A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 9
Capítulo 9




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  Nossa viagem de ônibus foi tranqüila, sem nenhum ataque de monstro. Thalia ficava ouvindo música sentada sozinha e Percy e Annabeth deviam ficar se pegando nos bancos deles. Depois que Melanie acordou o humor dela estava melhor, nós às vezes conversávamos, mas não foi nada próximo ao que costumávamos falar no acampamento, provavelmente pelo clima deixado pelo nosso pequeno incidente. No momento em que ela dormiu foi provavelmente a melhor hora da viagem. Às vezes eu mexia em seu cabelo liso, analisava algumas mechas ou algo assim. Meu impulso era, naturalmente, acomodá-la ainda mais perto de mim e passar os braços ao seu redor, mas como ela poderia estranhar isso ao acordar (só poderia?), eu me contentei em brincar com mechas de cabelo.

 

  Às vezes os mortais comuns que passavam para ir ao banheiro do ônibus a olhavam por um momento com cara espantada. Imaginei se eles podiam ver a lua preta na testa dela.

 

  Depois de umas sete horas de viagem, o ônibus chegou ao seu destino, Cleveland, no estado de Ohio. Eu também havia dormido um pouco, e havia acordado há pouco tempo, ainda estava sonolento. Nós caminhamos até um parque cheio de bancos. Mel foi comprar alguma coisa para comermos em uma padaria próxima enquanto nós falávamos sobre o próximo destino.

 

  Ou pelo menos nós deveríamos falar sobre isso.

 

  — E aí, Nico — disse Thalia. Claro, tinha que ser a Thalia. — Como andam as coisas com a Mel?

 

  Fiquei quieto, encarando Thalia com um olhar interrogativo.

 

  — Nico, não tem como você esconder. — Falou Percy casualmente. — Acho que até o cego do Polifemo conseguiria ver como você está pela Mel. Quer dizer, menos ela, é claro.

 

  — Deixa ele, Percy. Aposto que ninguém ficava dando palpite na sua vida amorosa antes da gente começar a namorar. — Annabeth dizia enquanto acariciava os ombros do namorado.

 

  — Annabeth tem razão. — Falei. — Se eu tenho algo com a Mel, isso é problema m...

 

  — O que tem eu? — Naquele momento, Melanie chegou com duas sacolas plásticas que ela colocou entre os dois bancos que havíamos pegado para nos sentar. Thalia e Percy, que eram os mais mortos de fome, atacaram logo.

 

  — Não tinha muita coisa. Só uns donuts, croissants, uns dois pães. Ah, e vão se contentar com suco de caixinha. — Melanie riu, pegando um croissant e uma caixinha de suco de abacaxi. —Mas enfim. O que tem eu?

 

  — Ã? Ah, nada. — Respondi.

 

  — Nico, você mente muito mal.

 

  Annabeth trocou um olhar de “FUUU” comigo. Percy estava muito ocupado com donuts de chocolate para perceber de que Mel falava.

 

  — Nós estávamos comentando como você estava demorando com a comida. Estamos mortos de fome. — Falou Thalia com a boca cheia.

 

  — Hm. Sei. —Dava pra sentir a desconfiança dela, mas Mel não era de bater sempre na mesma tecla.

 

  Depois de comer, resolvemos voltar à rodoviária e pegar um ônibus para a próxima cidade. Considerando as opções, escolhemos o ônibus que ia a Chicago. Entramos no ônibus, e dessa vez Melanie sentou ao lado de Thalia, Percy continuava grudado em Annabeth e eu fiquei sozinho.

 

  Quer dizer, até uma garota surpreendentemente bonita com cabelos loiros e olhos verdes entrar no ônibus e se acomodar ao meu lado.

 

 

P.O.V Melanie

 

  — Mas o que...?

 

  Nico estava sentado sozinho no assento que ficava à frente de onde eu e Thalia sentávamos, até que chegou uma loira bronzeada com cabelos sedosos, com saltos enormes e um vestido vermelho curto demais e justinho, bem o tipo bitch de filme americano. Naquele momento eu senti duas coisas. A primeira foi uma rajada poderosa de ciúme, porque Nico não tirou mais os olhos dela desde que se virou na direção da vagabunda.

 

  A segunda foi uma presença forte.

 

  Thalia estava com os fones de ouvido do iPod, cantarolando uma música bem irônica para a nossa situação. “I’m on a mission, made my decision to lead a path of self-destruction”. Arranquei os fones de seu ouvido e sussurrei para ela, enquanto o monstro loiro seboso conversava com o Nico numa voz macia.

 

  — Thalia. Tem um monstro aqui.

 

  — Ã? Onde? Qual? — Thalia levantou a cabeça e começou a virar para todos os cantos, como se pudesse identificá-lo de primeira.

 

  — Thalia, você é tão discreta quanto um elefante numa loja de cristais. A propósito, o monstro é isso aí sentado ao lado do Nico.

 

  — Hmm... — Ela arqueou as sobrancelhas e me lançou um olhar malicioso. — Também acho ela um monstro. Um monstro vagabundo. Vai ali pôr ordem nessa budega e salvar o seu homem, Mel.

 

  — Estou falando sério, Thalia. Senti uma presença nesse ônibus no momento em que isso entrou. Aliás, desde quando Nico é “meu homem”?

 

  — Desde que vocês puseram os olhos um no outro. Não sei como nem quando foi, mas sei que foi assim.

 

  Revirei os olhos. Thalia guardou o iPod.

 

  — Como você sabe que ela é um monstro?

 

  — Sei lá, eu simplesmente... Sei. — A verdade era que nem eu sabia como eu tinha tanta certeza que aquela mulher era um monstro. Mas eu sabia que ela era. Eu sentia uma presença maligna, que havia entrado naquele ônibus junto dela.

 

  — Você pode sentir a presença de monstros? — Thalia me olhava admirada.

 

  — Sei lá! Pelo jeito. Mas eu não podia antes...

 

  — Tanto faz. — Ela me interrompeu. — Tá, a vadia é um monstro. E aí, o que a gente faz? Crava uma espada na cabeça dela por trás?

 

  — Ah, com certeza vamos conseguir. — Falei com ironia. — Bom, podemos causar certo alvoroço no ônibus, mas creio que é pelo bem maior.

 

  — Aí, finalmente ação de verdade nessa missão!

 

  Thalia não esperou para ativar seu escudo Aegis e puxar sua espada. Eu arranquei meu pingente e me vi com uma lança escaldante nas mãos.

 

  — Ei, você. — Thalia se levantou e quase cravou a espada no crânio do monstro. A coisa, cujo nome era Vivian pelo que eu havia captado da conversa com Nico, se virou para Thalia com os olhos verdes enormes, um falso ar interrogativo neles.

 

  — Por que a gente se dá ao trabalho de esperar ela processar os acontecimentos? — Cerrei os olhos para Thalia, e então me virei para Vivian e cravei a lança na cabeça dela.

 

  Ou pelo menos eu tentei, porque no minuto seguinte ela se moveu a uma velocidade surpreendente para o fundo do ônibus.

 

  — Bom saber que você pensa, filha de Nyx. — Disse a coisa. Uma empousa. — Isso faz seu sangue parecer ainda mais apetitoso.

 

  Abri minhas asas e voei para o monstro. Nico estava meio atordoado, ainda se recuperando do feitiço da empousa. Percy e Annabeth levantaram os rostos e viram a cena, Percy puxou sua espada-caneta, Contracorrente.

 

  — Vocês nunca vão me pegar. — Dizia Vivian enquanto eu lutava com ela. Os passageiros estavam ficando inquietos. — Não vão nos pegar.

 

  De repente, mais umas quatro empousae saíram de diferentes pontos do ônibus, nos cercando. Era uma para cada um de nós.

 

  A luta começou, cada um com sua empousa particular. Annabeth detonou a dela rápido por causa do boné da invisibilidade, já os outros não tinham tanta sorte. Annabeth deu o boné a Percy e continuou ajudando-o com sua faca.

 

  — Ah, você vão vai matar minha mestra, não mesmo.

 

  Virei-me e dei com um monstro parecido com Vivian, mas este era um homem. Ele me puxou para baixo por uma perna, mais precisamente pela coxa, o que não foi muito agradável. Caí no chão e o monstro me encarou com olhos vermelhos e presas enormes pingando veneno. Ele tinha cabelos castanho-escuros curtos. Qualquer filha idiota de Afrodite teria caído nos encantos dele, porque ele era bem bonito.

 

  — Olha só... Você é tão parecida com a sua mãe. — Ele disse. — Tão linda e tão poderosa. Uma pena que eu tenha que matá-la.

 

  Ele tentou cravar a boca no meu pescoço, mas eu desviei de última hora, conseguindo recuperar minha lança, que havia caído ali perto. Consegui cravá-la na perna dele. Ele se ajoelhou, gemendo de dor, e aproveitei para levantar. Mas o monstro se levantou também. Ele torceu meu pulso, fazendo com que eu desse um grito, e depois pôs as mãos no meu pescoço e começou a apertar e a me levantar do chão.

 

  — Você é uma garotinha muito, muito má. — Sua voz estava distorcida pela dor, os cabelos castanhos ficando vermelhos e vibrantes, as pernas humanas se transformando: uma se tornou peluda como a de um animal e a outra se revelou uma perna de bronze. — E sabe o que garotinhas más ganham? Elas viram lanche de empousa.

 

  A empousa homem soltou um tipo de rugido com a voz rasgada e esganiçada, os cabelos se transformaram em fogo, e ele me arremessou em um assento vazio, e bati a nuca em alguma coisa, provavelmente uma janela aberta. Acho que resmunguei alguma coisa, por causa da dor. Minha vista estava toda embaçada, minha cabeça doía muito, e eu senti alguma coisa quente escorrendo pelo meu pescoço. Sangue. Maldito.

 

  O monstro colocou um braço no assento à nossa frente e outro no que eu estava, como se eu estivesse em condições de fugir. Ele sorriu, as presas enormes se revelando, os olhos vermelhos fixos em mim.

 

  — Boa noite, filha de Nyx.

 

  Então, ele cravou os dentes no meu pescoço.


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Notas finais do capítulo

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