A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 2
Capítulo 2




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P.O.V Nico di Angelo

 

  Cheguei ao Acampamento Meio-Sangue para mais um verão. Ultimamente eu vinha passando o ano com meu pai no Mundo Inferior e o verão no Acampamento, para treinar com gente de verdade e ficar com meus amigos, Percy e Annabeth. Agora Hades finalmente tinha chalé próprio, apesar de eu ser o único lá. Apesar da maioria dos campistas me julgar por eu ser filho de quem sou e por causa da minha fase sombria quando minha irmã morreu e estávamos começando a guerra, eu gostava de lá. Percy e Annabeth eram o que importava, apesar de eu muitas vezes ser o segura-vela.

 

  — Nico! — Chamou Percy. Ele já estava lá em baixo quando cheguei ao topo da colina. Seu braço estava nos ombros de Annabeth, e havia vários outros meios-sangues em volta deles.

 

  Desci correndo a colina e cumprimentei o casalzinho feliz. Percy e Annabeth tinham 18 anos e eu tinha 15, mas eu me dava bem com eles apesar da diferença de idade.

 

  Fomos largar nossas coisas nos nossos chalés e combinamos de dar uma volta depois. Mas quando saí do chalé de Hades algo chamou minha atenção.

 

  Sentada sozinha em meio às sombras escuras de algumas árvores estava uma garota que eu nunca vira antes. Vestia uma calça preta cheia de tachas e zíperes, tênis All Star completamente preto e uma blusa preta. Os cabelos longos eram lisos e pretos como breu, a pele era bem pálida. Ela não parecia feliz. Ela me lembrava minha fase sombria na época da guerra. Estava observando alguma coisa ao longe enquanto suas mãos se distraíam despedaçando uma folha. Ela era linda. Demais.

 

  Resolvi ir até ela para conversar. A primeira coisa que pensei foi que eu tinha uma nova irmã. Por um lado, eu não queria que ela fosse minha irmã. Ela era linda demais. À medida que eu ia me aproximando, meu coração ia batendo mais forte.

 

  — Oi — falei. — Você é nova aqui?

 

  Isso soou como uma cantada brega. Por Hades, Nico, você é um imbecil.

 

  Ela levantou o rosto. Seus olhos eram tão escuros quanto os meus. O nariz fino era arrebitado e os lábios escuros se destacavam no rosto branco demais e magro.

 

  — Sim, sou.

 

  Sem nem pedir permissão, me sentei ao seu lado. — Ah. Legal. Nico di Angelo. — Estendi a mão para ela.

 

  — Melanie White — disse, apertando minha mão. O contato de seus dedos com unhas pintadas de esmalte preto fez minha pele formigar.

 

  — Prazer, Melanie. Então, de quem você é filha?

 

  — Não sei ainda. — Falou Melanie pensativamente. — Quíron me contou que os deuses deveriam reconhecer seus filhos quando eles fizessem 13 anos. Mas minha mãe não deu nenhum sinal de vida até agora.

 

  Ah, então a mãe dela era olimpiana. Aí, ela não era minha irmã!

 

  — E você? De quem você é filho? — Perguntou. Eu temia que ela perguntasse isso.

 

  — De Hades — respondi baixando a cabeça. Imaginei que ela fosse reagir como a maioria das pessoas, ficar apreensiva. Mas ela fez exatamente o contrário.

 

  — Nossa, sério? — Perguntou com interesse verdadeiro. — Que legal. Sempre achei toda essa coisa, você sabe, as coisas relacionadas a Hades, fascinantes, até antes de saber que ele existe. O que você pode fazer de diferente, sendo filho do deus dos mortos?

 

  Contei a ela minhas habilidades, desconfortável. Por mais que fosse verdade que eu pudesse evocar os mortos, matar guerreiros esqueleto praticamente invencíveis, me transportar através de sombras e ter o mapa do Submundo na cabeça, eu não gostava de me gabar disso.

 

  — Eu não faço idéia de quem seja minha mãe. — Falou Melanie pensativamente. — Eu também tenho uma... Habilidade. Eu posso me transformar em sombra, sabe. Mas só funciona se for à noite ou em dias de muita chuva, ou em um ambiente fechado.

 

  Fiquei impressionado, e começamos a conversar, primeiro sobre quem poderia ser a mãe de Melanie, mas não achamos nenhuma deusa que se encaixasse nessa habilidade e nas características físicas dela. Depois disso o papo fluiu, os assuntos ficaram mais leves e descontraídos, nós chegamos até a nos divertir, eu adorei ver um sorriso naquele rosto tão branco como a neve. Ela tinha dentes brancos e alinhados, o modo como sua boca e seus olhos se repuxavam quando ela sorria era belo e contagiante. Apesar de isso não acontecer com tanta freqüência.

 

  — Ah, aí está você — disse Percy aparecendo por ali. — Quem é a garota nova?

 

  — Melanie, este é Percy, o filho de Poseidon. — Falei. — Percy, esta é Melanie... Indefinida.

 

  Mel acenou timidamente.

 

  — Indefinida? Mas... Não pode. A promessa...

 

  — Aparentemente, minha amada mãe não quis cumprir sua promessa. — Interrompeu ela. Seus olhos eram inexpressivos.

 

  — Que coisa. — Resmungou Percy. — Já conhece o acampamento, Mel?

 

  —Já, Quíron já me levou por um tour. — Havia mais humor em sua voz.

 

  Percy se sentou conosco e ficou conversando, enquanto Annabeth organizava as coisas no chalé de Atena. Até que ele e Mel se deram bem.

 

  Não demorou muito e chegou a hora do jantar. Melanie teve que sentar com o chalé de Hermes. Ela não socializava muito, apenas respondia quando falavam com ela e sorria caso falassem algo simpático. Era certo que filha de Afrodite ela não era, apesar da beleza. Quieta demais. Ela provavelmente era filha de alguma deusa menor. Pensei em Nêmesis, a vingança. É, talvez fosse isso.

 

  Um mês se passou, e as coisas iam bem. Eu e Mel ficávamos cada vez mais próximos. Eu estava realmente atraído por ela, mas não parecia ser correspondido, infelizmente. Mel não tinha muitos outros amigos, além de Percy e eu, e ela falava com Annabeth também.

 

  Em uma bela noite estrelada, fomos nos juntar em volta da fogueira para cantar. Um campista de 17 anos da mesa de Ares (tinha que ser) se levantou e foi até a mesa de Hermes, onde Melanie estava sentada em uma ponta.

 

  — E aí, gata. — Falou ele para Melanie. — Eu sou Jonathan, mas a galera me chama de John. E aí, será que rola alguma coisa entre a gente, linda? — Ele a olhava de um jeito nada bom, como se fosse convencido e pensasse que ela fosse dizer sim, e com certeza com segundas intenções. Melanie não era burra, então ela percebeu.

 

  — Vá se f...

 

  O acampamento explodiu em sussurros com a ofensa de Melanie para ele. Que cara idiota. Dava para perceber pelo tom de voz dele e pela sua postura que ele só queria se exibir. Senti vontade de quebrar a cara dele. Quíron e alguns sátiros estavam desconfortáveis na mesa principal, o Sr D parecia estar se deliciando com o showzinho de Jonathan.

 

  — Ah, qual é. Uma gótica gostosa dessas e ainda por cima se fazendo de difícil. Eu fui pro Elísio e não sabia?

 

  Melanie se limitou a continuar fuzilando-o com os olhos. Eu me levantei, se ele dissesse mais alguma coisa pra ela, eu iria mandar ele direto pra tigela do Cérbero.

 

  — Ah. Vem cá.

 

  Ele a puxou pelo braço e tentou beijá-la, mas ela o empurrou com raiva.

 

  — Vá para o Tártaro, Jonathan.

 

  Então, uma fenda começou a se abrir aos pés de John. Daquela fenda saía uma escuridão maior que a das fendas que se abriam quando eu mandava. Melanie arregalou os olhos enquanto John escorregava e gritava. Foi aí que aconteceu a coisa mais estranha: ela gritou “NÃO!” e pulou atrás dele, e no momento em que seus pés saíram do chão, enormes asas pretas brotaram de suas costas, e a fenda permaneceu aberta. Ela entrou lá e saiu segurando um Jonathan aterrorizado. A fenda se fechou, Melanie largou-o de qualquer jeito em cima — literalmente em cima — da mesa de Ares e pousou próxima à minha mesa. Ela não agüentou um minuto de pé, caiu de joelhos, e as asas recolheram-se. Todos a olhavam pasmados, inclusive eu.

 

  Então, a noite ficou mais escura, e um brilho surgiu sobre a cabeça de Mel. Naquele brilho juntaram-se uma lua e diversas estrelas, entre outros corpos celestes. Era como se a noite inteira estivesse acima da cabeça de Melanie. Ela levantou a cabeça para olhar o brilho e, quando seu rosto se elevou, percebi algo que não estava ali antes: uma meia-lua preta no meio de sua testa.

 

  Quíron cavalgou até ela, e uma filha de Afrodite se aproximou, tremendo, e estendendo um espelhinho para ela se ver. Seus olhos ficaram enormes.

 

  — Não é... Não é possível... — Murmurava Quíron.

 

  A noite continuava pairando sobre Melanie, quando Quíron finalmente engoliu em seco e falou alto:

 

  — Saúdem Melanie White, filha de Nyx, deusa primordial da noite, a primeira rainha do Mundo Inferior, mãe das divindades das trevas, da Ética e da Justiça.


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Notas finais do capítulo

Gente, muito obrigada pelos reviews no capítulo anterior, mesmo que poucos, eu fiquei muito feliz mesmo

Agradecimentos à Wikipedia por algumas informações sobre a Nyx, como que ela foi o negócio das asas e da lua, e que ela era mãe de Têmis (justiça) e Nêmesis (ética/vingança). Como eu não sei se Nyx tem um 'símbolo', coloquei a noite em si, pode ter ficado meio tosco, mas vá KKK

Comentem por favor Críticas construtivas são bem-vindas o/