Em rota de colisão escrita por Lily


Capítulo 15
XV




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Wise men say Only fools rush in.¹

O dia estava ensolarado, o vento fresco fazia a copa das árvores balançarem, a praça está um pouco cheia já que era final de semana. Ela estava sentada em um dos bancos que cercava a fonte principal, um grupo de músicos amadores fazia suas apresentações sobre a sombra de uma frondosa árvore perto dali.

But I can't help Falling in love with you.

Apoiou o queixo sobre a mão, enquanto observava uma família a sua frente, o pai tinha a garotinha de cabelos pretos sobre os ombros, enquanto a mãe brincava com o filho, também de cabelos pretos, sentado na fonte com os pés mergulhados na água. Eles faziam pequenos barquinhos de papel, e os jogavam para que as pequenas ondas que o garotinho fazia com os pés os levassem para longe.

Like a river flows Surely to the sea.

Um casal caminhava de mãos dadas ao redor da pequena família, eles se sentaram em um banco do lado oposto ao dela. Trocavam juras de amor aos sussurros, carícias mínimas e roubavam beijos um do outro, a garota loira pareceu murmurar algo no ouvido do garoto de cabelos selvagens, ele riu e beijou a ponta do nariz dela.

—Darling, so it goes Some things are meant to be.

O grupo de músicos pareceu atrair um pequena multidão, o cara que tocava o canjo colocou uma caixa sobre a grama, as pessoas começavam a se aproximar e deixar suas contribuições. Uma garota ruiva escarlate que estava no vocal atraiu sua atenção, ela obviamente era hippie, com direito a pés descalços e tiara de florzinha.

Take my hand Take my whole life too.

Cutucou a calçada de mármore debaixo de seus pés, quando sentiu a lufada familiar bagunçar seus cabelos acobreados.

—Oi.

—Oi.

—Tudo bem?

—Ela ainda está com raiva de mim?- perguntou, sem olhar para ele.

—Ela não está com raiva Emma.- ele afirmou passando a mãos pelas suas costas em gesto de carinho.- Apenas está confusa.

—Ela desmaiou.-afirmou.

—Ela desmaiou de susto.- ele retificou.

—Mas ela não está feliz.- insistiu.

—Claro que está. Nós dois estamos.- ela suspirou.- Ela está morta de preocupação, a primeira coisa que fez quando despertou foi perguntar por você.- ela se remexeu no banco.- Se o que você disse for verdade…

—É verdade.- afirmou com um rosnado.

—Eu sei que é, assim com Caitlin.- foi a vez dele suspira, tirou a mão das costas da garota e se recostou no banco.- Desde que eu te vi senti uma necessidade estranha de te proteger, não tão grande quanto a de Cait é claro.

—Instinto materno.- comentou, fazendo-o rir.

—Isso mesmo, instinto materno. Caitlin nesse exato momento deve estar surtando e andando de uma para outro do laboratório, esperando eu te levar para lá.

—Típico de mamãe.

—Então ela ainda continua uma louca controlado no futuro.- ele cruzou os braços atrás da cabeça.

—Você se casou com ela, então já está acostumado com isso.

—Bom saber.

—Você tem certeza que mamãe não está com raiva de mim?- perguntou finalmente olhando para seu pai.

—Eu apostaria minha vida nisso.- Barry se colocou de pé e estendeu a mão para ela.- Vamos voltar, antes que Caitlin arranque cada fio de seu próprio cabelo, ok?

—Ok.

Emma se levantou, colocou a mão sobre a de seu pai e sorriu.

For I can't help Falling in love with you.

Em segundos estavam de volta ao laboratório, logo ela foi atacada por um furacão de cabelos castanhos avermelhados, jogou os braços em volta de Caitlin e enterrou seu rosto na curva do pescoço de sua mãe.

—Nunca mais faça isso, por favor.- a doutora pediu, sua voz tremia.- Não me assuste novamente.

—Não se preocupe, prometo nunca mais fazer.- sussurrou com a voz abafada.

—E você está de castigo pelo resto da vida.- a doutora acrescentou. Emma se afastou para visualiza-la melhor.

—Você está brincando, não está?

—Não.- Barry respondeu, com um sorriso sacana nos lábios.- Quando você voltar para o futuro, já vai estar de castigo.

—Sabe, pais normais iniciariam essa conversa perguntando se a filha estava bem ou como ela havia parado ali. Não as colocando de castigo.

—Mas não somos pais normais.- argumentou Caitlin, se afastando dela e se encostando na mesa ao lado de Barry.

—Deu pra ver.- sussurrou.

—Agora vamos voltar ao ponto principal.

—E qual é?- perguntou para seu pai.

—Por que você mentiu?

—E o que você queria? Que eu chegasse e contasse: Oi eu sou Emma sua filha do futuro com a sua doutora particular. - bufou, encarando seus pais.- E cá entre nós, minha primeira visão sua não foi exatamente adorável, papai.

Ambos se lembravam de sua chegada, principalmente pelo fato de Barry estar agarrando Íris na porta de entrada.

—Por isso eu menti, acredite não foi um dos meus melhores momentos, eu odeio mentir. Mas era necessário.

—Mas como você veio parar aqui?- sua mãe perguntou.

—É uma história complicada.- mordeu o lábio inferior nervosa.

—Então simplifique.- pediu Caitlin.

Aquilo provavelmente aumentaria ainda mais seu castigo, mas como não havia opção.

—Tommy Queen é o filho mais velho do tio Oliver, ele me convidou para ir a uma das boates que ele frequenta, só que essa boate abria meia-noite e vocês, obviamente, nunca me deixariam ir.

—Mas você foi.- Barry a interrompeu, assentiu com a cabeça.

—E levei Camille comigo. Então chegamos lá e entramos, começamos a dançar quando uma confusão começou, eu tentei sair de lá, mas tudo era um caos, foi então que tudo começou a dar errado.- ela, obviamente, omitiu a parte sobre Tommy estar se agarrando com uma qualquer, enquanto ela se mete em confusão.

—E como você veio parar aqui?- sua mãe perguntou ainda sem entender.

—Eu tentei correr para fugir da confusão, mas quando alguém atirou em mim, a única coisa que pensei foi em voltar para casa e acabei aqui.- mordeu o lábio inferior.

— Acho que corri rápido demais.

—Você acha?- perguntou Barry ironicamente, Emma fez um bico infantil.- Temos que te mandar para o futuro.

—Pelo menos agora eu tenho minha velocidade de volta.- sorriu completamente encantada.-Vai ser mais fácil.

—Ok.- sussurrou Caitlin ao se sentar em uma cadeira. Emma olhou para ela, sua mãe exalava uma calma que parecia infinita.

—Estou impressionada mamãe, você está levando isso numa boa.

—Honey. Eu estou surtando por dentro.- a doutora explicou. Barry riu e Emma revirou os olhos.

—Meu Deus, mas vocês são complicados.

~***~

Emma mordeu um pedaço de sua pizza antes de pensar em como responder a pergunta de sua mãe. A garota estava sentada em cima de uma das mesas do laboratório, Barry e Caitlin a sua frente, o velocista girava cadeira em um gesto infantil, enquanto a doutora fazia uma série de perguntas analiticas.

—Eu não sei.- respondeu com a boca cheia, Caitlin arqueou as sobrancelhas intrigada, então se virou para Barry.

—Bar, alguém da sua família tem alergia a mirtilo?

—Não que eu saiba.- ele respondeu. Caitlin franziu o cenho.

—Se não é pela minha família, nem a de Barry, de quem você herdou isso?

—Mamãe se você quiser a gente para todos os meus tios e perguntamos.- sugeriu ironicamente, fazendo Barry rir.

—Ok. Sei que exagerei…

—Você sempre exagera, querida.- frisou Barry.

—...mas é muito empolgante ter alguém do futuro aqui, sem ser do mal.- Cait explicou. Emma riu.

—O que foi?

—É porque, eu pensei que quando eu contasse a verdade, quem iria surtar era o papai, não você.

—Ei! Eu não surto.- Barry protestou, fazendo a garota revirar os olhos.- Sou bem controlado.

—Quando mamãe contou que estava grávida de Henry, você desmaiou.- ela revelou.

Barry entreabriu a boca, enquanto Caitlin tentava assimilar o que Emma tinha acabado de falar. A garota levou cerca de três segundos para compreender o que havia acabado de falar, por fim, quando finalmente entendeu, se xingou mentalmente. Existe uma coisa sobre o futuro que seus pais sempre falavam: nunca revele mais que o necessário. Eles provavelmente nunca pensariam que a filha pudesse viajar no tempo, por isso aquela frase era mais analitica do que prática.

—Eu tenho um filho.- Emma observou sua mãe, que a encarava com descrença. Assentiu com a cabeça, meio sem jeito.- E o nome de é Henry.- Caitlin observou encantada.

—Quantos anos ele tem?- Barry tinha um sorriso de orelha a orelha estampado no rosto.

—Isso eu não posso falar, nem devia ter mencionado o meu irmão. Vocês sabem que essa coisa de viagem no tempo é muito delicado, e complicado.- explicou como se pedisse desculpa.- Mas, que tal focarmos em outra coisa?- Emma propôs.- Tipo no encontro de vocês?

Caitlin e Barry entreolharam e, inevitavelmente, ficaram vermelhos. Emma revirou os olhos,sorrindo, seus pais eram inacreditáveis.

—Será que o tio Cisco ainda tem aquele molho espetacular da semana passada?- perguntou, não para alguém em especial, apenas para quebrar o clima.- Vou ver na geladeira.

Saiu da sala, foi em direção a “cantina”, um pequena sala perto do córtex onde Cisco montou uma mini cozinha para as necessidades mais urgentes. Abriu a geladeira, não achando nada além de ar frio, eles precisavam fazer compras.

Bateu a porta com força e retomou o caminho ao córtex.

—Onde está papai?- perguntou a Caitlin assim que entrou. Sua mãe mexia no celular, enquanto pegava a bolsa sobre a mesa.

—Oliver ligou pouco depois que você saiu, disse que era urgente e  que precisava de Barry em Star City.- ela respondeu sem tirar os olhos do celular.- Pegue sua jaqueta Emma, temos que ir a delegacia.

—O que houve?- perguntou, correndo para pegar a jaqueta do outro lado da sala.

—Joe disse que é urgente.- Caitlin contou enquanto caminhavam para fora do laboratório.

Saíram correndo até o estacionamento, apenas para Caitlin notar que seu carro ainda estava estacionado no parque.

—Posso usar minha velocidade.- Emma sugeriu ao notar o olhar da mãe.

—Eu não sei…

—Apenas se segura.- ela sussurrou, apertando o braço de Caitlin.

Em segundos estavam em um beco perto da delegacia. Cait arfava um pouco assustada, Emma sorriu ao perceber que sua mãe nunca havia se acostumado com o uso da super-velocidade.

—Não faça isso de novo sem a minha permissão, ok?- a doutora pediu, enquanto as duas caminhavam entre as pessoas que circulavam na calçada, o sol lançava seus raios alaranjados de final de tarde sobre os habitantes de Central City.

—Ok.- Emma sussurrou assim que passaram pela porta principal da DP. Joe já esperava.

—Caitlin.

—Joe, o que houve?- a doutora perguntou preocupada.- Você disse que era urgente.

—Precisamos conversar.- ele puxou Caitlin pelo braço, Emma deu um passo para segui-los, mas Joe a impediu.- A sós.

Por cima do ombro Caitlin lhe lançou um olhar de desculpa enquanto ia sendo arrastada pelo detetive. A garota não podia fazer nada além de esperar.

Bufou exasperada, olhou ao redor, policiais vinham e iam para suas respectivas atividades, caminhou para um dos bancos que ficavam grudados na parede oposta a entrada. Teria que esperar, e acreditem ela não sabia esperar.

Mordeu a almofada do dedão, tinha as pernas cruzadas e o pé balançava freneticamente, alguns policiais passavam levando presos para dentro. Já haviam se passado dez minutos desde de que Joe levará Caitlin, Emma já estava pronta para ir atrás da mãe quando ouviu algo.

Come up to meet you, tell you I'm sorry.²

A voz lhe era familiar, se levantou, os acordes do violão soavam pelo lugar, Emma sabia que vinha do lado de fora.

You don't know how lovely you are.

Refez o caminho que havia feito alguns minutos atrás, e sentados no final da escada de pedra que levava até a delegacia, um grupo de adolescentes cantava.

—I had to find you, tell you I need you. Tell you I set you apart.

Um garoto, familiar para ela, tocava o violão e cantava junto dos outros, a case do violão estava aberta, algumas pessoas que passeavam pela calçada, às vezes deixam dinheiro. O garoto virou milimetricamente, Emma colocou a mão sobre a boca.

—Tell me your secrets and ask me your questions.

—Agora está tocando para viver?- gritou, o garoto virou, seus olhos castanho fixaram nela.

—Eu vivo para tocar.- Cory brincou, alguns dos garotos que estavam com ele interromperam a música e se viraram para Emma, a súbita atenção fez ela corar.- E você?

—Vivo para me meter em encrenca.

Cory se levantou, entregando o violão para um garoto loiro ao seu lado, ele subiu os degraus de dois em dois.

—O que faz por aqui?

—Caitlin precisava resolver alguns problemas.- explicou olhando para Cory, ele era pelo menos uns dez centímetros mais alto do que ela.- E você?

—Uns amigos da minha antiga escola vinham me visitar e  resolvemos sair.- ele apontou para o grupo, Emma notou que só havia uma menina no meio dos meninos, cabelos pretos cacheados e volumosos, pele cor de café e um olhar mortal de quem estava preste a soca-la.

—Então você tinha amigos?- perguntou casualmente, evitando os olhares assassinos, e se lembrando da conversa da noite anterior.

—É.- ele passou a mão pela nuca.-Só não aqui.

Emma fechou os olhos sentindo os últimos raios de sol se despedindo, quando os abriu novamente tudo já estava escuro e apenas Cory se destacava.

Sirius.- ele olhava para cima, ela não pode deixar de sorrir.

—Ela ainda não está visível, Cory.- explicou, o garoto a olhou sem jeito.

—Eu sei, estava apenas te testando.- Cory retrucou, voltando a postura normal. Sua fala tinha um certo “quÊ” de autoridade, Emma automaticamente deixo isso pra lá.- Venha, vou te apresentar ao meus amigos.

Ele estendeu a mão e ela aceitou, juntos desceram a escadaria até o onde o pequeno grupo estava.

—Pessoal.- Cory chamou.- Essa é Emma, um amiga.- ela sorriu para eles.- Em, esses são Shawn,- apontou para um garoto de cabelos pretos revoltados e olhos castanhos escuros.- Aiden,- o garoto de cabelo azul e olhos verde que segurava o violão, acenou com a cabeça para ela.- e Meli.- a única garota da grupo forçou um sorriso.

Emma sorriu para eles.  

—Vocês todos são de Gotham?- perguntou.

—Sim.- Meli respondeu, seus olhos faiscavam na direção de Emma.- Viemos conhecer a nova cidade de Cory.

—Central City é linda.- Emma comentou da forma mais educada possível.

—E não só ela.- Shawn a encarava com um sorriso maroto, ele lembrava muito Robbie Queen em muitas características, principalmente o formato do rosto e da boca, e o brilho que irradiava naturalmente. Emma sorriu sem jeito, enquanto Cory encarava o amigo, irritado, Shawn ignorando-o continuou.- Você vai nos mostrar a cidade Emmily?

—É Emma.- o corrigiu.- E não sei se Cory contou, mas eu também sou nova na cidade.

—Em perdeu a memória.- explicou Cory.

—Nossa, coitadinha.- Meli falou com monocórdia.

Emma se conteve para não revirar os olhos, se conseguia aguentar Cameron na escola, com certeza aguentaria Meli ali. Mas ela torcia para que tivesse força para não voar na cabeça dela.


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Notas finais do capítulo

Músicas: ¹Elvis Presley - Can't Help Falling In Love
²Coldplay - The Scientist