A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 4
Capítulo 4




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  Contemplei o pingente do meu colar. Era prateado e parecia brilhar como aqueles adesivos que brilham no escuro de que as crianças gostam, principalmente à luz da lua. Agradeci Nyx mentalmente. Então me transformei em uma sombra e voltei lentamente para o chalé de Hermes.

 

  No caminho, quando me aproximei da arena onde treinavam esgrima, ouvi barulhos de espadas se chocando e de discussão. Aumentei a velocidade, sem me preocupar em me esconder. De longe, avistei Nico di Angelo e Jonathan, do chalé de Ares, lutando enquanto cuspiam insultos um para o outro.

 

  Meu coração se apertou quando vi que Nico tinha um corte no rosto, e que não era exatamente uma coisinha qualquer. Nico trazia raiva nos olhos e lutava com ferocidade, mas estava levando a pior. Senti vontade de inaugurar minha lança cravando-a no meio daquela cabeça oca do Jonathan.

 

  A espada de Jonathan era bem mais comprida e grossa que a de Nico, que foi arremessada longe. Jonathan empurrou Nico e colocou a espada em seu peito.

 

  — Perdeu, di Angelo. — Ouvi Jonathan dizendo com um sorriso cínico. — Perdeu.

 

  Jonathan levantou a espada e percebi o que ele ia fazer. Meu coração acelerou.

 

  Fui voando — literalmente — até eles. No último momento, me materializei e me joguei contra Jonathan, mandando ele e sua espada para longe. Voltei a ser invisível antes que ele visse quem sou. Bati sua cabeça em uma pedra e ele ficou zonzo, voei até o chalé de Ares arrastando Jonathan pelos cabelos e o larguei na porta. Então, voltei até Nico, que estava sentado, completamente atordoado, o corte no lado direito do rosto sangrando bastante. Voei até ele e me materializei.

 

  — Mel... Melanie?

 

  — Nico! Você está bem?

 

  — Tô... É, estou bem, sim. O que você faz aqui?

 

  — Pelos deuses, Nico, você sabe quem é minha mãe. Eu sou, naturalmente, uma criatura da noite. Agora eu pergunto: o que você faz aqui a essa hora, lutando com Jonathan Craft?

 

  — Ahn... — Por um momento, Nico mordeu o lábio e pareceu não querer me contar.

 

  — Tudo bem se você não quiser contar. Quer dizer, não vou me meter na sua vida.

 

  — Ah. Não, não. Eu posso falar. É...

 

  — Psiu. Que barulho é esse?

 

  De longe, eu ouvia um barulho estranho, que com certeza era de mais de um ser. Aquilo me alarmava.

 

  Nico me olhou com os olhos arregalados.

 

  — São as harpias. Estão procurando campistas que andem por aí fora do toque de recolher. Se elas nos acharem, vão nos devorar. E agora?

 

  — Tenho um plano. Segure minhas mãos, bem forte. E pense na noite, nas sombras. RÁPIDO.

 

  Nico hesitou, e quando suas mãos tocaram as minhas, ele ficou vermelho. Mordi o lábio para tentar não sorrir, mas não consegui. A sensação da sua mão na minha me causava sensações de conforto, e meus braços estavam todos arrepiados.

 

  Tornei-me uma sombra. Meu plano felizmente funcionou, e Nico era agora uma sombra também. Eu podia vê-lo e ele podia me ver, mas os outros não, o que incluía as harpias. Fomos flutuando rapidamente até o chalé de Hades. No caminho, passamos por várias harpias — mulheres gorduchas com asas e cuja metade inferior do corpo era de monstro, pareciam minidragões com tronco e rosto de mulher. Elas emitiam barulhos estranhos. Passavam reto por nós, afinal, sombras não têm cheiro.

 

  Chegamos ao chalé de Hades, soltei rapidamente uma das mãos de Nico para abrir a porta. Deixei ele entrar, mas, para minha surpresa, ele me puxou consigo com a mão que ainda segurava a minha. Assim que entrei, já materializada, ele fechou a porta e ligou a luz.

 

  — Acho melhor você ficar aqui.

 

  — Tá louco, Nico? — Perguntei. — Eu posso me transformar e chegar a salvo ao chalé de Hermes. Não posso ficar aqui.

 

  — Por que não? — Ele se aproximava de mim, os olhos escuros cravados nos meus. — Os indefinidos e filhos de pais que não têm chalés próprios vão para o número 11 porque dizem que Hermes acolhe a todos. Tecnicamente, Hades também. O mundo dos mortos não tem restrição.

 

  — Faz sentido. — Falei, de má vontade. — Você não se importa de eu ficar aqui?

 

  — Claro que não. — Falou ele. Pensei ter visto um sorriso em seu rosto, por alguns breves momentos.

 

  — Mas... As minhas coisas. Tenho que pegá-las no chalé de Hermes.

 

  — Você pode pegá-las amanhã.

 

  — Não é nada confortável dormir com uma calça cheia de tachas, caso você não saiba. E olha que eu já fiz isso.

 

  Ele sorriu.

 

  — Certo, então. Mas eu vou com você.

 

  — Por que, acha que vou fugir? — Levantei uma sobrancelha para ele.

 

  — Ah, com certeza.

 

  Revirei os olhos. — Vamos, então.

 

  Abrimos uma frestinha da porta e saímos, duas sombras indo em direção ao chalé número 11. Fomos rápido, apenas pegamos minha mochila que estava com tudo dentro e voltamos para o chalé de Nico.

 

  Coloquei minha mochila na cama paralela à de Nico no quarto estreito. O chalé de Hades era todo em tons escuros, com móveis pretos e colchas pretas. Havia alguns beliches, para o caso de mais filhos de Hades serem encontrados, criados-mudos de madeira escura com abajures e gavetinhas, uma enorme mesa e cadeiras da mesma madeira dos criados-mudos e uma decoração digna de Submundo. Sobre o criado-mudo de Nico havia um porta-retrato com a foto de duas crianças parecidas, ambas de cabelos e olhos escuros e pele bronzeada.

 

  — São você e a sua irmã? — Perguntei, observando a foto enquanto Nico colocava um curativo no machucado do rosto. Ele havia me contado no dia anterior sobre Bianca, sua irmã mais velha que morreu quando ela tinha 12 anos e ele, 10. Ela era uma Caçadora de Ártemis e havia partido em missão com Percy, Grover, a filha de Zeus Thalia e outra caçadora chamada Zoe. Zoe e Bianca morreram, e Nico passou um tempo com ódio de Percy por ele ter prometido proteger sua irmã. Mas agora ele já havia superado, apesar de se comunicar com ela às vezes para matar a saudade. Sim, por ser filho de Hades, muitas vezes Nico podia evocar os mortos.

 

  — Sim. — Respondeu ele, meio pensativo.

 

  — Vocês eram parecidos. Ela era filha de Hades, também?

 

  — Sim.

 

  — Deve ter sido duro, você sabe... Perdê-la.

 

  — Você não sabe como.

 

  Resolvi parar de falar naquilo, vai que Nico não gostasse e mandasse a mim para o mundo dos mortos. Pensei em algo para mudar de assunto, mas só consegui pensar em uma coisa.

 

  — Por que você e Jonathan estavam lutando, afinal? — Perguntei, bem direta. Discrição não é o meu forte, veja bem.

 

  — Ah. Isso. — Nico sentou-se em sua cama e passou a mão nos cabelos pretos, desarrumando-os. — Era... Bobagem. Você viu como aquele idiota consegue tirar a gente do sério com qualquer coisa que saia daquela boca maldita.

 

  — O que ele te disse pra te tirar do sério? Você é tão calmo.

 

  — Calmo, eu?! — Perguntou ele, rindo. — Você definitivamente não me conhece, White.

 

  — Acho que conheço o suficiente, di Angelo.

 

  Nico sorriu. O sorriso dele era lindo. Senti um arrepio percorrer minha espinha.

 

  — Mas não conhece mesmo! — Ele exclamou. — Há muitas coisas sobre mim que você não sabe, senhorita Melanie.

 

  — Ah, é? Como o que? — Fiquei de costas para a parede, com os braços cruzados, uma pose de desafio.

 

  — Como isto — e então uma rocha enorme saiu da terra atrás de mim, me arremessando dali. Porém, no momento em que eu ia cair — aparentemente bem em cima de Nico, que continuava sentado na cama — minhas asas surgiram, e eu voei pelo chalé com teto alto.

 

  — Lamento dizer que você falhou, meu bem. — Falei com um tom calmo. — Mas também há coisas sobre mim que você não sabe.

 

  — Ah, é? Como o que? — Assim como eu, Nico cruzou os braços e levantou uma sobrancelha em desafio.

 

  — Como que eu posso fazer isto. — As janelas do chalé se abriram sozinhas, e um manto de escuridão entrou por elas, envolvendo Nico e jogando-o para cima. Certo, aquilo nem eu sabia que podia fazer. Aquele pedaço de noite ficou ali, e eu podia controlá-lo como quisesse. Controlei para que ele pegasse Nico de volta e o colocasse no chão, e então se recolhesse. No momento em que não havia mais nenhum pedaço de noite no quarto, as janelas se fecharam com um baque, e Nico ficou me olhando com cara de tacho, eu simplesmente dei um sorriso sarcástico e levantei uma sobrancelha para ele.

 

  — Como... Como você...

 

  — Meu bem, preciso dizer quem é minha mãe de novo? Você achou que eu pudesse controlar o que, o dia?

 

  — Você é sempre irônica assim?

 

  — Creio que sim. Estou dizendo que você não me conhece direito...

 

  Nico me lançou um olhar estranho, parecia presunçoso e malicioso. De repente uma fenda surgiu no chão, de lá saiu um esqueleto muito alto que me puxou para o chão e tentou lutar comigo, mas eu simplesmente fiz outra fenda se abrir embaixo dele e sugá-lo.

 

  — Você é louca? Acaba de mandar um guerreiro esqueleto do meu pai pro Tártaro!

 

  — E daí? Você tentou fazer ele me matar.

 

  — Acha mesmo que eu queria que ele te matasse, sua louca? — Nico semicerrou os olhos e falou aquilo num tom como se estivesse me dizendo algo muito óbvio.

 

  — Nunca se sabe. E dá pra parar de me chamar de louca?

 

  Nico riu. Outro pedaço de noite entrou pela janela, atirando-o na cama com um pouco de violência e sumindo logo depois. Ele já deveria saber que não é bom me irritar, e que não sou lá muito paciente.

 

  Ficamos até tarde treinando nossas habilidades (mesmo que isso não fosse seguro no espaço restrito do chalé) e conversando um pouco.


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Notas finais do capítulo

Eu pessoalmente não gostei muito desse capítulo, mas espero que vocês gostem :] reviews? o/