A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 16
Capítulo 16




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  Andamos várias horas até encontrarmos outra caverna para descansar. O mato estava ficando cada vez menos denso, logo nós estaríamos em uma planície ou algo assim, sem árvores, o que poderia ser ruim, pois teríamos menos lugar para nos escondermos dos monstros. Em compensação, eles também não teriam onde se esconder de nós.

 

  — Acho que a gente pára por aqui, né? — Disse Percy olhando o relógio. — Já são quatro da manhã.

 

  — Ótimo. Estou exausta. — Thalia mal disse essas palavras e caiu dura no chão. Sabíamos que ela não havia dormido de verdade nem nada assim, mas estava quase lá.

 

  — E quem fica de vigia primeiro? —Perguntei.

 

  — Eu que não! — Thalia falou com o rosto contra a terra. A garota estava tão cansada que nem se dava ao trabalho de descolar o rosto do chão pra falar. — Eu ia dormir, e nós íamos ser devorados pelo primeiro monstro ou animal selvagem que aparecesse.

 

  — Mas pra quê vigia, se vocês serão devorados de qualquer jeito?

 

  Ouvimos essa voz de mulher, parecia vinda de algum ponto no fundo da caverna. Havíamos perdido nossas mochilas, então não tínhamos lanternas, não fazíamos idéia da extensão da caverna. Poderíamos muito bem acabar dormindo com nosso assassino ali... O que nós aparentemente faríamos.

 

  Thalia se levantou em um pulo, muito acordada agora. Ela, Percy e eu ficamos um do lado do outro, virados na direção da voz. Era uma voz feminina adulta, com um tom maternal com tanta ternura que ficava óbvio que era falso. Além do fato de que esse tom maternal tão terno havia dito que ia nos devorar.

 

  — Por que a tensão, meus queridos? — A voz parecia mais próxima agora. — Não se preocupem, amores. Titia Lâmia cuida de vocês.

 

  — Lâmia? — Sussurrei para Thalia. — Aquele monstro que comia crianças à noite?

 

  — A própria. — Thalia empunhava seu arco, uma flecha já preparada.

 

  — Pensei que isso fosse só história pra assustar as crianças. Tipo o bicho-papão. — Falou Percy.

 

  — E o que é só história nesse mundo, Percy? — Thalia semicerrava os olhos, concentrada. Como se pudéssemos ver muita coisa.

 

  — A Caçadora está certa, filho de Poseidon. Nada mais é só história. — À nossa frente, a voz finalmente mostrava sua dona. Era uma mulher meio gordinha, que usava um manto preto na parte superior do corpo, deixando a parte inferior, uma serpente preta, à mostra. O rosto era o de uma mulher comum, e os cabelos castanhos iam até os quadris em uma trança.

 

  Lâmia nos analisou por um momento, Thalia com a flecha preparada para qualquer movimento do monstro. Seu olhar não se demorou muito em Percy, mas ficou um longo tempo em Thalia e em mim.

 

  — Ah... Adolescentes. Não são exatamente crianças. Mas desperdiçar comida é muito feio. Acho que o fato de quem são seus pais ajuda a melhorar o gosto. — Lâmia soltou um suspiro, como se lamentasse muito não termos mais doze anos. — E você... Filha de Zeus e comandante das Caçadoras de Ártemis. Acho que vou deixar você para o final. Afinal, a melhor parte sempre fica para o final. — A mulher nos lançou um sorriso que revelou presas. Não dentes, presas, mesmo.

 

  Thalia lançou a primeira flecha, mas Lâmia se desviou. Percebi que era hora de agirmos. Percy partiu diretamente para cima dela com Contracorrente, mas ela desviava e tentava atacá-lo de volta, sem usar nenhuma arma. Eu evoquei os guerreiros do meu pai pelo que parecia a milésima vez naquela missão, e sentia que viriam ainda mais. Lâmia era hábil demais. Ela desviava de golpes que pareciam certeiros e destruía soldados que deveriam ser indestrutíveis. Então, de repente, ela sumiu.

 

  — Como assim? — Nos perguntamos, olhando em volta, em busca de algum sinal do monstro.

 

  — Ela não pode ter sumido. — Refleti. — Ela tem que estar por aqui...

 

  Bastou eu dizer isso para que um vulto se materializasse à minha frente e me pegasse pelo pescoço com garras afiadas. O vulto agora não tinha mais o rosto de uma mulher comum que você vê nas ruas. Agora, era um demônio de olhos enormes e pretos como o Tártaro, com garras nas mãos, o tronco de mulher estava descoberto, os cabelos voavam ao seu redor, e as presas pareciam ainda maiores.

 

  — Um movimento de vocês — ela disse, virando-se para meus amigos, as mãos ainda no meu pescoço —, e o filhinho de Hades vai pro reino do pai dele.

 

  Thalia e Percy baixaram as armas e fitaram o monstro com raiva. Lâmia sorriu.

 

  — Muito bem. Mas eu prefiro que vocês larguem as armas. Os semideuses podem ser muito traiçoeiros de vez em quando...

 

  De repente, começamos a ouvir um barulho distante, com se fosse água correndo, o que parecia impossível, pois não havia nenhum rio ou mar por perto.

 

  — Mas o quê...

 

  Lâmia não pôde completar a frase, pois no segundo seguinte ela estava sendo atirada contra a parede por uma enxurrada. Ela me soltou, e corri para Percy e Thalia, Percy com o rosto compenetrado em seu ataque e Thalia pegando várias flechas. Pelo jeito ela havia cansado de lutar com Aegis e com a espada.

 

  Percy fez a água parar, e Thalia lançou várias flechas de uma só vez no monstro atordoado que cuspia água. Uma das flechas passou longe, uma atingiu seu corpo de serpente e a outra em um braço.

 

  — Vocês... Vão... Ver... — Lâmia resmungava enquanto tentava se levantar, aparentemente toda dolorida. Bem feito.

 

  Se ela ainda não havia completado a frase, não completaria mais. Com um movimento rápido, Percy sacou sua espada e pulou para o monstro, arrancando sua cabeça e fazendo o corpo explodir em pó.

 

  — Pronto. Problema resolvido. Vamos dormir agora? — Perguntei.

 

  — Não vou dormir onde quase fomos devorados. — Thalia disse, olhando para o chão onde o monstro havia explodido em cinzas com cara de nojo. — Vai saber o que mais tem nessa caverna. Prefiro dormir até no meio do nada.

 

  — Concordo. — Percy falou. Guardamos nossas armas, que agora eram nossa única bagagem, e fomos embora da caverna.

 

P.O.V Melanie

 

  — Olha, Annabeth! Uma cidade!

 

  Abaixo da duna onde estávamos, era possível ver diversas luzes, casas e ruas. Acho que eu nunca havia me sentido tão feliz em ver uma cidade antes. Já fazia umas quatro horas que estávamos vagando sem destino pelo deserto. Quatro horas desde que Annabeth havia posto seu boné da invisibilidade e matado a Anfisbena com sua faca enquanto o monstro quase me sufocava.

 

  — Oh, meus deuses! — Annabeth não parecia menos aliviada. Ela estava acordada há ainda mais tempo do que eu. Devia se sentir aliviada em ver a civilização novamente. Percebi que alguns metros à nossa frente havia uma estrada. Resolvemos continuar onde estávamos, a vários metros da estrada, pelo menos até chegar à cidade. Seria meio estranho se alguém passasse por ali e visse duas garotas andando sozinhas e sem bagagem no meio do deserto.

 

  — Muito obrigada, Atena, muito... — Annabeth juntou as mãos em prece à frente do rosto e começou a murmurar agradecimentos à sua mãe e aos outros deuses.

 

  — Vamos, Ann. Você pode continuar agradecendo depois.

 

  De repente, senti algo no ar. Era uma presença, mas uma presença diferente. Parecia que Annabeth sentia também, pois interrompeu seus agradecimentos para olhar em volta, nervosa. Parecia que algo pairava no ar, literalmente. Até que a coisa foi se tornando mais nítida, e pude ver que algo de fato pairava no ar, uma espécie de fumaça, bem pequena e escura. Annabeth abriu a boca para falar alguma coisa, e naquele momento, a pequena fumaça pareceu entrar nela. Engoli em seco. Não poderia ser o que eu estava pensando.

 

  Annabeth ficou tonta, mas não caiu, apenas cambaleou para mais longe de mim. Ela começou a tremer, sua respiração ficou irregular, ela se contorceu um pouco... Então ela levantou o rosto, os olhos cinza agora vermelhos e brilhantes, exalando raiva.

 

  — Olá, irmãzinha. — Disse uma voz feminina que com certeza não era a da minha amiga.


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Notas finais do capítulo

aeae, consegui postar hoje
Muito obrigada mesmo pelos reviews nos últimos capítulos, gente. Todos esses seres que eu tenho colocado, tipo Bóreas, Anfisbena, Lâmia, etc. de fato existiam na mitologia grega, e eu tive que pesquisar bastante para colocar inimigos na história sem repetir muito os que o Rick colocou nos livros dele. E os reviews são tão revigorantes, me fazem pensar que o esforço realmente valeu a pena (criança feliz mode on qq) Espero que os reviews continuem assim =D