A Filha da Noite escrita por sutekilullaby, izacoelho


Capítulo 10
Capítulo 10




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P.O.V Nico

 

  Eu não acredito, como consegui cair no encanto daquele demônio maldito? Agora estávamos todos em perigo, se eu tivesse reagido antes, se eu tivesse suspeitado, eu poderia ter matado a empousa mestra, e tudo poderia ter sido mais fácil.

 

  Eu estava tentando matar outro daqueles monstros que havia me atacado, quando olhei para além dele, para o fundo do ônibus, e vi uma cena que me deixou louco de raiva, um cara estava segurando Mel pelo pescoço. A lança dela estava caída no chão, ele a arremessou em um assento e ela bateu a cabeça no parapeito (?) da janela, o monstro se precipitou para cima dela. E então todos ouvimos um grito horrível.

 

  Não faço idéia do que os mortais estavam vendo através da Névoa, mas se antes eles estavam com medo, agora estavam aterrorizados, o motorista resolveu encostar o ônibus, todos começaram a correr para a saída antes mesmo de o ônibus parar. Thalia manipulou a Névoa de um modo que ninguém veio nos chamar para sairmos do ônibus. Não faço idéia do que ela fez os mortais pensarem, mas deve ter sido algo bem engenhoso.

 

  Naquele momento eu não me importava com mais nada. Que se ferrassem os passageiros, os monstros, a maldita missão. Eu simplesmente contornei o demônio que lutava comigo e corri até onde Melanie estava morrendo pelas presas de uma maldita empousa. Cravei minha faca nas costas dele, ele deu um grito e se dissolveu em pó.

 

  As condições de Mel eram deploráveis. Ela estava atirada no assento, respirando com muita dificuldade, o pulso estava torcido, o pescoço estava roxo de um lado e do outro estava todo ensangüentado. Eu podia sentir a vida se esvaindo do corpo dela, e aquilo estava me deixando louco. Não, eu não ia perder ela. Eu nem me importava com mais nada, queria apenas que a garota que eu gosto vivesse, ela não podia morrer. Eu já havia sofrido muito com a perda de Bianca anos atrás, perder Melanie só serviria para deixar as feridas que eu pensava terem cicatrizado muito mais fundas.

 

  Peguei uma mochila que Annabeth mantinha à mão e tirei de lá um pote de ambrosia e um pote de néctar que ela carregava para emergências. Comecei a dá-los a Melanie, mas não adiantaria muito enquanto a ferida no pescoço continuasse aberta e ela continuasse perdendo sangue daquele jeito.

 

  — MEUS DEUSES. — Ouvi Annabeth exclamar atrás de mim. Pelo jeito eles já haviam dado um jeito nos monstros.

 

  — O que... — Percy tentou falar, mas nada saiu de sua boca. Imaginei a cara que ele deveria estar, se a situação fosse outra, eu poderia até rir. Mas rir era a última coisa que me passava pela cabeça naquele momento.

 

  — Eu cuido disso. — Thalia pegou a mochila de Annabeth e tirou mais umas coisas de lá, ataduras, esparadrapos, algodão, sei lá o que mais, eu não estava prestando atenção, me concentrava em dar os alimentos divinos a Melanie para que ela durasse pelo menos um pouquinho mais, só até Thalia fazer o que queria fazer.

 

  Thalia começou a limpar o machucado de Melanie, depois ela fez uns curativos, deve ter costurado os cortes deixados pelos dentes da empousa também. Quando ela terminou, finalmente senti a vida voltar ao corpo de Mel e a morte se afastar cada vez mais.

 

  — É melhor sairmos daqui. — Falou Percy. — Faz um bom tempo que estamos aqui neste ônibus parado, no meio do nada. Os passageiros já saíram há um bom tempo, e mais monstros podem se aproximar.

 

  — Percy tem razão. Você faz o sacrifício de levar a Mel, Nico? — Perguntou Thalia enquanto guardava suas coisas.

 

  Assenti, dando as outras coisas a Annabeth. Peguei Melanie com cuidado e saímos do ônibus.

 

  — Como você sabe lidar tão bem com essas coisas? — Perguntei a Thalia, que andava ao meu lado.

 

  — As Caçadoras também se ferem, Nico. Como eu sou a comandante, tenho que saber cuidar dessas coisas.

 

  Estávamos andando pelo meio do mato, sem fazer a mínima idéia de onde estávamos. De repente, ouvimos uns barulhos no mato, e eu senti cheiro de morte. Ficamos mais cautelosos, mas quando chegamos a uma clareira, alguém nos esperava. Era um homem alto e magro, com cabelos e olhos prateados. Ele vestia roupas pretas e brancas e nos olhava com indiferença.

 

  — Olá, semideuses. — Cumprimentou ele casualmente. Estava claro que era um deus.

 

  — Quem é você? — Perguntou Percy sem cerimônia.

 

  — É assim que você trata o irmão da sua amiga, filho do mar? — Eu tinha a impressão de conhecer aquele cara de algum lugar, mas não conseguia me lembrar de onde. — Mas tudo bem. Eu sou Tânatos.

 

  Ficamos calados. Agora que ele havia dito seu nome, todos sabíamos quem ele era e qual era sua função. Tânatos era a personificação da morte, um filho de Nyx que buscava as almas e as guiava até o mundo do meu pai.

 

  — Fiquem calmos, que eu não vim buscar a Melanie. Vim ver como ela estava.

 

  — Ela está bem, obrigado por sua preocupação. — Falei com frieza. Eu não queria aquele cara que cheirava a pura morte perto da Melanie, pouco me importava o grau de parentesco deles.

 

  — É, eu posso sentir isso, filho de Hades. Eu vim seguindo vocês porque senti um cheiro de morte bem forte, mas acho que devia ser você. — Tânatos deu um riso seco. — Mas é bom que vocês cuidem dela. Quando ela foi atacada, eu já podia sentir as Parcas preparando o fio e a tesoura. Mas aí veio você... Nico di Angelo. Você salvou a vida da minha irmã, ela não teria agüentado muito tempo com aquele machucado. Acho que devo agradecer. É muito trabalhoso, tantas almas para entregar a Caronte, argh. É incrível como ninguém nunca pensa nos deuses, nós temos tanto trabalho, e nunca descansamos...

 

  — Já entendemos, senhor Tânatos. — Annabeth cortou. — Você está nos agradecendo pelo seu trabalho. Não por termos salvado sua irmã.

 

  — Claro! Eu venho fazendo meu trabalho desde sempre. Minha irmã eu mal sabia que existia até uns dias atrás, por que deveria me importar tanto com ela?

 

  — Seu... — Quase mandei aquele imbecil para o Mundo Inferior, não que isso fosse adiantar, já que ele era o deus da morte, isso serviria só pra gastar minha energia. Mas mesmo assim, foi meu impulso.

 

  — Enfim, só queria dizer isso. — Tânatos falava com uma indiferença incrível. — Cuidem bem dela, se não quiserem que eu volte, e dessa vez seria pra levar alguém. — Ele lançou um olhar para Mel, que estava inconsciente nos meus braços, e começou a brilhar em uma luz prata. Fechamos os olhos, antes que ele revelasse sua verdadeira forma divina e nos cegasse.

 

  — Bom... — Disse Thalia com as mãos na cintura. — Acho melhor a gente se instalar aqui, mesmo.

 

  — Não quero dormir onde o deus da morte veio nos dar avisos — falou Annabeth com uma cara estranha pro lugar onde o irmão de Mel havia estado. A grama naquele local estava amarelada.

 

  — Concordo com Annabeth. — Falei. Depois disso, continuamos andando até encontrarmos outro lugar, mais distante, para dormir. Deveria ser umas dez da noite quando paramos em um lugar no meio do mato fechado onde havia um monte de árvores e arbustos. Nos instalamos ali, estendemos sacos de dormir que havíamos trazido nas mochilas, comemos algumas coisas que haviam sobrado de quando Mel foi à padaria em Cleveland e Thalia trocou os curativos de Melanie. Thalia e Annabeth dormiram rápido, eu fiquei deitado observando Melanie, que estava ao meu lado, enquanto Percy ficava de vigia em cima de uma árvore.

 

  Nós dois não conversamos muito, não queríamos acordar as meninas, e eu não ia me levantar dali para poder conversar com ele. Mel estava dormindo tranqüila, a respiração estava normalizada, o pescoço já não estava mais roxo. Thalia havia posto uns curativos no pulso dela também, que a empousa havia quebrado, ou torcido. Pensei em como eu havia chegado perto de perdê-la, de nunca mais poder tocar seu rosto como eu estava fazendo naquele momento, enquanto ela dormia calmamente; como estive perto de nunca mais ouvir suas ironias que no fundo eu gostava, quer dizer, eu poderia ouvir se eu a evocasse, mas sua voz seria morta e bem diferente de como era em vida; como estive perto de nunca mais poder conversar enquanto não conseguíamos dormir no chalé, nunca mais treinar com ela e acabar levando uma surra, nunca mais ver os sorrisos que não apareciam com tanta freqüência em seu rosto que naquele momento estava muito mais pálido que o normal. A meia-lua em sua testa parecia vibrar de tanto contraste, os cabelos pretos pareciam mais opacos. Mas disso ela iria se recuperar: o importante era que ela estava viva. 

 

  Acabei pegando no sono observando-a.


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Notas finais do capítulo

Thanks Wikipedia, por ser minha fonte de pesquisa pra mitologia grega e geografia americana.

Reviews? =D