A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 19
Capítulo 19




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  Assim que apaguei a última vela, me certifiquei de que minha asa já estava boa o suficiente para voar, e saí pela janela com menos fogo à sua volta. Momentos depois, me transformei em sombra. Não pude ficar assim por muito tempo, pois amanheceu umas duas horas depois. Continuei voando mesmo quando já era de manhã, afinal, os mortais não conseguiriam me ver, mesmo.

 

  Voei para o norte. Por volta do meio-dia, parei para comer alguma coisa em uma cidade que não me dei ao trabalho de explorar. Comprei duas maçãs (a única coisa que dava com meu dinheiro) e me sentei debaixo de uma árvore em um parque.

 

  Assim que terminei de comer, senti uma presença. Olhei em volta, mas não vi nada que pudesse ser a fonte daquilo. Levantei e arranquei meu pingente, e então o monstro apareceu: um cão infernal. Este ainda não era adulto, mas mesmo assim era enorme. Ele veio até mim e ficou simplesmente me encarando. Olhei para ele, incrédula.

 

  — Exodus! — Ouvi uma voz feminina chamar.

 

  O cachorro me deu as costas e foi em direção à voz. Observei, para ver quem era a dona do cão, e vi uma garota que devia ter uns 13 anos, com cabelos longos e castanho-arruivados e olhos escuros. Usava uma regata preta e uma calça jeans. Ela me lembrava Thalia, apesar do cabelo das duas serem completamente diferentes.

 

  O cachorro — Exodus, pelo jeito — lambeu o rosto da garota e voltou correndo pra mim. A menina o seguiu e pareceu perplexa quando seu olhar parou em mim, e mais ainda quando viu o que eu tinha na mão. Porém, ela ignorou esse fato e me olhou como se eu fosse alguém completamente normal.

 

  — Parece que o Exodus gostou de você. — Ela disse com um riso nervoso. Eu simplesmente continuei fitando ela e o cachorro.

 

  — Ahm... Eu sou Heidi. — Ela disse, estendendo a mão para mim.

 

  — Você tem um cão infernal. — Foi só o que consegui dizer, encarando a mão à minha frente.

 

  — E daí? Você tem uma lança gigante. E uma lua no meio da testa.

 

  — Você sabe que isso é um cão infernal.

 

  — Ah, não, não sei. — Ironizou ela. — É um cão do Olimpo. É claro que ele é infernal.

 

  — Você é uma semideusa?

 

  — Sim. — Ela me respondeu como se isso fosse muito óbvio. — Você eu nem pergunto. Está na cara. Hades?

 

  — Nyx. — Corrigi. — Você seria...?

 

  — Heidi Jansen. Filha de Hécate.

 

  Ok, aí eu fiquei surpresa. Se ela era uma meio-sangue, por que não estava no acampamento?

 

  — O que uma filha de Hécate faz em uma cidadezinha de Nevada com um cão infernal? — Perguntei, atordoada. — Por que você não vai ao Acampamento Meio-Sangue? Lá é mais seguro para você...

 

  — Pra sua informação, a “cidadezinha de Nevada” se chama Winnemucca. E nem me fale desse acampamento! — Heidi parecia ressentida. — A única vez que fui lá me trataram como uma leprosa, apesar do tal do Quíron tentar ser amigável. Só por quem era minha mãe. Além do mais, acho que estava acontecendo uma guerra ou coisa assim. Passei só um mês lá. Depois, nunca mais voltei. Ah, e o cachorro infernal tem nome. Ele foi o presente de aniversário que minha mãe me deu quando fiz 13 anos. Como os monstros estavam me procurando mais, apesar de não serem muitos, ela achou que era bom eu ter um cão de guarda. — Ela passou a mão carinhosamente nas orelhas do cachorro e sentou na grama. Sentei-me também.

 

  — Prossiga com sua história. — Pedi. — Quer dizer, se você quiser.

 

  — Não tem problema. — Heidi permaneceu alguns segundos em silêncio. — Eu tinha dez anos naquela época. Foi quase quatro anos atrás. Quando voltei para cá, minha mãe apareceu pra mim em um sonho. Ela me disse como chegar ao Mundo Inferior e disse que queria me ver, e eu fui lá. Ela conversou comigo e disse que eu poderia treinar com ela, poderia morar com ela pelo ano inteiro. Quase aceitei, mas aí combinamos que eu passaria parte do ano com minha mãe e parte do ano com meu pai. É quase como Perséfone com Hades e Deméter, sabe?

 

  Assenti. Heidi fez uma pequena pausa.

 

  — Decidimos que eu passaria metade do ano com cada um. Eu havia gostado de Hécate, e ela parecia gostar de mim. Naquele mesmo ano ela me manteve lá, isolada com ela e seus demônios em seu canto do Mundo Inferior. Fiquei sabendo sobre essa guerra. Ela estava do lado de Cronos. Eu não a culpo. Os deuses principais não dão nenhum destaque aos deuses menores, mesmo eles sendo importantes e poderosos como Hécate. Prosseguindo. Na segunda vez em que fui lá, briguei com minha mãe, e quase tentei fugir do Mundo Inferior, apesar de isso ser impossível. Ela queria que eu lutasse no exército de meios-sangues de Cronos, e eu não queria, eu só tinha onze anos, pelo amor de deus. Até hoje sou meio ressentida com ela com isso, tanto que ano passado não fui ao Submundo, e este ano passei apenas três meses lá, de tanto que ela me encheu o saco nos sonhos. Quando fui, ela me tratou de modo completamente diferente, como se me considerasse muito mais, e ainda ganhei um cachorro de presente. Tive que conviver com alguns irmãos semideuses que estavam lá também, mas isso não foi nada de mais. E no final das contas, acabei gostando dele. Do cachorro, eu quero dizer. — Ela olhou para o animal deitado ao seu lado como se fosse seu filho ou algo assim.

 

  — Agora me diga você. Quem você é e tudo mais. Quer dizer, como vou saber se posso confiar em você se não sei nada sobre você? — Pediu ela. Pensei em como ela era desconfiada para uma garota de treze anos, mas de certo modo ela estava certa.

 

  Contei a ela minha história, desde que eu havia descoberto quem era minha mãe até os últimos acontecimentos da missão. Normalmente eu não falaria dessas coisas com uma estranha como ela, mas de certo modo eu havia simpatizado com Heidi, e conseguia falar com ela de um modo que não conseguia com pessoas que eu conhecia há tempos. Acabei descobrindo que ela conhecia Nico, mas só de vista e de ouvir falar, por causa da única vez que ela foi ao acampamento e por tê-lo visto algumas vezes no Mundo Inferior.

 

  Enquanto Heidi falava alguma coisa sobre o que havia aprendido com sua mãe, pensei na profecia, que dizia que seis retornariam. Seria Heidi o sexto elemento? Depois de pensar por alguns momentos, cheguei à conclusão de que não custava nada tentar. Só mais tarde fui me dar conta de como estava sendo egoísta, levando-a para uma missão perigosa que bem poderia matá-la.

 

  — Mas essa sua missão. — Ela falou de repente. — Tífon. O pai de vários monstros perigosos. Seis voltarão.

 

  — Hm, é.

 

  —Será que eu poderia... Bem... Acompanhar você nessa missão? Quer dizer, eu nunca fiz nada de bom assim. Eu só treinava com minha mãe, mas nunca enfrentei nada de verdade, então...

 

  Eu ri da transmissão de pensamento, de ela ter falado daquilo bem na hora que eu ia falar com ela.

 

  — Certo, você pode ir, sim.

 

  — Wee. — Ela parecia contente de verdade em poder arriscar a vida naquela missão. Vai entender. — Podemos ir com o Exodus. Ele pode viajar através das sombras, sabe.

 

  Olhei para o cachorro. Ele certamente só nos causaria problemas, mas o que mais me preocupava não era isso. Por algum motivo, eu não confiava naquele bicho. Hécate e Heidi haviam se desentendido e passado um ano sem se falar, e ela havia ganho aquele presente quando elas se viram de novo como se nada tivesse acontecido? Realmente, eu não confiava nele. Podia ser só neurose minha, mas achei melhor não arriscar. Neguei o pedido dela sem pensar duas vezes, e ela contestou repetindo a história de ele servir para protegê-la e blábláblá.

 

  — Certo. — Falei, vencida. — Mas primeiro tenho que mandar uma Mensagem de Íris aos meus amigos.

 

   — Pode mandar. Ah, só tem uma coisa: geralmente funciona melhor à noite. E não sei se vamos poder ir direto ao Monte Santa Helena. Exodus ainda é muito jovem e se cansa fácil.

 

  — Acabou a lista de recomendações sobre como viajar com cães infernais? — Perguntei com ironia.

 

  — Muito engraçado. — Heidi levantou-se.

 

  — Ei, Heidi. — Falei, levantando também. — Não é meio estranho isso? Quer dizer, a gente se conheceu há uma hora, ou menos, até. E você me contou toda a sua história e pediu para ir numa missão comigo como se confiasse muito em mim, mas você mal me conhece.

 

  — É, é estranho mesmo. — Ela respondeu, de costas para mim, apenas com o rosto virado para mim. — Mas o que posso fazer? Por algum motivo, eu confio em você, Melanie White.

 

  Fiquei quieta. Heidi chamou Exodus e andou um pouco e, ao ver que eu não a acompanhava, se virou para mim de novo.

 

  — E aí, não quer almoçar lá em casa?


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Notas finais do capítulo

Ae, personagem nova =3 Espero que tenham gostado, apesar de que esse capítulo foi um negócio mais tipo "apresentando Heidi" q Mas então, o que acharam dela? Comentem =3