Konoha amanheceu de luto naquele dia. 

Mesmo que o corpo de Sasuke não tivesse sido encontrado, Sakura ordenou que um funeral digno fosse oferecido a ele.

Pareceu até que alguém da realeza tinha morrido. Mas, mesmo que não fosse isso, se tratava do melhor amigo - e grande amor - da Rainha. 

A família do moreno estava inconsolável. Seu irmão, Itachi, lembrava-se amargamente das últimas conversas que tivera com Sasuke. Ultimamente eles só brigavam e era algo de que Itachi se arrependia profundamente. Izumi tentava consolar o marido, mas nada traria Sasuke de volta. Ele teria apenas que se acostumar com o fato de que nunca mais veria seu amado irmão novamente. 

Sakura também sofria, claro. Após a cerimônia, a rosada dispensou todas as suas damas de companhia e se fechou em seu quarto. Não queria ver absolutamente ninguém. 

Chorava amargamente, deitada em sua cama, se sentindo culpada pela morte de Sasuke. Afinal de contas, Sasuke caiu do precipício ao tentar pegar a maldita flor Haruno, que agora a rosada odiava com todas as suas forças e se lembraria de tamanha tragédia cada vez que olhasse para o brasão de sua família. 

Após muito se lamentar, Sakura resolveu sair de seu quarto. 

Trajando um vestido preto que deixava evidente seu luto, Sakura caminhou sem a companhia de suas damas até os aposentos da  mulher que ela não sabia se iria conseguir encarar.

Suspirou pesadamente e encarou a grande porta de madeira com certa insegurança. Contou até dez e bateu na porta, não obteve resposta, mas sabia que havia alguém lá dentro. Sem pensar duas vezes, a Rainha entrou no cômodo. 

Seu coração doeu ao ver a mulher dos cabelos negros de costas para si, olhando pela janela. Embora não estivesse vendo o rosto de Mikoto, que também trajava um vestido preto, Sakura sabia que a mulher chorava. 

Fechou a porta atrás de si e caminhou até a mulher que a viu crescer, parou ao seu lado e resolveu compartilhar da vista que Mikoto tinha. Olhou pela janela e viu o belo jardim gramado onde ela e Sasuke adoravam correr na infância. 

– Isso me traz lembranças boas... - Sakura riu sem humor - Gostaria de poder voltar para aquele tempo.

– Majestade... - Mikoto olhou para a adolescente ao seu lado.

– Sem formalidades. - Disse - Sou só Sakura. 

– Criança, o que veio fazer aqui? - Mikoto questionou - A Rainha de Konoha deve ter trabalho a fazer. Com certeza é bastante ocupada.

– A Rainha de Konoha está de coração partido. - Ela fechou seus olhos, deixando grossas lágrimas caírem - Estou abalada demais para pensar em qualquer coisa que não seja o Sasuke. 

– Sasuke... - Mikoto, assim como Sakura, deixou ainda mais lágrimas escorrerem pelo seu rosto - Jamais pensei que meu filho caçula partiria antes de mim. Isso não está certo. Ele se foi cedo demais.

– Eu sei... - Sakura abraçou a Uchiha e esta retribuiu o gesto - Eu amava seu filho, Mikoto. Jamais amarei outro homem como amei Sasuke. 

– Não diga bobagens, minha criança... - Mikoto olhou nos olhos esverdeados e sentiu que Sakura estava realmente sendo sincera.

Mikoto presenciou o crescimento da atual Rainha perto de seu filho. Ela foi, além de dama de companhia, amiga íntima da Rainha Mebuki. Sasuke foi educado junto com Sakura, tendo recebido a melhor educação que uma criança poderia ter, tal como Itachi. 

No fim, Sakura era, para Mikoto, quase que como uma filha, assim como Sasuke e Itachi também eram muito queridos pela família Real. 

Fugaku - que era amigo íntimo e conselheiro do Rei - dizia que Sasuke e Sakura, desde muito crianças, eram próximos demais. Mikoto achava formidável como os dois sempre se deram bem e dizia que era coisa da idade; Sakura era apenas quatro meses mais velha do que Sasuke, os dois cresceram quase que como irmãos. Mas o patriarca dos Uchiha alertava, dizendo que eles poderiam acabar se apaixonando quando estivessem mais velhos e que isso poderia virar um problema. 

Por ironia do destino, Fugaku estava certo. Sakura realmente estava apaixonada por Sasuke. 

– Eu o pedi em casamento, Mikoto... - Sakura comentou com um pequeno sorriso nos lábios, mas que logo se desfez - Sei que o correto é que o homem faça o pedido, mas sei que Sasuke jamais o faria.

– Itachi já tinha uma pretendente para ele... Mas Sasuke se recusava a casar por algum motivo... - Mikoto comentou. Antes ela não compreendia o motivo e seu primogênito jamais comentou algo sobre Sasuke e a Rainha, mas Mikoto não tinha mais dúvidas de que seu filho também amava Sakura. 

– Ele recusou meu pedido... Insisti para que ele pensasse no caso de se casar comigo e virar Rei de Konoha, mas ele achava que somente um título de nobreza não era o suficiente para fazê-lo digno de receber uma coroa em sua cabeça. Dizia que o correto seria que eu me casasse com alguém que, assim como eu, fosse da realeza. - Suspirou pesadamente a rosada, apoiando seus cotovelos na janela - Como se isso importasse para mim. - Ela soltou um riso anasalado - Eu o amava... Queria tê-lo como meu marido... Queria ter muitos filhos com ele e ser feliz para sempre...

– Sasuke sempre foi uma pessoa muito sensata e jamais colocaria seus desejos pessoais a cima do que seria o correto a se fazer. - Mikoto novamente olhou pela janela, podendo ver o lugar onde seu filho costumava brincar na infância e por um momento pensou tê-lo visto, ainda pequeno, correr por ali com Sakura, provavelmente após a rosada ter fugido de uma de suas aulas. A mulher não conteve um pequeno sorriso após a boa lembrança - Meu filho era um bom rapaz e com certeza se tornaria um bom homem.

– Não há dúvidas disso... Sasuke fará muita falta. 

– Sakura... - Séria, Mikoto encarou a Rainha - Realmente amava meu filho?

– Sim. - Respondeu sem hesitar - Eu o amava muito. 

– Que bom... - Sorriu de canto.

Sakura ficou curiosa diante daquilo. Até onde sabia, sua relação com Sasuke, e até mesmo o sentimento recíproco de ambos, era segredo. Obviamente que o rapaz jamais comentou nada com sua mãe, que com certeza seria contra o fato de que seu filho caçula era amante da Rainha.

– Por que a pergunta, Mikoto? - Questionou a Haruno.

– Criança, eu lhe vi nascer... Conheço a Rainha tão bem quanto a palma da minha mão. Sei que é uma pessoa intensa em tudo que faz e, se você amou meu filho, então tenho certeza de que o amou intensamente... com todas as suas forças. 

Sakura riu e assentiu, sentindo seus olhos novamente se encherem de lágrimas. 

Ela deixou Mikoto novamente a sós e resolveu voltar para o seu quarto, onde permaneceu pelo resto do dia. 

– Por quê? - Questionou aos prantos, deitada em sua cama - Por que ele, não eu? É tudo culpa minha... 

Ela sentia culpa e tal sentimento era pior do que qualquer tortura física. Suas esperanças de ser feliz com Sasuke foram transformadas em cinzas no momento em que Naruto lhe entregou aquela luva com as iniciais S.U bordadas e disse que o dono dela não foi encontrado. 

Mesmo no momento da cerimônia, mesmo quando todos na Corte já sabiam da morte de Sasuke, Sakura ainda ordenou que seus homens procurassem pelas cidades vizinhas e até onde a correnteza do rio levasse. 

Embora de luto, Sakura só estaria convencida da morte de seu amado caso visse seu corpo sem vida. Enquanto o corpo dele estivesse desaparecido, ainda haveria em seu coração uma pequena chama de esperança, dizendo que a qualquer momento Sasuke poderia voltar.