rua." 

"Está me levando em um encontro, Dean?"  

Dean sorriu e levou sua mão até o rosto do Castiel. "Eu tenho te levado em uma série de encontros essa semana, Cas, você só não sabia." 

Castiel soltou uma pequena risada com os olhos fechados e Dean o beijou novamente por alguns segundos. "Me espere aqui." Disse seriamente e foi até a sala, onde encontrou seu pai em pé, segurando uma panela e uma colher de madeira, mexendo o conteúdo enquanto assistia televisão. 

Chuck olhou para o lado e sorriu. "Oi, Cas, acho que o almoço vai demorar um pouco." 

"É sobre isso. Eu vou almoçar com um...amigo." 

"Oh, é com o Samandriel? Ele está em seu quarto? Não o vi entrando." 

Castiel corou. "Não é o Samandriel." Limpou a garganta e colocou as mãos no bolso, só agora percebendo que ainda estava com o terno sem o blazer. "É um vizinho." 

"Quem?" Perguntou calmamente, com uma expressão curiosa. Castiel abaixou a cabeça e estava prestes a enrolar novamente quando Chuck balançou a cabeça e continuou. "Desculpa, filho, estou fazendo perguntas demais, você pode ir almoçar com seu amigo." Ele sorriu e pegou dinheiro em sua carteira, ainda segurando a panela com a outra mão. 

"Obrigado." Castiel beijou a bochecha do pai, não reclamando da barba arranhando seu rosto. 

Dean estava deitado na cama com os olhos fechados, os braços levados para trás como um travesseiro para sua cabeça. Ele possuía uma expressão quase tão serena que quem visse não reconheceria o Dean Winchester que ele era, quase tão serena que fazia ele parecer arte, como uma pintura de um momento calmo de Achilles, ou Apholo fazendo música, e Castiel sentiu a necessidade de não fazer barulho e não acordá-lo, pois ele era tão bonito e ainda assim inconsciente disso. 

"É esquisito e assustador ficar observando as pessoas dormirem, ninguém nunca lhe falou isso?" Dean perguntou, em seguida abrindo os olhos e sorrindo, não mostrando os dentes, um simples sorriso que fazia Castiel estremecer mesmo de onde ele estava. 

Como Dean, sendo como é, gosta de mim? Era o que Castiel se perguntava. 

"Onde iremos almoçar?" 

Dean levantou da cama e foi até o Castiel, aproximando seus rostos de modo que seus olhos não olhassem para outro lugar. "Algum lugar." Dean segurou a ponta da gravata com delicadeza e beijou o canto da boca do outro, para então depositar um selinho demorado. 

Castiel segurou sua cintura e deu um pequeno giro, o empurrando contra a parede e o beijando com vontade, como se estivesse finalmente soltando um desejo reprimido. 

"Pode me dizer o que foi isso?" Dean perguntou quando o beijo foi quebrado, meio sorrindo, meio confuso. 

"Eu aprendi com o cara da pizza?" 

Dean ergueu uma sobrancelha. "Aprendeu com o ca-" Baixou a cabeça e riu. "Ok, Cas." 

Castiel acompanhou Dean até a janela e os dois pularam para fora do quarto. Percebeu que Dean ficara um pouco tenso e sua expressão estava consumida por algo que Castiel não soube interpretar, segurou sua mão, mas Dean se esquivou. 

"Cas..." 

Foi então que Castiel soube que ele estava preocupado com o que as pessoas iriam pensar, não com medo da própria imagem, ele não parecia se importar com o que falavam dele, mas receoso que Castiel ficasse com uma vida ruim após os verem juntos. 

"Dean, eu não me importo, não mais." Castiel segurou sua mão novamente e dessa vez Dean não a negou. "Além do mais, você deveria estar se preocupando com sua imagem de rebelde, uma vez que com minha presença, ela não existe." 

Dean riu e aproximou seu rosto, tocando seus narizes, sua mão foi até o rosto do Castiel e lá permaneceu, o toque de seus dedos delicadamente trazendo sensações altas e bagunçadas. "Você me faz tão calmo." Sussurrou. "Por um tempo eu fiquei confuso no motivo de eu me sentir diferente com você, porque com todos eu me sentia como um homem ignorante, rude e raivoso, mas com você...é o contrário, e então eu percebi. Você me faz calmo, Cas."  

Castiel sentiu-se como se tivesse descoberto algo que ele nem ao menos conhecia o nome. 

Dean beijou sua bochecha e passou um braço por cima de seu ombro, não em uma posição de amigo ou irmão, mas em uma posição de relacionamento, talvez as pessoas não notassem a diferença, mas o que os dois sentiam era muito mais do que amizade. 

"O que vamos fazer?" Perguntou Castiel, passando a mão na cintura do outro, agora eliminando totalmente a perspectiva de amigo entre eles. 

"Vamos visitar sete lugares da cidade." Respondeu Dean olhando para baixo e sorrindo. 

Castiel sorriu com ele e os dois andaram rua abaixo daquele jeito. As pessoas passavam por eles e olhavam para trás como se fosse algo absurdo, as duas mulheres que sempre falam sobre a vida dos outros sussurraram entre si e apontaram não tão discretas para os dois. 

Mas Castiel ignorou as pessoas, em vez disso, olhou para cima e apertou os olhos ao ter contado com o sol, os raios que vinham dele era forte e quente e fazia Castiel entender porque as estrelas ficavam fora de seu caminho e porque a lua se banhava em sua luz, ele pensa em como Icarus não percebeu ao voar para cima, longe do chão, no horário de claridade, que seria uma má ideia.  

O primeiro lugar foi na praça principal, onde crianças dançavam em roda e jogavam flores para cima ou colocavam no cabelo das outras pessoas, seus rostos estavam pintados e Castiel notou que elas faziam uma apresentação para as pessoas que passavam por ali e pediam dinheiro para as que paravam e assistiam. 

Dean levou Castiel até elas e algumas das pessoas que também pararam, os olharam torto, mas não foi o suficiente para que eles se separassem, longe disto. 

Castiel observava os movimentos da dança e se maravilhava ao ninguém errar o passo. Os pés moviam-se, não como uma dança de profissionais na televisão, mas como uma dança simples carregada de emoção, que lhe fazia sentir algo. 

A dança havia terminado e as crianças agora distribuíam flores para as que assistiram e recebiam as moedas dentro de um potinho brilhoso. Quando uma loirinha foi até eles, os dois sorriram junto a ela e se abaixaram para escutar o que ela queria dizer. 

"Olá, poderiam ajudar a instituição de arte Fitzgerald, nós fazemos apresentações pela cidade para arrecadar fundos para nossos estudos e para os hospitais infantis." Sua voz fininha e alegre fez Castiel sorrir ainda mais. "Qualquer valor será bem vindo." 

Dean lhe entregou uma nota de cinco dólares e Castiel fez o mesmo, adicionando algumas moedas que tinha no bolso. Ela gentilmente ergueu o potinho e os dois colocaram dentro dele. 

"Vocês querem uma flor?" Perguntou a morena ao lado dela. 

"Sim, o Cas aqui ama flores." Dean disse sorrindo. 

"Vocês tem algum glitter?" Castiel perguntou após colocarem duas flores em seu cabelo, presas a sua orelha. "Ele ama brilho no rosto." 

"Hey!" 

As garotinhas riram e a loirinha pegou um potinho de glitter de dentro da bolsa que elas carregavam com as flores, já que dentro de um bolso havia a maquiagem que elas usavam para as apresentações. Dean deixou que elas colocassem glitter dourado em uma linha grossa que ia da metade do caminho abaixo de seus olhos até perto do cabelo onde suas maçãs do rosto começavam. 

"Agora você." Ela disse ao pegar outro potinho e ir em direção a Castiel. O glitter foi passado do mesmo modo, destacando seus olhos azuis por ser prateado. "Vocês estão quase tão bonitos quanto a gente." 

Castiel riu e voltou a ficar de pé. "Obrigado, é um bom elogio considerando que vocês são lindas." 

Elas sorriram e saíram dali, acompanhando as demais para uma van branca. 

"Como você está incrível com isso no rosto? Eu devo estar ridículo." Disse Dean. 

"Você não está ridículo." Castiel segurou em sua mão e o beijou. "Glitter combina com você." Dean corou. "Para onde vamos agora?" 

Dean o levou para almoçar em um restaurante perto dali, onde eles comeram um grande duo filé com acompanhamento de macarrão e batata frita, e coquetéis de morango ("Estão na promoção, Cas!"). Teve olhares, claro, mas Castiel estava tão focado nos olhos do Dean e no seu rosto com glitter e o que ele tinha a dizer que nem ao menos percebeu. 

"Eu não gosto de gatos." Disse Dean. 

"Mas eles são muito legais, Dean, por que não gosta deles?" 

Dean limpou a garganta e tossiu um pouco. "Eu só não gosto." 

Castiel olhou atentamente para a expressão do rosto do outro que deu um sorriso. "Você tem medo de gatos." Não foi uma pergunta. 

"Eu não tenho medo de gatos, você tem medo de gatos!" Disse apressadamente, corando ao mesmo tempo.  

Castiel começou a rir descontroladamente. "O que?" Ele continuou a rir e Dean jogou uma batata no seu rosto, mesmo se juntando a risada logo após. 

Ao terminarem o almoço, Dean levou Castiel para o pequeno parque que ficava duas ruas depois. Lá eles tomaram sorvete e ficaram rodeando os brinquedos e as barracas, a parte preferida do Castiel foi quando eles foram na roda gigante, que Dean ficou com medo, embora negasse, e toda vez que chegavam lá em cima seu corpo ficava tenso e Castiel balançava a cadeira um pouco, quase causando um grito no outro. 

Castiel não sabia da existência do antigo teatro no fim da cidade para onde Dean o levou quando saíram do parque. Havia uma apresentação em poucos minutos, o que levou a Castiel a pensar que Dean já havia planejado levá-lo ali. O teatro era sobre uma adolescência fictícia do Oscar Wilde, em sua admiração pela estética e de pequenas coisas, e seu relacionamento com outros garotos. 

"Já leu o livro famoso dele? Retrato de Dorian Gray?" Dean perguntou quando eles saíram do prédio antigo. 

"Não." 

"É bom, quer dizer, Sammy me disse que era bom, ele leu." 

"Não precisa ficar envergonhado por ter lido algo, Dean, eu acho bom quando as pessoas leem." 

"Ok, quer dizer, bem, eu cresci sozinho, li vários livros." 

"Eu não sabia disso sobre você." 

Dean beijou na área acima da orelha do Castiel, e não disse nada. Castiel espera que aquilo seja um gesto para lhe dizer que Dean irá lhe contar tudo sobre si mesmo, mas fará isso de pouco em pouco. E Castiel quer isso. 

"Nós vamos para a Roadhouse, o bar da Ellen, onde eu passei a maior parte do meu tempo crescendo, eles vão gostar de você." 

E eles gostaram. Ellen o tratou como um cliente especial, Ash conversou com eles como se ele fosse um amigo, Jo agradeceu por finalmente conhecê-lo e não pareceu estar impaciente com sua companhia. Dean não bebeu cerveja, ao invés disso, pediu dois milk-shakes à Ellen, que não vendia esse tipo de bebida ali, mas mesmo assim arrumou um jeito de fazer dois de baunilha. 

Eles conversaram sobre coisas desastrosas e vergonhosas que Dean já fizera ou aprontara, Castiel não lembra de ter visto Dean tão vermelho como naquele dia. 

Perguntou onde era o banheiro e foi lavar as mãos que havia sujado de milk-shake. Se olhou no espelho e viu o brilho do glitter ainda em seu rosto, como se ele tivesse acabado de colocar, Jo estava certa quando disse que eles pareciam que vieram de uma parada gay. 

Ao sair, escutou Jo conversando com Dean e parou onde estava para ouvir com mais clareza. 

"Você já mostrou a ele?" Era a voz da Jo. 

"Ainda não." 

"Mostrou o que?" Perguntou Castiel saindo de onde estava e se aproximando dos dois. 

"Já foi no museu da cidade?" Dean perguntou sorrindo, fugindo do assunto. 

O museu da cidade não era exatamente um grande prédio, mas era um salão espaçoso com algumas corredores, e todas as artes nele contidas eram de artistas independentes, cujos nomes ninguém ouviu falar. 

Castiel nunca havia entrado no museu, para falar a verdade, ele nem ao menos sabia que o lugar existia, Dean deve ter passado muito tempo sem ter o que fazer na adolescência, já que parecia que conhecia a cidade melhor do que ninguém. Alguns dos quadros eram retratos humanos feitos com apenas uma linha, os olhares eram cansados e sérios, alguns tinham um cigarro na mão, outros estavam de costas e outros beijavam alguém. 

O que mais lhe chamou atenção, foi que sete quadros, todos em uma única fileira em um dos corredores, eram desenhos de o que parecia ser apenas um garoto em várias fases de sua vida. Não eram quadros realmente, mas sim papel branco em molduras. 

No primeiro quadro, o garoto era criança e estava sentado no chão olhando para uma margarida com uma borboleta azul. 

No segundo, o garoto já crescera um pouco e segurava um pedaço de bolo com uma borboleta azul em cima, vestia um pijama de um padrão de abelhas. 

No terceiro, o garoto estava de costas, brincando sozinho no balanço de uma árvore, uma borboleta azul segura na corda do balanço. 

No quarto, o garoto já aparentava ter onze anos, e estava olhando para o lado, para onde uma borboleta voava para longe. 

No quinto, o garoto segurava um sanduíche enquanto com a outra mão erguida, quase tocava uma borboleta. 

No sexto, o garoto estava com uma mochila nas costas e já era maior, olhava para o chão e uma borboleta se encontrava em seu ombro. 

No sétimo e último, o garoto estava de frente, seu cabelo escuro bagunçado e olhos grandes que pareciam olhar para quem estava fora do quadro, o cenário atrás era formado pelo céu escuro com estrelas, sua boca estava aberta e dentro dela havia uma borboleta. As únicas coisas em colorido eram seus olhos e as asas da borboleta, pintados com o mesmo tom de azul. 

Castiel olhou para a assinatura de baixo e viu escrito em preto e em letra desenhada o nome Deanno, e nada mais. Seu coração acelerou e virou-se para Dean, seu olhar meio confuso. "Isso sou eu?" 

"Eu não passava meu tempo sozinho apenas lendo." Disse Dean. 

Castiel agarrou-o pela nuca e o beijou lentamente, sentindo-se mais vivo do que de manhã e mais seguro do que horas atrás. 

"Desculpa por cheirar a cigarros quando você queria cheirar rosas, ter olhos vazios e cansados quando você queria olhar para dentro de algo bonito, e ter cicatrizes onde você queria tocar." Disse Dean quase em um sussurro. 

"Isso tudo é você, Dean, e eu gosto de você." 

Dean fechou os olhos e voltou a olhar para seu próprio trabalho, mas Castiel continuou a olhar para ele, porque Dean era um artista, e Dean era uma arte.

✧ 

Onze e cinquenta e dois. 

Castiel deitou ao lado do Dean no gramado da praça onde quase ninguém ia, e por ser tarde, não havia ninguém exceto os dois ali. Seus ombros se tocavam e seus olhos estavam focados na mesma direção no alto, para o céu. Castiel olhou para a lua e sentiu-se como se fosse seu súdito, ele entendeu porque as estrelas caíam em seus pés. Teve então uma conclusão ao fechar os olhos, Icarus seguiu a luz errada. 

"É meia noite." Disse Dean em um tom calmo, fazendo Castiel abrir os olhos e o olhar. 

"Por que meia noite, Dean?" 

"É o que o relógio diz, Cas, eu não-" 

Castiel sorriu. "Por que você escolheu meia noite?" 

"Porque meia noite..." Dean suspirou olhando para Castiel. "Pode parecer clichê, mas é clichê por um motivo. Começos e fins, estes tem poder, e meia noite é quando alguém passa de um para outro. Em um espaço de um segundo vai deixar de ser hoje para ser amanhã, e ao mesmo tempo de ser ontem para ser hoje." Dean olhou novamente para o alto. "Tente explicar como isso não é magia." 

Castiel sentiu seu peito esquentar com a explicação, suas mãos formigarem ao gritar por um toque do outro e sua boca molhada com a saliva, ele nem percebeu que havia lambido os lábios. Dean era perfeito e tão natural, todas as suas respostas vinham de pensamentos que ele provavelmente tivera ao passar muito tempo sozinho, e cada um deles tinha um significado único e bonito para Castiel. Não acreditava que estava beijando aquele garoto e passeando com ele o dia inteiro. Castiel chamava aquilo de algum tipo de milagre, algo celestial que lhe foi dado. 

"Você acredita em milagres, Dean?" 

Dean ficou em silêncio por alguns segundos, como se já soubesse a resposta, mas não sabia como dá-la. "Eu sei que vivemos em uma bola gigante de água que fica suspensa no universo, rodando por uma bola de fogo e uma lua que move o mar." Dean suspirou. "Mas não, Cas, não acho que acredito." 

Ele soava tão triste que Castiel quase se sentiu mal por ter perguntado. Talvez Dean não acreditasse em si mesmo, o que era ruim. Dean tinha tanto potencial, era um garoto brilhante e talentoso, como podia não vê isso em si mesmo? 

"Por que você faz aquilo tudo, Dean?" 

Dean o olhou, entendendo o que ele queria dizer. "Eu não sei, só...me faz me sentir vivo, me sinto melhor. Eu sou bom em causar problema e eu causo, porque eu preciso me sentir como se soubesse fazer algo, porque não sei fazer mais nada." 

Castiel virou o corpo e segurou o rosto do Dean, olhando em seus olhos com. "Você é bom em muitas coisas, Dean. Você é um artista e é um bom irmão. Você é bom com as palavras e tem um ótimo jeito de pensar, você é bom com quem você gosta, Dean, você é criativo, você é bom em me fazer sentir coisas, é bom em fazer os outros sentir o lado excitante da vida." Castiel o beijou. "E é bom em beijar." 

Dean riu e o beijou novamente. "Você é um idiota, Cas." 

Castiel sorriu, porque ali era Dean agradecendo, era Dean dizendo que gostava dele, era Dean feliz.  

Castiel o olhou com atenção, enquanto estava meio deitado em seu peito, as mãos em seu cabelo. Dean parecia arte renascentista, mas ao mesmo tempo arte moderna, arte que fazia Castiel sentir algo gritante. Dean sempre teve isso sobre ele, o olhar de alteridade, olhos que veem as coisas muito longe, de pensamentos que viajavam até a beira do mundo. Quando estava com Dean, Castiel sentia-se como algum tipo de fenômeno, como as estrelas e as cores que alguém enxerga quando esfrega os olhos. 

"Como está o Sam? Achei que ele estaria na Roadhouse." 

"Yeah, mas ele foi para a casa de um amigo fazer um trabalho para segunda. Ele é um bom garoto, muito inteligente. Vai ser um bom advogado, o Sam. É o que ele quer." Dean sorriu. 

"E o que você quer, Dean?" 

"Não sei, eu gostaria de trabalhar como mecânico com o Bobby, sempre amei carros, mas também quero fazer quadros." 

"Você pode ser os dois, Dean." 

"Você acha?" 

Castiel assentiu. "'Artista famoso Dean Winchester trabalhava como mecânico.' é uma boa história." Dean riu e beijou Castiel.  

Os dois fecharam os olhos e deitaram com a cabeça virada para cima, um ao lado do outro, sem fazer algum barulho. Castiel sente algo tremer dentro dele, ele quer esquecer tudo exceto a forma de como Dean olha para ele, não como se o amor fosse um segredo, mas como o amor os torna um rebanho de pombas em voo, eles mostram seus corações sangrentos do lado de fora de seus peitos moles, e eles voam.  

Após um tempo, Castiel olhou para Dean, que ao sentir o outro, também o olhou. Castiel prestou atenção aos olhos do outro. Olhos verdes pingados com amarelo, como folhas secas na superfície de uma piscina, Castiel sentia que ele podia se afogar naqueles olhos.  

"Seu pai deve estar preocupado, acho que devemos ir." Disse Dean calmamente.  

Eles levantaram e seguiram o caminho para casa silenciosamente, suas mãos seguradas uma na outra, trazendo um sentimento de segurança para os dois. Era incrível em como aquela pequena cidade dormia cedo.  

✧ 

Dean parou em frente a casa do Castiel e olhou para ele, sorrindo. "Amanhã é domingo e eu costumo passar o dia com o Sammy, porque é o único dia que tenho inteiramente para ele, então..." Dean apertou sua mão e se aproximou. "Meia noite?" 

Castiel riu e o beijou lentamente, como se mostrasse que era impossível deletar Dean de sua vida. "Meia noite, Dean."


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Notas finais do capítulo

E é isso gente ♥

Queria dizer que estou desenvolvendo dois projetinhos, o primeiro é um que se passa nos anos 70, mais precisamente 1973, sim na época do rock, onde Dean tem uma loja de disco de vinil e Castiel chega na cidade e começa a trabalhar com ele, eles saem para shows e festas em New York, Mary e John estão vivos !!! É baseado na série Vinyl e no filme Empire Records.

O outro é uma trilogia, que começa com Dean e Castiel no colégio, onde Dean é o famoso jogador de futebol homofóbico que pratica bullying (sim, gente, é meio pesado essa), eles moram em uma cidade pequena fictícia como Stars Hollow da série Gilmore Girls. A segunda parte é eles na faculdade e a terceira é ~DOMESTIC!DESTIEL~. Infelizmente essa vai demorar muito para que eu poste.

Mas enfim, é isso.