A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 23
Capítulo 23




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  Entrei em pânico.

 

  — Thalia... Onde... Onde ele está? — Perguntei, toda a minha raiva desaparecida, agora substituída por medo e insegurança.

 

  — Eu não sei. — Ela disse. — Ele simplesmente pulou no meio das árvores e desapareceu.

 

  — Ele foi a algum lugar — disse Percy —, viajando através das sombras.

 

  — Ele pode estar em qualquer lugar? — Perguntei.

 

  — Sim. Ele pode estar em absolutamente qualquer lugar, desde o Acampamento, o Mundo Inferior, no Japão... Ou no interior do Monte Santa Helena.

 

  — Se ele pode estar em qualquer lugar assim, por que não nos levou direto para o vulcão? — Heidi perguntou, indignada.

 

  — Ele provavelmente desmaiaria e dormiria por muitos dias. Se fosse com apenas uma pessoa seria diferente, mas nós somos cinco.

 

  — Temos que encontrá-lo. — Eu disse com determinação.

 

  — Não podemos. Ele vai voltar, Mel. Ele não é louco pra ir ao vulcão sozinho.

 

  — Mas...

 

  — Sem mais discussão.

 

  — Desde quando você é nosso líder, Perseu?

 

  — Ele está certo, Melanie. — Thalia interferiu. — Além do mais, o Nico sabe cuidar de si mesmo. Ele é um garoto crescido. Vamos nos acomodar por aqui e dormir. Eu posso ficar com o primeiro turno de vigia.

 

  — Eu NÃO QUERO ficar SENTADA aqui, DORMINDO, enquanto Nico pode estar EM PERIGO!

 

  — Acredite em mim. — Percy disse, colocando uma mão em meu ombro. — Se ele estiver em perigo, você saberá. Agora vamos descansar. Você precisa.

 

  De má vontade, me deitei na grama e fechei os olhos, mas demorei um tempo para pegar no sono.

 

  Tive um pesadelo. Eu estava na mesma floresta, mas em outro ponto dela, um pouco longe de onde Percy, Heidi e Thalia estavam. Eu não podia me mexer do meio dos arbustos onde eu estava. Aquele lugar parecia mais escuro e mais frio, e tinha uma atmosfera ruim, e eu sentia uma presença se aproximando. Definitivamente não gostei dali.

 

  De repente, vi uma sombra se mover e estremecer. A sombra tomou forma, e dali saiu um garoto. Nico.

 

  Eu queria pular de onde estava e abraçá-lo, e dizê-lo como eu havia ficado preocupada com aquela criatura idiota e ciumenta. Mas eu não conseguia me mover.

 

  — Nico. — Tentei chamá-lo. Ele não me ouviu. — Nico? Nico! — Chamei mais alto. Ele continuava agindo como se eu não estivesse ali. Ele andava com o olhar grudado no chão e chutava algumas pedrinhas.  Por que ele estava daquele jeito? Só por causa de um ciúme estúpido, sendo que eu não havia feito nada? Por Nyx. Imaginei se Hera tinha algo a ver com esse ataque de ciúme repentino de Nico. Quer dizer, ela não gostava de Annabeth, que era namorada de Percy, que era a razão de Nico ter sentido ciúmes... Ok, viajei.

 

  A presença que eu sentia se aproximava cada vez mais, e Nico continuava ali, sem ter a mínima noção do perigo que se aproximava. Até que foi possível ouvir barulhos de patas, e ele finalmente parou para olhar nervosamente ao redor. Era sem dúvida um monstro grande, pelo som de suas patas pisando pesadamente na grama. Eu estava ficando com medo por ele. Por que eu não conseguia me mexer?!

 

  — Nico! — Comecei a gritar, chamando-o. — Nico di Angelo! Não tá me ouvindo, caramba?! Sai daí! Sai agora! NICO!

 

  Por um momento, tive a impressão de que ele havia me ouvido. Não sei por que, simplesmente senti isso. Mas não tive muito tempo para pensar nisso. No momento seguinte, um monstro gigantesco pulava do meio das árvores. O monstro tinha cabeça de leão com enormes presas venenosas, o corpo da maior cabra do mundo e uma cauda de serpente que batia tão forte nas árvores que quase arrancava algumas. A Quimera.

 

  Nico desviou do monstro, tirando sua faca de ferro estígio. Meu coração batia loucamente.

 

  — Foge, Nico! Por que você não pula no meio das sombras de novo e volta pra cá, seu idiota?! Você não vai conseguir lidar com a Quimera sozinho, seu estúpido!

 

  — Onde está você, meu bebê? — Eu ouvi uma voz estridente de mulher perguntar a pouca distância de nós. A Quimera, que se preparava para atacar Nico, hesitou; e olhou em volta com ansiedade.

 

  — Ah, aí está você! — Dos arbustos ao meu lado saiu uma mulher alta e gorda, com pele de réptil e uma língua bifurcada que ocasionalmente saía da boca por entre os dentes afiados. — Eu estava tão preocupada. Vejo que você achou o filhote de Hades. Sinto muito, mas você não vai poder brincar com o lanche hoje. Seja rápido, sim? Temos que ir encontrar o titio e o papai no vulcão. Eles não vão demorar muito para nos encontrar, e creio que seu papai ia querer ver ao menos um dos filhotes dele, certo?

 

  A mulher parecia uma perua falando com seu filhote de poodle, o que me fez reconhecê-la imediatamente. Equidna. O papai seria Tífon, pai de quase todos os monstros. Mas quem seria o ‘titio’? Revirei mentalmente as histórias que eu havia ouvido no acampamento, mas não consegui me lembrar de nenhum irmão de Tífon ou de Equidna que tivesse algo a ver com a situação. Se ao menos Annabeth estivesse conosco...

 

  A Quimera assentiu com um ruído que não pude reconhecer se era de tristeza ou de satisfação. O monstro passou a língua nos dentes e se virou para encarar Nico com os olhos demoníacos.

 

  Então, meus olhos se abriram, e eu estava de volta ao lugar onde havia dormido, suando frio, com as mãos cerradas em punhos com tanta força que minhas unhas cortavam a pele, e o coração parecendo que explodiria no peito. Ao meu lado direito Heidi dormia, e Percy e Thalia conversavam em cima de uma árvore. Eu conseguia sentir várias presenças fortes naquela floresta, a maioria delas bem longe. Os monstros estavam agitados. Tífon estava cada vez mais perto de se libertar.

 

  Transformei-me em sombra para que Percy e Thalia não percebessem que eu havia acordado. Eles estavam conversando sérios sobre algo que eu não estava interessada em saber o que era. Eu precisava agir rápido. Precisava acabar pelo menos com a Quimera e com Equidna. Precisava salvar Nico.

 

  Sobrevoei o bosque, ou floresta, ou o que fosse; como uma sombra. Passei por várias presenças perigosamente próximas, mas não recuei. Eu estava tão concentrada que só depois fui perceber como o céu estava escuro, mesmo que fossem quatro da madrugada. Não havia a luz da lua e de nenhuma estrela. Só então levantei o rosto e vi por que: o céu estava completamente nublado, o vento se agitava, e estava começando a chuviscar. Eu sabia que nem Bóreas nem nenhum de seus irmãos tinha algo a ver com aquele vento forte, aquilo era uma coisa maligna. Aquilo era coisa de Tífon.

 

  Demorou o que me pareceu ser uma eternidade até que eu chegasse ao local onde Nico estava apanhando para a Quimera. Assim que a avistei, arranquei meu pingente e me materializei, voando direto para a cabeça do monstro. Eu me lembrava da história de Belerofonte, um filho de Poseidon que havia matado a Quimera com um único golpe, atacando-a de cima montado em um pégaso. Bastava usar a mesma tática. E funcionou: pouco depois de minha lança ser enterrada na cabeça de leão do monstro, eu estava diante de um monte de pêlos e uma coleira que tinha alguns avisos sobre a Quimera, como um número de telefone para devolvê-la caso se perdesse. Com certeza qualquer um teria muito tempo para apreciar a bela coleira branca do monstro caso o encontrasse.

 

  — VOCÊ! — Equidna berrou atrás de mim enquanto eu procurava Nico. — VOCÊ MATOU MINHA QUIMERA! O MEU BEBÊ! VOCÊ VAI PAGAR POR ISSO, CRIANÇA DA NOITE. AH, VAI.

 

  Equidna começou a crescer, com o objetivo de ficar em seu tamanho natural, que era quase o mesmo tamanho de Tífon, muito maior que o tamanho natural de um deus. Eu não a dei essa oportunidade. Juntando todas as minhas forças, prendi seus braços com enormes mantos de noite, e abri um buraco gigantesco aos seus pés. Ela caiu, berrando algo sobre Tífon vingá-la.

 

  — Nico? — Chamei, aflita, assim que o buraco no chão se fechou. Minha voz saiu tremida de preocupação e de cansaço. —Nico? Onde você está?

 

  Ouvi um gemido, e fui em direção ao som. Jogado no meio de alguns arbustos estava Nico, com o cabelo completamente bagunçado, cheio de arranhões e com as roupas rasgadas. Sua faca estava jogada de lado, ele respirava com dificuldade e gemia muito de dor.

 

  — Nico...? — Abaixei-me ao seu lado, passando as mãos em seu rosto. Seus olhos pareciam fora de foco. — O que... O que aconteceu com você? Aquele monstro te feriu? Fala comigo, Nico!

 

  — Hmmm... A Qui... Quimera... Meu braço... Aaaaah...

 

  Meu coração se apertou. Ah, não, não podia ter acontecido o que eu estava pensando.

 

  Mas havia. Seu braço esquerdo estava completamente mole, empapado de sangue e com um rombo enorme na manga longa do casaco que ele usava mesmo no verão. Tirei o casaco para analisar melhor o ferimento, e o que vi foram enormes buracos dos dentes do monstro, a pele em volta dos ferimentos parecia podre e estava coberta por um líquido verde. Veneno.

 

  —Não. — Sussurrei. — Vamos, Nico. Vou te levar até os outros. Você precisa ser tratado urgentemente. Isso aí...

 

  — Não, Mel... — Ele murmurou, a voz sem vida. — Já está muito profundo... Não há como...

 

  — NÃO DIGA ISSO! — Gritei com ele, em pânico. Levantei-me e peguei-o no colo como uma criança, ele parecia extremamente leve naquele momento, mesmo que fosse mais velho e muito mais alto e forte do que eu. Abri minhas asas, transformei a nós dois em sombras e fui voando até onde estavam os outros, esperando que eles não houvessem feito a burrice de sair de lá.

 

  —Melanie... Não adianta... Não há am... Ambrosia que me sa-salv...

 

  — QUIETO!  VOCÊ NÃO VAI MORRER, ENTENDEU?

 

  — Eu sinto isso, Mel... Eu vou... Vou...

 

  — CALA A BOCA, SEU IMBECIL! — Meu corpo inteiro doía pelo esforço de mandar Equidna para o Tártaro, mas meu coração doía mais do que qualquer esforço físico. Lágrimas rolavam sem parar pelo meu rosto.

 

  Nico deu um riso fraco, sem humor e sem vida.

 

  — Meu pai é o deus dos mortos, Melanie... Eu sei das coisas.

 

  — Não. Não, não, não. Você não vai me abandonar. Entendeu?! Não vai. Não vai mesmo.

 

  Fiquei repetindo isso durante todo o trajeto até onde os outros três estavam. Nico ficava cada vez mais leve em meus braços, sua respiração cada vez mais pesada, seu coração batia cada vez mais rápido. Sua vida se esvaía de seu corpo aos poucos, ele tentava não gemer, mas eu via pelo seu rosto que a dor era muita, o que apenas fazia com que as lágrimas continuassem com mais intensidade.

 

  Felizmente, Thalia e Percy continuavam lá, escondidos em meio a arbustos por causa da chuva cada vez mais forte, Heidi continuava dormindo. Assim que me materializei, suas expressões ficaram lívidas de preocupação.

 

  — Melanie...

 

  — Não temos tempo! — Quase gritei, em desespero. — A Quimera mordeu ele! ELE VAI MORRER!

 

  — A Quimera? — O rosto de Percy estava cada vez mais pálido.

 

  — Não temos como salvá-lo, Melanie. Perdemos nossas mochilas. — Thalia falou como se estivesse me dando os pêsames.

 

  — NÃO! TEM DE HAVER UM JEITO!

 

  Thalia colocou uma mão em meu ombro e Percy tentou me dar um abraço amigo, mas afastei os dois. Eu havia deixado Nico deitado nos arbustos, ajoelhei-me ao lado dele e passei as mãos em seu rosto pálido.

 

  — Você não vai morrer. — Eu falava entre soluços. — Você não pode.

 

  — Mel... — Ele sussurrou.

 

  — O quê?

 

  — Eu... Eu vou...

 

  — VOCÊ O QUÊ?

 

  Naquele momento, a pele de Nico começou a brilhar em minúsculas partículas douradas. Seus olhos entreabertos se fechavam cada vez mais, até que, assim como aconteceu com Annabeth, um clarão dourado cegou meus olhos por alguns segundos, e quando eu abri os olhos novamente, ele não estava mais lá.


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Notas finais do capítulo

Por algum motivo, eu adoro escrever esses capítulos em que alguém morre/quase morre. Não porque eu seja uma sádica que adora matar os personagens, mas por causa de toda a parte emocional e tal. Sim, eu adoro lidar com emoções quando eu escrevo.
Espero que vocês tenham gostado desse capítulo tanto quanto eu =)

obs.: esses dias minha internet tem estado uma porcaria, então talvez eu não poste todo dia como disse que postaria.
obs².: Obrigada à CaahSalvatore pela recomendação *ooo*
obs³.: enquanto eu estiver viajando os capítulos serão postados pela minha nova beta, izacoelho o/